Jean Hébette (Winenne, Bélgica, 15 de fevereiro de 1925 - 11 de novembro de 2016) foi um educador, historiador, escritor, teólogo, missionário, economista e sociólogo belga-brasileiro, um dos maiores e mais respeitados estudiosos sobre o campesinato no Brasil.[1]

Jean Hébette
Nascimento 15 de dezembro de 1925
Winenne, Bélgica
Morte 11 de novembro de 2016 (90 anos)
Bélgica
Nacionalidade belga
Progenitores Mãe: Maria Joseph Rochette
Pai: Victor Léon Hébette
Alma mater Instituto Católico de Paris
Universidade Federal do Pará
Ocupação Sociólogo, economista e professor universitário
Magnum opus Cruzando a fronteira: 30 anos de estudo do campesinato na Amazônia
Religião Catolicismo romano

Foi também um grande ativista social pela reforma agrária.

Biografia editar

Nasceu em Winenne, na Bélgica, em 15 de fevereiro de 1925. Filho de Victor Léon Hébette, funcionário da receita federal em seu país, e de Maria Joseph Rochette.

Em 1942 Jean Hébette tornou-se religioso da Missionários Oblatos de Maria Imaculada (OMI), ordenando-se sacerdote em 1949. Fez cursos superiores de filosofia (1943-1945) e de teologia (1945-1949) na Escola Escolástica OMI de Velaine-sur-Sambre, na Bélgica. Concluiu licenciatura em teologia em 1954, e; o curso superior de pastoral catequética, em 1955, no Instituto Católico de Paris, França. Em nível de pós-graduação, frequentou o curso de doutorado em teologia, do Instituto Católico de Paris, em 1954 e 1955, tendo concluído os créditos, sem defender tese.[2]

A partir de 1956 trabalhou como sacerdote na Holanda, Alemanha, Itália, Reino Unido, Irlanda,[2] República Democrática do Congo (até então Zaire), no Burundi e em Ruanda.[3] Dada a grande quantidade de países em que esteve, era poliglota, tendo capacidade de falar em francês (sua língua natal), português, inglês, congo,[2] espanhol, neerlandês e alemão.[4]

Em 1967 chega ao Brasil, alojando-se primeiramente em Petrópolis, no Rio de Janeiro. No mesmo ano ruma para Belém, conhecendo a realidade do campesinato na Amazônia, enquanto trabalhava no ministério sacerdotal católico nas comunidades rurais.[2]

Buscando ampliar seu conhecimento sobre o campesinato, ingressa na Faculdade de Economia da Universidade Federal do Pará (UFPA) em 1970; na mesma universidade, em 1973, especializa-se em desenvolvimento regional, iniciando a partir de então (1974) uma longa e fecunda carreira acadêmica, como professor e pesquisador da UFPA. Embora tenha assumido funções na UFPA, não abandonou sua carreira como sacerdote.[2]

No Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (UFPA) desenvolveu estudos sobre a ocupação da Rodovia Belém-Brasília, da Transamazônica, da Santarém-Cuiabá e Cuiabá-Rio Branco. Suas pesquisas e seu depoimento pessoal perante os deputados dão substância aos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito da Amazônia[5], instalada em 1975, que daria origem à atual Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia (CINDRA).

Juntamente com o agrônomo franco-brasileiro Emmanuel Wanberg, reorganiza a Comissão Pastoral da Terra Regional (CPT) e participa da (re)criação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da Região Sul e Sudeste do Pará, em 1976. Filia-se a partir daí à teologia da libertação, aproximando-se do Padre Josimo, de Dorothy Stang, de Frei Henri des Roziers e de Adelaide Molinari.[6]

Em 1987 inicia os trabalhos de reorganização e estruturação do curso superior de ciências sociais anteriormente ofertado no Campus Avançado da Universidade de São Paulo em Marabá, que culmina na Faculdade de Ciências Sociais do Araguaia-Tocantins da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA).[7]

Em 1988 funda o Centro Agroambiental do Tocantins (CAT), que viria ser o responsável pela Fundação Agrária do Tocantins Araguaia (FATA) e sua instituição congênere, a Escola da Família Agrícola (EFA) de Marabá.[2] O CAT também foi o responsável por gestar o Laboratório Sócio-Agronômico do Araguaia-Tocantins (LASAT).[8]

Foi um dos maiores incentivadores e responsáveis pelo estabelecimento da primeira pós-graduação do interior da Amazônia, na cidade de Marabá, o Programa de Pós-graduação em Dinâmicas Territoriais e Sociedade na Amazônia (PDTSA),[9] da UNIFESSPA.

Em 2014, após mais de 40 anos de carreia como professor nas universidades UFPA e UNIFESSPA, afasta-se (desde 1999 já era aposentado por idade, embora trabalhasse ocasionalmente como convidado até 2014); em 2015 muda-se definitivamente para a Bélgica, onde falece de causas naturais em 11 de novembro de 2016.

Homenagens editar

Em 2016 o Centro Agroambiental do Tocantins retoma a EFA de Marabá, dando a ela a denominação "Escola da Família Agrícola Prof. Jean Hébette", mantida em conjunto pela prefeitura de Marabá e a UNIFESSPA, servindo como escola de aplicação do curso de Educação do Campo desta universidade.[10]

Em 2017 foi homenageado post-mortem como "Cidadão Paraense" pela Assembleia Legislativa do Pará.[11]

Obras editar

Hébette é autor de diversos livros, artigos e clássicos sobre o campesinato, a agricultura familiar e a Amazônia, sendo suas principais obras:

  • A invenção da Amazônia (1974)
  • A Amazônia no Processo de Integração Nacional (1974)
  • Saúde e Colonização (1976)
  • Colonização Espontânea, Política Agrária e Grupos Sociais (1977)
  • Colonização para quem? (1979)
  • Ciência e tecnologia para Amazônia (1983)
  • A resistência dos posseiros no Grande Carajás (1986)
  • O cerco está se fechando (1991)
  • A relação pesquisadores-agricultores. Diálogo, parceria, aliança? Uma análise estrutural (1996)
  • Situação social das áreas rurais amazônicas (1996)
  • No mar, nos rios e na fronteira: faces do campesinato no Pará (2002)
  • Cruzando a fronteira: 30 anos de estudo do campesinato na Amazônia (2004)

Referências

  1. Florenzano, Franssinete. Jean Hébètte Cidadão do Pará. Blog Uruatapera. 2017.
  2. a b c d e f Guerra, Gutemberg Armando Diniz. O Lavrador e Posseiro da Ciência: Uma publicação sobre as complexas relações entre informação, conhecimento e desenvolvimento no Brasil atual. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v. 24, n. 1/3, p. 217-228, jan./dez. 2007.
  3. Pinto, Lúcio Flávio; Guerra, Gutemberg. Jean Hébette, o nosso belga. Gramsci e o Brasil. Maio de 2015
  4. Jean Hébette. Escavador. 2017
  5. Relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar a ocupação de terras públicas na região Amazônica. Câmara dos Deputados. 16 de set de 1975
  6. Em noite de homenagem a Jean Hébette, pesquisador lança livro. Marabá Notícias, 2017
  7. Nota de pesar pelo falecimento do professor Jean Hébette. Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. 2016
  8. Santos, Damião. ‘Breve memória do professor Jean Hébette’, por Damião Santos[ligação inativa]. Rebojo News. 2016
  9. Lançamento de livro e depoimentos marcam noite de homenagem a Jean Hébette. Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, 2017
  10. EFA Professor Jean Hébette de Marabá Comemora Primeiro Ano de Funcionamento. União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil. 11 de maio de 2015
  11. ALEPA presta homenagem à memória do pesquisador Jean Hébette. Programa de Pós-graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Pará. 2017