Maria Antónia Palla
Maria Antónia Assis dos Santos Palla e Carmo, nascida Maria Antónia Assis dos Santos, e mais conhecida por Maria Antónia Palla ComL • GOL (Seixal, Seixal, 10 de Janeiro de 1933) é uma jornalista e feminista portuguesa, sendo uma das primeiras mulheres jornalistas em Portugal.[1][2] Em 2004 foi distinguida com o grau de comendadora da Ordem da Liberdade. É mãe do anterior primeiro-ministro de Portugal, António Costa.
Maria Antónia Palla | |
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Nascimento | 10 de janeiro de 1933 Seixal |
Cidadania | Portugal |
Cônjuge | Orlando da Costa, Victor Palla |
Filho(a)(s) | António Costa |
Alma mater | |
Ocupação | jornalista, ativista pelos direitos das mulheres |
Distinções |
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Empregador(a) | Diário Popular, O Século Ilustrado, Rádio e Televisão de Portugal |
Carreira
editarMaria Antónia nasceu no Seixal, a 10 de Janeiro de 1933, numa família laica, republicana e liberal, filha de Ítalo Ferrer dos Santos, o primeiro na sua família a não ser baptizada, e de sua mulher Angelina Painço de Assis e irmã de Jorge Ítalo de Assis dos Santos. Frequentou o Liceu Francês em Lisboa. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.[3]
Trabalhou em diversos jornais, revistas e televisão, destacando-se no tratamento de temas culturais e sociais. Em 1968 integrou com Margarida Silva Dias e Maria Armanda Passos o primeiro grupo de mulheres jornalistas a serem admitidas por concurso na redacção do Diário Popular, após Maria Virgínia Aguiar ter pertencido por um breve período àquela redacção, sendo forçada a abandona-la por ter engravidado.[4]
Após ser despedida do Diário Popular por insistir em fazer um balanço do Maio de 68 em Paris, que editou em livro com o título "Revolução, Meu Amor", entrou no Século Ilustrado, sendo a primeira mulher a integrar a redacção da empresa d' O Século, com a garantia dada por Francisco Mata a Guilherme Pereira da Rosa de que era mulher mas "escreve como um homem". Ainda antes da revolução do 25 de Abril chegou a chefe de redacção d' O Século Ilustrado.[4][5]
Em 1976 marcou a agenda feminista em Portugal ao assinar para a RTP a reportagem Aborto não É Crime, incluído na série de documentários Nome: Mulher, realizados em conjunto com Antónia de Sousa. No programa, emitido em Fevereiro de 1976, foram mostradas imagens de uma mulher abortando. Maria Antónia foi acusada de "ofensa ao pudor e incitamento ao crime" após a direcção da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, ter apresentado queixa da jornalista por "exercício ilegal da medicina".[4] O programa foi suspenso da estação pelo então presidente do conselho de administração da RTP, então o seu próprio marido, Manuel Pedroso Marques.[2] Maria Antónia foi a tribunal, sendo absolvida em 1979. O processo funcionou como base de lançamento da campanha para a despenalização do aborto.[4][6]
Faz parte da União das Mulheres Antifascistas e Revolucionárias (UMAR).[7]
Foi a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente da Direção do Sindicato dos Jornalistas, em 1979, após a Revolução de 25 de Abril. Era comumente referenciada em conjunto com Maria Antónia de Sousa e Maria Antónia Fiadeiro, chamadas "as três Antónias" por Maria de Lurdes Pintasilgo, adaptando a imagem das "três Marias", aplicada às autoras das Novas Cartas Portuguesas, Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.[4]
Foi também a primeira mulher que assumiu a presidência da Caixa de Previdência dos Jornalistas, desempenhando esse cargo durante doze anos. Foi uma das fundadoras da Liga dos Direitos das Mulheres e uma das promotoras da Biblioteca Feminista Ana de Castro Osório,[8] núcleo especializado da Biblioteca Municipal de Belém, a segunda que existe na Europa, enquadrada num espaço público.
Foi uma das fundadoras do Fórum Português para a Paz e Democracia em Angola, que presta apoio às forças democráticas daquele país. É Membro Vitalício do Conselho Geral da Fundação Mário Soares desde 10 de Março de 1996.
Prémios e Reconhecimentos
editarEm Março de 2004 foi homenagada com um jantar na Cervejaria Trindade, em Lisboa, por ocasião do I Congresso Feminista e da Educação (1924-2004), que teria lugar em Maio desse ano.[9] A 25 de Abril do mesmo ano foi agraciada com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade.[10]
Em 2019 é galardoada com o Prémio Carreira, no âmbito dos Prémios ACTIVA Mulheres Inspiradoras.[11] Nesse mesmo ano é-lhe atribuído o Prémio Maria Barroso – Jornalismo pela Paz e pelo Desenvolvimento.[12]
Em 2022 é galardoada com o Prémio do Clube das 25 (associação feminista espanhola) que distingue mulheres que se destacaram pela luta pela igualdade de oportunidades.[13]
Em 2024 é agraciada com o Prémio Gazeta de Mérito, no âmbito Prémios Gazeta 2023, atribuído pelo Clube de Jornalistas.[14]
A 13 de fevereiro de 2025, foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.[10]
Vida pessoal
editarCasou a primeira vez com o escritor moçambicano de origem goesa Orlando da Costa, de quem teve um filho, António Costa, ex-Primeiro-Ministro de Portugal, nascido em 1961. Casou a segunda vez com o arquitecto Victor Palla, falecido em 2006, com cujo sobrenome acabou por ficar, e em 1974 com o coronel Manuel Pedroso Marques.[3]
Obra publicada
editar- Revolução, meu amor – Maio 68, um ano depois (Prelo, Lisboa, 1969) (Sibila Publicações, reedição, 2018).[15]
- Só Acontece aos Outros – Histórias de violência, (Sibila Publicações, reedição, 2017).[16][17]
- Savimbi: Um sonho africano, em co-autoria com João Soares (Nova Ática, 2003).[18]
- Viver pela Liberdade, em co-autoria com Patrícia Reis, (Matéria‑Prima Edições, 2014).[19][20]
Referências
- ↑ Crespo, Lúcia (23 de fevereiro de 2018). «Maria Antónia Palla: "Os partidos cheiram-me um bocado a igreja"». Jornal de Negócios
- ↑ a b Espada, Maria Henrique (11 de novembro de 2017). «Maria Antónia Palla: O meu filho não tem tempo para andar a visitar a mãezinha». www.sabado.pt. Consultado em 27 de dezembro de 2018
- ↑ a b Antena2, Rádio e Televisão de Portugal-. «Maria Antónia Palla | 11 a 13 Dezembro 23h00 - Cultura - Antena2 - RTP»
- ↑ a b c d e Almeida, São José (26 de outubro de 2014). «Maria Antónia Palla: "Não tinha, como não tenho ainda hoje, respeito pelas hierarquias"». PÚBLICO. Consultado em 27 de dezembro de 2018
- ↑ Rodrigues, António (15 de setembro de 2018). «Maria Antónia Palla. 'A ditadura continua a influir muito na vida portuguesa'». Semanario SOL. Consultado em 27 de dezembro de 2018
- ↑ Reis, Marta (10 de fevereiro de 2017). «Manuela Tavares sobre despenalização do aborto: "Para nós, Guterres ficou para sempre marcado"». ionline. i Online. Consultado em 27 de dezembro de 2018
- ↑ Almeida, São José. «A conquista dos direitos das mulheres nunca é definitiva». PÚBLICO. Consultado em 27 de dezembro de 2018
- ↑ Almeida, São José. «Biblioteca pública sobre feminismo abre em Lisboa»
- ↑ Almeida, São José. «Jantar de homenagem a Maria Antónia Palla». PÚBLICO. Consultado em 27 de dezembro de 2018
- ↑ a b «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Maria Antónia Assis dos Santos Palla Carmo". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 12 de março de 2025
- ↑ «Activa | Prémios ACTIVA 2019 Mulheres Inspiradoras: conheça todas as vencedoras». Activa. 13 de janeiro de 2020. Consultado em 30 de outubro de 2023
- ↑ «Maria Antónia Palla recebe o Prémio Maria Barroso na Semana da Mulher | Figueira da Foz | 16 Mar». www.sibila.pt. Consultado em 30 de outubro de 2023
- ↑ «Organização espanhola distingue Lídia Jorge, Maria Antónia Palla e Teresa Salgueiro». www.dn.pt. 18 de abril de 2022. Consultado em 30 de outubro de 2023
- ↑ Jornalistas, Clube de (14 de outubro de 2024). «Atribuídos os Prémios GAZETA 2023 – 39ª edição». Clube de Jornalistas. Consultado em 16 de outubro de 2024
- ↑ Palla, Maria Antónia. (2018). Revolução, meu amor : maio 68, um ano depois 2a ed ed. [S.l.]: Sibila Publicações. ISBN 978-989-99946-5-2. OCLC 1035648323. Consultado em 30 de abril de 2020
- ↑ Maria Antónia Palla (2017). Só acontece aos outros : histórias de violência. Lisboa: Sibila Publicações. OCLC 1023648941
- ↑ Céu e Silva, João (2 de dezembro de 2017). «Violência sobre mulheres portuguesas desde 1970 por Maria Antónia Palla». www.dn.pt. Consultado em 27 de dezembro de 2018
- ↑ Palla, Maria Antónia,. Savimbi : um sonho africano. Lisboa: [s.n.] OCLC 56878234
- ↑ Palla, Maria Antónia,. Viver pela liberdade 1.a edição ed. Lisboa: [s.n.] OCLC 910849136
- ↑ «Maria Antónia Palla: Memórias de uma mulher de causas». Caras. 14 de novembro de 2014. Consultado em 27 de dezembro de 2018