Roberto Piva

Escritor brasileiro

Roberto Piva (São Paulo, 25 de setembro de 1937São Paulo, 3 de julho de 2010[1]) foi um poeta brasileiro.

Roberto Piva
Nascimento 25 de setembro de 1937
São Paulo, Brasil
Morte 3 de julho de 2010 (72 anos)
São Paulo, Brasil
Nacionalidade Brasil Brasileiro
Ocupação Poeta
Prémios Prêmio Literário da Fundação Biblioteca Nacional (2008)
Movimento literário Geração beat
Magnum opus Paranóia

Obra editar

Publicado primeiramente na Antologia dos Novíssimos (São Paulo: Massao Ohno, 1961), Roberto Piva logo se destacaria como uma das vozes mais originais da poesia paulistana com a publicação de Paranóia, em 1963. Adepto do surrealismo e influenciado pela geração beat, Piva escreve a cidade de São Paulo com um olhar altamente erotizado, acompanhado pela experiência com narcóticos e alucinógenos. Exemplo disso é o conhecido poema "Praça da República dos meus Sonhos":

A estátua de Álvares de Azevedo é devorada com paciência pela paisagem de morfina
a praça leva pontes aplicadas no centro de seu corpo e crianças brincando na tarde de esterco
Praça da República dos meus sonhos
onde tudo se faz febre e pombas crucificadas
onde beatificados vêm agitar as massas
onde Garcia Lorca espera seu dentista
onde conquistamos a imensa desolação dos dias mais doces (...) [2]

Em 1976, Piva foi incluído na antologia 26 Poetas Hoje, de Heloísa Buarque de Holanda. Em 2005, a Editora Globo deu início à publicação das obras reunidas do poeta, organizadas por Alcir Pécora, que também organizou, para a mesma editora, a publicação das obras reunidas de Hilda Hilst.

A poesia de Roberto Piva também é conhecida por uma forte presença de homoerotismo.

Influências editar

Roberto Piva frequentemente é classificado como um "poeta maldito" e, de fato, sua poesia evoca muitos poetas que são tradicionalmente considerados malditos, citando-os nominalmente grande parte das vezes. É o caso de Álvares de Azevedo, Antonin Artaud, Arthur Rimbaud, Marquês de Sade, Pier Paolo Pasolini, entre outros. Jorge de Lima também está presente na dicção de Piva, que dedicou a ele o poema "Jorge de Lima, panfletário do Caos", do livro Paranóia. Há ainda a explícita influência de Murilo Mendes. Sobre ele, Piva diz em seus versos "mestre Murilo Mendes tua poesia são os sapatos de abóboras que eu calço nestes dias de verão". O ponto de ligação que há entre os dois é o tom surrealista que ambos assumem em seus poemas. Por fim, o filósofo paulista Vicente Ferreira da Silva exerceu influência metafísica e religiosa em Piva.[3]

Assim, já no contexto das escolas literárias, a obra de Piva evoca experiências do Romantismo, Simbolismo, Surrealismo e da Geração Beat. Figura ao lado de Claudio Willer e Sergio Lima como um dos únicos poetas brasileiros resenhados pela revista francesa La Bréche - Action Surrealisté, dirigida por André Breton, em sua quinta edição, de fevereiro de 1965[4]. Roberto Piva também é um grande leitor de literatura italiana, especialmente da obra de Dante Alighieri, que estudou com profundidade entre 1959 e 1961 num curso com o Edoardo Bizzarri, então Adido Cultural da Itália, no Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro[4].

Poetas mais canônicos, como Fernando Pessoa, Federico Garcia Lorca e Walt Whitman também influenciaram o poeta.

Embora, muitas vezes classificada a sua poesia como Poesia marginal, por ter sido incluído na antologia 26 Poetas Hoje, o poeta não teve experiências como as da chamada Geração mimeógrafo, utilizando meios "marginais" de divulgação.

Em seus livros mais recentes, é grande a presença do xamanismo.

Livros do autor editar

Plaquete

  • Ode a Fernando Pessoa (Massao Ohno, 1961).

Livros de poesia

  • Paranóia (Massao Ohno, 1963).
  • Piazzas (Massao Ohno, 1964).
  • Abra os olhos e diga ah! (Massao Ohno, 1975).
  • Coxas (Feira de Poesia, 1979).
  • 20 Poemas com Brócoli, (Massao Ohno, 1981).
  • Quizumba (Global, 1983).
  • Ciclones (Nankin, 1997).

Antologias

  • Antologia Poética (L&PM, 1985).
  • Um Estrangeiro na Legião: obras reunidas, volume 1 (Globo, 2005).
  • Mala na Mão & Asas Pretas: obras reunidas, volume 2 (Globo, 2006).
  • Estranhos Sinais de Saturno: obras reunidas, volume 3 (Globo, 2008).
  • Roberto Piva: antologia postal (Azougue, 2016).

Referências

  1. Poeta Roberto Piva morre em São Paulo caderno Ilustrada - Folha de São Paulo:ed. de 03 de julho de 2010
  2. Roberto Piva, "Paranóia", em Um estrangeiro na legião: obras reunidas, volume 1. São Paulo: Editora Globo, 2005
  3. PIVA, Roberto. «Entrevista de Roberto Piva». Interzona. Consultado em 16 de junho de 2020. Vicente Ferreira da Silva, que Oswald de Andrade considerava o único filósofo autóctone, morreu em 63. Eu convivi com ele, eu e meus amigos, o Willer, de 61 a 63, de 60 a 63. Ele costumava dizer que o ritmo era pagão e se definia como um filósofo neo-pagão. 
  4. a b Hungria, Camila; D'Elia, Renata. Os Dentes da Memória: Piva, Willer, Franceschi, Bicelli e Uma Trajetória Paulista de Poesia. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2011. 255 páginas

Ver também editar

Ligações externas editar