João Ferreira-Rosa

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João Manuel Soares Ferreira Rosa (Lisboa, São Mamede, 16 de fevereiro de 1937Loures, 24 de setembro de 2017) foi um fadista e letrista português, intérprete do famoso fado "O Embuçado".

João Ferreira-Rosa
Informação geral
Também conhecido(a) como João Ferreira Rosa
Nascimento 16 de fevereiro de 1937
Local de nascimento Lisboa, Portugal
Morte 24 de setembro de 2017 (80 anos)
Local de morte Loures, Portugal
Nacionalidade português
Género(s) Fado
Cônjuge Maria João Pires
Ana Maria Botelho
Instrumento(s) Voz

Biografia editar

João Ferreira-Rosa nasceu em 16 de fevereiro de 1937, na freguesia de São Mamede, em Lisboa.[1][2] Foi casado com a pianista Maria João Pires e, em segundas núpcias, com pintora Ana Maria Botelho (1936-2016).[1]

Autor e intérprete de uma obra singular no panorama musical português, pelo seu lirismo, pureza e musicalidade, foi um dos maiores expoentes do fado tradicional e lusitano. Monárquico convicto[3] e fascinado pelas tradições portuguesas, o seu repertório aborda o amor e o sentimento de perda — Triste sorte, Os lugares por onde andámos, Fado das Mágoas, Acabou o Arraial, Mansarda ou Pedi a Deus, todos com letra de sua autoria —, mas também, de forma recorrente, a nostalgia dos tempos perdidos, de um Portugal esquecido, das navegações, das romarias e das touradas — onde se podem inserir temas como Fado Alcochete, Fado Sonho ou Fado dos Saltimbancos, o primeiro também com letra sua; o segundo de Francisco Duarte Ferreira[4] e o terceiro de Isidoro de Oliveira.[5] Sem prejuízo, o fado que torna Ferreira Rosa conhecido do grande público é o Fado do Embuçado, tema incluído no seu primeiro EP, editado em 1961.[2]

Composição singular, com música do Fado Tradição, da cantadeira Alcídia Rodrigues, e letra de Gabriel de Oliveira, é incontornável em qualquer noite ou tertúlia fadista. O tema mais uma vez é o tempo de antigamente, uma curiosa história de um embuçado (homem disfarçado com um capote) que todas as noites ia ouvir cantar fados e que, tendo um dia sido desafiado a revelar-se, se manifesta como sendo o Rei de Portugal, que após o beija-mão real cantou o Fado entre o povo.

Atuou pela primeira vez em público aos 14 anos, no velho Teatro Rosa Damasceno, em Santarém, durante uma festa da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém. A atuação tem uma razão de ser; cantar o Fado era, na "Escola Agrícola", uma forma excelente de escapar às praxes dos colegas mais velhos. Em 1961, estreou-se na rádio, ao participar no programa Nova Onda, da Emissora Nacional, ao lado de outros fadistas amadores como Mercês da Cunha Rego, Teresa Tarouca e Hermano da Câmara.[carece de fontes?]

Em 1965, adquire um espaço, no Beco dos Curtumes, no carismático bairro de Alfama, a que chamou A Taverna do Embuçado. Inaugurada no ano seguinte, esta casa viria a marcar toda uma era do Fado ao longo dos 20 anos que se seguiram, até que deixa a gestão na década de 1980, cedendo-a a Teresa Siqueira, depois também de ter sofrido uma ocupação durante o PREC. O espaço, contudo, ainda hoje existe. Também nos anos 1960, adquiriu o Palácio Pintéus, no concelho de Loures, que estava praticamente em ruínas e destinado a converter-se num complexo de prédios.

Por Pintéus passaram muitos intérpretes do Fado, inclusive em atuações transmitidas a preto e branco pela RTP, casos de Alfredo Marceneiro, Maria do Rosário Bettencourt, João Braga ou José Pracana. De resto, Ferreira Rosa — que, à semelhança do velho Marceneiro, cultivava uma certa aversão a estúdios de gravação e à comercialização do fado, preferindo cantá-lo entre amigos, como refere nos versos do Fado Alcochete — resolveu gravar dentro das paredes do Palácio Pintéus o seu disco Ontem e Hoje, editado em 1996, e considerado um dos seus mais sublimes trabalhos.

Nos anos subsequentes, João Ferreira Rosa dedicou-se à recuperação do palácio, lutando contra diversos obstáculos burocráticos e administrativos que lhe foram sendo colocados. Abriu o Palácio Pintéus as suas portas ao público em 2007 e lá se realizam diversos eventos ligados ao fado.

Outro aspeto da vida do fadista era o carinho que nutria por Alcochete. A esta vila, onde comprou uma casa, escreveu o Fado Alcochete, que costumava cantar na música do Fado da Balada, de Marceneiro.

Entre os anos de 2001 e 2003, amigos e seguidores de João Ferreira Rosa tiveram ainda a oportunidade de o ouvir regularmente em ciclos de espectáculos organizados no Wonder Bar do Casino Estoril. Entre os seus maiores sucessos estão o emblemático "Embuçado", "Triste Sorte", "Acabou o Arraial", "Fragata" ou "Fado dos Saltimbancos".[1]

Em novembro de 2012 recebeu a Medalha de Mérito Municipal, grau Ouro, da a Câmara Municipal de Lisboa.[6][7] João Ferreira-Rosa morreu na manhã do dia 24 de Setembro de 2017, aos de 80 anos, no Hospital Beatriz Ângelo, em Loures.[1][8][6][7]

Discografia editar

Álbuns de estúdio editar

  • Fado (LP, Imavox, 1978)[9]
  • Embuçado (LP/CD, EMI, 1988)[10][11]
  • Ontem e Hoje (2xCD, EMI, 1996)[12]

Singles e EPs editar

  • "Embuçado" / "Fragata" / "Triste Sorte" / "Despedida" (EP, Columbia/VC)
  • "O Meu Amor Anda em Fama" (EP, Columbia/VC)
  • Partida (EP, Aquila)
  • "Neste País" / "Santo Estêvão" (Single, Imavox, 1977)
  • "Neste País" / "Despedida" (Single, Discossete, 1983)

Álbuns ao vivo editar

  • Ao Vivo no Wonder Bar do Casino Estoril (CD, Ovação, 2004)

Compilações editar

  • O Melhor de João Ferreira-Rosa (CD, iPlay/Edições Valentim de Carvalho, 2008)
  • Essencial (CD, EVC, 2014)

Referências

  1. a b c d Agência Lusa (24 de setembro de 2017). «João Ferreira Rosa: um defensor do fado tradicional». Diário Jornal de Notícias. Consultado em 30 de setembro de 2017 
  2. a b «João Ferreira-Rosa». Infopédia. Consultado em 20 de Novembro de 2012 
  3. «João Ferreira Rosa». FNAC. Consultado em 20 de Novembro de 2012 [ligação inativa] [ligação inativa]
  4. «JOÃO FERREIRA ROSA - ESSENCIAL - Fado - Música - Catálogo». COMPANHIA NACIONAL DE MÚSICA. Consultado em 15 de fevereiro de 2021. Arquivado do original em 3 de março de 2021 
  5. «JOÃO FERREIRA ROSA - ESSENCIAL - Fado - Música - Catálogo». www.cnmusica.com. Consultado em 15 de fevereiro de 2021 [ligação inativa]
  6. a b Agência Lusa (24 de setembro de 2017). «Morreu o fadista João Ferreira-Rosa». Jornal de Notícias. Consultado em 30 de setembro de 2017. Arquivado do original em 30 de setembro de 2017 
  7. a b Agência Lusa (24 de setembro de 2017). «Presidente da República destaca voz decisiva do fado tradicional e intemporal». Correio da Manhã. Consultado em 30 de setembro de 2017 
  8. Agência Lusa (24 de setembro de 2017). «Morreu o fadista João Ferreira-Rosa». Semanário Expresso. Consultado em 30 de setembro de 2017 [ligação inativa]
  9. «João Ferreira-Rosa – Fado» (em inglês). Discogs. Consultado em 30 de setembro de 2017 
  10. «João Ferreira-Rosa – Embuçado» (em inglês). Discogs. Consultado em 30 de setembro de 2017 
  11. «Catálogo - Detalhes do registo de "Embuçado"». Fonoteca Municipal de Lisboa. Consultado em 30 de setembro de 2017 
  12. «Catálogo - Detalhes do registo de "Ontem e hoje"». Fonoteca Municipal de Lisboa. Consultado em 30 de setembro de 2017 

Ligações externas editar