Usuário(a):Laura Helena Wankler Silva/Página de testes

Maria Odila Leite da Silva Dias
Laura Helena Wankler Silva/Página de testes
Maria Odila Leite da Silva Dias recebendo o título de professora emérita da Universidade de São Paulo.
Nascimento 21 de abril de 1940
São Paulo
Nacionalidade Brasileira
Educação Universidade de São Paulo

Universidade de Oxford

Maria Odila Leite da Silva Dias (São Paulo, 21 de abril de 1940) é uma historiadora e professora universitária brasileira. É considerada uma das maiores historiadoras do Brasil.[1]

Biografia

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Maria Odila Leite da Silva Dias nasceu em 21 de abril de 1940, sendo filha de Cândido Lima da Silva Dias e Odila Leite Ribeiro. Conviveu, junto a seus três irmãos, com uma casa de constante debate acadêmico. Seu pai era matemático e professor universitário, sendo fundador do Instituto de Matemática da Universidade de São Paulo. A casa de seus país, em São Paulo, era ponto de encontro de grandes intelectuais, como Maurício Peixoto, Leopoldo Nachbin, Pierre Chaunu, entre outros.[2]

Sua mãe, apesar de não ter profissão oficial, sempre a estimulou a buscar sua independência e construir sua carreira, apoiando seus estudos e entrada na faculdade. Seu pai, durante doutoramento, fez diversos estágios no exterior, levando toda a família nas viagens. Dos 7 aos 9 anos morou em diversas cidades da Inglaterra e dos Estados Unidos da América. Passou um ano em Cambridge, um ano em Chicago, e seis meses em Princeton. Nesse ambiente conheceu pessoalmente Albert Einstein e aprendeu outros idiomas. Aos 17 anos, passou três meses na North Western University, em Evanston, onde pode assistir cursos de literatura como ouvinte. Retornando ao Brasil, em São Paulo, estudou no Liceu Pasteur, um colégio de ensino francófono, no qual fez parte do jornal estudantil chamado "O Arauto" - que ganhou o prêmio de melhor jornal estudantil do estado, em 1954 -, Maria Odila era responsável por escrever uma coluna chamada “Extratos Filosóficos” e produziu contos que foram premiados.[2]

Concluídos seus estudos iniciais, desejou cursar Filosofia, mas foi convencida pelo seu pai que teria mais oportunidades profissionais cursando História. Durante a graduação, foi aluna e posteriormente tornou-se assistente de Sérgio Buarque de Holanda, quando passou a lecionar História do Brasil, iniciando dessa forma sua carreira na docência. Nutriu uma profunda amizade com o autor de Raízes do Brasil, que tornou-se orientador de seu mestrado, concluído em 1965, e de seu doutorado, em 1972.[2][3] Sua tese de doutorado, "Robert Southey, Historiador do Brasil: O Fardo do Homem Branco na Inglaterra Pré-Vitoriana e a Formação da Nacionalidade Brasileira", também contou com a orientação de Maria Thereza Schorer Petrone, e de Charles Boxer.[3] Por essa tese, tornou-se uma referência na História da Historiografia Brasileira.[4]

Durante seus estudos para o doutoramento, relacionou-se com Caio Prado Jr. Conheceu o historiador em 1968 e se relacionaram por cerca de 5 anos. Ela havia acabado de gerar seu primeiro filho e divorciar-se, e perder seu irmão, que suicidou-se. Além disso, a Ditadura Militar de 1964 aumentou seu aparelho repressivo, pela aprovação do Ato Institucional nº 5. Ocorreu nesse contexto uma demissão em massa de professores da Universidade de São Paulo, e Caio Prado Jr foi preso, sob a acusação de inflar estudantes contra o regime.[2] Mesmo com os esforços de Fernando Henrique Cardoso e Antonio Candido, seu companheiro permaneceu preso por 16 meses, inicialmente no Presídio Tiradentes e depois no Quartel do Exército no bairro Jaguaré. Maria Odila visitava-o todos os dias.

Depois de solto, em 1971, mudaram-se para New Haven, onde realizou um pós-doutoramento e estágio na Universidade Yale, a convite de Richard Morse. Em Yale a historiadora teve oportunidade de sondar os limites do conhecimento do sujeito universal, em um contexto no qual despontavam os primeiros estudos que viriam formar a área dos Cutural Studies da Universidade. Nesse momento, nos meios acadêmicos, multiplicavam-se estudos das epistemologias feministas, sobre a consciência da pluralidade dos sujeitos sociais do conhecimento e sobre a crítica do etnocentrismo cultural. Essas novas vertentes dos paradigmas das Ciências Humanas ampliou a abordagem da pesquisa da autora que passou a questionar os papéis sociais e as relações de poder na sociedade, influenciando-a escrever uma história do quotidiano de mulheres escravas e forras.

Entre 1976 e 1990 viveu entre Austin e São Paulo, lecionando na Universidade de Texas, a convite do professor Richard Graham, e na Universidade de São Paulo.[2][3]

Entre 1984 e 1990 prestou assessoria à Fundação Carlos Chagas, no âmbito dos Concursos de Dotações para Pesquisas sobre Mulheres. E foi membro da Comissão Ford, para a mesma temática.[3] Todas essas participações conjuntamente a seus cargos de professora na Universidade de São Paulo (1962 - 1995) e na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1996 - 2013).

Foi agraciada com o título de professora emérita da Universidade de São Paulo, em 13 de setembro de 2013.[5]

Contribuição

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Foi fundadora do Instituto de Estudos Brasileiro (IEB).[3] Atuou como diretora do Museu Paulista.[1]

Estudos de gênero

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Seus estudos em História das relações de gênero são fundadores do campo de estudo no Brasil. Seu artigo, Mulheres sem história, publicado na Revista de História, em 1983, desenvolvido a partir de sua tese de livre-docência Anna Gertrudes Jesus, mulher da terra, é um dos primeiros a discutir o apagamento das mulheres na história da urbanização da cidade de São Paulo.[3]

Sua tese trata das mulheres pobres, na urbanização da cidade de São Paulo, que viviam “nas fímbrias da escravidão e do trabalho livre”, sob uma “organização de sobrevivência”. Mesmo as mulheres tendo sido “presença ostensiva” em São Paulo, no processo de urbanização durante o século XIX, elas não figuravam nos estudos históricos sobre o período. Ela argumenta que o espaço social de “desordem e confusão” em que essas mulheres viveram é revelador de confusões mais fundas entre as esferas públicas e privada, herdadas da escravidão e constitutivas do Estado brasileiro.[3]

Esta obra obteve destaque pelo o propósito de elucidar aspectos da organização das relações de produção, do sistema de dominação e da estruturação do poder através de uma história "microssocial do cotidiano". Seu objetivo era integrar as mulheres pobres à narrativa histórica e adotar uma abordagem histórica centrada nos pequenos detalhes do cotidiano, afim de de revelar dinâmicas sistêmicas subjacentes. [6]

"Silva Dias não foi a primeira historiadora brasileira que investigou a experiência de mulheres no passado. Ela foi, contudo, a primeira historiadora brasileira que investigou as mulheres pobres a partir de seu cotidiano, da cultura popular, das lutas e negociações miúdas e corriqueiras. Ela foi assim, a primeira historiadora a unir o “novo objeto” com a “nova abordagem” e ainda se apoiando em trabalhos empíricos e quantitativos".[3]

Outra notória contribuição para a historiografia dos estudos de gênero se deu em 1994, quando apresentou no Colóquio Internacional "Formação, Pesquisa e Edição Feministas na Universidade" o trabalho "Novas subjetividades na pesquisa histórica feminista: uma hermenêutica das diferenças". Nesta obra, criticou diretamente abordagens como as de Michelle Perrot e Georges Duby, classificando-as como lineares em antiquadas e que envolvem categorias de dominação. Além disso, propôs a utilização de um novo prisma para a análise das relações do cotidiano contrapondo a ideia de um sujeito masculino universal. Sua análise, reside em compreender o ser por meio da experiência concreta, em contraste com concepções abstratas, que poderiam reavivar um discurso normativo de dominação masculina sobre as mulheres.[7]

Nesse sentido, a estruturação de sua pesquisa sugere uma reavaliação dos processos de subjetividade e uma crítica da identidade e da racionalidade. Sua obra envolve uma constante desconstrução da história das mulheres, utilizando de novas abordagens histórico-filosóficas, como nos trabalhos de Foucault e Derrida. Sendo assim, sua análise contrapõe as totalidades universais defendidas pela filosofia iluminista e propõe o desenvolvimento de novas perspectivas e teorias para considerar natureza histórica do conhecimento e a importância das mulheres dentro deste processo.[8]

Revista de Estudos Feministas

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Foi fundadora da Revista de Estudos Feministas, junto a intelectuais de peso como Lena Lavinas, Bila Sorj, Maria Luiza Heilborn, Heloisa Buarque de Holanda, Albertina de Oliveira Costa, Maria Lucia Barros Mott, Mary Castro Garcia, entre outros.[2]

"Interiorização da Metrópole"

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O conceito de "Interiorização da Metrópole," proposto por Maria Odila Leite da Silva Dias, em sua obra de mesmo nome, se diferencia das interpretações historiográficas anteriores que presumiam uma ruptura político-administrativa no processo de independência do Brasil. Segundo a historiadora, esses vícios de interpretação europeizantes aplicavam equivocadamente características das revoluções burguesas europeias à realidade brasileira, com um apego à imagem de uma colônia contra metrópole e uma suposta consciência nacional atribuída ao processo independentista.[9][10]

Maria Odila Leite da Silva Dias destaca a continuidade das estruturas coloniais dentro do território brasileiro, em vez de uma mudança abrupta, oferecendo uma perspectiva mais integrada sobre a formação da nacionalidade brasileira. Para tanto, ela descreve o processo pelo qual a estrutura administrativa e econômica de Portugal foi transplantada para o Brasil durante a transição do período colonial para o Império. Esta perspectiva é fundamental para entender a formação da nacionalidade brasileira, que não resultou de um movimento revolucionário nacionalista, mas de conflitos internos em Portugal e da necessidade de manter a estabilidade social e econômica das elites coloniais.[9][10]

A chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808 e a abertura dos portos consolidaram a centralização administrativa e reforçaram os laços entre as elites locais e a coroa portuguesa. Isso permitiu a continuidade das estruturas coloniais, garantindo privilégios às classes dominantes brasileiras que temiam a possibilidade insurreição, como foi o caso do Hati. Esse arranjo resultou, consequentemente, na manutenção das desigualdades sociais e regionais, já que a centralização beneficiou principalmente o Centro-Sul em detrimento de outras regiões do país. Nesse sentido, Maria Odila argumenta que a independência do Brasil foi menos um movimento de libertação nacional e mais uma adaptação das estruturas coloniais às novas circunstâncias políticas. A interdependência entre o Brasil e Portugal, mesmo após a independência formal, evidencia como o processo de interiorização da metrópole atuou na formação do Estado brasileiro perpetuando as estruturas coloniais.[10]

Orientação

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Maria Odila é uma das maiores historiadoras do Brasil. Tendo constituído campos de estudo, e tendo revolucionado as bases da historiografia nacional, ela foi responsável por orientar e inspirar uma geração de novos historiadores. Dentre seus importantes orientandos podemos citar Nicolau Sevcenko, Junia Ferreira Furtado, entre outros.[11]

Publicações

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Seleção de principais obras

  • A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda, 2005.[12]
  • Quotidiano e Poder: Ana Gertrudes de Jesus. São Paulo: Brasiliense, 1984. Com duas edições, e tradução para o inglês.[13]
  • O fardo do homem branco: Robert Southey, historiador do Brasil. São Paulo: Nacional, 1974.[14]

Periódicos

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  • Corpo, natureza e sociedade nas minas, 1680-1730. Projeto História (PUCSP), 2002.[15]
  • Novas subjetividades na pesquisa histórica feminista: uma hermenêutica das diferenças. Estudos Feministas, 1994.[16]
  • Mulheres sem história. Revista de História, 1983.[17]
  • Revolução industrial e reformismo social na Inglaterra pré-vitoriana. Revista de História, n.115, 1983.[18]
  • O mito da descolonização liberal na Inglaterra pré-vitoriana (1808-1848). Revista de História, n.103, 1975.[19]
  • Aspectos da Ilustração no Brasil. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Vol.278., 1968.[20]

Ver também

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Referências

  1. a b Oliveira, Andressa Soares de (31 de outubro de 2023). «Os Maiores Historiadores do Brasil e do Mundo». MIX ME. Consultado em 23 de maio de 2024 
  2. a b c d e f Pedro, Joana Maria; Neckel, Roselane (26 de abril de 2021). «História das Mulheres e a Hermenêutica do Cotidiano – : entrevista com Maria Odila Leite da Silva Dias». Estudos Ibero-Americanos (1): e39831–e39831. ISSN 1980-864X. doi:10.15448/1980-864X.2021.1.39831. Consultado em 23 de maio de 2024 
  3. a b c d e f g h Zilberleib, Branca (4 de novembro de 2022). «A mulher como problema de pesquisa em História: emergência de estudos sobre mulheres e gênero na historiografia brasileira recente (1973-2001)». Consultado em 24 de maio de 2024 
  4. «Maria Odila Leite da Silva Dias - Catálogo Histórico de Teses e Dissertações de História (1942-2000)». www.historiografia.com.br. Consultado em 23 de maio de 2024 
  5. «Outorga do título de professora emérita a Maria Odila Leite da Silva Dias». USP Imagens. 24 de abril de 2018. Consultado em 24 de maio de 2024 
  6. Zilberleib, Branca (4 de novembro de 2022). «A >i/i< como problema de pesquisa em História: emergência de estudos sobre mulheres e gênero na historiografia brasileira recente (1973-2001)». São Paulo. doi:10.11606/d.8.2022.tde-17052023-174704. Consultado em 20 de junho de 2024 
  7. Dias, Maria Odila Leite (1994). «Novas subjetividades na pesquisa histórica feminista: uma hermenêutica das diferenças.». Estudos feministas. 
  8. Vasconcellos, Tânia (2005). «A perspectiva de gênero redimensionando a disciplina histórica» (PDF). UFPB. Revista Ártemis (3). Consultado em 18 de junho de 2024 
  9. a b Colombo, Sylvia (29 de maio de 2005). «O mito da Independência». Folha.uol. Consultado em 08 de Junho de 2024. Cópia arquivada em 29 de maio de 2005  Verifique data em: |acessodata= (ajuda)
  10. a b c DIAS, Maria Odila Leite da Silva (2005). Interiorização da Metrópole e outros ensaios (PDF). São Paulo: Alameda. pp. 7–37 
  11. «Maria Odila Leite da Silva Dias - Catálogo Histórico de Teses e Dissertações de História (1942-2000)». www.historiografia.com.br. Consultado em 23 de maio de 2024 
  12. Dias, Maria Odila Leite da Silva (2005). A interiorização da metrópole e outros estudos. São Paulo: Alameda. OCLC 60703634 
  13. Dias, Maria Odila Leite Da Silva (19 de maio de 1970). Cotidiano E Poder Em Sao Paulo No Sec. Xix. [S.l.]: Editora Brasiliense 
  14. DIAS, Maria Odila da Silva (1974). O fardo do homem branco: Southey, historiador do Brasil (PDF). [S.l.]: Companhia Editora Nacional 
  15. Dias, Maria Odila Leite da Silva (2002). «CORPO, NATUREZA E SOCIEDADE NAS MINAS (1680-1730)». Projeto História : Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados de História. ISSN 2176-2767. Consultado em 21 de junho de 2024 
  16. Dias, Maria Odila Leite da Silva (1 de janeiro de 1994). «Novas Subjetividades na Pesquisa Histórica Feminista: uma hermenêutica das diferenças». Revista Estudos Feministas (2): 373–373. ISSN 1806-9584. doi:10.1590/%x. Consultado em 21 de junho de 2024 
  17. Dias, Maria Odila Leite da Silva (7 de junho de 1983). «Mulheres sem História». Revista de História (114): 31–45. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.v0i114p31-45. Consultado em 21 de junho de 2024 
  18. Dias, Maria Odila Leite Silva (7 de dezembro de 1983). «Revolução Industrial e reformismo social na Inglaterra pré-vitoriana». Revista de História (115): 47–59. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.v0i115p47-59. Consultado em 21 de junho de 2024 
  19. Dias, Maria Odila Leite da Silva (25 de setembro de 1975). «O mito da descolonização liberal na Inglaterra pré-vitoriana (1808-1848)». Revista de História (103 (1)): 297–314. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1975.133153. Consultado em 21 de junho de 2024 
  20. Dias, Maria Odila Leite da Silva (Março de 1968). «Aspectos da ilustração no Brasil». 278: 105-170. Consultado em 20 de junho de 2024