Watatakalu Yawalapiti

ativista indígena brasileira, defensora da Amazônia, da cultura indígena e dos direitos das mulheres

Watatakalu Yawalapiti é uma ativista indígena brasileira, defensora da Amazônia, da cultura indígena e dos direitos das mulheres. Ela é a líder dos Yawalapiti, uma das dezesseis tribos do Xingu, que vive no nordeste do estado de Mato Grosso, no sul da Amazônia. Ela é cogitada como substituta do Cacique Raoni na representação internacional dos povos indígenas da Amazônia.

Watatakalu Yawalapiti
Watatakalu Yawalapiti
Nascimento 18 de junho de 1980 (43 anos)
Mato Grosso
Cidadania Brasil
Ocupação líder, ambientalista

Biografia editar

Nascida em 1980, Watatakalu é filha de Pirakumã,[1] cacique da tribo Yawalapiti, ex-membro da Fundação Nacional do Índio, falecido por volta de 2015,[2] que a apresentou à política.[3] Sua mãe era Iamony Mehinako, xamã da tribo Mehinako,[2] que morreu em 2021 de Covid-19.[3] Falando português e cinco línguas locais, ela estuda — caso raro para uma menina — em uma escola branca em Canarana apesar da oposição de parte de sua família.[2]

Conforme costume de sua tribo, assim que menstruou (aos 11 anos), passou a viver isolada em um quartinho (até os 14 anos), tendo contato apenas com sua mãe e seus avós, que lhe transmitiram os costumes e o conhecimento de sua tribo.[4] Aos 15 anos, casou-se à força e só conseguiu escapar três anos depois (salvou-se da consumação graças a uma ponta de flecha que guardava em sua rede).[3][4] Em 2002, ela adotou um menino rejeitado pela comunidade porque sua mãe era solteira. Teve então um filho de um segundo casamento que não durou, casando-se então com Ianukulá Kaiabi Suiá em 2005, com quem teve dois filhos.[2]

Por volta dos 18 anos, ela começou a fazer campanha por causas ambientalistas[5] ou feministas.[3] Sua luta é pela preservação da cultura dos povos amazônicos, livre de práticas que considera sexistas.[1]

 
"Um feminismo indigena", história de Watatakalu Yawalapiti no acervo do Museu da Pessoa

Ela se tornou a líder do povo Yawalapiti e trabalhou para proteger sua aldeia do Alto Xingu contra incêndios, mineração e silvicultura ilegais.[3] Ela abriu a Casa das Mulheres na aldeia de Kisêdje para se opor a um governo secular masculino. Sua influência se estende gradativamente à escala nacional brasileira.[3][6][7] É coordenadora do departamento das mulheres da Associação Terra Indígena do Xingu (ATIX - Mulher).[4][8][9][10] Participou da organização do primeiro grande encontro do movimento de mulheres indígenas do Xingu, que aconteceu em Mato Grosso em maio de 2019.[11][12][13] Ela é uma das mulheres nativas americanas mobilizadas diante da crise epidêmica da Covid-19, ativa na coordenação das lutas.[14] Segundo ela, no período da pandemia,

No Brasil, fundou a Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA), associação que ajudou a impulsionar Sônia Guajajara ao governo Lula, em 2023, como Ministra dos Povos Indígenas, e a eleger Joenia Wapichana para a presidência da Fundação Nacional do Índio.[3][16]

Aparece no cenário internacional, notadamente no fórum COP27.[3] Em 2023, ela entra no círculo (até então muito masculino) de braços direitos do Cacique Raoni, e deverá assumir o lugar dele.[3]

Oposição a Ysani Kalapalo editar

Ysani Kalapalo é apresentada por Jair Bolsonaro como a representante quase oficial dos povos indígenas do Brasil.[17] Seus detratores acreditam que aquela que eles apelidaram de "A indígena de Bolsonaro" e quem se autoproclama “indígena de direita" ou "indígena do século XXI" está longe de ser uma das grandes vozes da causa, mas na realidade é apenas uma YouTuber profissional.[18] Em seu canal, seguida por 292 mil pessoas em outubro de 2019, Ysani exalta os méritos de Bolsonaro, promove a exploração agrícola da Amazônia e ataca Raoni, seu alvo preferido.[carece de fontes?]

Sobre ela, Watatakalu declarou ao Le Monde: "Ysani não tem legitimidade para nos representar ou falar em nosso nome. Ela é uma canalha, que só se interessa por dinheiro e notoriedade e que usa a imagem do Xingú em benefício próprio. Isso é loucura. E é muito triste". Reiterando seu apoio ao cacique Kayapó Raoni, ela declarou: "Raoni continua sendo nosso líder. Ele é tudo menos uma figura do passado. Ele foi um exemplo para meus filhos ontem, é hoje e continuará sendo amanhã".[17]

Desrespeito ao Kuarup de sua mãe editar

Em maio de 2021, a pajé Iamony Mehinako (mãe de Watatakalu Yawalapiti) faleceu de covid-19 e, em setembro, os povos indígenas do Xingú realizaram o último dia do Kuarup, ritual fúnebre indígena que decreta o fim do luto, no centro da aldeia Mehinako. Dois homens desconhecidos entraram no ritual com um cartaz de propaganda eleitoral de Jair Bolsonaro (que tentava a reeleição). Watatakalu foi até eles e pediu que a faixa fosse recolhida. Como eles se negaram a respeitar a cerimônia, Watatakalu puxou a faixa com força e, com a ajuda de mais pessoas, retirou-a do círculo ritualístico.[19][20]

O vídeo do acontecimento foi editado para parecer que os povos do Xingú estavam em um evento de manifestação de apoio à reeleição de Bolsonaro e divulgado nas redes sociais de Carlos Bolsonaro, que chamou a ação de “indiociata”.[19]

Nas eleições de 2018, Bolsonaro elegeu os povos indígenas como os inimigos do desenvolvimento do país e prometeu e cumpriu não demarcar nenhum centímetro de terra aos povos originários.[19]

Dois dias após a publicação de Carlos Bolsonaro, a Associação Terra Indígena Xingu (Atix) emitiu uma nota de repúdio, afirmando que a ação foi uma afronta a um ritual sagrado e que o uso eleitoreiro é extremamente desonroso.[19]

Reconhecimento editar

  • 2022 - Prêmio Sim à Igualdade Racial.[21][22]
  • 2020 - “A voz dos sem voz", em Louvain-la-Neuve, na Bélgica, pelas mãos de Christiane de Wan, presidente do Coletivo de Mulheres.[23]

Links editar

Referências

  1. a b Favalle, Patrícia (11 de abril de 2022). «Mulheres que Inspiram: Watatakalu Yawalapiti coordena o projeto ATIX-MULHER no Xingu». Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site. Consultado em 10 de junho de 2023 
  2. a b c d «Líder indígena combate desigualdade de gênero dentro das aldeias». www.uol.com.br. Consultado em 10 de junho de 2023 
  3. a b c d e f g h i «Watatakalu Yawalapiti : le nouveau visage de la lutte indigène est une femme». France Culture (em francês). 9 de junho de 2023. Consultado em 10 de junho de 2023 
  4. a b c Favalle, Patrícia (11 de abril de 2022). «Mulheres que Inspiram: Watatakalu Yawalapiti coordena o projeto ATIX-MULHER no Xingu». Harper's Bazaar » Moda, beleza e estilo de vida em um só site. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  5. Jean-Mathieu Albertini (3 de setembro de 2019). «Au Brésil, les peuples autochtones reprochent à Bolsonaro de défendre les intérêts des incendiaires». Mediapart. Consultado em 10 de novembro de 2020 .
  6. «Ciclo Encontro com mulheres indígenas -». centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  7. «Watatakalu Yawalapiti (Brazil) illustrated by Helton Mattei (Brazil)». humanimpactsinstitute (em inglês). Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  8. «revista piauí - Watatakalu Yawalapiti». revista piauí. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  9. «Watatakalu Yawalapiti — Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo». www.iea.usp.br. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  10. «'Se é ali que decide, é ali que a gente tem que estar': a luta indígena por representação política | FAO». www.fao.org. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  11. Maria Fernanda Ribeiro et Nadia Pontes (6 de janeiro de 2020). «Women of the Xingu Unite Against Threats From Bolsonaro's Government (Portuguese)». Pulitzer Center (em inglês). Consultado em 10 de novembro de 2020 .
  12. Thais (5 de dezembro de 2022). «Mulheres realizam Feira de Produtos Indígenas em Alter do Chão». Iepé. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  13. «III Marcha das Mulheres Indígenas: as guerreiras ancestrais». Greenpeace Brasil. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  14. Le Tourneau, François-Michel (18 de maio de 2021). «Pandémie, feux, invasions et évangéliques : les Amérindiens d'Amazonie face à une catastrophe biblique:». Hérodote. N° 181 (2): 106–123. ISSN 0338-487X. doi:10.3917/her.181.0106. Consultado em 13 de junho de 2023 .
  15. «"A aldeia inteira estava com Covid"». revista piauí. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  16. Selma Gomes, Beatriz Murer, Daniele Leal, Mariana Furtado e Silvia Futada. Watatakalu Yawalapiti. 2019.
  17. a b «Qui est Ysani Kalapalo, « l'Indienne de Bolsonaro » ?». Le Monde. 7 de outubro de 2019. Consultado em 10 de novembro de 2020 .
  18. «Ysani Kalapalo, la youtubeuse indigène pro Bolsonaro - 28 minutes». Arte sur YouTube. Consultado em 10 de novembro de 2020 .
  19. a b c d e Ribeiro, Maria Fernanda (26 de setembro de 2022). «Lute como Watatakalu Yawalapiti». Amazônia Real. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  20. Zanotti, Marcelo. «Lute como Watatakalu Yawalapiti». www.ihu.unisinos.br. Consultado em 18 de dezembro de 2023 
  21. RBSTV. Prêmio Sim à igualdade racial. 2023.
  22. «Conheça os vencedores do Prêmio "Sim à Igualdade Racial" 2022 - Correio Nagô». 7 de junho de 2022. Consultado em 31 de maio de 2023 
  23. «Justice climatique et héroïnes de l'écologie». L'Avenir. Consultado em 10 de novembro de 2020 .

Bibliografia editar

Ligações externas editar

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