Alberto Dines

jornalista, professor universitário, biógrafo e escritor brasileiro

Alberto Dines (Rio de Janeiro, 19 de fevereiro de 1932São Paulo, 22 de maio de 2018) foi um jornalista, professor universitário, biógrafo e escritor brasileiro.

Alberto Dines
Alberto Dines
Alberto Dines em 2010
Nascimento 19 de fevereiro de 1932
Rio de Janeiro
Morte 22 de maio de 2018 (86 anos)
São Paulo
Nacionalidade Brasil
Ocupação jornalista, professor universitário, biógrafo e escritor
Prémios Prémio Jabuti 1993
Magnum opus O papel do jornal: uma releitura
Dines em 1974

Biografia editar

Casou-se em primeiras núpcias com Ester Rosali, sobrinha de Adolpho Bloch, com quem teve quatro filhos, e em segundas núpcias com a jornalista Norma Couri, sendo que ele foi militante do sionismo no final de sua vida.[1][2]

Carreira jornalística editar

"Jornalistas não podem se intimidar com o berro de um general, agressões de policiais ou de quem quer que seja, mesmo que vindo de um presidente dos Estados Unidos (...) Todo jornalismo é investigativo, ou não é jornalismo. Donde se conclui que o que lemos, ouvimos e vemos todos os dias na imprensa não é jornalismo."[3]

Alberto Dines

Como crítico de cinema, Alberto Dines iniciou sua carreira no jornalismo em 1952 na revista A Cena Muda; transferiu-se para a recém-fundada revista Visão no ano seguinte, convidado por Nahum Sirotsky para cobrir assuntos ligados à vida artística, ao teatro e ao cinema. Logo após passou a fazer reportagens políticas. Já em 1957 trabalhou para a revista Manchete, até se demitir da empresa após desentendimentos com Adolpho Bloch, seu proprietário. Em 1959 assumiu a direção do segundo caderno do jornal Última Hora, de Samuel Wainer. Já em 1960, colaborou para o jornal Tribuna da Imprensa, então pertencente ao Jornal do Brasil.[2]

Em 1960, convidado por João Calmon, dirigiu o jornal Diário da Noite, dos Diários Associados, pertencente a Assis Chateaubriand. Já em 1962 tornou-se editor-chefe do Jornal do Brasil, no qual permaneceu durante doze anos.[2] Abordou o golpe de Estado de 1964 em Os idos de março e a queda em abril, publicado no mesmo ano, no qual critica o presidente deposto e chega a apresentar a repressão imediatamente após o início da ditadura como dura, mas necessária.[4] Porém, em 1968 condenou a censura e, à frente do Jornal do Brasil, criticou o Ato Institucional n.º 5. Foi demitido em junho de 1973 justamente por publicar um artigo que contrariava a direção do jornal, ao criticar a relação amistosa de seus donos com o governo do estado do Rio de Janeiro.[5] No ano seguinte foi para os Estados Unidos, onde foi professor-visitante na Universidade de Colúmbia. Voltou ao Brasil, em 1975, convidado por Cláudio Abramo para ser diretor da sucursal da Folha de S. Paulo no Rio de Janeiro. Na Folha, também foi responsável pela criação da coluna Jornal dos Jornais, dedicada a avaliar a imprensa, sendo uma espécie de embrião do futuro Observatório da Imprensa.[6] Em 1999, a coluna "Jornal dos Jornais" foi ganhadora do Prêmio ExxonMobil de Jornalismo (Esso) de Melhor Contribuição à Imprensa.[7]

Em 1980, deixou este jornal e passou a colaborar no O Pasquim.[2]

Em seguida passou a residir em Lisboa assumiu cargo de secretário editorial do Grupo Abril, ficando em Portugal entre 1988 e 1995, onde lançou a revista Exame. Ainda em Portugal, no ano de 1994, criou o Observatório da Imprensa, periódico crítico de acompanhamento da mídia.[2]

Retornou ao Brasil em 1994, sendo um dos responsáveis em criar do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade de Campinas (UniCamp), onde foi pesquisador sênior.[8] Em 1996, lançou no Brasil a versão eletrônica do Observatório da Imprensa, que conta atualmente com versões no rádio e na TV; este que passou a ter uma edição na TV Educativa do Rio de Janeiro em maio de 1998.[2]

Em 15 de agosto de 2005, aos 73 anos, Alberto foi entrevistado pelo Museu da Pessoa como participação especial do “Projeto Herzog Hoje”, onde falou sobre a morte de Vladimir Herzog, jornalista morto durante a ditadura militar. Nessa entrevista, expôs a forma como os meios de comunicação funcionavam durante o período militar; sobre os casos de perseguição, demissão e tortura de jornalistas judeus, assim como as mudanças no aspecto político da época.[9]

Carreira no magistério editar

Em seus mais de cinquenta anos de carreira, Dines dirigiu e lançou diversas revistas e jornais no Brasil e em Portugal. Lecionava jornalismo desde 1963, iniciando suas aulas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Puc-RJ), onde ficou até 1966. Em 1974, foi professor visitante da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, Nova Iorque.[2]

Convidado para paraninfar uma turma desta Faculdade logo após a edição do AI-5, fez um discurso criticando a censura e, em conseqüência, foi preso em dezembro de 1968 e submetido a inquérito.[2]

Morte editar

Morreu em São Paulo, em 22 de maio de 2018, aos 86 anos, no Hospital Albert Einstein, no Morumbi, Zona Sul da capital paulista, após dez dias internado por complicações de uma gripe, que evoluiu para uma pneumonia.[10]

Publicações editar

Escreveu mais de 15 livros, entre eles Morte no paraíso, a tragédia de Stefan Zweig (1981) e Vínculos do fogo – Antônio José da Silva, o Judeu, e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil, Tomo I (1992). O livro sobre Stefan Zweig foi adaptado para o cinema por Sylvio Back em 2002 no filme Lost Zweig. Alberto Dines também fala sobre Stefan Zweig no documentário do mesmo diretor.

Prêmios editar

Ano Prêmio Categoria Resultado
1970 Prêmio Maria Moors Cabot de jornalismo[11] Venceu
1993 Prêmio Jabuti Estudos Literários[12] Venceu
2007 Austrian Holocaust Memorial Award[13] Venceu
2009 Austrian Golden Decoration for Science and Art[13] Venceu
2010 Ordem do Mérito das Comunicações, no grau Grã-Cruz[14] Venceu
2012 Prêmio Vladimir Herzog Prêmio Especial Venceu'[15]
2016 Prêmio Abraji Contribuição ao Jornalismo, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo[16] Venceu
2018 ANJ Liberdade de Imprensa, da Associação Nacional de Jornais (ANJ)[17] Venceu

Referências editar

  1. As imperfeitas simetrias de Alberto Dines
  2. a b c d e f g h Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - (CPDOC). «O Governo de Juscelino Kubitschek, verbete: Alberto Dines». Fundação Getúlio Vargas - FGV. Consultado em 15 de janeiro de 2018 
  3. «Após 10 dias internado, morre jornalista Alberto Dines, aos 86 anos». Correio Braziliense. 22 de maio de 2018. Consultado em 7 de julho de 2019. Cópia arquivada em 22 de maio de 2018 
  4. Amado, João (2008). Da redação do Jornal do Brasil para as livrarias: os idos de março e a queda em abril, a primeira narrativa do golpe de 1964 (Dissertação). Rio de Janeiro: UERJ. Consultado em 22 de setembro de 2021 
  5. «Morre o jornalista Alberto Dines, aos 86 anos». Jornal do Brasil. Arquivado do original em 22 de maio de 2018 
  6. «Morre, aos 86 anos, o jornalista Alberto Dines». Folha de S.Paulo. 22 de maio de 2018 
  7. «Prêmio Esso de Jornalismo 1999». Prêmio Esso. "Por sua postura democrática, aberta ao livre debate de idéias [sic] sobre os rumos do jornalismo e da indústria editorial". Consultado em 26 de março de 2020. Arquivado do original em 26 de julho de 2010 
  8. «Conhecimento científico do jornalismo no Brasil: a contribuição de Alberto Dines». Agência FAPESP. 13 de março de 2012. Consultado em 14 de março de 2012 
  9. «"O passado que fica", depoimento de Alberto Dines para o Museu da Pessoa.». Consultado em 24 de setembro de 2023 
  10. «Morre o jornalista Alberto Dines em São Paulo». www.msn.com. Consultado em 22 de maio de 2018 
  11. «Cabot Prize Past Winners» (em inglês). Columbia Journalism School. Consultado em 20 de março de 2012. Arquivado do original em 20 de junho de 2012 
  12. «Jabuti - Edições Anteriores - Prêmio 1993». Câmara Brasileira do Livro. Consultado em 20 de março de 2012. Arquivado do original em 24 de agosto de 2011 
  13. a b «High Austria distinction for Alberto Dines, Brazilian journalist and biographer of Stefan Zweig» (em inglês). The Austrian Foreign Ministry. 24 de abril de 2009. Consultado em 20 de março de 2012 
  14. «Lula condecora jornalistas com a Ordem do Mérito das Comunicações». Ministério das Comunicações do Brasil. 30 de março de 2010. Consultado em 20 de março de 2012. Arquivado do original em 3 de março de 2016 
  15. «Definidos os vencedores do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos». ABRAJI. 10 de outubro de 2012. Consultado em 2 de abril de 2020. Cópia arquivada em 2 de abril de 2020 
  16. «Abraji». Abraji. Consultado em 7 de julho de 2019. Cópia arquivada em 11 de janeiro de 2019 
  17. «Prêmio valoriza defesa da liberdade de imprensa». GaúchaZH. Grupo RBS. 30 de agosto de 2018. Consultado em 30 de junho de 2019 

Ligações externas editar

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