Aquele Querido Mês de Agosto

filme de 2008 dirigido por Miguel Gomes

Aquele querido mês de agosto (Portugal, 2008) é o segundo filme português de longa-metragem de Miguel Gomes. Híbrido de documentário e ficção[1], é uma docuficção. Pelo seu conteúdo antropológico, caracteriza-se também como etnoficção.

Aquele Querido Mês de Agosto
Portugal Portugal
2008 •  cor •  147 min 
Direção Miguel Gomes
Produção Sandro Aguilar, Thomas Ordonneau, Luís Urbano
Roteiro Miguel Gomes, Mariana Ricardo, Telmo Churro
Diretor de fotografia Rui Poças
Distribuição O Som e a Fúria
Lançamento 21 de Agosto de 2008
Idioma português

História editar

Co-produção portuguesa e francesa, estreada em Portugal no dia 21 de Agosto de 2008.[2] Foi apresentado em antestreia em Cannes, na Quinzena dos Realizadores, realizada em Maio desse ano.

O nome "Aquele querido mês de Agosto" foi tirado do título da canção "Meu Querido Mês De Agosto" do cantor popular Dino Meira.

O filme foi rodado durante os verões de 2006 e 2007, em aldeias de Arganil, Oliveira do Hospital, Góis e Tábua, durante as festas de Verão. No elenco participam atores não profissionais como Sónia Bandeira, Fábio Oliveira, Joaquim Carvalho, Andreia Santos, Armando Nunes, Manuel Soares, Emmanuelle Fèvre, Paulo Moleiro e Luís Marante.

O argumento é de Miguel Gomes, de Mariana Ricardo (ex-vocalista dos Pinhead Society) e de Telmo Churro que era o responsável pela montagem e que participou na reescrita do argumento. [3]

O filme acompanha a banda de baile "Estrelas do Alva" nos palcos e as várias situações amorosas que acontecem entre aquelas personagens nomeadamente o pai, filha e sobrinho. Tudo isto tendo em pano de fundo uma banda sonora feita de canções de música pimba,nomeadamente: "Baile de Verão" (José Malhoa), "Um Amor Com Outro Amor" (Nelo Silva & Cristiana), "A Minha Guitarra" (Tony Carreira), "Meu querido Mês de Agosto" (Dino Meira) e "Morrer de Amor" (José Cid) são as canções interpretadas pela banda.

A pesquisa e a escolha das canções foi do realizador e de Mariana Ricardo que também fez os arranjos dos cinco temas que a banda toca.[4]

No filme ainda se ouve: "Escravo do Teu Encanto" - Gomape Music, "Som de Cristal" - Diapasão, "Amor, Amor Antigo" - Diapasão, "Sonhos de menino" - Tony Carreira, "Passear Contigo" - Duo broa de Mel, "Eu Quero-te A Ti" - Duo Broa de Mel, "Abraça-me" - Trio Odemira, "Nossa Senhora" /"Tudo Passará" - Karaoke, "A Mãe" - Conjunto Oliveira Muje, "Adeus Amigo" - Tony Carreira. "Tudo O Que Sinto Por Ti" - Diapasão.

O filme foi selecionado para o Festival de Cinema do Rio de Janeiro - Competição Internacional e para o 13.º Festival Internacional de Cine de Valdivia, no Chile, que decorreu entre 3 e 8 de Outubro de 2008, onde foi eleito a melhor longa-metragem internacional e recebeu o prémio internacional da crítica.

Foi ainda o filme candidato de Portugal a uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro tendo contabilizado cerca de 17 mil espectadores em Portugal e venceu o Globo de Ouro.

Foi bem recebido em Cannes: "O filme mais estranho de uma Quinzena radical", escreveu o "Libération"; "Uma grande lufada de ar fresco acaba de atravessar o festival", anunciou o "Monde"; a revista "Cahiers du Cinéma" falou de "milagre") [3].

Sinopse editar

Uma equipa de filmagem filma-se num meio rural do interior beirão de Portugal (Coja, Arganil, Oliveira do Hospital, Góis e Tábua), onde se encontram emigrantes portugueses de férias, visitando a terra natal na época de verão. O ambiente é de festa, de encontros e desencontros ocasionais entre amigos e familiares.

A narrativa é constituída por acções parcelares, em locais diferentes, em sequência não linear, num contexto em que se intromete uma história inventada de amores e «relações sentimentais entre pai, filha e o primo desta, músicos numa banda de baile» do Portugal profundo. Por entre essa animada barafunda, bem típica da ruralidade portuguesa, à mistura com a tal banda, foleira, intromete-se a equipa filmando-se em busca de actores para as filmagens.

Enquadramento histórico editar

Em suma: o filme que se faz é a consequência de um que não se fez.

Uma equipa de filmagem encontra-se na região da Beira Serra para fazer um filme de ficção, dispondo de fundos atribuídos pelo ICA. Imponderáveis surgem e, às tantas, o dinheiro esperado não chega. O que resta é insuficiente para cobrir os custos de um projecto exigente, que obriga à remuneração de técnicos, actores e a importantes despesas de estadia. Pára-se com tudo e voltam todos para casa?

Decidem que não, o melhor é dar-lhe a volta por cima. Com o pouco que têm, aguentam e põe-se a filmar aquilo que vêem à sua volta, deixando a ficção na gaveta. Para colmatar a frustração e afogar a tristeza, divertem-se, fazendo puro documentário. Terminada a paródia, regressam a Lisboa.

E agora? Não torcem: retiram o defunto guião da gaveta e escrevinham, enfiando a fantasia que dele resta nas pitorescas realidades trazidas das terras de Arganil, onde voltam para terminar a fita, com mais algum dinheirinho na mão. De novo em Lisboa, esmeram-se na montagem e candidatam-se ao Festival de Cannes cujo júri lhes reconhece a ousadia e selecciona o filme para a adequada secção. Não contentes com isso, chutam a obra para vários continentes, colocando-a em dezenas de festivais e em outros locais onde se estima os atrevimentos do cinema independente.[5]

Moral da história: valeu a pena. Vale sempre a pena quando se trata de erguer a ponta do véu que esconde certos encantos da arte do cinema [6] . Coisa ignorada por quem se serve do mais venal que ela tem, prostituindo-a como mercadoria. A “pureza” que dela irradia quando o seu rosto se mostra desafectado, em realidade e fantasia, em género ou estilo, há muito que é algo reconhecido. Demonstram isso Robert Flaherty ou Jean Rouch, tal como o demonstram os filmes de certos cineastas pioneiros nas volvidas décadas de sessenta e setenta, como António Reis, António Campos ou Ricardo Costa, que em 1976, não no Portugal profundo mas à beira-mar, fez convergir documentário e ficção, em expressão poética que se conjuga com a paródia, no rosto seco do poeta popular algarvio Manuel Pardal (Mau Tempo, Marés e Mudança, sua primeira docuficção).

Ficha artística editar

  • Sónia Bandeira
  • Fábio Oliveira
  • Joaquim Carvalho
  • Andreia Santos
  • Armando Nunes
  • Manuel Soares
  • Emmanuelle Fèvre
  • Diogo Encarnação
  • Bruno Lourenço
  • Maria Albarran
  • Nuno Mata
  • Paulo “Moleiro”
  • Acácio Garcia
  • Luís Marante

Festivais editar

  • 40ª Quinzena dos Realizadores, Festival de Cinema de Cannes, França, 2008
  • 15º Festival Internacional de Cinema de Valdivia, Chile, 2008: (Melhor Filme Internacional e Prémio da Crítica).[7]
  • XVI Festival Caminhos do Cinema Português, Grande Prémio do Festival Cidade de Coimbra.

Ver também editar

Referências

  1. «Tese de mestrado». De Daniel Boto (Universidade de Coimbra. Estudogeral.sib.uc.pt 
  2. «Ver estreias na página do produtor». Osomeafuria.com 
  3. a b https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/miguel-gomes-salteador-da-fantasia-perdida-217650
  4. http://bodyspace.net/entrevistas.php?ent_id=251
  5. «Entrevista de Carlos Pereira e Vanessa Sousa Dias (Instituto Politécnico de Lisboa) sobre os métodos de trabalho de Miguel Gomes» 🔗 (PDF). Repositorio.ipl.pt 
  6. «Notícia». Com entrevista de Luísa Sequeira para o Fotograma da RTP. Videos.sapo.pt 
  7. «Ver lista de participações em festivais». Página do produtor. Osomeafuria.com 

Ligações externas editar