Sebastiano Baggio
Sebastiano Baggio (Rosà, 16 de maio de 1913 – Cidade do Vaticano, 21 de março de 1993)[2] foi um cardeal italiano.[3][4][5]
Biografia
editarNasceu em Rosà, pequena cidade localizada entre Pádua e Mântua, na província de Vicenza, Itália, filho de Pierina e de Giovanni Battista Baggio.
Estudou Filosofia e Teologia no Seminário Diocesano de Vicenza, seguindo depois para Roma, laureando-se em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Foi ordenado sacerdote em Vicenza, em 21 de dezembro de 1935.
Diplomata da Santa Sé
editarComeçou a trabalhar diretamente para a Santa Sé em 1938, nomeado adido da Nunciatura Apostólica em El Salvador. Em 1942, foi transferido para a mesma função na Venezuela, de onde saiu, em 1948, para Roma, onde serviu na Secretaria de Estado da Santa Sé até 1948. No ano seguinte, foi destacado para ser o encarregado dos negócios da Nunciatura na Colômbia. Foi um dos organizadores do Congressso Eucarístico dos países latino-americanos, ocorrido em Cali, na Colômbia.
Voltou a Roma, em 1950, para exercer a função de assistente da Congregação Consistorial, uma das mais importantes do [[Vaticano] por ser a responsável pela ligação da Santa Sé às diversas dioceses espalhadas pelo mundo. Deixou a congregação em 1953, quando o papa Pio XII nomeou-o arcebisp titular de Éfeso e núncio apostólico no Chile. Ali permaneceu durante seis anos, incentivando a atividade pastoral, especialmente o auxílio aos mais necessitados.
Em 12 de março de 1959, foi designado delegado apostólico do Canadá, onde visitou todas as dioceses, com atenção especial para com os imigrantes italianos e portugueses. Também, durante sua estadia no Canadá, tornou-se amigo pessoal do então padre Gerald Emmett Carter, CC, futuro cardeal-arcebispo de Toronto.
Em 26 de maio de 1964, foi nomeado para a nunciatura no Brasil. Aí desenvolveu um trabalho intenso, promovendo a criação de dezessete novas dioceses, cuidando especialmente de comunidades carentes e no amplo auxílio aos missionários.
Em 28 de abril de 1969, durante o consistório público para nomeação de novos cardeais, o papa Paulo VI, elevou-o ao cardinalato, junto com os brasileiros Eugênio de Araújo Sales e Alfredo Vicente Scherer. Antes de deixar o Brasil para assumir suas novas funções na Santa Sé, em 16 de abril de 1969, foi agraciado com a grã-cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul.[6]
Dom Sebastiano foi designado cardeal-diácono de Santos Anjos da Guarda da Cidade Jardim e, em 23 de junho de 1969, encarregado da Arquidiocese Metropolitana de Cagliari, primaz da Sardenha e da Córsega. Tomou como lema episcopal Operando custodire.
Presidente da Congregação para os Bispos
editarEm 26 de fevereiro de 1973, o cardeal Baggio foi nomeado prefeito da Congregação para os Bispos, tornando-se um dos homens mais influentes da Cúria Romana. A Congregação para os Bispos estabelece a ligação entre a Santa Sé e as diversas dioceses no mundo inteiro, e Baggio, como seu prefeito, tinha como função escolher os candidatos elegíveis ao episcopado.
Foi elevado a cardeal-presbítero de São Sebastião nas Catacumbas, em 21 de dezembro de 1973, e a cardeal-bispo da Diocese de Velletri-Segni, em 12 de dezembro de 1974.
Sob Paulo VI, escolheu bispos de viés conciliador, como o cardeal Basil Hume, nomeado, em 1976, para a Arquidiocese de Westminster, a arquidiocese de maior prestígio da Igreja Católica na Grã-Bretanha. Também renovou o episcopado norte-americano com o auxílio do renomado delegado apostólico, o arcebispo belga Jean Jadot.
Participou dos conclaves de agosto e de outubro de 1978, que elegeram sucessivamente João Paulo I e João Paulo II. Embora nunca tenha sido considerado um sério candidato ao papado, Baggio angariou nove e dez votos nos dois primeiros turnos do primeiro conclave, transferindo-os ao eventual vencedor. Ambos pontífices mantiveram-no à frente da Congregação.
No papado de João Paulo II, os critérios para ordenações de novos bispos começaram a mudar. A solidez teológica passou a ser mais valorizada que eficácia pastoral. Uma exceção curiosa, no entanto, foi a escolha do jesuíta Carlo Maria Martini para a prestigiosa Arquidiocese de Milão em 1979. Baggio esclareceu que favoreceu Martini após ler seu livro sobre o Evangelho de Lucas e ao perceber que Martini, como reitor da Universidade Gregoriana, era diretor espiritual de um número considerável de bispos italianos. Também foi uma forma de se reconciliar com os jesuítas.
Em 1981, Baggio, que era notoriamente próximo da Opus Dei, teve sérias divergências com o padre Pedro Arrupe, superior-geral da Companhia de Jesus, a respeito do futuro da política na América Central. Baggio e o papa João Paulo queriam uma 'política unitária' para América Central, algo que os jesuítas e outros religiosos se opunham em vista das diferentes situações que ali se apresentavam: guerra civil em El Salvador, ditadura no Panamá, um regime pós-revolucionário na Nicarágua, etc. Com o apoio do Papa, a vontade de Baggio prevaleceu.[7]
O envolvimento do cardeal Baggio com a América Latina se dava pois, como prefeito da Congregação para os Bispos, também era presidente ex officio da Pontifícia Comissão para a América Latina. Desta forma, foi de grande auxílio ao Papa em sua primeira viagem à Conferência do Episcopado Latino-americano, em Puebla.
Em 27 de novembro de 1982, assinou o documento que mudou a condição da Opus Dei de "instituto secular" para "prelazia pessoal", transferindo tal movimento secreto e controverso da Pontifícia Comissão dos Institutos Religiosos e Seculares, onde era muito criticado, para a proteção da Congregação dos Bispos.
Últimos anos
editarEm 8 de abril de 1984, Baggio foi transferido para a presidência da Pontifícia Comissão para o Estado da Cidade do Vaticano, o órgão legislativo daquele estado. Em 25 de março de 1985, foi escolhido como camerlengo da Câmara Apostólica e, em 15 de abril de 1986, foi eleito vice-decano do Colégio dos Cardeais.
Atingindo a idade limite recomendada pela lei canônica, o Papa aceitou sua renúncia em 31 de outubro de 1990.
Dom Sebastiano faleceu aos 78 anos de idade, em Roma, e seu corpo sepultado em sepulcro familiar no cemitério de Rosà.
Referências
- ↑ Araldica Vaticana. «Armas do cardeal Baggio». Consultado em 9 de fevereiro de 2013
- ↑ «Baggio, Sebastiano Cardinal». Who was who in America : with world notables, v. XI (1993–1996). New Providence, N.J.: Marquis Who's Who. 1996. pp. 11–12. ISBN 0837902258
- ↑ João Paulo II (23 de março de 1993). «Messa esequiale per i funerali del Cardinale Sebastiano Baggio (Omelia)» (em italiano). Consultado em 9 de fevereiro de 2013
- ↑ Catholic Hierarchy. «Sebastiano Cardinal Baggio» (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2013
- ↑ Salvador Miranda. «The Cardinals of the Holy Roman Church» (em inglês). Consultado em 9 de fevereiro de 2013
- ↑ D. Sebastiano elogia a bondade dos brasileiros ao receber a Ordem do Cruzeiro do Sul. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 17 de abril de 1969, 1.º Caderno, p. 4
- ↑ Peter Hebblethwaite (23 de março de 1993). «Obituário:Cardeal Sebastiano Baggio» (em inglês). The Independent. Consultado em 14 de janeiro de 2018