Teologia cristã
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A teologia cristã procura a razão no interior da fé cristã. Segundo a fórmula de Anselmo de Canterbury, a teologia é fides quaerens intellectum ("a fé que procura a inteligência"). Trata-se, pois, de uma tentativa da inteligência racional de abordar a fé por meio das categorias filosóficas (gregas, no início e, posteriormente, modernas).
Nessa perspectiva, a teologia cristã é um discurso de fé acerca de tudo quanto se relaciona a Deus, aos propósitos divinos, às relações entre Deus e o Homem, à Bíblia (e outras fontes consideradas como divinamente inspiradas) e à doutrina cristã.
Encontra-se expressa, basicamente, em quatro grandes seções:
Os teólogos cristãos recorrem à exegese bíblica e à análise racional para entender, explicar, testar, criticar e defender o Cristianismo. A teologia também pode ser utilizada para atestar a veracidade do cristianismo, compará-lo a outras tradições ou religiões, defendê-lo de críticos, corroborar qualquer reforma cristã, propagar o cristianismo ou para uma variedade de outras finalidades. A teologia cristã foi de grande influência na Europa ocidental, especialmente na Europa pré-moderna.
Perspectiva católica
editarA Igreja Católica defende o uso da teologia enquanto ciência ou estudo racional, mas assente sempre na obediência à fé, que estuda sistematicamente e com método racional a Revelação divina na sua totalidade, que está compilada na chamada Tradição. A Tradição tem uma parte oral e uma parte escrita que está centrada na Bíblia. As conclusões da Teologia faz evoluir a compreensão, clarificação, definição sistemática e desenvolvimento da doutrina católica.
Perspectiva protestante
editarO segmento protestante, ou evangélico, não crê em purgatório, nem classifica os pecados como venial, mortal ou capital. Seguindo os preceitos bíblicos, não existe pecado pequeno ou grande, pois «todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus» ((Romanos 3:23). O pecado nada mais seria do que a transgressão aos mandamentos de Deus (segundo I João 3:4). Todo aquele que pratica o pecado também transgride a Lei, porque o pecado é a transgressão da Lei. Pecado é um ato, pois «cada um é tentado, quando atraído e engodado pelo seu próprio desejo. Depois, havendo concebido o desejo, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.» (Tiago 1:14–15). Para que tenhamos salvação e desfrutemos da vida eterna, seria preciso então somente crer («Pela graça sois salvos, por meio da fé...» (Efésios 2:8) que Jesus é o único e suficiente salvador e confessar os pecados para que sejam perdoados («Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça» (I João 1:9). Outra necessidade seria o arrependimento, e não somente remorso, que levaria os fiéis a cometerem novamente os mesmos erros por não terem mais lembrança da "culpa" que os abateu.
Os métodos usados, os tópicos estudados e as suas disciplinas são semelhantes às outras teologias das principais confissões cristãs, algo que tem muito a ver com a sua base comum. Mas a sua interpretação das verdades reveladas e posterior definição das doutrinas apresentam diferenças em relação às suas congéneres cristãs, nomeadamente na questão da veneração dos santos e da Virgem Maria, da justificação, da infalibilidade e primazia do Papa, da noção de verdadeira Igreja de Cristo, da composição dos cânones da Bíblia e da validade da Tradição oral.
Divisões da teologia cristã
editarSíntese
editarMuitas vezes, as variadas disciplinas teológicas e suas respectivas sub-disciplinas associam-se e englobam-se umas às outras, inter-relacionando-se, podendo frequentemente um tema ou até um locus (área específica de estudo e reflexão) ser tratado em conjunto, sob aspectos diferentes, por várias disciplinas (e sub-disciplinas). Por esta razão, existe entre elas uma grande permeabilidade, intercâmbio e inter-disciplinaridade.
De um modo resumido e geral, o relacionamento entre as disciplinas teológicas dá-se da seguinte maneira:
- A teologia exegética, usando a técnica da exegese, analisa profundamente a Bíblia, cujos princípios de interpretação são estudados pela hermenêutica bíblica;
- A teologia bíblica usa e organiza os resultados da teologia exegética e estuda também a evolução e o desenrolar da Revelação progressiva de Deus à humanidade, passando obviamente pelo Antigo Testamento e Novo Testamento;
- Com o encontro e o conhecimento das verdades reveladas na Bíblia e, no caso católico, em outras fontes válidas da Tradição, toda essa verdade bíblica é estudada, reflectida, debatida, explicada e posteriormente reunida num grande sistema explicativo unificado. Esse trabalho é reservado à teologia sistemática;
- As verdades, os princípios e os dogmas explicados e estudados pela teologia sistemática iriam ser depois defendidos pela Apologética perante a sociedade, as heresias, os ateus e as outras religiões;
- Depois do estudo puramente teórico, a teologia prática pretende aplicar as conclusões teológicas ao quotidiano e também estudar o modo como a Igreja comunica a sua fé e as suas verdades, bem como as variadas acções de santificação ou de outra natureza da Igreja no mundo. Neste contexto, a teologia moral tem simultaneamente aspectos sistemáticos e práticos;
- Finalmente, a evolução da teologia ao longo dos tempos e a História do Cristianismo são estudadas pela teologia histórica, que dá especial destaque à recepção e compreensão das verdades reveladas e à evolução na formulação da doutrina ao longo da História. Esta teologia estuda também, como por exemplo, a Patrística, a Escolástica e outras correntes e movimentos teológicos.
Lista das disciplinas e loci
editarDe um modo mais concreto, a Teologia cristã pode ser dividida em:[1]
- Estudos bíblicos:
- Teologia sistemática, que, pelo menos na perspectiva católica, pode ser dividida em 2 ramos principais: a teologia dogmática[2] e a teologia moral.[3] Esta teologia engloba várias áreas de estudo, como por exemplo:
- Prolegómenos, que introduz os princípios primários, básicos e fundamentais da Teologia;
- Teontologia, que trata do estudo de Deus e, especificamente, de Deus Pai;
- Cristologia, que estuda Cristo, bem como a sua vida, missão, natureza e relação com Deus e com a humanidade;
- Pneumatologia, que estuda o Espírito Santo;
- Antropologia teológica, que estuda a realidade do ser humano sob o ponto de vista teológico;
- Soteriologia, que estuda a salvação, nomeadamente a noção de justificação e de santidade;
- Eclesiologia, que estuda os múltiplos aspectos e facetas da Igreja;[4]
- Escatologia, que estuda o fim do mundo e o destino do Homem;
- Teologia dos sacramentos (ou teologia sacramental), que estuda os sacramentos;
- Hamartiologia, que estuda o pecado e o mal;
- Angeologia, que estuda os anjos e a sua missão;
- Demonologia, que estuda os demónios, particularmente Satanás;
- Mariologia, que é o estudo teológico sobre Maria (mãe de Jesus);
- Teologia especulativa, que tenta penetrar mais ainda no mistério contido nas verdades reveladas, mas não desejando ir mais além delas. Ela pretende mostrar a "sua inteligibidade e a conexão entre elas, com a ajuda das ciências ditas profanas ou naturais".
- Teologia prática, que pode ser dividida em:
- "Teologia litúrgica", que estuda os múltiplos ritos ou actos de adoração e culto da Igreja nas suas mais diferentes expressões - a liturgia;[5]
- "Teologia de Direito Canónico", que estuda o poder da Igreja de legislar, enquanto sociedade hierarquizada e instituída por Jesus (direito canónico);[6]
- "Teologia Pastoral", que cuida da aplicação prática dos ensinamentos teológicos à acção ou pastoral da Igreja e à vida quotidiana de cada crente, incluindo a sua formação;
- "Teologia espiritual", que estuda a caminhada de configuração da personalidade humana até esta atingir a santidade e, inclusivamente, a perfeição. Esta teologia engloba a teologia ascética e a teologia mística.[7]
- Apologética.[8]
- Teologia histórica.
Além destas disciplinas e sub-disciplinas, que podem ser classificados e ordenados de maneira diferente em relação à lista supra-mencionada, existem muitas outras dentro da tão diversa teologia.
Alguns temas tratados
editar- Santíssima Trindade
- Ecumenismo
- Indulgência
- Sucessão apostólica
- Purgatório
- Virgem Maria
- Transubstanciação e Corpus Mysticum
- Santidade e canonização
- Sacramentos
- Sacerdócio
- Doutrina Social da Igreja
- Tradição católica
- Batismo infantil
- Criação (teologia)
- Anjos
- Igreja
- Reino de Deus
- Novíssimos e vida eterna
- Salvação
Movimentos
editarPós-reforma
editar- Adventismo.
- Anglicanismo.
- Arminianismo (reação ao Calvinismo): soteriologia que afirma que o homem é livre para aceitar ou rejeitar o dom de Deus da salvação; identificado com o teólogo holandês reformista Jacobus Arminius, desenvolvida por Hugo Grotius, defendido pelos Remonstrantes, e popularizado por John Wesley. A doutrina chave das igrejas Anglicanas e Metodistas, adotada por muitos Batistas e alguns Congregacionalistas.
- Calvinismo: Tipo de soteriologia avançada criada pelo Reformador protestante francês João Calvino, que defende as opiniões de Santo Agostinho sobre a eleição e rejeição; Afirma a Predestinação, a soberania de Deus e a incapacidade do homem para realizar sua própria salvação por acreditar na regeneração.
- Movimento carismático: Movimento em muitas igrejas protestantes e algumas católicas que enfatiza os dons do Espírito e no contínuo trabalho do Espírito Santo no corpo de Cristo; freqüentemente associada ao falar em línguas e a cura divina.
- Congregacionalismo:Sistema utilizado por Congregacionalistas, Batistas, Pentecostais e igrejas, em que cada congregação se auto-regula e é independente de todos os outros.
- Contra-Reforma (ou Reforma Católica): A resposta da Igreja Romana Católica a Reforma Protestante. (veja também Concílio de Trento)
- Panenteísmo.
- Deísmo: A doutrina geral que nenhuma fé é necessária para justificar a existência de Deus e/ou a doutrina de que Deus não intervém nos assuntos terrestres (contrasta com Fideísmo).
- Dispensacionalismo: Crença hermenêutica bíblico e na filosofia da história que vê o desdobramento histórico em várias dispensações de Deus para a humanidade.
- Evangelicalismo: Tipicamente conservadora, predominantemente protestante. Prioriza maiormente as perspectivas evangelistas das outras actividades da Igreja acima mencionadas (ver também neo-evangelicalismo).
- Fideísmo: A doutrina que a fé é irracional, que a existência de Deus transcende a lógica, e que todos os conhecimentos de Deus funcionam na base da fé (contrasta com o Deísmo).
- Liberalismo: Crença em interpretar a Bíblia de forma a permitir o máximo de liberdade individual.
- Metodismo: Forma de funcionamento da igreja e doutrina usada na Igreja Metodista.
- Modernismo: Crença que a verdade muda, assim a doutrina deve evoluir em função de novas informações ou tendências.
- Mormonismo: Crença de que o Livro de Mormon e outros volumes literários poderão ser também considerados Escrituras divinas; crença em profetas e apóstolos; considerada como uma doutrina diferente ou pseudo-cristã por algumas outras denominações cristãs; refere-se especialmente às crenças de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
- Novo pensamento: Movimento baseado na Inglaterra durante o século XIX que acredita no pensamento positivo. Várias denominações surgiram disso, incluindo a Igreja Unida e a Ciência Religiosa.
- Anti-conformismo: Advoga a liberdade religiosa; inclui os Metodistas, Batistas, Congregationalistas e Salvacionistas.
- Antitrinitarismo: Rejeição da doutrina da Trindade.
- Pentecostalismo.
- Presbiterianismo: Forma de governança usada nas igrejas Presbiterianas e Reformadas.
- Puritanismo: Movimento para purificar o Episcopalismo de qualquer aspecto ritual.
- Supersessionismo: Acredita que a Igreja Cristã, o corpo de cristo, é o único povo eleito de Deus na era da Nova aliança.
- Restauracionismo: Tentativa de retornar ao modelo de Igreja do Novo Testamento. Em que uma das doutrinas fundamentais considera a idade média como um período conhecido como apostasia, gerando a necessidade de um retorno à real teologia cristã em sua "totalidade" e "pureza" por meio de uma restauração divina da ordem sacerdotal cristã.
- Tractarianismo: Movimento de Oxford. Levou ao Anglo-Catolicismo.
- Ultramontanismo: Um movimento do século XIX da Igreja Católica romana para enfatizar a autoridade papal, particularmente durante a Revolução Francesa e a secularização do Estado.
- Unitarianismo: Rejeita a Trindade e também a divindade de Cristo, com algumas exceções.
- Universalismo: De várias formas, a crença que todas as pessoas no final serão reconciliadas com Deus.
Ver também
editarNotas
- ↑ As disciplinas e loci que não têm explicação nesta secção, é porque já estão explicados na anterior secção Síntese.
- ↑ A Teologia dogmática estuda sistematicamente o conjunto dos dogma e das verdades fundamentais reveladas por Deus, às quais se deve em primeiro lugar o assentimento da fé.
- ↑ A Teologia moral ocupa-se do estudo sistemático dos princípios ético-morais subjacentes às verdades reveladas por Deus, bem como à sua aplicação posterior à vida quotidiana do cristão e da Igreja. Muitas vezes, a teologia moral está também intimamente associada à teologia prática.
- ↑ Por vezes, a Eclesiologia está também associada à teologia prática.
- ↑ A teologia litúrgica relaciona-se por vezes à teologia pastoral.
- ↑ A Teologia de Direito Canónico está mais relacionada com a Igreja Católica, que é uma das Igrejas cristãs mais hierarquizadas.
- ↑ A Teologia espiritual está por vezes associada à teologia especulativa e até à teologia sistemática.
- ↑ A apologética associa-se por vezes à teologia sistemática.
Referências
editar- «Doutrina - Teologias»
- Instituto Teológico São Tomás de Aquino
- «Spiritual Theology, de Jordan Aumann. Págs 13-16»
- «Introduction to Theology - What is Theology»: um apontamento resumido sobre as principais disciplinas da Teologia e o seu relacionamento.