Hypocephalus armatus

Hypocephalus armatus (denominado popularmente, em inglêsː mole beetle ("besouro-toupeira", devido a seus hábitos fossoriais);[7] em portuguêsː iaiá-de-cintura,[1][2] lalá-de-cintura,[2][6] carocha e vaqueiro)[1][2] é um inseto da ordem Coleoptera e da família Vesperidae, subfamília Anoplodermatinae;[3] um besouro cujo habitat se encontra na região neotropical, sendo endêmico de áreas de cerrado do Brasil;[2][6] em Goiás (de acordo com citações obtidas no século XX),[6][8] no norte de Minas Gerais (municípios de Águas Vermelhas, Montezuma, Pedra Azul, Rio Pardo de Minas, Salinas, Taiobeiras e Virgem da Lapa) e sul da Bahia (municípios de Caculé, Vitória da Conquista, Condeúba, Encruzilhada e Mortugaba).[8][9][10] A espécie fora descrita em 1832 por Anselme Gaëtan Desmarest, sendo a única espécie da tribo Hypocephalini[3] e do gênero Hypocephalus (táxon monotípico), criado pelo autor junto com seu epíteto específico e este publicando sua descrição no Magasin de Zoologie a partir de um espécime coletado na province des Mines (Minas Gerais).[11]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaIaiá-de-cintura[1][2]
Hypocephalus armatus
Vista superior de um espécime de H. armatus, macho, em ilustração do ano de 1902.
Vista superior de um espécime de H. armatus, macho, em ilustração do ano de 1902.
Ilustração esquemática presente na descrição original da espécie H. armatus, publicada em 1832 no Magasin de Zoologie (prancha 24).
Ilustração esquemática presente na descrição original da espécie H. armatus, publicada em 1832 no Magasin de Zoologie (prancha 24).
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Arthropoda
Classe: Insecta
Ordem: Coleoptera
Subordem: Polyphaga
Infraordem: Cucujiformia
Superfamília: Chrysomeloidea
Família: Vesperidae
Subfamília: Anoplodermatinae[3]
Tribo: Hypocephalini[4]
Gênero: Hypocephalus
Espécie: H. armatus
Nome binomial
Hypocephalus armatus
Desmarest, 1832[3][5]
Distribuição geográfica
O besouro H. armatus é encontrado na região neotropical, em uma pequena área do cerrado brasileiro, que é a ecorregião delimitada no mapa.[2][6]
O besouro H. armatus é encontrado na região neotropical, em uma pequena área do cerrado brasileiro, que é a ecorregião delimitada no mapa.[2][6]
Sinónimos
Hypocephalus (Hypocephalus) armatus Desmarest, 1832[5]
Mesoclastus paradoxus Gistel, 1837[4]

O agrônomo Eurico Santos, divulgador da fauna do Brasil, afirma que este animal é "considerado o mais brasileiro dos coleópteros",[6][12] dada sua singularidade, estando, no passado, inserido na família dos cerambicídeos[2][8][9][13][14] ou até em uma família própriaː Hypocephalidae.[15] O entomologista John Lawrence LeConte, mundialmente conhecido por descrever milhares de insetos durante sua carreira, disse, em 1876, "de todos os besouros conhecidos pela ciência, nenhuma espécie causou tanta incerteza quanto à sua posição sistemática".[3][16]

Descrição editar

Espécie dotada de acentuado dimorfismo sexual, as fêmeas mais bojudas e muitíssimo mais raras que os machos numa aproximada proporção de 1 pra 50.[13] O entomologista Patrice Bouchard afirma que "este é talvez o besouro com aparência mais bizarra de todas", sendo desprovido da capacidade de voo.[3][7] Sua coloração varia do castanho ao negro e seus élitros coriáceos são ligeiramente estriados longitudinalmente e fundidos;[6][7][17] o mais característico de tudo sendo o seu protórax de grandes dimensões e suas pernas traseiras extremamente curvas.[18] Espécimes podem chegar de 5.5,[3] tamanho original de seu holótipo,[11][10] a 7.6[2] ou 8.8 centímetros de comprimento[10] e, em muitos aspectos, se assemelham mais com um grilotalpídeo do que com um besouro,[3] fato já percebido por Anselme Gaëtan Desmarest em seu texto descritivo ao citar que "o formato do inseto tem alguma relação com o do grilo-toupeira",[11] em um visível exemplo de convergência evolutiva.[13][14]

Biologia editar

Sua biologia e ecologia permanecem um mistério, tornando-o uma curiosidade entomológica.[16] Sabe-se que é um animal que passa a maior parte de seu ciclo de vida enterrado no solo, sendo avistado nos chuvosos meses de dezembro a janeiro,[3][7] suspeitando-se que sua alimentação seja constituída de raízes;[3] prefererindo habitats abertos, com cobertura vegetal baixa, composta por arbustos, areia e fragmentos de quartzo, sendo observados, principalmente os machos, movendo-se no solo ou abrigados sob restos de plantas ou pedras.[16] No passado se considerou que a larva de Hypocephalus armatus pudesse ser encontrada em sauveiros.[19]

Uso humano editar

Segundo observações do entomólogo Renato Lion de Araújo, o besouro Hypocephalus armatus era bem conhecido pela população de várias localidades do extremo norte de Minas Gerais, sendo capturado por mulheres e crianças durante a busca de pedras, musgos e outros objetos para que enfeitassem as lapinhas em seus presépios; os amarrando com uma fita colorida na acentuada constrição existente entre o protórax e os élitros, sendo suspensos vivos no teto das grutas, onde permaneciam inermes por muitos dias, agitando inutilmente as suas pernas até que a exaustão pusesse termo a seu suplício, sendo usados "como anjinhos", enquanto outras fontes acrescentam que tais coleópteros serviam de diversão para as crianças, sendo pendurados sobre os berços como estranhos brinquedos.[20]

Conservação editar

Hypocephalus armatus é considerada espécie ameaçada ou vulnerável, por sua "área de distribuição restrita e coleta", na Lista das Espécies Ameaçadas de Extinção da Fauna do Estado de Minas Gerais, publicada em 20 de dezembro de 1995;[21] também citada como vulnerável no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado pelo ICMBio em 2018;[22] encontrando-se sob ameaça antrópica de monoculturas como a da cana-de-açúcar[13] ou da atividade agropecuária, fragmentando sua população, acreditando-se que a atual extensão da distribuição geográfica para esta espécie tenha se reduzido a menos de 20.000 Km². Outro fator de ameaça é a venda de espécimes para colecionadores, datada desde o século XIX.[10]

Referências

  1. a b c «iaiá-de-cintura». Michaelis. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  2. a b c d e f g h HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles; FRANCO, Francisco Manoel de Mello (2001). Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva. p. 1558. 2922 páginas. ISBN 85-7302-383-X 
  3. a b c d e f g h i j BOUCHARD, Patrice (2014). The Book of Beetles. A Lifesize Guide to Six Hundred of Nature's Gems (em inglês). United Kingdom: Ivy Press. p. 516. 656 páginas. ISBN 978-1-78240-049-3 
  4. a b Monné, Miguel A. (29 de fevereiro de 2012). «Hypocephalini Blanchard 1845» (em inglês). Zenodo. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  5. a b «Hypocephalus (Hypocephalus) armatus Desmarest, 1832» (em inglês). GBIF. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  6. a b c d e f SANTOS, Eurico (1985). Zoologia Brasílica, vol. 10. Os Insetos 2ª ed. Belo Horizonte: Itatiaia. p. 116. 244 páginas 
  7. a b c d ZINKE, William (2014). Bugs. Big & Small, God Made Them All (em inglês). Green Forest, Arkansas: Master Books - Google Books. p. 35. 84 páginas. ISBN 978-0-89051-835-9. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  8. a b c LIMA, Costa (1953). «Família CERAMBYCIDAE, in Insetos do Brasil» (PDF). Escola Nacional de Agronomia (cerambycoidea.com). p. 86. 142 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  9. a b «Iaiá-de-cintura». Museu Nacional - UFRJ. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  10. a b c d ICMBio (2018). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume VII - Invertebrados (PDF). Brasília, DF: ICMBio/MMA. p. 282-284. 727 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  11. a b c Guérin-Méneville, F.-É. (1832). «Magasin de Zoologie» (em francês). Biodiversity Heritage Library. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  12. Fioravanti, Carlos (março de 2015). «Prazer em descrever». Pesquisa FAPESP. Edição 229. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  13. a b c d GODINHO JR., Celso L. (2011). Besouros e Seu Mundo. Com 1400 ilustrações em cores desenhadas pelo autor 1ª ed. Rio de Janeiro, Brasil: Technical Books. p. 216-217. 478 páginas. ISBN 978-85-61368-16-6 
  14. a b STANEK, V. J. (1985). Encyclopédie des Insectes. 270 illustrations en couleurs (em francês) 2ª ed. Praga: Gründ. p. 258-260. 352 páginas. ISBN 2-7000-1319-0 
  15. Leconte, John L. (1876). «On the Affinities of Hypocephalus» (em inglês). Transactions of the American Entomological Society, Vol. 5 (JSTOR). p. 209. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  16. a b c Benoit, Gilles (2 de julho de 2015). «Hypocephalus armatus: a (very) unusual long-horned beetle» (em inglês). Passion Entomologie. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  17. GODINHO JR., Celso L. (Op. cit., p. 342-343.).
  18. Candel, Michel (24 de março de 2013). «Hypocephalus armatus - m - Cérambycidae - Bahia, Mato Grosso - BRESIL» (em inglês). Flickr. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  19. Obeidi, B.M.; D’Agostini, S.; Rebouças, M.M. (2014). «Elpídio Amante e os experimentos para o combate às formigas cortadeiras no Brasil» (PDF). Páginas do Instituto Biológico v.10, n.2. (Instituto Biológico). p. 2. Consultado em 8 de outubro de 2023. Elpídio Amante pesquisou sobre a larva Hypocephalus armatus, no ano de 1963, em Montezuma, Minas Gerais. Na época, acreditava-se que esta fosse encontrada em formigueiro de saúva. 
  20. Teixeira, Dante Martins; Papavero, Nelson; Monné, Miguel Angel (2008). «Insetos em presépios e as "formigas vestidas" de Jules Martin (1832-1906): uma curiosa manufatura paulistana do final do século XIX». Anais do Museu Paulista. v.16. n.2. (SciELO). p. 120-121. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  21. «LISTA DAS ESPÉCIES AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO DA FAUNA DO ESTADO DE MINAS GERAIS» (PDF). SIAM - Sistema Integrado de Informação Ambiental. 1 páginas. Consultado em 8 de outubro de 2023 
  22. ICMBio (2018). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume I (PDF). Brasília, DF: ICMBio/MMA. p. 405. 492 páginas. ISBN 978-85-61842-79-6. Consultado em 8 de outubro de 2023 

Ligações externas editar

 
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