Igreja Católica no Benim

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A Igreja Católica no Benim é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé. Este é um país que tem sofrido há tempos com o crescimento do fundamentalismo islâmico, e por isso, tem feito esforços contra o crescimento das tensões religiosas. Benim enviou centenas de soldados à vizinha Nigéria, a fim de combater o grupo Boko Haram. Ainda com esses fatores e com o pluralismo religioso, as relações entre as comunidades religiosas beninenses são consideradas pacíficas.[5] É comum em todo o país, mesmo entre cristãos e muçulmanos, o sincretismo com as crenças animistas locais.[6][7][8] No geral, a Igreja Católica é considerada como autoridade para questões teológicas, sociais e políticas.[5]

IgrejaCatólica

Benim
Igreja Católica no Benim
Basílica da Imaculada Conceição, em Ouidah, no Benim
Ano 2010[1]
População total 8.850.000
Cristãos 4.690.000 (53,0%)
Católicos 2.630.000 (29,7%)
Paróquias 488[2][nota 1]
Presbíteros 1.156[2][nota 1]
Seminaristas 462[2][nota 1]
Religiosos 388[2][nota 1]
Religiosas 1.423[2][nota 1]
Presidente da Conferência Episcopal Victor Agbanou[3]
Núncio apostólico Sede vacante[4]
Códice BJ

História editar

Os portugueses chegaram à região em 1485, porém só foram construir uma capela em 1680, em Ouidah, mas durante os séculos Século XVI, XVII e XVIII, as tentativas de evangelização foram esporádicas e ineficazes. Por volta de 1830, o catolicismo no Benim consistia em cerca de 2.000 portugueses e ex-escravos repatriados do Brasil que moravam ao longo da costa e que estavam sob a jurisdição do bispo de São Tomé. Em 1860, o território tornou-se parte do Vicariato Apostólico das Duas Guinés e foi confiado à Sociedade das Missões Africanas. Dois padres chegaram a Ouidah em 1861, mas seus esforços se restringiram ao trabalho entre estrangeiros. A Prefeitura Apostólica do Daomé foi fundada em 1883 e incluiu brevemente o Togo. Após o sucesso de uma expedição militar francesa, que derrubou o governo nativo em 1892, a liberdade de evangelizar foi concedida em 1894, quando a região se tornou uma colônia francesa. Em 1901, foi criado o Vicariato Apostólico do Daomé e sua jurisdição foi estendida para o norte, incluindo o Níger.[6]

 
Catedral de Porto Novo.

Uma congregação de nativa de mulheres, a Petites Servantes des Pauvres de Cotonou, foi fundada em 1912, e um seminário foi aberto em Ouidah, em 1913. Uma nova prefeitura apostólica, abraçando o norte do Benin, foi estabelecida em Niamey, no Níger, em 1942. Em 1948, o norte do Benim tornou-se a Prefeitura Apostólica de Parakou (e elevada a diocese em 1964), e o Vicariato do Daomé tornou-se o Vicariato de Ouidah. Outro vicariato foi criado em 1954 a sudeste de Porto Novo (e elevada a diocese em 1955). A hierarquia foi estabelecida em 1955, quando Cotonou (anteriormente Vicariato de Ouidah) se tornou uma arquidiocese metropolitana para o país. Os trapistas estabeleceram uma casa em 1959 e as freiras cistercienses em 1960.[6]

Anteriormente território ultramarino da França em 1946, a região obteve sua independência e tornou-se a República do Daomé, em 1º de agosto de 1960. Em 1974 ascendeu ao poder de um governo marxista,[6] doutrina abertamente criticada pela Igreja Católica, devido às suas características ateístas, materialistas e antirreligiosas,[9][10][11] e o nome do país foi alterado de Daomé para Benim. Como previsto, políticas ateístas foram adotadas, e todas as igrejas foram nacionalizadas. Os vistos de missionários estrangeiros foram revogados, forçando-os a deixar o país, enquanto os padres locais foram ameaçados de prisão por quaisquer ações consideradas ameaçadoras para o estado. Somente em dezembro de 1989, o governo marxista foi derrubado e, em fevereiro, o arcebispo de Cotonou, Isidore de Souza, liderou a comissão que redigiu a nova constituição do país. Eleições presidenciais democráticas ocorreram em 1991. Em dezembro de 1997, o Vaticano abriu um campus do Instituto João Paulo II em Cotonou, uma escola em Roma focada no estudo do casamento e da vida familiar.[6]

Atualmente editar

Em 2000, o Benim tinha 172 paróquias, 250 padres diocesanos e 107 religiosos. Os religiosos incluíam 53 irmãos e 689 irmãs que administravam clínicas, hospitais e administravam as 22 escolas primárias e 18 secundárias de Benim.[6] Ao mesmo tempo, dados estatísticos de 2010 divulgados pela Santa Sé mostravam que 34% da população (2,9 milhões de pessoas) era católica. Havia à época 11 bispos, 684 sacerdotes diocesanos e 127 sacerdotes religiosos, 139 religiosos não sacerdotes, 1.247 irmãs religiosas, 11.251 catequistas e 308 seminaristas menores e 497 maiores. Quanto a instituições mantidas pela Igreja: havia mais de 200 instituições de ensino, com cerca de 58.000 estudantes, 12 hospitais, 64 ambulatórios, três leprosários, sete asilos, 41 orfanatos e berçários são 41, além de outras 23 instituições de outras naturezas.[12] O seminário regional de St. Gall, em Ouidah, estava sob a direção dos sulpicianos, enquanto os Irmãos Cristãos mantinham uma escola em Bohicon. Uma estação de rádio católica, a Radio Imaculate Conception oferece ao povo serviços de transmissão e outras programações relacionadas à Igreja. A maioria dos católicos residem no sul, nas cidades de Porto Novo e Cotonou e arredores.[6] Estima-se que 17% da população beninense praticam o vodu, incluindo alguns cristãos e muçulmanos, embora nem sempre o façam abertamente.[5][7]

 
Interior da Catedral de Cotonou.

Uma questão de crescente preocupação entre os líderes da Igreja era o tráfico escravagista infantil, e a Arquidiocese de Cotonou estabeleceu um centro de aconselhamento para lidar com esse mal. Há estimativas de que o número de crianças traficadas na África Ocidental seja superior a 200.000 por ano, muitas das quais foram colocadas para trabalhar em plantações, como domésticas, ou forçadas à prostituição.[6]

A própria Igreja Católica beninense afirma que um dos principais problemas a ser enfrentado é a prática superficial da fé. Durante a visita ad limina dos bispos do país a Roma, em 2015, o Papa Francisco disse isso, e acrescentou que o "conhecimento profundo do mistério cristão não deve ser um direito exclusivo da elite" e que deve ser acessível a todos os fiéis, e que as pessoas no Benim estão "expostas a inúmeros ataques ideológicos por parte da comunicação social".[5]

Em 2020, durante a pandemia de COVID-19, a Igreja teve de fazer uma grande mobilização no combate à doença, especialmente para adquirir produtos como 11.000 máscaras e álcool em gel, a serem doados a hospitais e prisões por todas as dioceses do país.[13]

Organização territorial editar

O catolicismo está presente no país com duas arquidioceses e oito dioceses de rito romano, todas estão listadas abaixo:[2][14]

Circunscrições eclesiásticas católicas do Benim[2][14]
Circunscrição Ano de ereção Catedral Mapa Ref.
Arquidiocese de Cotonou 1883 Catedral de Nossa Senhora da Misericórdia   [15]
Diocese de Abomey 1963 Catedral dos Santos Pedro e Paulo   [16]
Diocese de Dassa-Zoumé 1995 Catedral de Notre-Dame de Fourvière   [17]
Diocese de Lokossa 1968 Catedral de São Pedro Claver   [18]
Diocese de Porto Novo 1954 Catedral de Nossa Senhora da Imaculada Conceição   [19]
Arquidiocese de Parakou 1948 Catedral dos Santos Pedro e Paulo   [20]
Diocese de Djougou 1995 Catedral do Sagrado Coração   [21]
Diocese de Kandi 1994 Catedral de Nossa Senhora do Carmo   [22]
Diocese de N'Dali 1999 Catedral de São Marcos Evangelista   [23]
Diocese de Natitingou 1964 Catedral da Imaculada Conceição   [24]

Há também a Eparquia da Anunciação de Ibadan, sediada na Nigéria e presente em diversos países africanos, incluindo o Benim, e é voltada para os fiéis católicos que seguem o rito maronita.[25]

Conferência Episcopal editar

 Ver artigo principal: Conferência Episcopal do Benim

Os bispos do país se reúnem na Conferência Episcopal do Benim, criada em 1970.[3]

Nunciatura Apostólica editar

 Ver artigo principal: Nunciatura Apostólica no Benim

A Nunciatura Apostólica do Daomé foi estabelecida em 1972, e, em 1975, seu nome foi alterado para Nunciatura Apostólica do Benim.[4]

Visitas papais editar

O país foi visitado pelo Papa João Paulo II em duas ocasiões: uma viagem em 17 de fevereiro de 1982, que também incluiu em seu roteiro o Gabão, a Guiné Equatorial e a Nigéria.[26] Entre de 3 e 5 de fevereiro de 1993, o Pontífice retornou em mais uma viagem ao território beninense, além de ir ao Sudão e a Uganda.[27] O Papa Bento XVI também viajou ao país entre os dias 18 e 20 de novembro de 2011,[28] com o intuito de entregar a exortação apostólica pós-sinodal aos bispos africanos, para comemorar os 150 anos de evangelização do país e para recordar o falecimento do cardeal beninense Bernardin Gantin.[12][29] Esta visita ainda é lembrada pela população, e mesmo os não católicos têm uma imagem muito positiva do evento, vendo-o como o início de uma nova consciência religiosa.[5]

A Igreja no Benim recebeu muito dos missionários; deve, por sua vez, levar esta mensagem de esperança aos povos que não conhecem, ou deixaram de conhecer, o Senhor Jesus. Amados irmãos e irmãs, convido-vos a sentir esta ânsia pela evangelização, no vosso país e no meio dos povos do vosso continente e do mundo inteiro. Isto mesmo no-lo recorda, com insistência, o recente Sínodo dos Bispos para a África! Sendo um homem de esperança, o cristão não pode desinteressar-se dos seus irmãos e irmãs. Isto estaria claramente em contradição com o comportamento de Jesus. O cristão é um construtor incansável de comunhão, de paz e de solidariedade – dons estes, que nos foram concedidos pelo próprio Jesus. Permanecendo fiéis a isto, colaboramos na realização do plano de salvação que Deus tem para a humanidade.
 
Homilia do Papa Bento XVI na Santa Missa de entrega da Exortação Apostólica pós sinodal aos bispos da África, em Cotonou, no dia 20 de novembro de 2011[30].

Ver também editar

Notas

  1. a b c d e Os números não incluem a Eparquia Maronita da Anunciação de Ibadan, por estar sediada na Nigéria, e abranger os territórios de diversos países africanos.

Referências

  1. «Benin». GCatholic. Consultado em 18 de julho de 2020 
  2. a b c d e f g «Catholic Dioceses in Republic of Benin (Benin)». GCatholic 
  3. a b «Conférence Episcopale du Bénin». GCatholic. Consultado em 18 de julho de 2020 
  4. a b «Apostolic Nunciature - Benin». GCatholic. Consultado em 18 de julho de 2020 
  5. a b c d e «Benim». Fundação ACN. Consultado em 18 de julho de 2020 
  6. a b c d e f g h «BENIN, THE CATHOLIC CHURCH IN» (em inglês). Encyclopedia.com. Consultado em 19 de julho de 2020 
  7. a b «Bento 16 vai ao Benin celebrar os 150 anos de evangelização do país». Deutsche Welle. 18 de novembro de 2011. Consultado em 20 de julho de 2020 
  8. «Benin, berço do vudu, onde os cristãos são maioria». Dom Total. 18 de novembro de 2011. Consultado em 20 de julho de 2020 
  9. Professor Felipe Aquino (16 de março de 2018). «A Igreja Católica e o Marxismo». Editora Cléofas. Consultado em 17 de novembro de 2018 
  10. Professor Felipe Aquino (18 de julho de 2017). «O perigo do marxismo». Editora Cléofas. Consultado em 17 de novembro de 2018 
  11. Professor Felipe Aquino (16 de dezembro de 2013). «Papa Francisco considera o marxismo uma "ideologia errônea"». Editora Cléofas. Consultado em 17 de novembro de 2018 
  12. a b «Papa visita o Benin em novembro: saiba mais sobre Igreja no país». Canção Nova Notícias. 8 de novembro de 2011. Consultado em 20 de julho de 2020 
  13. «Em Benin, Igreja lança campanha "Nossa luta contra o coronavírus"». Vatican News. 18 de abril de 2020. Consultado em 20 de julho de 2020 
  14. a b «Catholic Dioceses in Benin». Catholic-Hierarchy. Consultado em 19 de julho de 2020 
  15. «Archdiocese of Cotonou». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  16. «Diocese of Abomey». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  17. «Diocese of Dassa-Zoumé». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  18. «Diocese of Lokossa». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  19. «Diocese of Porto Novo». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  20. «Diocese of Parakou». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  21. «Diocese of Djougou». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  22. «Diocese of Kandi». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  23. «Diocese of N'Dali». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  24. «Diocese of Natitingou». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  25. «Maronite Diocese of Annunciation of Ibadan». GCatholic. Consultado em 30 de abril de 2020 
  26. «Special Celebrations in a.d. 1982». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  27. «Special Celebrations in a.d. 1993». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  28. «Special Celebrations in a.d. 2011». GCatholic. Consultado em 19 de julho de 2020 
  29. Jean-Louis de la Vaissiere (14 de novembro de 2011). «Papa viaja ao Benin, reflexo de esperanças e dificuldades da Igreja». Exame. Consultado em 20 de julho de 2020 
  30. Papa Bento XVI (20 de novembro de 2011). «HOMILIA DO PAPA BENTO XVI». Vatican.va. Consultado em 19 de julho de 2020