Ives Gandra Martins Filho

jurista e magistrado brasileiro, Ministro do Tribunal Superior do Trabalho
 Nota: Não confundir com Ives Gandra Martins.

Ives Gandra da Silva Martins Filho GOMMGCRB (São Paulo, 9 de maio de 1959) é um jurista, professor e magistrado brasileiro. É ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) desde 1999 e foi presidente desse tribunal de 2016 a 2018.

Ives Gandra Martins Filho
Ives Gandra Martins Filho
Ives Gandra Filho em 2016
Ministro do Tribunal Superior do Trabalho do Brasil
Período 14 de outubro de 1999
a atualidade
Nomeação por Fernando Henrique Cardoso
Antecessor(a) Cnea Moreira[1]
Presidente do Tribunal Superior do Trabalho do Brasil
Período 26 de fevereiro de 2016
a 26 de fevereiro de 2018
Antecessor(a) Antonio José Barros Levenhagen
Sucessor(a) João Batista Brito Pereira
Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça
Período 27 de julho de 2009
a 27 de julho de 2011
Nomeação por Luiz Inácio Lula da Silva
Antecessor(a) João Oreste Dalazen
Sucessor(a) Carlos Alberto Reis de Paula
Dados pessoais
Nascimento 9 de maio de 1959 (64 anos)
São Paulo, SP
Alma mater Universidade de São Paulo (USP)
Universidade de Brasília (UnB)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Prêmios
Religião catolicismo romano

Como membro do TST, foi conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (2009-2011), do Conselho Superior da Justiça do Trabalho (2004-2005) e corregedor-geral desse órgão.

Foi, anteriormente, subprocurador-geral do trabalho (1988-1999), assessor especial da Casa Civil da Presidência da República (1997-1999) e professor da Universidade de Brasília (1984-1988), pela qual é mestre em direito. Concluiu o doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.[4] Possui diversas obras publicadas sobre direito do trabalho.

É filho do advogado e professor Ives Gandra da Silva Martins. Assim como o pai, é membro da prelazia católica Opus Dei[5] e considerado um jurista conservador.[6] [7] [8] [9]

Carreira editar

Ives Gandra Filho formou-se em direito pela Universidade de São Paulo (USP) em 1981. Concluiu o mestrado pela Universidade de Brasília (UnB) em 1991, tendo sido orientado por José Carlos Moreira Alves,[10] e o doutorado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2014.[4]

Atuou como advogado nas áreas cível e trabalhista em 1982. De 1983 a 1988, foi analista judiciário do Tribunal Superior do Trabalho (TST), tendo sido assessor do ministro Carlos Coqueijo Costa. Tornou-se procurador do trabalho em 1988, e foi assessor especial do então subchefe de assuntos jurídicos Gilmar Mendes na Casa Civil da Presidência da República[11] entre 1997 e 1999, quando foi indicado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para o cargo de ministro do TST, em vaga do quinto constitucional destinada a membro do Ministério Público.[4]

Lecionou direito do trabalho e processo do trabalho no curso de graduação da UnB de 1984 a 1988 e direito comparado do trabalho no curso de pós-graduação do Centro de Ensino Unificado de Brasília (CEUB) em 1990.[4] Em 2006, foi condecorado pelo vice-presidente José Alencar por méritos como ministro do TST com a Ordem do Mérito Militar no grau de Grande-Oficial.[2]

Foi Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça, representando o TST, de 2009 a 2011.[4] Em 26 de fevereiro de 2016, tornou-se presidente do tribunal,[12] com mandato de 2 anos, encerrado em 26 de fevereiro de 2018.[13]

Em 2017, foi cotado pelo governo Michel Temer para o cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal,[14] [15] porém sofreu resistência em razão de defender posições tidas como muito conservadoras,[16] que também lhe geraram críticas por parte de advogados e magistrados.[17] [18]

Posições jurídicas e políticas editar

Gandra Filho é adepto do jusnaturalismo e considera que a ordem jurídica é fundamentada em um núcleo mínimo de direitos humanos, o direito natural, devendo o direito ser fundado em exigências naturais que lhe dão fundamento.[19] Sua concepção do direito natural é apontada como uma forma ligada ao neotomismo.[20]

No direito do trabalho, é defensor da flexibilização das leis trabalhistas.[21] Em relação ao trabalho análogo à escravidão, acolheu, como presidente do TST, em março de 2017, o pedido de suspensão da divulgação da "lista suja" de empregadores que exploram trabalho escravo, apesar de a lista ser considerada pelas Nações Unidas como uma medida fundamental na repressão a práticas de violação de direitos humanos no Brasil.[22] Em abril de 2017, posicionou-se a favor do fim do imposto sindical, proposta do deputado federal Rogério Simonetti Marinho.[23][24] Em audiência no Senado Federal, em maio de 2017, afirmou que indenizações por acidentes do trabalho não podem ser “altas”, porque isso estimularia a automutilação pelos trabalhadores.[25] Segundo ele, existe um "ativismo judicial pró-trabalhador" na Justiça do Trabalho e em outras esferas do Poder Judiciário.[26]

No campo do direito penal, manifestou-se favorável à possibilidade de prisão a partir da condenação em segunda instância, defendendo a aplicação do mesmo princípio a outras áreas do direito, para executar decisões judiciais após o julgamento em segunda instância.[21][27]

Com relação ao direito de família, é desfavorável à união homoafetiva, tendo-a comparado ao bestialismo em um artigo, ao usar como exemplo uma mulher casada com um cavalo. Defende que na lei positiva o casamento deve ser indissolúvel e que o divórcio é contrário à lei natural, e considera que o princípio da autoridade na família está ordenado de forma que a mulher deve obedecer ao marido,[28][29] ainda que acredite no "compartilhamento da autoridade" na família.[30] Em resposta a críticas, declarou não ser machista, explicando que sua visão do princípio da autoridade se baseava na obra da filósofa Edith Stein.[30] No entanto, a Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia respondeu que esse era um entendimento equivocado da obra de Stein, a qual defendia a ocupação de papéis de destaque na política e no trabalho por mulheres e em momento algum sustentou a primazia da autoridade do homem na família.[31] Gandra também afirmou ser contra a homofobia e defender que "as pessoas homossexuais devem ser respeitadas em sua orientação e ter seus direitos garantidos, ainda que não sob a modalidade de matrimônio para sua união".[30] Nesse sentido, ele afirmou que decisões progressistas do Supremo Tribunal Federal trazem impactos negativos sobre a sociedade cristã brasileira.[8]

Em entrevista à Sociedade Chesterton Brasil, organização dedicada ao escritor católico inglês G. K. Chesterton, Gandra Filho defendeu o fim da "generalização dos cursos superiores", criticando que se faça faculdade "apenas para tirar diploma". Para ele, "não se trata de elitizar, mas de exigir mais dos que ingressam no ensino médio e superior, para se obter profissionais de qualidade e não meros diplomados." Na entrevista, Ives julgou aplicável ao cenário brasileiro o distributismo, teoria socioeconômica católica que propõe a difusão do capital e da propriedade entre o maior número de pessoas possível, ressaltando: "Se nos ativermos a viver os princípios da doutrina social cristã em matéria de Justiça Social, conjugando, por exemplo, o princípio da proteção com o da subsidiariedade, teremos a justa equação do ponto de vista do equilíbrio na intervenção do Estado no domínio econômico e social, implementando aquela que é a Justiça Distributiva por natureza."[32]

Em junho de 2022, durante um evento no Palácio do Planalto, o ministro Ives Gandra aplaudiu uma fala do presidente Jair Bolsonaro em que este declarou que iria descumprir decisões do Supremo Tribunal Federal, fato que foi recebido com perplexidade por membros de tribunais. Ante a repercussão do episódio, o ministro do TST afirmou que entendeu a fala de Bolsonaro como "um desabafo de cidadão comum" e que ele próprio não se sentia confortável "com o ativismo judicial, com a forma como o Judiciário está funcionando".[33]

Vida pessoal editar

Católico, Gandra Filho é dedicado à vida religiosa, sendo membro numerário do Opus Dei,[34] residindo em uma casa pertencente à prelazia e tendo feito votos de pobreza e de castidade.[20] Fora da área jurídica, tem predileção pelos escritores J. R. R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, sobre o qual publicou o manual O Mundo do Senhor dos Anéis,[8] e G. K. Chesterton, de quem traduziu e prefaciou o livro Ortodoxia para a editora Ecclesiae.[32]

Livros editar

São os livros publicados por Ives Gandra Filho:

  • Teoria e Prática do Recurso Extraordinário Trabalhista. São Paulo: Saraiva, 1986.
  • Manual de Contribuições Especiais (em coautoria com Ives Gandra Martins). São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987.
  • Curso de Direito Material e Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: COAD, 1988.
  • Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 1990.
  • A Legitimidade do Direito Positivo - Direito Natural, Democracia e Jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1992.
  • Ação Civil Pública Trabalhista. Recife: Nossa Livraria, 1997.
  • 500 Anos de História do Brasil - Resumo Esquemático. São Paulo: LTr, 1999.
  • O Sistema Legal e Judiciário Brasileiro. São Paulo: LTr, 2000.
  • Manual Esquemático de História da Filosofia. São Paulo: LTr, 2000. v. 01.
  • História do Trabalho, do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho (Organizador, junto a Amauri Mascaro Nascimento e Irany Ferrari). São Paulo: LTr, 2002.
  • Manual do Trabalho Voluntário e Religioso. São Paulo: LTr, 2002.
  • O Mundo do Senhor dos Anéis. Lisboa: Europa-América, 2003. (Editado no Brasil pela Martins Fontes, 2006).
  • Processo Coletivo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2003. v. 01.
  • A Questão do Aborto: aspectos jurídicos fundamentais. 1. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2008. v. 1. 127 p.
  • Manual de Direito e Processo do Trabalho. 19. ed. São Paulo, SP: Saraiva, 2009. v. 1. 510 p.
  • A Efetividade do Direito e do Processo do Trabalho. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2010. v. 1. 320 p.
  • Ética e Ficção: de Aristóteles a Tolkien. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier, 2010. v. 1. 267 p.
  • A Intervenção do Estado no Domínio Econômico: Condições e Limites (Coordenador, junto a Samantha Ribeiro Meyer-Pflug). São Paulo: LTr, 2011.
  • O Estado Laico & A Liberdade Religiosa (Coordenador, junto a Milton Augusto de Brito Nobre). 1ª. ed. São Paulo: LTr, 2011. v. 1. 157p .
  • Os Pilares do Direito do Trabalho (Coordenador, junto a Nelson Mannrich e Ney Prado). 1. ed. São Paulo e Porto Alegre: Lex e Magister, 2013. v. 1. 622p.
  • O controle disciplinar da magistratura e o perfil ético do magistrado. São Paulo: Saraiva, 2015.
  • A Santificação do Trabalho. 1. ed. São Paulo: Molokai, 2022. 156 p.

Ver também editar

Referências

  1. «Ministros do TST» (PDF). Senado Federal. Consultado em 12 de novembro de 2016 
  2. a b BRASIL, Decreto de 20 de março de 2006.
  3. «DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO - Seção 1 | Edição extra | Nº 225-A , quinta-feira, 1 de dezembro de 2022». Imprensa Nacional. 1 de dezembro de 2022. p. 3. Consultado em 4 de fevereiro de 2024 
  4. a b c d e «Ives Gandra da Silva Martins Filho». Tribunal Superior do Trabalho. Consultado em 30 de setembro de 2016 
  5. «Ministro Ives Gandra Martins Filho é destaque do Contraponto». Associação Paulista de Magistrados. 30 de outubro de 2008. Consultado em 20 de janeiro de 2017 
  6. «Aliados pressionam Temer por indicação de conservador para o STF». Brasil 247. 20 de janeiro de 2017. Consultado em 20 de janeiro de 2017 
  7. «Novo Ministro do STF pode ser um católico conservador: Ives Gandra da Silva Martins Filho». CristalVox. 23 de janeiro de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2017 
  8. a b c «Conservadorismo de Ives Gandra agrada ao governo». Veja. Abril. 23 de janeiro de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2017 
  9. «Ives Gandra Filho desponta como favorito para vaga no STF». Valor Econômico. Folha da manhã. 23 de janeiro de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2017 
  10. «Currículo na Plataforma Lattes» 
  11. «Políticos, juízes e até pai de candidato fazem lobby para influenciar Temer na escolha de novo ministro do STF». O Globo. 29 de janeiro de 2017. Consultado em 29 de janeiro de 2017 
  12. «Presidência do TST». Tribunal Superior do Trabalho. Consultado em 25 de janeiro de 2017 
  13. «Temer participa de posse de dirigentes do TST». Diário Comércio, Indústria & Serviços. 26 de fevereiro de 2018. Consultado em 26 de fevereiro de 2018 
  14. «Temer quer nome pró-reformas no STF». Jornal do Commercio. 26 de janeiro de 2017. Consultado em 14 de janeiro de 2018 
  15. «Saiba quem são os magistrados cotados para vaga de Teori no STF». Folha PE. 3 de fevereiro de 2017. Consultado em 14 de janeiro de 2018 
  16. «Temer avisou Gandra que seu nome sofria resistência». Estadão. 7 de fevereiro de 2017. Consultado em 8 de fevereiro de 2017 
  17. «Cotado para o STF, Ives Gandra Filho é criticado por publicação em livro». Migalhas. 26 de janeiro de 2017. Consultado em 14 de janeiro de 2018 
  18. «Magistrados querem para o STF nomes alternativos ao de Ives Gandra». Rede Brasil Atual. 25 de janeiro de 2017. Consultado em 14 de janeiro de 2018 
  19. Ives Gandra da Silva Martins Filho (2009). «Os funamentos filosóficos da Declaração Universal dos Direitos Humanos: fundamentar como condição para garantir» (PDF). JusLaboris: Biblioteca digital da Justiça do Trabalho. Tribunal Superior do Trabalho. Consultado em 24 de janeiro de 2017 
  20. a b Hugo Guimarães (30 de janeiro de 2017). «Ives Gandra – o que as críticas e os elogios escondem». Revista Amálgama. Consultado em 10 de março de 2018 
  21. a b «Presidente do TST defende flexibilização das leis trabalhistas». O Globo. 28 de fevereiro de 2016 
  22. «TST susta divulgação de lista do trabalho escravo a pedido de ministro». Época Negócios. Consultado em 10 de junho de 2017 
  23. «PRESIDENTE DO TST APOIA O FIM DE IMPOSTO SINDICAL! "TEM QUE SER OPCIONAL!"». Tribuna PR. Consultado em 3 de abril de 2017 
  24. Murilo Rodrigues Alves (2 de abril de 2017). «Presidente do TST apoia fim de imposto sindical». Estadão. Consultado em 3 de abril de 2017 
  25. «Trabalhadores podem se mutilar caso indenizações sejam "altas", afirma Ives Gandra Filho». Carta Capital. Consultado em 10 de junho de 2017 
  26. «Presidente do TST acredita que reforma fará judicialização trabalhista diminuir». Conjur. 6 de novembro de 2017. Consultado em 6 de novembro de 2017 
  27. «Ives Filho é a favor de prisão após segunda instância». O Antagonista. 23 de janeiro de 2017. Consultado em 29 de setembro de 2020 
  28. «Cotado para o STF, Ives Gandra Filho defende submissão da mulher ao homem». Justificando. 23 de janeiro de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2017 
  29. Martins Filho, Ives Gandra da Silva (2012). Ives Gandra da Silva Martins, Gilmar Ferreira Mendes e Carlos Valder do Nascimento, ed. Tratado de Direito Constitucional, vol. 1. [S.l.]: Saraiva 
  30. a b c «Nota à imprensa». O Antagonista. 25 de janeiro de 2017. Consultado em 25 de janeiro de 2017 
  31. «Nota de repúdio às declarações do juiz Ives Gandra Filho». Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia. Consultado em 10 de março de 2018 
  32. a b «SCB entrevista Ives Gandra Martins Filho – presidente do TST». Sociedade Chesterton Brasil. 19 de agosto de 2017. Consultado em 16 de novembro de 2017 
  33. «Ministro do TST, Ives Gandra aplaude Bolsonaro dizer que pode desobedecer o STF; veja o vídeo». Folha de S. Paulo. 14 de junho de 2022. Consultado em 23 de julho de 2022 
  34. «Ives Gandra esclarece "Fake News" criada na imprensa sobre suas declarações». O Povo. 26 de janeiro de 2017. Consultado em 17 de abril de 2017. Ives Gandra é católico praticante, numerário da Opus Dei. 

Ligações externas editar

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