Represa de Juturnaíba

Represa no Estado do Rio de Janeiro
(Redirecionado de Lagoa de Juturnaíba)

A represa de Juturnaíba é uma represa localizada entre os municípios de Silva Jardim e Araruama, no local de confluência entre os rios São João, Capivari e Bacaxá. O empreendimento é um grande reservatório de água doce, e o maior destinado ao fim de abastecimento humano no estado do Rio de Janeiro.

Represa de Juturnaíba
Represa de Juturnaíba
Vertedouro da barragem de Juturnaíba
Localização
Município Silva Jardim
Características
Área * 43 km²
Comprimento máximo 15 km
Largura máxima 4 km
Perímetro * 85 km
Profundidade média 2,3 m
Profundidade máxima 8 m
Bacia hidrográfica Bacia Hidrográfica rio São João
Afluentes Rio São João, rio Capivari e rio Bacaxá
* Os valores do perímetro, área e volume podem ser imprecisos devido às estimativas envolvidas, podendo não estar normalizadas.

Na represa, existem duas estações de tratamento de água: uma administrada pela concessionária Prolagos, e a outra, pela Águas de Juturnaíba; estas centrais de captação abastecem a maior parte da população da mesorregião das Baixadas Litorâneas, e, integralmente, a microrregião dos Lagos, abastecendo um total de 1,2 milhão de pessoas.

Origem do nome editar

O nome Juturnaíba é originário da palavra indígena tupi “Nhetoronoa-aba” ou “Nhetoranga-aíba”, que significa “lago medonho” ou “mal-assombrado” e foi dado devido à presença de um ronco que se ouvia em suas águas. Na cultura indígena, dizia-se ser o Ururau, mas especula-se que o barulho poderia ser da própria água da antiga lagoa descendo por alguma queda d'água.[1]

Características editar

A represa possui uma área alagada em formato irregular, formado pelo afogamento da antiga lagoa mais 4 braços distinguíveis: o do rio São João ao norte, Capivari ao oeste, Bacaxá e o seu afluente, o rio da Onça ao sul.[2] Esta forma garante ao espelho d'água uma superfície de 43 km², um perímetro de 85 km, comprimento de 15 km e uma largura máxima de 4 km.[3]

O nível máximo da água é de 8,4 m, o volume, 10 milhões de m³, um influxo anual de 29 m³/s, um tempo de residência médio da água de 38 dias e a profundidade média e máxima de 2,3 e 8 metros, respectivamente.[3]

A área de drenagem da represa de 1376 km², sendo 565,7 km² a contribuição do rio São João, 565,5 km² do rio Bacaxá, 220,4 km² do Capivari, e 43 km² da própria área alagada.[2] Totalizando 62% de toda a bacia do Rio São João.[4]

Uso das águas editar

A construção da represa teve como objetivo o abastecimento humano e industrial,[3] e hoje é a maior fonte de captação da água para uso humano de todo o Estado do Rio de Janeiro[2] e o único manancial regional que é capaz de abastecer integralmente[5] os municípios da Baixadas Litorâneas, com as concessionárias Águas de Juturnaíba, abastecendo os municípios de Araruama, Silva Jardim e Saquarema e a a Prolagos, que abastece Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Cabo Frio. Totalizando o abastecimento total de 1,2 milhões de pessoas, (contabilizando a população flutuante).[4]

A represa, além de ter a importante função de abastecer oito municípios, também oferece sustento às famílias dos pescadores locais, atividades como banho e natação, pesca esportiva, passeios turísticos feitos por embarcações, irrigação, e dessedentação dos animais dos pastoreios próximos.[5]

Construção da represa editar

A represa foi construída inundando a área da antiga Lagoa de Juturnaíba, local de confluência dos rios Bacaxá, e Capivari com o rio São João, o corpo d'água possuía uma área aproximada de 6km² em formato quase retangular[2] e, com uma profundidade média de 4m. No período de chuvoso poderia chegar a atingir 8km².[3]

A partir de 1974, a bacia do Rio São João foi alvo do Programa Especial para o Norte Fluminense, vinculado ao antigo Ministério do Interior. Este programa realizou várias obras, através do Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), como obras de retificação, drenagem e a construção da represa de Juturnaíba, que teve sua obra iniciada em 1978 e cobriu completamente a área da antiga lagoa em 1984. Com a área alagada passando de 8 km² para 43 km², criou-se um ecossistema diferente do que havia na antiga lagoa.[3]

Outros objetivos da construção da barragem, além do abastecimento humano, foram o controle de enchentes do rio São João e auxiliar na irrigação das terras planas drenadas pelo DNOS antes da construção do reservatório[3], terras essas selecionadas pelo programa Proálcool[4] de cultivo de cana-de-açúcar e de outras lavouras a jusante e a montante da represa, como a de inhame, cítricos e arroz.[6] Todavia, esse objetivo não foi alcançado.[3]

Estrutura editar

A barragem é feita em terra e pedra,[3] com comprimento de 3.460m de comprimento, o vertedouro possui estrutura em concreto e forma em labirinto (zigue-zague). Possui 4 comportas laterais em cada lado do vertedouro da represa em cotas mais baixas para os canais de irrigação. Há também uma ponte de concreto que liga as cristas do lado esquerdo e direito da barragem, que são separadas pelo vertedouro de 180 metros.[2]

Manutenção editar

A represa de Juturnaíba é uma obra federal, mas desde a extinção do DNOS, o empreendimento não possui um dono claro, podendo ter sua responsabilidade atribuída tanto ao Ministério do Desenvolvimento Regional ou a Agência Nacional das Águas e Saneamento Básico (ANA). Apesar de não haver um dono reconhecido da barragem, a concessionária de água Prolagos é responsável pela recuperação da barragem, do vertedouro e das comportas, por força de contrato firmado com o governo estadual, através da ASEP, atual Agenersa.[3]

A barragem de Juturnaíba tem sido alvo de vistorias e de preocupações pois registrou-se diversos riscos ambientais relacionados ao escoamento das águas que podem danificar as comportas para o fornecimento de água.[7]. A situação da barragem foi considerada emergencial e alarmante.[2] Um relatório do Inea considerou a barragem como tendo alto potencial de dano associado (considerando perdas de vida e impactos ambientais e econômicos).[8]

Problemas nas estruturas dos vertedouros da barragem e problemas operacionais ocasionados pela vegetação aquática e as ilhas flutuantes são apontados como problemas de segurança da represa de Juturnaíba. O custo de manutenção estimado é de 15 milhões de reais no ano de 2017.[9]

Problemas ambientais editar

Durante e após a construção do reservatório ocorreu o surgimento de ilhas flutuantes de plantas aquáticas,[3] causando impactos ambientais. As ilhas de gigogas ocupam parte do espelho d'água, matando peixes pela diminuição do oxigênio dissolvido na água.[5] Tornou-se recorrente a presença de algas em teores elevados que durante os períodos de intensa proliferação dificultam o tratamento da água, causam a necessidade de intervenções operacionais e a limpeza dos reservatório das ETAs[4]

Dentre as causas da elevada eutrofização do reservatório, estão: o lançamento de esgoto urbano sem tratamento adequado, a construção do reservatório sem a remoção prévia da vegetação, a alta incidência solar,[4] uso inadequado do solo e a ocupação da bacia de drenagem da represa.[10] Com estas condições, torna-se propícia a floração de algas que causam estes problemas.[4]

Observa-se também que a capacidade do reservatório pode estar diminuindo através do rápido assoreamento[6] e várias partes do reservatório de encontram assoreadas dificultando a navegação de embarcações.[5]

Pesca e fauna editar

A antiga lagoa de Juturnaíba servia de habitat para 34 espécies de peixe como traíras, acarás, piabanhas, piaus, sairus, cascudos, robalo e tainha. Crustáceos como mexilhões, pitus e lagostas também faziam presença na lagoa, além de aves aquáticas e o Jacaré-do-papo-amarelo.[11]

A construção da represa teve efeitos pouco estudados na biodiversidade, entretanto, ocorreu o desaparecimento de três espécies de peixe a montante da represa: robalo, tainha e pitu. O desaparecimento se deu porque a barragem impede a migração dos cardumes de peixes, já que a represa não foi construída com uma escada para a migração de peixes, contrariando normas legais[12]

Além do desaparecimento de espécies nativas, houve a introdução de espécies exóticas no corpo d'água: tucunaré, bagre-africano, tambaqui, pacu, tilápia, carpa comum e carpa capim.[5][11]

Referências

  1. Revivendo Águas Claras (PDF). [S.l.]: IPEDS. 2016. p. 6 
  2. a b c d e f Rocha, Mônica (2017). «Avaliação do Risco de Galgamento pela Passagem da Cheia Decamilenar Sobre a Barragem de Juturnaíba, Localizada na Bacia do Rio São João, Estado do Rio De Janeiro» (PDF). Universidade Federal Fluminense. Consultado em 6 de março de 2022 
  3. a b c d e f g h i j Plano das Bacias Hidrograficas da Regiao dos Lagos e do rio Sao Joao (PDF). [S.l.: s.n.] 2005 
  4. a b c d e f Atlas dos Mananciais de Abastecimento Público do Estado do Rio De Janeiro (PDF). Rio de Janeiro: [s.n.] 2019. pp. 296–308 
  5. a b c d e Morais, Marla (2016). «Impacto da Ação Antrópica sobre a Qualidade da Água e da Ictiofauna da Represa de Juturnaíba – Silva Jardim – Rj (Brasil)» (PDF). Portal IFF. Instituto Federal Fluminense. Consultado em 6 de março de 2022 
  6. a b Wasserman, Julio (janeiro de 2008). «Viabilidade de Utilização dos Recursos Hídricos da Bacia do Rio São João para Complexo Petroquímico do Rio De Janeiro» (PDF). Consultado em 6 de março de 2022 
  7. «Relatório Anual de Atividades - Exercício 2017» (PDF). Secretaria de Estado de Fazenda do Rio de Janeiro. AGENERSA. Consultado em 6 de março de 2022 
  8. «Relatório de Segurança de Barragens 2019» (PDF). Inea - Instituto Estadual do Ambiente. Fevereiro de 2020. Consultado em 6 de março de 2022 
  9. «Relatório de Segurança de Barragens 2017» (PDF). Distrito Federal, Brasil: Agência Nacional de Águas. 2018. p. 37. Consultado em 16 de junho de 2022 
  10. Novo, Andrea (setembro de 2015). «Emissão e Produção de Metano em um Reservatório Tropical: Variabilidade Espacial no Reservatório de Juturnaíba» (PDF). Universidade Estadual do Norte Fluminense. Universidade Estadual do Norte Fluminense -UNNF. Consultado em 6 de março de 2022 
  11. a b «Ordenamento Pesqueiro Represa de Juturnaíba» (PDF). Organização Ambiental para o Desenvolvimento Sustentável. OADS. Consultado em 16 de junho de 2022 
  12. Lima, Aristides (2008). «Análise político-institucional da gestão das águas na Bacia Lagos São João, RJ» (PDF). Peamb- UERJ. Universidade do Estado do Rio de Janeiro (publicado em 16 de agosto de 2008). 145 páginas. Consultado em 16 de junho de 2022