Joaquim Pires Jorge (Lisboa, 28 de novembro de 19076 de junho de 1984) foi um destacado dirigente do Partido Comunista Português, do qual foi militante durante 50 anos.[1] Passou 16 anos nas prisões do Estado Novo.[1]

Pires Jorge
Pires Jorge
Pires Jorge
Membro do Comité Central do Partido Comunista Português
Período 1943 a 1984
Membro do Secretariado do Comité Central do Partido Comunista Português
Período De 1950 a 1961
De 1971 a 1984
Dados pessoais
Nome completo Joaquim Pires Jorge
Nascimento 28 de novembro de 1907
Lisboa, Portugal
Morte 6 de junho de 1984 (76 anos)
Profissão Operário Metalúrgico
Taxista
Marinheiro

Biografia

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Juventude

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Joaquim Pires Jorge nasceu filho de pais operários na Freguesia da Ajuda em Lisboa, a 28 de novembro de 1907.[2][3] Os seus pais, antes de saírem de Castelo Branco em busca de melhores condições de vida, eram camponeses.[4] Após ter vários empregos, o seu pai torna-se guarda-freio da Carris e a mãe vendedora de bijuterias.[3]

Pires Jorge completa a 4.º classe, mas começa a trabalhar logo aos 11 anos numa fábrica de cortiça, tornando-se depois aprendiz de serralheiro numa oficina especializada no fabrico de travões para carroças.[3]

Atividade política antes do Partido Comunista Português

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Revolta militar de fevereiro de 1927

Cumprindo o serviço militar na Marinha Portuguesa, entra na Banda da Armada devido às suas habilidades, que havia adquirido na juventude.[3] Influenciado pela militância do seu pai nos sindicatos da Carris, participa na fracassada revolta de fevereiro de 1927 contra a ditadura militar.[3] É deportado para Angola, onde permanece durante dois anos.[3]

Organização Revolucionária da Armada

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Passados os dois anos, Pires Jorge retorna a Portugal, ligando-se à Organização Revolucionária da Armada.[3] Estabelece contactos com o Partido Comunista Português através de Manuel Guedes.[3] É preso, porém, consegue evadir a prisão escapando escassas horas após ser levado para o Quartel da Armada.[3] Devido a isto, Pires Jorge exila-se em Valência, Espanha, e depois Málaga, sempre procurando voltar a Portugal.[3] Aceita o convite de Sarmento de Beires para participar num golpe militar que estava em preparação.[3][5] Passado algum tempo, o hotel onde decorria uma reunião é cercado pela polícia e esta é interrompida.[3] Segundo o PCP, «Pires Jorge protagoniza uma fuga espetacular: escapa-se pelos telhados, saltando de casa em casa, trocando tiros com os perseguidores».[3]

Partido Comunista Português

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Pires Jorge exila-se de novo em Espanha, tendo contacto com José Gregório, o que leva-o a aderir ao Partido em 1934.[3][5] Volta a Portugal e mergulha na clandestinidade, tendo um papel importante na criação de um «aparelho de fronteira», que, segundo o PCP, tinha «a função de ajudar camaradas em fuga».[3]

Prisão de 1936

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Numa das missões deste «aparelho de fronteira», em 1936, é preso pela Guarda Civil enquanto procurava ajudar o exílio de Manuel Guedes.[3] É extraditado para Portugal, e fica encarcerado na prisão do Aljube, sendo deportado pouco depois para Angra do Heroísmo, nos Açores, onde fica quase o tempo todo isolado, num calabouço, até 1940.[3] Proibido ter livros em mãos, consegue adquirir o dicionário de língua portuguesa de Cândido Figueiredo.[3] Após isto, segundo o PCP, «[c]om receio que o descubram, copia-o durante a noite – tarefa que durou meses – para umas folhas de papel que serviam de papel higiénico, alumiado por uma lamparina feita com uma lata de graxa e azeite da comida».[3]

A «Reorganização»

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Após a sua libertação, e com problemas em arranjar trabalho, é-lhe comprado pelos pais e um amigo um carro da marca Hillman por dezassete contos, tornando-se taxista.[3] Este carro teria não só como função transportar clientes habituais, mas também membros da direção do Partido, enquanto se processa a sua «reorganização».[3]

Quando voltou à clandestinidade partilhou a mesma casa, em Lisboa, com Pedro dos Santos Soares.[3] No entanto, devido à «intensa atividade desses anos», são ambos presos na prisão de Caxias.[3] Após alguns meses, quando é transportado para uma consulta no Hospital de S. José sobre as suas ininterruptas dores de dentes, consegue escapar aos agentes da PIDE que o escoltavam.[3]

III e IV Congressos do PCP

Foi eleito para o Comité Central em 1943, no III Congresso do PCP (ou I Congresso ilegal).[3] Teve a responsabilidade de controlar a atividade do Partido no Norte, de Coimbra a Trás-os-Montes, que percorreu de bicicleta.[3] No IV Congresso do PCP, em 1946, expôs o relatório sobre agitação e propaganda, com o nome O Partido e a Unidade Nacional.[3][5]

Secretariado do PCP

Após a prisão de quase todo o Secretariado do PCP em 1949, Pires Jorge é um dos indicados para constituir o novo Secretariado.[3][6] Usou o pseudónimo Gomes.[6] Controlou a comissão de redação do jornal Avante! em 1957.[7] Em 1959, com Octávio Pato e Dias Lourenço, Pires Jorge tem um papel importante na preparação da fuga de Peniche a partir do exterior.[3]

Prisão de 1961

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Em 15 de dezembro de 1961, Pires Jorge é capturado pelas forças do Estado Novo, no mesmo dia que decorria uma reunião do Comité Central - onde Pires Jorge era o condutor de vários participantes.[3][8] É condenado a dez anos de prisão.[3] Não obstante, é eleito para o Comité Central no VI Congresso do PCP, em 1965.[3][9]

Quando é libertado, começa a trabalhar como tradutor de espanhol, e é enviado para o estrangeiro alguns meses depois.[3] No entanto, passado pouco tempo, volta ao Secretariado.[3]

Após a revolução

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Quando se dá a revolução de 25 de abril de 1974, Pires Jorge está em Paris, junto com Álvaro Cunhal e Sérgio Vilarigues, voltando a Portugal somente uns meses depois, por indicação do Partido.[3] Realizou a abertura do VII Congresso do PCP.[3] É indicado para trabalhar na secção de Coimbra do Partido, voltando depois para Lisboa, para trabalhar na Secção Internacional.[3]

Morreu em 6 de junho de 1984.[3]

Referências

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  1. a b PCP Exposição 2007, p. 1.
  2. PCP Exposição 2007, pp. 1-2.
  3. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab ac ad ae af ag ah ai aj ak al PCP Pires Jorge 2007.
  4. PCP Pires Jorge 2007, p. 1.
  5. a b c Madeira 2011, p. 77.
  6. a b Madeira 2011, p. 213.
  7. Madeira 2011, p. 673.
  8. Madeira 2011, p. 586.
  9. Madeira 2011, pp. 587-588.

Bibliografia

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