Quedivato do Egito



O Quedivato do Egito (em árabe: خديوية مصر; romaniz.: khadiawiat misr; em turco: Mısır Hidivliği) foi um Estado tributário autônomo do Império Otomano.

Quedivato do Egito
خديوية مصر
Mısır Hidiviyet-i

Estado vassalo autonômo do Império Otomano até 1914
(sob ocupação do Império Britânico a partir de 1882)


 

 

1867 – 1914
 

 

 

Flag Brasão
Bandeira (1867–1881) Brasão
Hino nacional
Salam Affandina


Localização de Egito
Localização de Egito
Verde escuro: Quedivato do Egito
Verde claro: Sudão Anglo-Egípcio
Verde mais claro: Cedido do Sudão para a África do Norte Italiana em 1919
Continente África
Região Oriente Médio
País Egito
Capital Cairo
30° 3' N 31° 13' E
Língua oficial Árabe, inglês[a]
Religião Sunita
Governo Monarquia Constitucional
Quediva
 • 1867–1879 Ismail Paxá
 • 1879–1892 Teufique Paxá
 • 1892–1914 Abaz Hilmi II
Agente britânico e Cônsul-geral
 • 1883–1907 Evelyn Baring, Lorde de Cromer
 • 1907–1911 Eldon Gorst, Sir Eldon Gorst
 • 1911–1914 Conde Kitchener
Primeiro-ministro
 • 1878–1879 Nubar Paxá (primeiro)
 • 1914 Hussein Rushdi Paxá (último)
Período histórico Partilha da África
 • 8 de Junho de 1867 Fundação
 • 17 de Novembro de 1869 Abertura do Canal de Suez
 • 1881–1882 Revolta de Urabi
 • Julho – Setembro de 1882 invasão britânica
 • 18 de Janeiro de 1899 Convenção do Sudão
 • 19 de Dezembro de 1914 Dissolução
Área
 • 1882[b] 34 184 km2
População
 • 1882[b] est. 6 805 000 
     Dens. pop. 199,1 hab./km²
 • 1897[b] est. 9 715 000 
     Dens. pop. 284,2/km²
 • 1907[b] est. 11 287 000 
     Dens. pop. 330,2/km²
Moeda Libra egípcia
Atualmente parte de  Egito
 Líbia
 Sudão do Sul
 Sudão
 Somália
a. O inglês se tornou a única língua oficial em 1898.[1]

b. Área e densidade incluem apenas as áreas habitadas. A área total do Egito, incluindo desertos, é de 994,000 km².[2][3]

História

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Antecedentes

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Conquistado pelo Império Otomano em 1517, o Egito sempre mostrou-se uma difícil província para os sultões otomanos controlarem, em parte devido à força contínua e a influência dos mamelucos, a casta militar egípcia que governou o país durante séculos. Como tal, o Egito permaneceu como uma região semiautônoma sob os mamelucos, até ser invadido pelas forças francesas de Napoleão em 1798.

Ascensão de Maomé Ali

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Quando os aliados otomanos e ingleses derrotaram as forças francesas no Egito otomano, o governo otomano manteve um exército considerável na área, com a antiga classe dominante dos mamelucos, apesar de sua derrota nas mãos dos franceses, se estabelecendo no Alto Egito.[4] As facções otomanas e mamelucas não coexistiram bem neste período, e logo disputas irrompem entre eles.

Em 1805, a existência de um oficial albanês do contingente otomano, Maomé Ali, havia chegado ao conhecimento de seus superiores. Ele foi visto, tanto por seus colegas e a população egípcia, como o único homem capaz de trazer "ordem e segurança"[4] para a região.

A Maomé Ali foi dado o controle do Egito, embora a Sublime Porta estivesse preocupada com o poderio do albanês. O governo otomano tentou fazer Maomé Ali governador do Hijaz, na tentativa de diminuir sua influência na região. Esta tentativa foi recebida com raiva,[4] no Egito, e Maomé Ali foi feito uale, ou governador, do Egito.

O restante dos beis mamelucos foram assassinados, sob comando de Maomé Ali, em 1811. Este evento consolidou o controle otomano sobre o Egito, havendo avanços na agricultura (o que aumentou o volume de exportações egípcias) e o início de um longo projeto de industrialização da região.[4] Em 1820, o exército de Maomé Ali foi forte o suficiente para invadir e conquistar o Sudão. Isto estabeleceu-o como o governante inquestionável do Egito, nominalmente independente do Império Otomano. No entanto, ele ajudou o sultão na luta contra os gregos durante a Guerra da Independência Grega até que a sua marinha foi derrotada por uma coalizão Europeia de Navarino em 1827.[5]

As guerras contra os turcos

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Apesar de ter sido nomeado apenas como uale, Maomé Ali autoproclamou-se quediva, ou vice-rei hereditário no início de seu governo. A administração otomana, embora desgostosa, decidiu nada fazer até Maomé Ali invadir a Síria em 1831. O governo local tinha sido prometido pelo sultão ao uale, por sua ajuda durante a Guerra da Independência Grega, mas a região não lhe foi concedida.[5] A invasão levou os otomanos, assistidos pelos britânicos, a contra-atacar em 1839.

Em 1840, os britânicos bombardearam Beirute e uma força anglo-otomana desembarcou e apreendeu Acre.[4] O exército egípcio foi forçado a recuar e a Síria se tornou novamente uma província do otomana. Como resultado da Convenção de Londres, Maomé Ali abdicou de todos os territórios conquistados exceto o Sudão.

Sucessores de Maomé Ali

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Em 1848, Maomé Ali estava com a saúde debilitada devido à idade avançada, o que estimulou seu filho Ibrahim, requerir sua admissão como uale egípcio. O sultão otomano aceitou a proposta e Maomé Ali foi retirado do poder. No entanto, Ibrahim morreu de tuberculose doença meses depois, sendo sucedido por seu sobrinho, Abaz I, que, por sua vez, desfez muitas das realizações de Maomé Ali. Abaz foi assassinado por dois de seus escravos em 1854, e o quarto filho de Ali, Saíde, sucedeu Abaz. O novo uale trouxe de volta muitas das políticas do seu pai[6] mas teve um reinado curto, com duração de apenas nove anos.[7] Seu sobrinho Ismail, outro neto de Maomé Ali, tornou-se uale em seu lugar. Em 1867, o sultão otomano reconheceu oficialmente o título de quediva usado desde o governo de Maomé Ali.

Domínio sancionado do quedive (1867-1914)

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Influência europeia

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Durante o reinado de Ismail, o governo egípcio, chefiado pelo primeiro-ministro Nubar Paxá, tinha contraído dívidas com o Reino Unido e França, dependo economicamente de ambas as potências europeias. O quedive tentou extinguir tal dependência enquanto praticava uma agressiva política doméstica. Sob Ismail, 112 canais e 400 pontes foram construídos no Egito.[8] Devido aos seus esforços para conquistar a independência financeira do Egito, Ismail tornou-se mal visto entre diplomatas britânicos e franceses, incluindo Evelyn Baring e Alfred Milner, que alegavam que o mesmo iria "arruinar o Egito."[8]

Em 1869, a conclusão do Canal de Suez possibilitou ao Reino Unido um percurso mais rápido para o Raj Britânico, resultando no aumento das expectativas de autoridades egípcias de obter privilégios econômicos e militares para com os britânicos. No entanto, Ismail não conseguiu melhorar sua reputação nos círculos diplomáticos europeus, que influenciaram em sua queda frente ao sultão otomano.[9]

Teufique e a perda do Sudão

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Ismail foi sucedido por seu filho mais velho Teufique Paxá, que, ao contrário de seus irmãos mais novos, não tinha sido educado na Europa. Ele seguiu uma política de estreitamento das relações com a Grã-Bretanha e França, mas sua autoridade foi posta em cheque durante uma rebelião liderada por seu ministro da Guerra Urabi Paxá em 1882. Urabi aproveitou violentos tumultos em Alexandria para tomar o controle do governo e depor Teufique temporariamente.

Forças navais britânicas bombardearam e capturaram Alexandria, e uma força expedicionária sob o general Sir Garnet Wolseley foi formada no Reino Unido. O exército britânico desembarcou no Egito e derrotou o exército de Urabi na batalha de Tel el-Kebir. Urabi foi julgado por traição e condenado à morte, mas a sentença foi alterada para exílio. Após a revolta, o exército egípcio foi reorganizado aos moldes britânicos e comandados por oficiais do Reino Unido, que passou a controlar de facto o quedivato como protetorado.

Enquanto isso, uma rebelião religiosa havia irrompido no Sudão liderada por Maomé Amade, que foi autoproclamado mádi. Os rebeldes madistas haviam tomado a capital da região de Cordofão e aniquilaram duas expedições britânicas enviadas para sufocá-los. O militar britânico Charles George Gordon, um ex-governador do Sudão, foi enviado para a capital local, Cartum, com ordens para evacuar a minoria dos habitantes europeus e egípcios. Em vez de evacuar a cidade, Gordon preparou um cerco e o estendeu até 1885, por fim Cartum finalmente caiu, e Gordon foi morto.

A expedição britânica de socorro a Gordon foi atrasada por várias batalhas, e assim foi incapaz de chegar a Cartum e salvar o militar. A tomada da cidade pelos madistas resultou na proclamação de um Estado islâmico, governado pelo primeiro mádi e depois pelo seu sucessor, o califa Abedalá ibne Maomé.

Reconquista do Sudão

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Em 1896, durante o reinado do filho de Teufique, Abaz II, uma enorme força anglo-egípcia, sob o comando do General Herbert Kitchener, começou a reconquista do Sudão.[10] Os Madistas foram derrotados nas batalhas de Abu Hamide e Atbara . A campanha foi concluída com a vitória anglo-egípcia em Ondurmã, a capital Madista. O califa foi perseguido e morto em 1899, na Batalha de Umm Diwaykarat, e o domínio anglo-egípcio foi restaurado para o Darfur, sendo constituído outro protetorado britânico na região (ver Sudão Anglo-Egípcio).

Fim do quedivato

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Abaz II tornou-se muito hostil aos britânicos, sendo considerado por Lord Kitchener um "mau quediva" digno de deposição. Em 1914, quando a Primeira Guerra Mundial foi iniciada, o Império Otomano se juntou às Potências Centrais, coalisão rival das Potências Aliadas, entre as quais o Reino Unido. Enquanto o Egito ainda era um estado vassalo nominal do Império Otomano, os britânicos proclamaram o Sultanato do Egito, e aboliram o quedivato.[11] Abaz II, apoiador das Potências Centrais, foi removido do trono e exilado para a Suíça. Ele foi sucedido por seu tio, Huceine Camil, que recebeu o título de sultão do Egito.

Eventos e pessoas notáveis durante o regime do quedivato

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Eventos

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Pessoas

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Referências

  1. Holes, Clive (2004). Modern Arabic: Structures, Functions, and Varieties. Col: Georgetown Classics in Arabic Language and Linguistics 2nd ed. Washington, D.C.: Georgetown University Press. p. 44. ISBN 9781589010222. OCLC 54677538. Consultado em 14 de julho de 2010 
  2. Bonné, Alfred (2003) [First published 1945]. The Economic Development of the Middle East: An Outline of Planned Reconstruction after the War. Col: The International Library of Sociology. London: Routledge. p. 24. ISBN 9780415175258. OCLC 39915162. Consultado em 9 de julho de 2010 
  3. Tanada, Hirofumi (1998). «Demographic Change in Rural Egypt, 1882–1917: Population of Mudiriya, Markaz and Madina». Discussion Paper No. D97–22. Hitotsubashi University: Institute of Economic Research. Consultado em 9 de julho de 2010 
  4. a b c d e «Egypt - Maomé Ali, 1805-48». Country-data.com. Consultado em 31 de outubro de 2010 
  5. a b «Private Tutor». Infoplease.com. Consultado em 31 de outubro de 2010 
  6. «Egypt - Abbas Hilmi I, 1848-54 and Said, 1854-63». Country-data.com. Consultado em 31 de outubro de 2010 
  7. «Khedive of Egypt Ismail». Encyclopedia.com. Consultado em 31 de outubro de 2010 
  8. a b «Egypt - From Autonomy To Occupation: Ismail, Tawfiq, And The Urabi Revolt». Country-data.com. Consultado em 31 de outubro de 2010 
  9. Tore Kjeilen (24 de fevereiro de 2005). «Ismail Pasha - LookLex Encyclopaedia». I-cias.com. Consultado em 31 de outubro de 2010 
  10. «Britain Sudan Reconquest 1896-1899». Onwar.com. 16 de dezembro de 2000. Consultado em 31 de outubro de 2010 
  11. «Abbas II of Egypt». Fact-index.com. Consultado em 31 de outubro de 2010