A Viagem de Pedro

filme de 2022 dirigido por Laís Bodanzky

A Viagem de Pedro é um filme de drama luso-brasileiro de 2022, dirigido por Laís Bodanzky e roteirizado pela própria diretora em parceria com Luiz Bolognesi e Chico Mattoso.[1] O filme é estrelado por Cauã Reymond no papel de Dom Pedro I retrata uma visão pessoal sobre a vida do primeiro imperador brasileiro e os acontecimentos históricos que aconteceram ao redor dele. Conta ainda com as atuações de Luísa Cruz, Luise Heyer, Rita Wainer, Isabél Zuaa, Welket Bunguê, Victoria Guerra e João Lagarto no elenco.[2]

A Viagem de Pedro
A Viagem de Pedro
Pôster promocional do filme.
 Brasil Portugal Portugal
2022 •  cor •  96 min 
Gênero drama
Direção Laís Bodanzky
Produção
Coprodução Globo Filmes
Banco Daycoval
Produção executiva
  • Luís Urbano
  • Karen Castanho
  • Bianca Villar
Roteiro
Elenco
Música Plínio Profeta
Cinematografia Pedro J. Marquez
Direção de arte Adrian Cooper
Figurino
  • Marjorie Gueller
  • Joana Porto
  • Patrícia Dória
Edição Eduardo Gripa
Companhia(s) produtora(s) Biônica Filmes
Buriti Filmes
O Som e a Fúria
Distribuição Vitrine Filmes
Lançamento 1 de setembro de 2022
Idioma português

Enredo editar

Uma visão pessoal sobre a vida de Dom Pedro I (Cauã Reymond) e dos eventos históricos que giram em torno do príncipe, com foco em um momento crucial de sua jornada. Em 1831, o primeiro Monarca do Brasil retorna à Europa em circunstâncias desfavoráveis, a bordo do navio inglês Warspite. Diante de sua renúncia ao trono brasileiro, este é um momento de profunda contemplação para D. Pedro I, que reflete sobre os equívocos e acertos de sua governança desde sua chegada ao país aos 10 anos de idade, em 1808, acompanhado por sua família. A Jornada de Pedro aborda questões sensíveis em relação ao imperador do Brasil durante seu retorno à Europa. Temas como sua virilidade, epilepsia e suspeitas de ter contraído sífilis, bem como sua instabilidade emocional ao deixar seu filho no país e separar-se dele. A representação íntima de Pedro revelará como ele se sentia desleal a Portugal e como se via sem uma pátria definida.[3]

Elenco editar

Produção editar

Concepção e Desenvolvimento editar

 
Laís Bodanzky idealizou o enredo do filme.

O projeto teve seu início graças à iniciativa de Cauã Reymond e Mário Canivello, que, na época, eram sócios da produtora Sereno Filmes. Eles encontraram inspiração no livro "Dom Pedro I - A Luta pela Liberdade no Brasil e em Portugal, 1798 - 1834" do escritor Neill W. Macaulay Jr. e decidiram transformá-lo em um longa-metragem.[4] "Esse projeto surgiu a partir do desejo de começar a trilhar meu próprio caminho como ator", comenta Reymond, que também é co-produtor do filme e já atuou como produtor associado em diversos outros projetos ao longo de sua carreira no cinema brasileiro, incluindo Alemão, Uma Quase Dupla e Tim Maia. Cauã complementa dizendo: "Eu queria uma perspectiva feminina, e Laís era a pessoa certa", referindo-se à escolha de Laís Bodanzky como diretora do projeto.[4]

Laís Bodanzky assume um risco ao apresentar ao público uma visão distinta daquela que conhecemos do "grande herói" nacional de Dom Pedro I. Ao longo da história, testemunhamos um retrato mais autêntico de Pedro, revelando suas múltiplas imperfeições, especialmente por meio das mudanças temporais e espaciais, que revelam um monarca promíscuo e ávido por poder, resultando em uma relação problemática com Leopoldina, na qual ocorrem agressões verbais, emocionais e físicas.[5] Durante uma entrevista ao Jornal do Brasil, a diretora abordou a conexão que o público estabelece com essa abordagem: Normalmente, estamos familiarizados com os personagens históricos como heróis, conhecendo apenas suas realizações bem-sucedidas ao longo de suas jornadas. A proposta era desconstruir esses ícones heroicos, revelando suas fragilidades, angústias, contradições, erros e culpas.[5]

Além do aspecto psicológico de Dom Pedro I, a concepção do filme também se destaca pela meticulosa ambientação da trama, onde, além de explorar as opiniões e conflitos pessoais do monarca, são evidenciados os conflitos sociais, como a questão da escravidão, que é amplamente abordada na narrativa.[5] A trama inclui referências à religião africana e incorpora músicas características dos grupos de escravos. A maioria dos tripulantes no navio são servos escravizados, que sonham em chegar à Europa em busca de liberdade, um desejo que é expresso claramente pela personagem Dira (interpretada por Isabél Zuaa), que anseia pela liberdade e que, de certa forma, se entrega momentaneamente aos encantos de Pedro.[5]

Lançamento editar

A Viagem de Pedro teve sua première mundial em 21 de outubro de 2021 durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.[6] Em 8 de maio de 2022, estreou no IndieLisboa Festival Internacional de Cinema. No mesmo mês, no dia 19, foi lançado comercialmente em Portugal. Em 30 de agosto de 2022, o filme encerrou a mostra de filmes do 1º Festival Internacional de Cinema de João Pessoa, o FestincineJP, na Paraíba.[7] No Brasil, o filme foi lançado comercialmente em 1 de setembro de 2022, mês em que se comemorou o bicentenário da Independência do Brasil, declarada por Dom Pedro I.[2]

Exibição na televisão editar

Em 17 de outubro de 2022, o filme foi lançado na com exclusividade pelo canal de televisão por assinatura Telecine Premium, sendo essa sua primeira exibição fora dos festivais e das salas de cinema.[8]

Recepção editar

Análise da crítica editar

 
A performance de Cauã Reymond como Dom Pedro I foi elogiada pela crítica.

A Viagem de Pedro foi recebido com avaliações mistas e negativas por parte dos críticos especializados. Pedro Strazza, escrevendo para o website Omelete, atribuiu ao filme a nota 2 de 5, o que o classifica como "Regular", e disse: "Não há dúvidas de que há algum prazer no exercício de se desfazer a imagem de herói de uma figura real nos tempos atuais, mas despir um rei em tese pede por algo além do vislumbre humano, uma nova leitura que dê conta de reposicionar as imagens antes abandonadas à putrefação. Para um filme sobre estátuas, A Viagem de Pedro é um drama dos mais engessados".[9] Do CinePOP, Janda Montenegro escreveu sobre a performance de Cauã Reymond, dizendo que o ator se "despe o imperador dos seus inúmeros sobrenomes e entrega um protagonista confuso, paranoico, a beira do surto, doente e disposto a se agarrar nas religiões de matriz africana para blindar seu destino".[10] Sobre filme, Montenegro o definiu como "uma experiência cinematográfica que alcança a expectativa gerada desde o anúncio de sua filmagem. Com ares de superprodução, porém com baixo orçamento e parceria com a Marinha, o longa contribui para desconstruir a imagem da família imperial perfeita e intocável, colocando-a, felizmente, dentre o mundo dos mortais".[10]

O crítico Marcos Faria, website Cineset, analisou o filme, levando em consideração os desafios enfrentados ao retratar um personagem como esse. Cauã Reymond consegue lidar com essa tarefa com sucesso. O segredo talvez resida, em parte, no fato de que nunca nos esquecemos completamente de que o ator na tela é Cauã Reymond. Isso não significa que ele não seja talentoso - ele é, mas está longe de ser um camaleão como intérprete, e sua imagem de galã da televisão sempre está presente. Faria, no entanto, mencionou que a escolha do ator (que também é um dos produtores do filme) traz outra vantagem: em meio a uma diversidade de sotaques - alguns europeus, outros africanos - Dom Pedro I possui sua própria linguagem: o português brasileiro (mais especificamente, o sotaque carioca de seu intérprete). Isso significa que sua posição como um estrangeiro naquele cenário político, um forasteiro à deriva, está sempre bem destacada - e aqui, mais uma vez, o rosto reconhecível do galã, verdadeiramente chamativo em sua fama e beleza, ajuda a manter o personagem isolado de certa forma.[11]

Matheus Mans, do site Esquina de Cultura, avaliou o filme positivamente e defendeu que o filme deveria ter sido o escolhido para representar o Brasil na corrida para o Óscar de melhor filme estrangeiro, no lugar de Marte Um.[12] Mans escreveu que "mais do que um bom filme, A Viagem de Pedro também se torna um documento histórico - reinterpretado e com fortes tintas ficcionais, é claro - que ajuda a recontar a origem do País como uma nação. Chega de pensar no Brasil como um país unilateral. A Viagem de Pedro consegue, em 96 minutos, honrar as tais independências que rondam nossa História. Pena que o final seja capenga, com algumas escolhas óbvias. Se não fosse isso, seria um filme impecável".[12]

Prêmios e indicações editar

Ano Associações Categoria Recipiente(s) Resultado
2021 Mostra Internacional de Cinema de São Paulo[6] Melhor Filme A Viagem de Pedro Indicado
Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro[13] Melhor Filme Indicado
Melhor Diretor Laís Bodanzky Venceu
Melhor Ator Coadjuvante Sérgio Laurentino Venceu
2022 Los Angeles Brazilian Film Festival Melhor Filme A Viagem de Pedro Venceu
Melhor Diretor Laís Bodanzky Venceu
Melhor Cinematografia Pedro J. Márquez Venceu
Menção Honrosa de Atuação Isabél Zuaa Venceu
Brazilian Film Festival of Miami Melhor Filme A Viagem de Pedro Indicado
Melhor Filme de Longa-metragem Indicado
Melhor Diretor Laís Bodanzky Venceu
Melhor Cinematografia Pedro J. Márquez Venceu
Brooklyn Film Festival[1] Melhor Filme A Viagem de Pedro Indicado
Septimius Awards[14] Melhor Filme Americano Venceu
Melhor Ator Americano Cauã Reymond Indicado
Prêmio ABC de Cinematografia Melhor Montagem Eduardo Gripa Indicado
2023 CinEuphoria Awards Melhor Filme A Viagem de Pedro Indicado
Melhor Pôster Venceu
Melhor Trailer Indicado
Melhor Diretor Laís Bodanzky Indicado
Melhor Ator Cauã Reymond Venceu
Melhor Atriz Luísa Cruz Indicada
Melhor Ator Coadjuvante Isac Graça Indicado
João Lagarto Indicado
Welket Bunguê Venceu
Melhor Atriz Coadjuvante Isabél Zuaa Venceu
Victoria Guerra Indicada
Melhor Roteiro Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi e Chico Mattoso Indicado
Melhor Montagem Eduardo Gripa Indicado
Melhor Figurino Patrícia Dória, Marjorie Gueller e Joana Porto Indicado
Melhor Maquiagem Rita de Castro, Nuno Esteves, Débora Saad e Tayce Vale Indicado
Melhor Elenco Welket Bungué, Luísa Cruz, Isac Graça, Victoria Guerra, Luise Heyer, João Lagarto, Francis Magee, Cauã Reymond e Isabél Zuaa Indicado
Prémios AIP de Cinema Melhor Cinematografia de Filme Pedro J. Márquez Venceu
Prémios Sophia[15] Melhor Atriz Secundária Isabél Zuaa Indicada
Melhor Ator Secundário Welket Bunguê Indicado
Melhor Caracterização / Efeitos Especiais Nuno Esteves e Tayce Vale Venceu
Melhor Maquilhagem e Cabelos Rita de Castro Venceu
Grande Prêmio do Cinema Brasileiro[16] Melhor Longa-Metragem de Ficção A Viagem de Pedro Indicado
Melhor Direção Laís Bodanzky Indicado
Melhor Ator Cauã Reymond Indicado
Melhor Roteiro Original Laís Bodanzky, Luiz Bolognesi e Chico Mattoso Indicado
Melhor Direção de Fotografia Pedro J Marquez Indicado
Melhor Direção de Arte Adrian Cooper Venceu
Melhor Figurino Marjorie Gueller, Joana Porto e Patrícia Dória Venceu
Melhor Maquiagem Tayce Vale e Blue Venceu
Melhor Montagem Eduardo Gripa Indicado
Melhor Efeito Visual Eduardo Schaal, Guilherme Ramalho e Hugo Gurgel Indicado

Referências

  1. a b Disner, Elton. «Sessão especial de "A Viagem de Pedro" acontece nesta quarta-feira». 51° Festival de Cinema de Gramado. Consultado em 25 de junho de 2023 
  2. a b «Estrelado por Cauã Reymond, "A Viagem de Pedro" desconstrói imagem histórica de Dom Pedro I». www.folhape.com.br. Consultado em 25 de junho de 2023 
  3. AdoroCinema, A Viagem de Pedro, consultado em 24 de junho de 2023 
  4. a b «'A Viagem de Pedro': filme de Laís Bodanzky com Cauã Reymond investiga a personalidade do controverso imperador e dá protagonismo às vozes ignoradas de sua história». Vogue. 23 de setembro de 2022. Consultado em 24 de junho de 2023 
  5. a b c d Ferrari, Isabelly de Lima, sob supervisão de Wallacy (24 de agosto de 2022). «'A Viagem de Pedro': Filme rompe com a imagem heroica de Dom Pedro I». Aventuras na História. Consultado em 24 de junho de 2023 
  6. a b «A Viagem de Pedro – ENECULT». cult.ufba.br. Consultado em 25 de junho de 2023 
  7. «'A Viagem de Pedro', de Laís Bodanzky, é apresentado em João Pessoa pela primeira vez no Brasil». Prefeitura de João Pessoa. 30 de agosto de 2022. Consultado em 24 de junho de 2023 
  8. Nicolau, Analice (14 de outubro de 2022). «A Viagem de Pedro, com Cauã Reymond, estreia no Telecine». Jornal de Brasília. Consultado em 24 de junho de 2023 
  9. «A Viagem de Pedro reivindica a figura de Dom Pedro I sem grandes fins». Omelete. 5 de setembro de 2022. Consultado em 25 de junho de 2023 
  10. a b Montenegro, Janda (4 de setembro de 2022). «Crítica | A Viagem de Pedro é uma experiência cinematográfica que retrata intimidade da família imperial - CinePOP Cinema». Consultado em 25 de junho de 2023 
  11. Faria, Marcos (24 de agosto de 2022). «CRÍTICA | 'A Viagem de Pedro': crise de D. Pedro I vira gancho para temas complexos». Cine Set. Consultado em 25 de junho de 2023 
  12. a b Mans, Matheus (5 de novembro de 2022). «Crítica: 'A Viagem de Pedro' deveria ter sido o escolhido para o Oscar 2022». Esquina da Cultura. Consultado em 25 de junho de 2023 
  13. «A Viagem de Pedro – Vitrine Filmes». Consultado em 25 de junho de 2023 
  14. Povo, Correio do (9 de junho de 2022). «"A Viagem de Pedro", de Laís Bodanzky, vence prêmio de melhor filme americano em Amsterdã». Correio do Povo. Consultado em 25 de junho de 2023 
  15. https://www.facebook.com/c7nema (23 de maio de 2023). «"Alma Viva" triunfa na 12ª edição dos Prémios Sophia». C7nema.net. Consultado em 25 de junho de 2023 
  16. «Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2023: Medida Provisória e Marte Um são os destaques da edição; saiba onde assistir». Terra. Consultado em 25 de junho de 2023 

Ligações externas editar