Afonso Anes Nogueira
Afonso Anes Nogueira ou das Leis (c. 1347 - Lisboa, 5 de março de 1426) foi um nobre, militar e político português.
"Foi um dos mais assinalados cavaleiros do seu tempo. Tendo sido alcaide-mor do castelo de São Jorge de Lisboaː nos princípios das alterações depois da morte de el-rei D. Fernando de Portugal seguiu as partes da rainha D. Leonor Teles, por ser alcaide mor de Lisboa, posto pelo conde de Barcelos D. João Afonso Teles, mas que o Mestre de Aviz foi aclamado em Coimbra, o seguiu com toda a fidelidade e andou sempre à sua ilharga como conselheiro seu."[1]
BiografiaEditar
Foi criado do rei D. Fernando de Portugal e integrou o corpo de vassalos de D. João Afonso Telo, IV conde de Barcelos[2].
Participa como patrão de uma galé na Batalha da ilha de Saltes em Julho de 1381, naquela que foi a principal operação naval da Terceira Guerra Fernandina, onde a armada castelhana sai vencedora e onde ele foi aprisionado[3].
É inclusive um dos integra o grupo de homens da confiança do conde a quem este, regressado da sua prisão em Castela, confia o seu plano para assassinar João Fernandes Andeiro, conde de Ourém, o qual como é sabido, nunca chegaria a lograr o sucesso desejado[4].
Mas a sua nobilitação mais patente advém do apoio dado à causa do Mestre de Avis. Uma vez que depois foi membro do seu conselho régio (1399-1425) e alcaide-mor de Lisboa (1400-1425)[2].
FiliaçãoEditar
Filho de João Peres Nogueira, mais conhecido por Mestre João das Leis, e de sua mulher Constança Afonso.
CargosEditar
D. Fernando I de Portugal coutou-lhe a sua Quinta de Vila Pouca, no termo de Torres Vedras.
A 13 de Novembro de 1384, teve Carta de posse do Casal do Ursal, feita por Afonso Nogueira.
A 1 de Dezembro de 1385, D. João I de Portugal confirmou a Afonso Anes Nogueira, seu Vassalo, os privilégios da Quintã de Vila Pouca, a par de Torres Vedras, que ele comprara a D. Gonçalo Rodrigues de Sousa.
Foi 5.º Senhor do Morgado de Santa Ana em São Lourenço de Lisboa e 1.º Senhor do Morgado de São Lourenço de Lisboa.
A 29 de Janeiro de 1386, enquanto "Afonso Anes, filho de Mestre João das Leis, vizinho e morador na cidade de Lisboa, Provedor e Administrador da Capela de Mestre Pedro edificada na Igreja de São Lourenço", fez a compra dum Casal de herdade de pão com todas as suas casas, direitos e seu lagar e currais na Mata da Burra, termo de Sintra, feita a Fernão Domingues e sua mulher Catarina Esteves, moradores no Urzal.
A 4 de Junho de 1393 houve Carta de venda livre dum Casal de herdades, situado no Sacário, ao pé da aldeia de Porqueiros, Sintra, feita por Afonso Esteves e Maria Esteves a Afonso Anes Nogueira.
Neste período foi armado Cavaleiro.
A 16 de Dezembro de 1393 houve autorização dada pela Câmara de Lisboa a Afonso Anes Nogueira, Cavaleiro, morador na dita cidade, para fechar as ruas junto à Igreja de São Lourenço para fazer com as casas térreas e pardieiros e chãos que aí tinha umas casas e um edifício "por que a dita cidade seria mais honrada". Esta será a primeira casa dos Nogueira que, mais tarde, veio a dar origem ao Palácio da Rosa.
A 28 de Agosto de 1399 houve instrumento de aforamento de duas vinhas "mortas", umas oliveiras em São Simão e uma herdade no lugar de Boca de Asno, termo de Almada, feita por Afonso Nogueira, Procurador do Morgado do Bispo D. Afonso de Évora, seu tio, a Fernão Gomes, mercador.
Neste período foi feito Cavaleiro do Conselho.
A 13 de Outubro de 1410 houve Carta de emprazamento dumas casas na Ourivesaria, feito por Afonso Anes Nogueira, Cavaleiro do Conselho, Alcaide-Mor de Lisboa, a João Brum, Candeeiro do Rei, e a sua mulher Maria Ponce.
Neste período foi feito Alcaide-Mor de Lisboa.
A 17 de Fevereiro de 1417 houve instrumento de arrendamento dum Casal no Bocal chamado Abegoaria, feito por Afonso Anes Nogueira, Cavaleiro do Conselho do Rei e Alcaide-Mor da cidade de Lisboa, a João Anes Torrão, lavrador, morador na sua Quintã do Bocal, freguesia de Loures.
A 1 de Dezembro de 1418, sentença que houve Afonso Anes Nogueira contra o Concelho de Santarém, mandando-o restituir a posse e jurisdição da vila de Aveiras.
Jaz na sua Capela em São Lourenço de Lisboa com um letreiro que diz: «Aqui jaz Afonso Annes Nogueira que foi Cavº. na Batalha Real do Conselho do Rei D. João I, e do Infante D. Duarte, seu filho, e Alcaide Mor desta cidade; faleceu em 5 de Março de 1426».
A 15 de Setembro de 1457 fez-se o traslado em pública forma da nota da compra que fez Afonso Anes Nogueira para o Morgado de Mestre Pedro dos bens que pertenciam à terça de Constança Afonso, sua mãe, mulher de Mestre João das Leis, seu pai.
Casamento e descendênciaEditar
Casou com Joana Vaz de Almada[5] (c. 1356 - Janeiro de 1427), que foi sepultada no Convento do Salvador de Lisboa[6], filha de Vasco Lourenço de Almada e de sua mulher Inês Rodrigues, da qual teve quatro filhos e quatro filhas:
- D. Afonso Nogueira (c. 1370 - Alenquer, Outubro de 1464), bispo de Coimbra e arcebispo de Lisboa.
- Teresa Nogueira (- 19 de Novembro de 1427), segunda mulher sem geração de Diogo Fernandes de Almeida (- 1453-9), a qual fez Testamento a 1 de Novembro de 1427 e morreu a 19 seguinte, sendo trasladada de Abrantes para a Capela de São Domingos em 1452
- Rui Nogueira (- 1432), cavaleiro da casa do Infante D. Duarte (1426-1429)[7], que sucedeu ao pai no morgado de São Lourenço e alcaidaria-mor de Lisboa, que casou com D. Aldonça de Meneses, filha do conde D. Pedro de Meneses, 1.º capitão de Ceuta. Sem descendência[8].
- Álvaro Nogueira (- 1423), Fidalgo da Casa Real, que esteve na Conquista de Ceuta a 15 de Agosto de 1415, casado sem geração com Catarina Gonçalves Malafaia (c. 1404 -), filha de Gonçalo Pires Malafaia e de sua mulher Maria Anes; a 21 de Novembro de 1424 D. João I doou a seu filho o Infante D. João os Paços e Quinta de Belas, no termo de Lisboa, com sua terra, direitos, pertenças e igreja, dizendo que tudo comprara por 6.000 coroas de ouro a Maria Anes, mulher que foi de Gonçalo Pires, com consentimento e autoridade de seus filhos; acrescenta o Rei nesta Carta que, depois desta compra, casou Álvaro Nogueira, filho de Afonso Anes Nogueira, do seu Conselho, com Catarina Gonçalves, filha dos ditos Gonçalo Pires e Maria Anes, e lhe deu em casamento 6.000 coroas de ouro, entregando-lhe os ditos Paços e Quinta de Belas enquanto lhas não pagasse; porém, tendo agora morrido Álvaro Nogueira, sem geração, herdou seu pai Afonso Anes Nogueira metade, e sua viúva, a dita Catarina Gonçalves, a outra metade, pelo que D. João I pagaria 3.000 a cada e doava Belas a seu filho o Infante D. João.
- Gomes Nogueira, morto assassinado em 1460, que esteve na tomada de Tânger e na Batalha de Alfarrobeira com seu tio materno o 1.º Conde de Abranches, solteiro, mas teve geração ilegítima.
- Violante Nogueira (c. 1390 -), aia das infantas D. Catarina e D. Maria, filhas do rei D. Duarte I de Portugal[8], 7.ª Senhora do Morgado de Santa Ana em São Lourenço de Lisboa e 3.ª Senhora do Morgado de São Lourenço de Lisboa, casada com João Afonso de Brito (c. 1372 - d. 30 de Janeiro de 1434), senhor do Morgado de Santo Estevão em Beja; com geração, nos morgados de Santo Estevão em Beja e São Lourenço em Lisboa.[9][10][11]
- Constança Nogueira, primeira mulher de Afonso Furtado de Mendonça, anadel-mor (c. 1412 - 1475)[12]. Com geração
- Maria Nogueira, aia da Infanta D. Catarina de Portugal e casada com Vasco Martins de Albergaria[8] ou casada com Vasco Martins da Cunha, com geração feminina; a 17 de Março de 1445, D. Afonso V de Portugal concede Carta de Privilégio a Maria Nogueira, Aia da Infanta D. Catarina, moradora na cidade de Lisboa, mulher de Vasco Martins da Cunha, para todos os seus caseiros, lavradores e mordomos, isentando-os do pagamento dos diversos impostos e encargos concelhios, de irem com presos e dinheiros, de estarem nas frontarias e armadas da galés, de serem postos por besteiros do conto, de serem tutores e curadores, bem como do direito de pousada.
- Teresa Nogueira que foi a segunda mulher de Diogo Fernandes de Almeida, vedor da fazenda (1436-1445), reposteiro-mor de D.Duarte e membro do seu conselho e do de D. Afonso V[13].
Referências
- ↑ O ceo aberto na terra : historia das sagradas congregações dos conegos seculares de S. Jorge em Alga de Venesa, & de S. João Evangelista em Portugal, por Francisco de Santa Maria, na officina de Manoel Lopes Ferreyra, Lisboa, 1697, livro segundo, pág. 639 e 640
- ↑ a b Espiritualidade e Poder na Lisboa dos finais da Idade Média: a Colegiada de São Lourenço e os seus Patronos (1298-1515), por Gonçalo Melo da Silva, Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, policopiada, Lisboa, 2012, pág. 102
- ↑ Estevão Vasques Filipe O percurso de um guerreiro em finais de Trezentos, por Miguel Gomes Martins, Published in Cadernos do Arquivo Municipal, nº 5, Lisboa.
- ↑ Um prelado em tempos de reformas: o percurso de D. Afonso Nogueira (1399-1464), por Gonçalo Melo da Silva, Lusitânia Sacra, 2ª Série, tomo 33: Mobilidades Medievais: Carreiras, Projectos, Realizações, (Janeiro-Julho 2016), pp. 161-202. ISSN: 0076-1508, pág. 166
- ↑ A 15 de Janeiro de 1409 houve Carta de aforamento dumas casas de loja, sobreloja, sobrado e câmara às Fangas da Farinha, feito por Afonso Anes Nogueira e por sua mulher Joana Vasques a Luís Anes, filho de Nicolau Anes, morador na freguesia de São Julião
- ↑ Mestre João das Leis, filho ilegítimo de Lourenço Peres Sénior, sucedeu na administração do morgado de Mestre Pedro a Filipe Lourenço, arcediago de Viseu e filho de Lourenço Peres Sénior - Espiritualidade e Poder na Lisboa dos finais da Idade Média: a Colegiada de São Lourenço e os seus Patronos (1298-1515), por Gonçalo Melo da Silva, Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, policopiada, Lisboa, 2012, pág. 105.
- ↑ João Luís Inglês Fontes e Mário Farelo, Lusitânia Sacra, 2ª SÉRIE, TOMO XXXIII, Janeiro-Junho 2016, pág. 168, nota 36
- ↑ a b c O ceo aberto na terra : historia das sagradas congregações dos conegos seculares de S. Jorge em Alga de Venesa, & de S. João Evangelista em Portugal, por Francisco de Santa Maria, na officina de Manoel Lopes Ferreyra, Lisboa, 1697, livro segundo, pág. 640
- ↑ «Violante Nogueira». roglo.eu. Consultado em 2 de novembro de 2022
- ↑ «Mem de Brito». roglo.eu. Consultado em 2 de novembro de 2022
- ↑ «Morgado de Santa Ana ou São Lourenço em Lisboa, instituído por Mestre Pedro Nogueira - Arquivo Nacional da Torre do Tombo - DigitArq». digitarq.arquivos.pt. Consultado em 2 de novembro de 2022
- ↑ Um prelado em tempos de reformas: o percurso de D. Afonso Nogueira (1399-1464), por Gonçalo Melo da Silva, Lusitânia Sacra, 2ª Série, tomo 33: Mobilidades Medievais: Carreiras, Projectos, Realizações, (Janeiro-Julho 2016), pp. 161-202. ISSN: 0076-1508, nota 33
- ↑ Um prelado em tempos de reformas: o percurso de D. Afonso Nogueira (1399-1464), por Gonçalo Melo da Silva, Lusitânia Sacra, 2ª Série, tomo 33: Mobilidades Medievais: Carreiras, Projectos, Realizações, (Janeiro-Julho 2016), pp. 161-202. ISSN: 0076-1508, nota 34
FontesEditar
- Manuel Abranches de Soveral, Ascendências Visienses. Ensaio genealógico sobre a nobreza de Viseu. Séculos XIV a XVII, Porto 2004, ISBN 972-97430-6-1.
Ligações externasEditar
- Soveral, Manuel Abranches de; seu verbete na «Afonso Anes Nogueira», Roglo