Edifício Joseph Gire

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Edifício Joseph Gire
"A Noite"
História
Arquitetos
Engenheiro
Período de construção
1927–1930
Arquitetura
Estilo
Material
Estatuto patrimonial
Pisos
22
Administração
Proprietário
Localização
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Coordenadas
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O Edifício Joseph Gire, mais conhecido como A Noite, é um arranha-céu localizado na praça Mauá, no centro do Rio de Janeiro, no Brasil. Construído nos finais da década de 1920, é considerado um marco arquitetônico do país, sendo, na época de sua inauguração, o maior arranha-céu da América Latina[nota 1] e "o mais alto edifício do mundo construído em concreto armado".[1]

História editar

Construção e o jornal "A Noite" editar

O edifício foi levantado numa das extremidades da avenida Central (hoje avenida Rio Branco), na praça Mauá, próximo ao Porto do Rio de Janeiro.[2][3] O local havia sido ocupado anteriormente pelo Liceu Literário Português, que se mudou para o Largo da Carioca, onde ainda se encontra.[4]

Os responsáveis pelo projeto arquitetônico foram o arquiteto francês Joseph Gire (também responsável pelo hotel Copacabana Palace, entre outros) e o arquiteto brasileiro Elisário Bahiana.[5][6] Os cálculos estruturais foram realizados pelo engenheiro Emílio Henrique Baumgart, mais tarde responsável pelo Ministério da Educação e Saúde.[5][6]

Foi construído, entre 1927 e 1929,[7] utilizando a nova tecnologia do concreto armado, dando grande impulso à engenharia praticada no Brasil de então.[8] Com 22 andares e uma altura aproximada de 102 metros,[2][6][7] foi o mais alto da América Latina na década de 1930 até ser ultrapassado pelo edifício Martinelli, inaugurado, em 1934.[6] Tanto as fachadas como as áreas internas comuns revelam influências do estilo Art déco, ainda que o interior tenha sido descaracterizado por reformas modernas.[2]

O edifício foi inicialmente sede do jornal vespertino A Noite. Servia também de mirante que oferecia uma vista privilegiada da cidade e da Baía de Guanabara.[6][8]

Rádio Nacional editar

A partir de 12 de setembro de 1936, já sem o jornal, sediou a Rádio Nacional, de grande popularidade graças aos programas de auditório e novelas de rádio.[6][9] Pelo auditório da rádio passaram grandes cantores como Sílvio Caldas, Francisco Alves e Orlando Silva, além do arranjador Radamés Gnattali.[6]

Foi durante o segundo governo de Getúlio Vargas, já no Estado Novo, em 1940, que o prédio se tornou um bem do Governo federal. A Rádio Nacional se tornou a emissora da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que funcionou no edifício até 2012, sendo transferida para a Lapa e deixando o local, no mesmo ano do INPI.[9]

Outros usos editar

Foi utilizado como sede do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que deixou o local, em 2012. Hoje, no entanto, o INPI se encontra alocado em dois outros prédios próximos.[2][10]

Foi também sede de empresas, como a companhia aérea estadunidense Pan American World Airways (Pan Am) e a neerlandesa Royal Philips Electronics (Philips) e restaurantes, um deles no terraço.[2][9]

Com o tempo, a zona circundante e o próprio edifício entraram em decadência,[2] mas haviam planos para um restauro, que não se concretizaram.[6][8][9]

Importância editar

Além da relevância cultural, por ter abrigado a Rádio Nacional no auge da Era do Rádio, o edifício foi um marco arquitetônico e urbanístico. Em termos formais, o edifício aproximava-se dos modelos de arranha-céus norte-americanos como os que compunham a paisagem de Chicago, muito longe dos modelos europeus até então favorecidos no Brasil.[2] Na zona da praça Mauá, o edifício era tão alto que uma composição urbanística harmônica com os edifícios circundantes era impossível.[2] A partir da sua construção, começou o processo de verticalização da cidade, que continuou durante décadas.

Tentativas de venda pelo Governo editar

Leilão editar

 
Vista do edifício, a partir da praça Mauá, em 2021.
2021

O primeiro leilão eletrônico do edifício foi anunciado, pelo Governo federal, para 30 de abril de 2021, com avaliação inicial de 98 milhões de reais, mas não obteve nenhum interessado em adquirir o imóvel. Por conta disso, um novo leilão foi marcado para 7 de junho do mesmo ano, com redução de 25 por cento no preço inicial, ou seja, pelo valor aproximado de 73,5 milhões de reais. Novamente, sem nenhum interessado.[11][12]

2022

Em 14 de julho de 2022, a Secretaria de Coordenação e Governança do Patrimônio da União (SPU) — órgão do Ministério da Economia, responsável pelo patrimônio da União — anunciou que não foram apresentadas propostas para a compra do edifício, em novo leilão eletrônico, mesmo com o valor mínimo de 38,5 milhões de reais, ou seja, cerca de 60,71 por cento inferior ao valor inicial (R$ 98 milhões). Mesmo com um laudo independente contratado pela empresa CBR 130 Empreendimentos Imobiliários (ligado a incorporadora e construtora Cyrela), o valor definido pelo Governo ficou acima das estimativas que era de 23,3 milhões de reais.[12][9]

Em 22 de agosto, o Governo fez uma nova tentativa de leilão eletrônico. Dois interessados chegaram a fazer propostas, mas não entregaram o comprovante do recolhimento da caução — cerca de cinco por cento do valor mínimo estipulado em edital — e, então foram inabilitados. Assim, mais uma vez, o Governo não obteve sucesso na venda.[13]

Venda direta editar

Em 22 de setembro, o Governo fará uma nova tentativa de venda do edifício. A oferta de 28,9 milhões de reais, diferente das demais, será feita através de venda direta, sem disputa em leilão, cabendo a compra aquele que fizer a primeira oferta válida, com o valor estipulado. Esta modalidade de venda só é permitida neste casos, onde a concorrência não obtém sucesso. O valor ainda está acima da avaliação feita em laudo independente — 23,3 milhões de reais — mas bem abaixo do valor inicial de 98 milhões de reais — de abril de 2021.[13]

Em 25 de julho, foi anunciada a venda do edifício para um investidor privado. O comprador transformará o prédio em um residencial com 447 unidades e, ainda, três lojas no térreo. Foram analisadas quatro propostas e o escolhido foi o grupo QOPP Incorporadora, que ofereceu 36 milhões de reais, além de 50 por cento do potencial adicional gerado pelas regras do "Reviver Centro" — plano de recuperação urbanística, cultural, social e econômica da região central do Rio de Janeiro – estimado em mais de 24 milhões de reais.[14]

O projeto prevê ainda acesso público ao terraço, em um futuro restaurante com vista para a praça Mauá, e um centro cultural da Rádio Nacional. As obras têm previsão de início no segundo semestre de 2024.[14]

Ver também editar

Notas e referências

Notas

  1. Na época, o maior arranha-céu do mundo era o Woolworth Building de Nova Iorque, construído em estrutura de aço.

Referências

  1. A Noite, 7 de setembro de 1929, "A NOITE inaugura, hoje, as suas novas instalações no mais alto edifício da América do Sul". Mas, ao contrário do que se costuma propalar, não foi o primeiro edifício em concreto armado inaugurado no Brasil. A estação da Leopoldina e o Palácio Tiradentes, inaugurados em 1926, utilizaram o concreto armado, como consta, respectivamente, do jornal Beira-Mar de 12/4/1925 e da revista Architectura no Brasil de junho e julho de 1926, acessíveis na Hemeroteca Digital. Também o Edifício Guinle, primeiro arranha-céu da Av. Rio Branco, com 16 andares, e o Edifício OK, atual Ribeiro Moreira, primeiro arranha-céu de Copacabana, ambos inaugurados em 1928, possivelmente utilizaram o concreto armado.
  2. a b c d e f g h «O Edifício». INPI. 16 de outubro de 2012. Consultado em 15 de julho de 2022. Arquivado do original em 25 de dezembro de 2012 
  3. «Praça Mauá». O Turista Aprendiz. 2 de abril de 2017. Consultado em 15 de julho de 2022. Arquivado do original em 2 de abril de 2017 
  4. Teixeira, Milton de Mendonça. «Liceu Literário Português» (PDF). Museu das Migrações e das Comunidades. Consultado em 15 de julho de 2022 
  5. a b «Elisário Bahiana». Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais. Consultado em 15 de julho de 2022 
  6. a b c d e f g h Daflon, Rogério (12 de maio de 2012). «Primeiro arranha-céu do Brasil, A Noite passará por obra». O Globo. Consultado em 15 de julho de 2022 
  7. a b Nogueira, Ítalo (29 de outubro de 2012). «Edifício A Noite». Folha de S.Paulo. Consultado em 15 de julho de 2022 
  8. a b c Ítalo Nogueira. Gigante abandonado. Folha de S.Paulo, 29 de outubro de 2012
  9. a b c d e «Leilão do edifício art déco A Noite, da Rádio Nacional, não recebe proposta». Universo Online. 15 de julho de 2022. Consultado em 15 de julho de 2022 
  10. «Sede». INPI. Consultado em 16 de julho de 2022 
  11. Fernandes, Raphael (1 de maio de 2021). «Custando R$ 98 milhões, Edifício A Noite não recebe propostas em seu 1º leilão». Diário do Rio de Janeiro. Consultado em 14 de julho de 2022 
  12. a b Magalhães, Luiz Ernesto (14 de julho de 2022). «Fracassa tentativa da União de tenta vender prédio A Noite pela terceira vez, mesmo com desconto de 60%». Extra. Consultado em 14 de julho de 2022 
  13. a b c «A Noite será vendido a quem pagar R$ 28,9 milhões». Diário do Porto. 4 de setembro de 2022. Consultado em 5 de setembro de 2022 
  14. a b Corrêa, Douglas (26 de julho de 2023). «Edifício A Noite, no RJ, é vendido e será transformado em residencial». Agência Brasil. Consultado em 31 de outubro de 2023 

Ligações externas editar

 
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Precedido por
Edifício Sampaio Moreira
Edifício mais alto do Brasil
1929–1934
(102 m)
Sucedido por
Edifício Martinelli