Lídia Jorge
Lídia Jorge GCIH (Loulé, Boliqueime, 18 de junho de 1946) é uma escritora portuguesa[1] a quem foram atribuídos, entre outros, o Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura (2014), o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia, Escritor Europeu do Ano (2000), Albatroz, Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass (2006), Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (2002), o Grande Prémio de Literatura dst (2019) e o Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara (2020).
Lídia Jorge | |
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Fotografia por Frank Ferville | |
Nome completo | Lídia Guerreiro Jorge |
Nascimento | 18 de junho de 1946 (74 anos) Loulé, Boliqueime |
Nacionalidade | portuguesa |
Cônjuge | Carlos Albino Guerreiro |
Ocupação | Escritora |
Prémios | Prémio Ricardo Malheiros (1980) Prémio Literário Município de Lisboa (1982, 1984) |
Magnum opus | Os Memoráveis |
Página oficial | |
www.lidiajorge.com www.arquivolidiajorge.blogspot.com |
Biografia e obraEditar
Lídia Jorge nasceu no Algarve, em Boliqueime, concelho de Loulé, numa família de agricultores.[2]
Licenciou-se em Filologia Românica[1] pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo sido professora do Ensino Secundário.[3][4] Foi nessa condição que passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, durante o último período da guerra colonial, mas a maior parte da sua carreira docente foi em Portugal. Era Professora do Ensino Secundário na Escola Secundária Rainha Dona Leonor em 1985.[1] Foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social e integrou o Conselho Geral da Universidade do Algarve da qual recebeu a distinção de doutora honoris causa.
Iniciando-se na actividade literária[1] com a publicação da sua primeira obra[1] e do seu primeiro romance, O Dia dos Prodígios (1980)[1] constituiu um acontecimento num período em que se inaugurava uma nova fase da literatura portuguesa e desde logo se tornou um dos nomes mais importantes desta, nomeadamente na renovação da técnica romanesca.[1] Além do sucesso que obteve a nível nacional, passou a integrar o programa dos concursos de agregação da cadeira de Português, nas Universidades Francesas.[1]
Mais tarde,[1] seguiram-se os romances que deu a lume O Cais das Merendas (1682)[1] e Notícia da Cidade Silvestre (1884), ambos distinguidos com o Prémio Literário Município de Lisboa, o primeiro dos quais em 1983, ex aequo com o Memorial do Convento de José Saramago.[1] Escritora onde o fantástico coexiste com o real e duma imaginação primorosa nos campos lexical e morfológico, define-se assim: Não sou uma pessoa lírica. A minha escrita, aliás, é talvez poética, mas não lírica, em entrevista dada a "O Jornal", a 26 de Março de 1982.[1]
O aparecimento de Notícia da Cidade Silvestre (1984), veio confirmar o valor da obra de Lídia Jorge, que considerou aquele seu livro como uma espécie de confissão do troço da vida de duas pessoas, enfim, uma mulher que se confessa. Diferenciando-se das duas obras anteriores, Notícia da Cidade Silvestre é um livro despojado, despido da retórica que os outros tinham, sem essa grande metáfora, com um caminho diferente (...) é a sociedade portuguesa dos últimos dez anos, descrita de uma forma íntima - o que não significa que se perca a noção de amplitude social, em entrevista dada ao "Jornal de Letras, Artes e Ideias" de 11 a 17 de Setembro de 1984.[1]
Mas foi com A Costa dos Murmúrios (1988), livro que reflecte a experiência colonial passada em África colonial, que a autora confirmou o seu destacado lugar no panorama das letras portuguesas. Depois dos romances A Última Dona (1992) e O Jardim sem Limites (1995), seguiu-se O Vale da Paixão (1998) galardoado com o Prémio Dom Dinis da Fundação Casa de Mateus, o Prémio Bordalo de Literatura da Casa da Imprensa, o Prémio Máxima de Literatura, o Prémio de Ficção do P.E.N. Clube, e em 2000, o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia (Escritor Europeu do Ano).
Lídia Jorge publicou ainda O Vento Assobiando nas Gruas (2002), romance que mereceu o Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Correntes d'Escritas. Combateremos a Sombra, publicado em Portugal em 2007, recebeu em França o Prémio Michel Brisset 2008, atribuído pela Associação dos Psiquiatras Franceses. Com chancela da Editora Sextante, publicou em 2009, o livro de ensaios Contrato Sentimental, reflexão crítica sobre o futuro de Portugal. Seguiu-se-lhe o romance A Noite das Mulheres Cantoras (2011), em Março de 2014, Os Memoráveis e, em 2018, Estuário, distinguido com o Grande Prémio de Literatura dst.
Lídia Jorge publicou antologias de contos, Marido e Outros Contos (1997), O Belo Adormecido (2003), e Praça de Londres (2008), para além das edições separadas de A Instrumentalina (1992) e O Conto do Nadador (1992). A sua peça de teatro A Maçon foi levada à cena no Teatro Nacional Dona Maria II, em 1997, com encenação de Carlos Avilez. Também uma adaptação teatral de O Dia dos Prodígios foi realizada e encenada por Cucha Carvalheiro no Teatro da Trindade, em Lisboa. O romance A Costa dos Murmúrios foi adaptado (2004) ao cinema por Margarida Cardoso.
Embora tendo escrito poesia desde muito jovem só em 2019 publica o seu primeiro livro, O Livro das Tréguas.
Em 2020 foi para as livrarias Em Todos os Sentidos onde se reuniu o conjunto de quarenta e uma crónicas que Lídia Jorge leu, ao longo de um ano, aos microfones da Rádio Pública, Antena 2. Crónicas que encaram de frente a fúria do mundo contemporâneo, interpretando os seus desafios, perigos e simulacros, com um olhar crítico acutilante: «Como não podemos vencer o Tempo, escrevemos textos que o desafiam a olhar-nos de frente a que chamamos crónicas.»
Os romances de Lídia Jorge encontram-se traduzidos em diversas línguas. A agência literária que a representa tem sede em Frankfurt, Literarische Agentur Dr. Ray-Güde Mertin]] (da professora de literatura e agente literária homónima), hoje dirigida por Nicole Witt. Obras suas, além de edições no Brasil, estão traduzidas em mais de vinte línguas, designadamente nas línguas inglesa, francesa, alemã, holandesa, espanhola, sueca, hebraica, italiana e grega, e constituem objecto de estudo nos meios universitários portugueses e estrangeiros, tendo-lhes sido dedicadas várias obras de carácter ensaístico.
Em Portugal, o Presidente da República, Jorge Sampaio, a 9 de março de 2005, condecorou-a com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.[5] O Presidente da República Francesa, Jacques Chirac, a 13 de abril de 2005, condecorou-a como Dama da Ordem das Artes e das Letras de França, sendo posteriormente elevada ao grau de Oficial. Em 2006, a autora foi distinguida na Alemanha, com a primeira edição do Prémio de Literatura Albatros da Fundação Günter Grass, atribuído pelo conjunto da sua obra. A Universidade do Algarve, a 15 de dezembro de 2010, atribuiu-lhe o doutoramento Honoris Causa, em sessão solene no Grande Auditório do Campus de Gambelas. A União Latina, a 5 de maio de 2011, atribuiu-lhe o Prémio da Latinidade, João Neves da Fontoura. A Associación de Escritores en Lingua Gallega atribuiu-lhe em Maio de 2013 o título de Escritora Galega Universal.
Lídia Jorge é inquestionavelmente uma voz singular e reconhecida no panorama da literatura portuguesa contemporânea. Comprovam-no a receptividade do público e da crítica; as repetidas edições das suas obras; as traduções para outras línguas; as teses e os ensaios académicos que se vão apresentando sobre os seus textos em vários países; os prémios nacionais e internacionais que têm distinguido a sua obra; e ainda os volumes monográficos que se debruçam sobre a sua criação literária – por exemplo, o dossiê temático na prestigiada revista norte-americana Portuguese Literary & Cultural Studies, 2, 1999;[6] ou o volume colectivo Para um Leitor Ignorado (Ensaios sobre a ficção de Lídia Jorge), Ana Paula Ferreira (org,), Texto Editora, 2009.[7]
A assinalar o 30.º aniversário da publicação de O Dia dos Prodígios, a Câmara Municipal de Loulé promoveu uma grande exposição bio-bibliográfica Trinta Anos de Escrita Publicada, entre novembro de 2010 e março de 2011, no Convento de Santo António dos Olivais.
Em Portugal, à exceção do livro de ensaios Contrato Sentimental, todos os seus livros têm a chancela das Publicações Dom Quixote.
Dispõe de um texto biográfico (publicado pela editora Guerra e Paz em 2016): Lídia Jorge: a Literatura é o prolongamento da Infância, um diálogo com José Jorge Letria.
Em 2021, foi designada membro do Conselho de Estado pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa para o período 2021-2026.[8]
CondecoraçõesEditar
- Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (9 de Março de 2005)[5]
- Dama da Ordem das Artes e das Letras de França (13 de Abril de 2005)
- Oficial da Ordem das Artes e das Letras de França (? de ? de 20??)
ObrasEditar
Romances:
- O Dia dos Prodígios - 1980
- O Cais das Merendas - 1982
- Notícia da Cidade Silvestre - 1984
- A Costa dos Murmúrios - 1988
- A Última Dona - 1992
- O Jardim Sem Limites - 1995
- O Vale da Paixão - 1998
- O Vento Assobiando nas Gruas - 2002
- Combateremos a Sombra - 2007
- A Noite das Mulheres Cantoras - 2011
- Os Memoráveis - 2014
- Estuário - 2018
Contos:
- A Instrumentalina - 1992
- O Conto do Nadador - 1992
- Marido e outros Contos - 1997
- O Belo Adormecido - 2004
- O Organista - 2014
- O Amor em Lobito Bay - 2016
Literatura Infantil:
- O Grande Voo do Pardal, ilustrado por Inês de Oliveira - 2007
- Romance do Grande Gatão, ilustrado por Danuta Wojciechowska - 2010
- O Conto da Isabelinha - Lilibeth's Tale, ilustrado por Dave Sutton - 2018
Ensaio:
- Contrato Sentimental - 2009
Teatro:
- A Maçon - 1997
- Instruções para Voar - 2016
Poesia
- O Livro das Tréguas - 2019
Crónicas:
- Em todos os Sentidos - 2020
Colaboradora assídua do Jornal de Letras e do Público.
Prémios literáriosEditar
- Prémio Malheiro Dias, Academia das Ciências de Lisboa (1981)
- Prémio Literário Cidade de Lisboa (1982 e 1984)
- Prémio D. Dinis, Fundação Casa de Mateus (1998)
- Prémio Bordallo de Literatura da Casa da Imprensa (1998)
- Prémio Máxima de Literatura (1998)
- Prémio de Ficção do P.E.N. Clube Português (1998)
- Prémio Jean Monet de Literatura Europeia, Escritor Europeu do Ano (2000)
- Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (2002)
- Prémio Correntes d’Escritas (2002)
- Albatroz, Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass (2006)
- Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores, Millenium BCP (2007)
- Premio Speciale Giuseppe Acerbi, Scrittura Femmenile (2007)
- Prémio Michel Brisset, atribuído pela Associação dos Psiquiatras Franceses (2008)
- Prémio da Latinidade, João Neves da Fontoura, União Latina (2011)[9]
- Prémio Luso-Espanhol de Arte e Cultura (2014)[10]
- Prémio Vergílio Ferreira (2015)[11]
- Prémio Urbano Tavares Rodrigues (2015)[12]
- Grande Prémio de Literatura dst (2019)[13]
- Prémio Rosalía de Castro do Centro PEN Galiza (2020)[14]
- Prémio FIL de Literatura em Línguas Românicas de Guadalajara (2020)[15]
Referências
- ↑ a b c d e f g h i j k l m Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. [S.l.]: Editorial Enciclopédia, L.da. pp. Volume 6 Actualização. 440
- ↑ Revista Up, TAP (Fevereiro de 2019). «Algarve – Guardiã de memórias». Consultado em 4 de Abril de 2019
- ↑ Página Oficial de Lídia Jorge
- ↑ Blogue autorizado
- ↑ a b «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Lídia Guerreiro Jorge". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 12 de fevereiro de 2015
- ↑ Página web da revista Portuguese Literary & Cultural Studies, [1]
- ↑ Cândido O. Martins no Prefácio a Conceição Brandão, "Formas de Silêncio em 'Combateremos a Sombra', de Lídia Jorge", Editorial Novembro, 2014, «Título ainda não informado (favor adicionar)». www.academia.edu
- ↑ Decreto do Presidente da República n.º 25/2021, Diário da República n.º 49/2021, Série I de 2021-03-11
- ↑ «Lídia Jorge recebe prémio no Dia da Latinidade». Camões, I.P. 26 de abril de 2011. Consultado em 18 de janeiro de 2021
- ↑ PÚBLICO. «Prémio Luso-Espanhol de Arte Cultura foi este ano para Lídia Jorge». PÚBLICO. Consultado em 18 de janeiro de 2021
- ↑ Lusa. «Lídia Jorge vence Prémio Literário Vergílio Ferreira». PÚBLICO. Consultado em 18 de janeiro de 2021
- ↑ «Lídia Jorge recebe Prémio Urbano Tavares Rodrigues». ionline.pt
- ↑ Lusa. «Lídia Jorge vence XXIV Grande Prémio de Literatura DST com "Estuário"». PÚBLICO. Consultado em 18 de janeiro de 2021
- ↑ «Premios Rosalía de Castro» (em galego). 11 de dezembro de 2020
- ↑ «Prémio da FIL de Guadalajara para Lídia Jorge é "merecido reconhecimento", afirma António Costa». Jornal Expresso. Consultado em 18 de janeiro de 2021