Musel III Mamicônio

(Redirecionado de Muchel III Mamicônio)
 Nota: Para outros significados, veja Musel Mamicônio.

Musel III Mamicônio (em latim: Musel ou Musiles; em grego medieval: Μουσίλης; romaniz.: Mousílēs; em armênio: Մուշեղ; romaniz.: Mušeł; m. 635/636) é um asparapetes da Armênia morto enquanto lutava no exército sassânida durante a Batalha de Cadésia. Teve seu papel na supressão da revolta de Vararanes VI (r. 590–591) e combateu sob o imperador Maurício (r. 582–602) na Trácia.

Musel III Mamicônio
Nacionalidade Império Sassânida
Império Bizantino
Etnia Armênia
Progenitores Pai: Davi Mamicônio
Ocupação General

Musel[1][2] ou Musiles (Μουσίλης, Mousílēs)[3] são as formas latina e grega do armênio Muxel (Մուշեղ, Mušel), que originou-se no hitita Mursil através da forma não atestada Murxel (*Մուրշեղ, *Muršeł).[4]

 
Dinar de Cosroes II (r. 590–628)
 
Soldo de Maurício (r. 582–602)

Sua origem é incerta. O historiador Sebeos apresenta-o como um filho de Davi.[5] Segundo Christian Settipani, Davi talvez era filho de Amazaspes, provável filho de Musel II.[6] Por sua parte, Cyril Toumanoff considera que Davi era filho de Vaanes II, o Lobo,[7] figura da História de Taraunitis de João Mamicônio, uma crônica considerada mais romântica que histórica. Em ambos os casos, Musel era irmão mais velho dos príncipes armênios Amazaspes IV e Gregório I.

Aparece na Guerra Civil Sassânida de 589–591, quando comanda 12 000 cavaleiros armênios em auxílio ao Cosroes II (r. 590–628) e seus aliados bizantinos na guerra contra o rebelde Vararanes VI (r. 590–591).[8] Nesse momento, Musel era asparapetes. Segundo Sebeos, Vararanes escreveu-lhe cartas de forma a dissuadi-lo de participar da aliança contra ele.[9] Numa delas disse:[10]

Quanto a você armênios que demonstram lealdade fora de época, a casa de Sasano não destruiu sua terra e soberania? Por que, de outra forma, seus pais se rebelaram e se libertaram do serviço deles, lutando até hoje por seu pais?

Tomás Arzerúnio nomeia-o "um bravo soldado, abençoado com grande energia". Após a derrota de Vararanes, foi acusado por Cosroes de permitir que o rebelde escapasse, mas apelou a João Mistacão e o imperador Maurício (r. 582–602). Foi convocado por Maurício para Constantinopla e nunca mais retornou à Armênia. Subsequentemente liderou um exército, que Maurício reuni na Armênia, numa campanha na Trácia contra os invasores eslavos e avares. Houve um sucesso inicial, que foi seguido por uma pesada derrota e teve como consequência a suposta captura e morte de Musel; data-se o evento em 594, na campanha de Pedro, irmão de Maurício.[11]

 
Dracma de Cavades II (r. 628)

Pourshariati, por outro lado, associou esse Musel com o homônimo que esteve ativo no Império Sassânida até meados da década de 630. Segundo Tabari, no tempo da deposição de Cosroes e ascensão de Cavades II (r. 628), o oficial Asfajusnas se reuni com Jalinus ou Jilinus, figura que Tabari identifica como o comandante da guarda encarregado de manter o controle sobre Cosroes. Esse Jalinus possivelmente pode ser Musel ou Gregório II, príncipe de Siunique.[12] Segundo Sebeos e os cronistas árabes, Musel também teria participado na Batalha de Cadésia travada entre os generais do Império Sassânida e os exércitos invasores do recém-criado Califado Ortodoxo em 635 ou 636. Nela, Musel comandou 3 000 armênios e foi colocado na vanguarda, com ordens para não atacar o inimigo sem permissão de Rustã Farruquezade.[13] O exército sassânida foi derrotado e Musel e dois de seus sobrinhos pereceram.[14]

Família

editar

Segundo Cyril Toumanoff, e alguns outros historiadores, Musel era pai de Musel IV, que foi asparapetes e príncipe da Armênia em 654.[6][15]

Referências

  1. Caetani 1914, p. 380.
  2. Combefis 1648, p. 279-280.
  3. Jorge do Chipre 1890, p. 57, nota 1.
  4. Ačaṙyan 1942–1962, p. 455.
  5. Sebeos século VII, XXX.
  6. a b Settipani 2006, p. 138-142.
  7. Toumanoff 1990, p. 332.
  8. Pourshariati 2008, p. 127.
  9. Pourshariati 2008, p. 128.
  10. Pourshariati 2008, p. 128-129.
  11. Martindale 1992, p. 905.
  12. Pourshariati 2008, p. 156-157, nota 846.
  13. Pourshariati 2008, p. 232.
  14. Pourshariati 2008, p. 233.
  15. Toumanoff 1990, p. 332-333.

Bibliografia

editar
  • Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Մուշ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã 
  • Caetani, Leone (1914). Annali dell'Islām. Milão: U. Hoepli 
  • Combefis, François (1648). Historia haeresis Monothelitarum sanctaeque in eam sextae synodi actorum vindiciae, diversorum item antiqua, ac medii aevi, tum historiae sacrae, tum dogmatica, graeca opuscula; accedit manuelis palaeologi in lavdem defuncti theodori fratris dicta oratio, qua pleraque occidentis graecorum impery tractantur, ac consurgentisque osmanici: vt & duplici adiuncta deliberatina Demetry Cydony. Paris: Antonii Bertier 
  • Grousset, René (1947). História da Armênia das origens à 1071. Paris: Payot 
  • Jorge do Chipre (1890). Gelzer, Heinrich, ed. Georgii Cyprii descripto orbis Romani: accedit Leonis imperatoris Diatyposis genuina adhuc inedita. Lípsia: B. G. Trubneri 
  • Martindale, John R.; Jones, Arnold Hugh Martin; Morris, John (1992). «Mushegh Mamikonian». The Prosopography of the Later Roman Empire - Volume III, AD 527–641. Cambridge e Nova Iorque: Cambridge University Press. ISBN 0-521-20160-8 
  • Pourshariati, Parvaneh (2008). Decline and Fall of the Sasanian Empire: The Sasanian-Parthian Confederacy and the Arab Conquest of Iran. Nova Iorque: IB Tauris & Co Ltd. ISBN 978-1-84511-645-3 
  • Sebeos (século VII). História de Heráclio 
  • Settipani, Christian (2006). Continuité des élites à Byzance durant les siècles obscurs. Les princes caucasiens et l'Empire du vie au ixe siècle. Paris: de Boccard. ISBN 978-2-7018-0226-8 
  • Toumanoff, Cyril (1990). Les dynasties de la Caucasie chrétienne de l'Antiquité jusqu'au xixe siècle: Tables généalogiques et chronologiques. Roma: Edizioni Aquila