SN Álvaro Alberto (SN-10)

Submarino de propulsão nuclear brasileiro
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O SN Álvaro Alberto é um projeto de submarino nuclear de ataque, desenvolvido pela Marinha do Brasil e que se encontra em fase de construção, sob responsabilidade da Itaguaí Construções Navais (ICN). Faz parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos, inserido na parceria estratégica firmada entre a França e o Brasil em 2009, que também incluiu a transferência total de tecnologia e o apoio à construção de quatro submarinos convencionais da Classe Riachuelo, derivados da Classe Scorpène.[2]

SN Álvaro Alberto
Ficheiro:SN10 Alvaro Alberto.png
Representação do Álvaro Alberto
 Brasil
Operador Marinha do Brasil
Fabricante Itaguaí Construções Navais
Homônimo Álvaro Alberto da Mota e Silva
Estaleiro Complexo Naval Industrial de Itaguaí
Batimento de quilha 2018
Lançamento 2028 (planejado)
Comissionamento 2034 (planejado)
Número de registro SN-10
Estado Em construção
Características gerais
Tipo de navio Submarino de ataque
Deslocamento 6 000 t[1]
Maquinário 1 Reator nuclear PWR
Comprimento 100 m[1]
Boca 9,8 m
Propulsão 1 hélice
- 64 000 cv (47 100 kW)
Velocidade 25 nós (46 km/h)
Autonomia Ilimitada[1]
Profundidade 350 m[1]
Armamento 6 tubos de torpedo de 533 mm
Tripulação 100[1]

O nome do submarino é uma homenagem ao vice-almirante e cientista da Marinha, Álvaro Alberto da Mota e Silva, responsável pela implantação do Programa Nuclear Brasileiro.[3] Mota e Silva também foi presidente do Comitê de Energia Atômica das Nações Unidas entre 1946 e 1947 e presidente da Academia Brasileira de Ciências por dois mandatos, de 1935 a 1937 e de 1949 a 1951.[4] O Brasil é o sétimo país do mundo a desenvolver a tecnologia necessária para a construção de submarinos nucleares.[5][6]

História

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O projeto do submarino nuclear da Marinha data da década de 1970, mais precisamente entre 1976 e 1978. Foi decidido que o país deveria obter os três processos vitais para a energia atômica.[7] O primeiro ponto foi o domínio do ciclo do combustível nuclear, conhecido internamente como o "projeto Ciclone." Em segundo lugar, o desenvolvimento de um reator nuclear para uso nos submarinos, o "projeto Remo." Como terceiro ponto, o desenvolvimento do conhecimento para projetar e construir um casco para acomodar o reator em desenvolvimento, o "projeto Costado."[7][8]

Domínio do ciclo de combustível

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Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, no estado do Rio de Janeiro

O início do projeto para o domínio do ciclo do combustível e reator nuclear ocorreu em 1979, quando a Marinha ingressou no IPEN-SP (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares de São Paulo), onde passou a atuar num dos mais ambiciosos programas no país até ao momento. Em 1982, a Marinha conquistou a sua primeira grande vitória ao adotar a técnica de ultracentrifugação para enriquecimento e conhecer a tecnologia do hexafluoreto de urânio, em Poços de Caldas, Minas Gerais. No mesmo ano, os pesquisadores do projeto realizaram o enriquecimento isotópico de urânio com centrífugas totalmente construídas no Brasil.[7][8]

Para apoiar as atividades experimentais do programa de pesquisa e desenvolvimento do ciclo do combustível e reatores nucleares, foi construído no estado de São Paulo o Centro Experimental Aramar (CEA),[7] que abriga instalações de testes e laboratórios de validação experimental. Também é responsável pelo enriquecimento de urânio em pequena escala industrial, mas suficiente para abastecer reatores nucleares de pesquisa existentes no país. Num período de aproximadamente vinte anos o país adquiriu o ciclo do combustível nuclear e pôde iniciar a construção do reator nuclear naval.[7][8]

Reator nuclear naval

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Presidente Jair Bolsonaro em visita ao protótipo do reator (2020)

Em 2014, após muitos anos e uma série de problemas, atrasos no financiamento federal e congelamentos de programas, o primeiro reator naval de testes nucleares foi construído em terra, no Centro Experimental de Aramar, com o objetivo de viabilizar os processos tecnológicos, industriais e operacionais da energia nuclear em instalações aplicáveis à propulsão de embarcações.[9][10]

Casco de submarino

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O Riachuelo

No início do projeto, em 1979, a Marinha desconhecia os processos de construção de casco de um submarino. Primeiro foi necessário adquirir novos e modernos submarinos que pudessem ser feitos no Brasil. Os primeiros submarinos eram da classe Tipo 209 de origem alemã (que seria no Brasil a Classe Tupi). Em 1982, o país assinou contratos para a construção de cinco novos submarinos da Marinha, quatro deles em território brasileiro, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro. O país também investiu na modernização das suas instalações e na capacitação da indústria nacional, bem como na qualificação humana.[8]

Em 2009, o Brasil comprou à França quatro submarinos ampliados da classe Scorpène com propulsão convencional por um valor de US$ 10 bilhões, com um acordo total de transferência de tecnologia, dando ao país o conhecimento para o projeto e construção de modernos cascos.[11] A primeira embarcação brasileira da classe, o Riachuelo, foi lançado no dia 14 de dezembro de 2018.[12][13]

O projeto foi iniciado em 2012, pelo Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB), tendo a base de Itaguaí, no Rio de Janeiro, como ponto de desenvolvimento e fabricação de submarinos. De 2010 a 2012, um grupo de trinta e um engenheiros, vinte e cinco oficiais e seis funcionários civis recebeu treino e instrução teórica pela DCNS, em Cherbourg. Em 2018, mais de quatrocentos engenheiros brasileiros trabalharam na equipe do projeto do submarino nuclear, originalmente formado pelo grupo que recebeu treinamento na França.[13][14]

Racional estratégico

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Zona econômica exclusiva brasileira

O programa de modernização da Marinha do Brasil prevê o desenvolvimento e construção de seis submarinos SSN.[15] Na doutrina brasileira, a razão de ser da estratégia de defesa nacional é o desenvolvimento da capacidade de dissuasão estratégica contra "qualquer força hostil" ao território nacional terrestre ou marítimo.[16] O país entende que, com a sua futura frota nuclear, pelo menos algumas das suas armas serão capazes de sobreviver ao primeiro ataque (nuclear ou não nuclear) de um inimigo e evitar novas tentativas de agressão.[17]

Outra justificativa é apoiar a defesa da chamada Amazônia Azul,[18] uma área rica em recursos que cobre cerca de 4 500 000 km2 (1 700 000 sq mi) ao largo da costa brasileira. Esta área é a zona econômica exclusiva do país, lar de uma enorme diversidade de espécies marinhas, valiosos minerais metálicos e outros recursos minerais, petróleo e a segunda maior reserva de terras raras do mundo.[19][20]

Política nuclear brasileira

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O país tem uma política de não armas nucleares desde a década de 1990.[21] No entanto, especialistas do Laboratório Nacional de Los Alamos concluíram que o Brasil desenvolveu capacidade tecnológica para colocar em campo armas nucleares, caso essa política mude,[22] usando centrífugas como a Fábrica de Combustível Nuclear de Resende para produzir urânio altamente enriquecido para esse tipo de armamento.[23][24] Em vez disso, o país optou por trabalhar no desenvolvimento de uma frota de submarinos nucleares.[7][18]

Características

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O Álvaro Alberto tem muitas semelhanças com o seu antecessor convencional da classe Scorpène. O primeiro submarino nuclear brasileiro terá uma boca de 9,8 m (32 ft) para acomodar o reator nuclear de água pressurizada (PWR).[7] Tem ainda 100 m (330 ft) comprimento e um deslocamento de 6 000 toneladas, que serão impulsionados por um sistema de propulsão totalmente elétrico com uma potência de 48 MW (64 000 hp).[25]

As vantagens de um SSN em relação a um SSK com propulsão convencional são maior velocidade e autonomia muito mais longa, podendo ficar meses sem necessidade de reabastecimento, evitando emergir periodicamente para a superfície, não comprometendo sua furtividade.[26][27]

As suas funções incluem plataformas de coleta de inteligência, inserção e extração de equipes de forças especiais, além das funções SSN tradicionais de caça e ataque. O papel mais proeminente dos SSN é a capacidade de lançar mísseis de cruzeiro, dando uma sobreposição significativa entre submarinos de mísseis de cruzeiro (SSGN) e submarinos de ataque tradicionais.[26][27]

Programa de construção

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Nome No. Construtor Batimento Lançamento Comissionamento Custo Estado
Álvaro Alberto SN10 ICN, Ilha da Madeira 2018[13] 2029[28] 2032 a 2034[29][30] US$ 7,4 bilhões[29][31] Em construção[13]

Ver também

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Referências

  1. a b c d e Marinha do Brasil. Programa Nuclear da Marinha. Acesso em 20 de novembro de 2016
  2. «Base de submarino nuclear começará a ser construída em fevereiro». Terra. 30 de janeiro de 2010 
  3. «Um cientista, uma história, Almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva». Defesa Aérea & Naval. 10 de dezembro de 2015 
  4. «Álvaro Alberto da Mota e Silva». Academia Brasileira de Ciências. Consultado em 5 de agosto de 2019 
  5. «Brazil launches first of five navy attack submarines». EFE. 14 de dezembro de 2019 
  6. «Brazil take first step in program to join nuclear-powered sub club». Reuters. 14 de dezembro de 2018 
  7. a b c d e f g «Programa Nuclear da Marinha | Bem Vindo ao CTMSP». www.marinha.mil.br. Consultado em 4 de outubro de 2021 
  8. a b c d «O mais longo de todos os programas – parte 1». Poder Naval. 2 de dezembro de 2009 
  9. «Primeiro submarino nuclear brasileiro será usado em 2023». Revista Galileu. Consultado em 5 de agosto de 2019 
  10. «Quem somos». CTMSP. Consultado em 5 de agosto de 2019 
  11. «Novos submarinos da MB: Senado aprova o empréstimo de 4,32 bilhões de euros». 2 de setembro de 2009 
  12. «Com Temer e Bolsonaro, Marinha lança submarino Riachuelo». Veja. 14 de dezembro de 2019 
  13. a b c d «O Prosub e o submarino nuclear brasileiro SN-BR». Poder Naval - Navios de Guerra, Marinhas de Guerra, Aviação Naval, Indústria Naval e Estratégia Marítima. 20 de fevereiro de 2018. Consultado em 4 de outubro de 2021 
  14. «O Prosub». Consultado em 3 de agosto de 2019 
  15. «Brazilian Navy - Marinha do Brasil - Modernization». GlobalSecurity.org. Consultado em 7 de maio de 2019 
  16. «Estratégia Nacional de Defesa». Ministério da Defesa do Brasil. Consultado em 7 de setembro de 2019 
  17. «Brazilian Navy - Marinha do Brasil - Modernization». GlobalSecurity.org. Consultado em 5 de março de 2020 
  18. a b «Brazilian nuclear policy under Bolsonaro: no nuclear weapons, but a nuclear submarine». The Bulletin. 12 de abril de 2019 
  19. Redacción LA NACION (14 de dezembro de 2018). «Brasil lanzó al mar un ultramoderno submarino para vigilar sus aguas». Buenos Aires. La Nación (em espanhol). ISSN 0325-0946. Consultado em 4 de outubro de 2021 
  20. «Brasil tem segunda maior reserva mundial de terras raras, mas não aparece entre os maiores produtores». O Globo. 30 de maio de 2019 
  21. «Presidency of the Republic, Deputy Chief of Legal Affairs - Decree No. 2864 from 7 December 1998». Presidency of the Republic. 7 de dezembro de 1998 
  22. Brazil and the Bomb Arquivado em 2010-06-01 no Wayback Machine German Council on Foreign Relations.
  23. How Brazil Spun the Atom Arquivado em 2009-08-22 no Wayback Machine Institute of Electrical and Electronics Engineers.
  24. Weapons of Mass Destruction (WMD): Resende Nuclear Fuel Factory (FCN) Globalsecurity.org.
  25. «Submarino Nuclear Brasileiro Alvaro Alberto (SN 10)». Defesa Aérea & Naval. 7 de dezembro de 2012 
  26. a b «Nuclear versus diesel-electric: the case for conventional submarines». The Strategist. 11 de julho de 2017 
  27. a b «How do nuclear-powered submarines work? A nuclear scientist explain». Science AU. Consultado em 20 de setembro de 2021 
  28. «Projeto para construção de submarino nuclear brasileiro está adiantado", diz Chefe do Estado-Maior da Armada na ACSP». Defesa Aerea e Naval. 2 de julho de 2021 
  29. a b «Programas da MB em 2019: PROSUB». Poder Naval - Navios de Guerra, Marinhas de Guerra, Aviação Naval, Indústria Naval e Estratégia Marítima. 12 de janeiro de 2020. Consultado em 4 de outubro de 2021 
  30. «Brazilian SSN Alvaro Alberto to be commissioned in 2034». Navy Recognition. 4 de junho de 2021 
  31. Jasper, Fernando. «Submarino nuclear já recebeu R$ 21 bilhões, mas crise atrasou cronograma». Gazeta do Povo. Consultado em 4 de outubro de 2021