União Democrática Popular

partido político português
 Nota: Este artigo é sobre o partido político português. Para outros significados da sigla, veja UDP.

A União Democrática Popular (UDP) foi um partido político marxista que nasceu em 1974 e que, em 1999, juntamente com o Partido Socialista Revolucionário e a Política XXI, esteve na origem da criação do Bloco de Esquerda.

União Democrática Popular
União Democrática Popular
Presidente Mário Durval
Fundação 16 de dezembro de 1974
Dissolução 3 de abril de 2005
Sede Rua de São Bento, 698
1250-223 Lisboa, Portugal Portugal
Ideologia Marxismo
Socialismo
Espectro político Extrema-esquerda[1]
Publicação A Comuna
Antecessor CCRML
Sucessor Bloco de Esquerda
Cores Vermelho
Bandeira do partido
Página oficial
www.udp.pt

Em 2005 constituiu-se em associação política
Mural da UDP de 1978.
Símbolo da UDP em 1975

Origens

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A União Democrática Popular formou-se em 16 de dezembro de 1974, a partir de 3 grupos marxistas-leninistas, o Comité de Apoio à Reconstrução do Partido Marxista-Leninista (CARP ML), surgido depois de 1974, os Comités Comunistas Revolucionários Marxistas-Leninistas (CCRML), criados em 1970 a partir de uma cisão do CM-LP e que se assumiam como seus verdadeiros sucessores, e a Unidade Revolucionária Marxista-Leninista (URML), surgida em 1971, e que teve uma breve aproximação aos trotskistas.[2][3]

Teve o seu I Congresso em 9 de março de 1975. A sua linha ideológica era genericamente tida por maoísta, elegendo como regime de eleição do leste europeu a Albânia.[1][4] Afirmava-se como uma organização de massas, revolucionária e de luta. Em congresso, fez questão de se distinguir claramente do PCP, do MRPP, e de outros partidos de extrema esquerda bem como das suas práticas. Nesse primeiro congresso, teve intervenções de João Pulido Valente, de António Linhaça, poeta e metalúrgico, Eduardo Pires e José Mário Branco.[5] Nessa altura a UDP defendia ser uma organização de messas independente dos EUA e URSS, os saneamentos e o combate ao fascismo, à burguesia e ao Partido Comunista Português,[6] Elegeu um deputado para a Assembleia Constituinte (Portugal) em 25 de Abril de 1975, o operário da Lisnave Américo Duarte,[7] após Pulido Valente, um dos fundadores do CM-LP em 1964, ter sido barrado do cargo por ter visitado um preso político de então, Jorge de Brito, que fora seu amigo de infância e que por sinal era banqueiro. Américo Duarte que foi o primeiro deputado a falar na Assembleia Constituinte, apelidaria os deputados como um "bando de lacraus". Mais tarde, viria ser substituído pelo músico Afonso Dias que irá votar a favor da Constituição de 1976.[1][8]

Em 1976, nas eleições para a 1ª Assembleia Legislativa foi eleito como deputado Acácio Barreiros, um ex-estudante de engenharia que vinha dos CCRM-L e que mais tarde aderiria ao Partido Socialista de que viria também a ser deputado, na III, VI, VII, VIII e IX legislaturas[9] . Em 1976 participa como principal força política num movimento revolucionário unitário de apoio à candidatura presidencial de Otelo Saraiva de Carvalho, que chega a obter 16,5% dos votos nacionais, movimento que tenta persistir depois das presidenciais concorrendo com os GDUPs às autárquicas de Dezembro de 1976 (apenas 2,51%). Em 1977, após estes resultados menos animadores das autárquicas, o partido (GDUP) cessou a sua actividade política.[10] Nas eleições de 1979, a UDP elege Mário Tomé como deputado à Assembleia da República.[11]

Em 1983 apresenta-se às eleições legislativas coligada com o Partido Socialista Revolucionário, após profundas cisões no interior do PC(R) de que a UDP se pretendia a "frente de massas" e que levaram ao afastamento de Acácio Barreiros, João Carlos Espada, José Manuel Fernandes e outros, no rescaldo do fim da Revolução. Só voltará a ter representação parlamentar no período 1991-95, fruto de um acordo com o PCP que leva Mário Tomé de novo à Assembleia da República.[1]

Na Assembleia Legislativa da Região Autónoma da Madeira, o partido consegue em várias ocasiões eleger deputados, conquistando um pequeno eleitorado de agricultores e trabalhadores do sector do artesanato, tendo tido em Paulo Martins o seu principal dirigente regional.

Em 1998, o então secretário-geral da UDP Luís Fazenda entra em contacto com Fernando Rosas (independente), Francisco Louçã (PSR), Miguel Portas (Política XXI), iniciando o processo que levou à fusão daqueles três partidos de esquerda, todos eles defensores do socialismo em liberdade e "críticos das experiências soviéticas e outras" do socialismo real, e de muitos independentes de esquerda num novo partido: o Bloco de Esquerda, em 28 de fevereiro de 1999.[12][13][14]

Actualidade

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O XVII Congresso da UDP, realizado a 2 e 3 de abril de 2005, aprovou e formalizou a passagem do partido a associação política, tendo sido eleito Pedro Soares presidente da direcção da associação. A associação política UDP continua a editar a revista A Comuna, fundada pela UDP em 2003.

Entre 2010 e 2015, Joana Mortágua (n. 1986) foi presidente da direcção nacional. Atualmente membro da Comissão Permanente do Bloco de Esquerda, Joana Mortágua foi cabeça de lista do BE no círculo eleitoral de Évora[15] nas Legislativas de 2009 e é membro da sua Comissão Política.[16] No 36º aniversário da UDP, em 2010, num discurso chamado Desenvolver o Marxismo, Joana Mortágua sublinhou o papel da associação política UDP: "O nosso partido é o Bloco de Esquerda. A única razão da UDP é o Marxismo. (...) Tirem-lhe a Comuna e a formação ideológica e a UDP terá desaparecido."

Atualmente a UDP não é uma tendência do Bloco de Esquerda. O órgão máximo da UDP declarou em 2013: “Há muito que a UDP abdicou de agir organizadamente na vida quotidiana do Bloco. Esse caminho é para ser prosseguido” (Conferência Nacional Extraordinária “Marxistas também amanhã”, Lisboa, 24 de fevereiro de 2013). Confirmando dessa forma as decisões da 7ª Conferência Nacional da UDP (2012), onde se assumiu claramente que a associação comunista UDP não tinha como função ou desígnio exercer “disciplina de voto” no Bloco de Esquerda. “A UDP não desiste nem se transmuta em qualquer tendência do Bloco de Esquerda, nem lhe cabe apoiar organizadamente quaisquer tendências que nele se venham a constituir” foi o veredito do órgão máximo da associação em 2013 nas “Dez teses sobre a UDP e o Bloco no tempo das Tendências” (8ª Conferência Nacional da UDP, Almada, 7 e 8 de dezembro de 2013).

Aquando da eleição do atual presidente Mário Durval, em 2015, a associação comunista UDP assume como tarefa que "deve prosseguir o caminho da divulgação do marxismo e da sua história", nomeadamente através da revista A Comuna e da "organização de colóquios sobre atualidade do marxismo e a história do movimento operário" (A afirmação do Ideal Comunista no confronto com a Austeridade. 9ª Conferência Nacional da UDP. Lisboa, 12 de abril de 2015).

Resultados Eleitorais

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Eleições legislativas

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Data Líder Cl. Votos % +/- Deputados +/- Status Notas
1975 João Pulido Valente 8.º 44 877
0,79 / 100,00
1 / 250
1976 Acácio Barreiros 5.º 91 690
1,67 / 100,00
 0,88
1 / 263
  Oposição
1979 Mário Tomé 4.º 130 842
2,18 / 100,00
 0,51
1 / 250
  Oposição
1980 Mário Tomé 4.º 83 204
1,38 / 100,00
 0,80
1 / 250
  Oposição
1983 Mário Tomé Aliança com PSR
0 / 250
 1 Extra-parlamentar
1985 Mário Tomé 6.º 73 401
1,27 / 100,00
0 / 250
  Extra-parlamentar
1987 Mário Tomé 6.º 50 717
0,89 / 100,00
 0,38
0 / 250
  Extra-parlamentar
1991 Mário Tomé 12.º 6 157
0,11 / 100,00
 0,78
1 / 230
 1 Oposição Nas listas do PCP.[17][18] Os resultados apresentados são apenas referentes a Lisboa, onde o partido concorreu isolado.[19]
1995 Mário Tomé 7.º 33 876
0,57 / 100,00
 0,46
0 / 230
 1 Extra-parlamentar

Eleições europeias

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Data Cabeça de Lista Cl. Votos % +/- Deputados +/-
1987 7.º 52 835
0,94 / 100,00
0 / 24
1989 Luís Fazenda[20] 7.º 45 017
1,08 / 100,00
 0,14
0 / 24
 
1994 Carlos Marques[21] 6.º 18 884
0,62 / 100,00
 0,46
0 / 25
 

Eleições presidenciais

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Data Candidato
apoiado
1ª Volta 2ª Volta Notas
Cl. Votos % Cl. Votos %
1976 Otelo Saraiva de Carvalho 2.º 792 760
16,46 / 100,00
1980 Nenhum candidato apoiado
1986 Maria de Lurdes Pintassilgo 4.º 418 961
7,38 / 100,00
1991 Carlos Marques 4.º 126 581
2,57 / 100,00
1996 Alberto Matos Alberto Matos desistiu a favor de Jorge Sampaio

Eleições autárquicas

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Data Cl. Votos % +/- Presidentes CM +/- Vereadores +/- Assembleias
Municipais
+/- Assembleias de
Freguesias
+/-
1976 Grupos Dinamizadores de Unidade Popular
1979 6.º 53 076
1,29 / 100,00
0 / 305
3 / 1 900
58 / 9 703
55 / 40 110
1982 6.º 31 567
0,62 / 100,00
 0,67
0 / 305
 
3 / 1 909
 
21 / 9 897
 37
30 / 41 636
 25
1985 6.º 28 701
0,59 / 100,00
 0,03
0 / 305
 
3 / 1 975
 
14 / 6 672
 7
26 / 31 941
 4
1989 11.º 15 876
0,33 / 100,00
 0,26
1 / 305
 1
4 / 1 907
 1
14 / 6 753
 
30 / 33 000
 4
1993 11.º 8 161
0,15 / 100,00
 0,18
0 / 305
 1
0 / 2 015
 4
2 / 6 769
 12
2 / 33 458
 28
1997 8.º 21 079
0,39 / 100,00
 0,24
0 / 305
 
0 / 2 021
 
2 / 6 807
 
6 / 33 953
 4
Câmaras Municipais com representação da União Democrática Popular
Municípios 1979 1982 1985 1989 1993 1997
Machico
3 / 7
2.º
3 / 7
2.º
3 / 7
2.º
4 / 7
1.º

Eleições regionais

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Assembleias legislativas regionais

Região Autónoma dos Açores

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Data Líder Cl. Votos % +/- Deputados +/- Status
1980 6.º 1 924
1,60 / 100,00
0 / 43
Extra-parlamentar
1984 6.º 1 286
1,21 / 100,00
 0,39
0 / 44
  Extra-parlamentar
1988 6.º 815
0,77 / 100,00
 0,44
0 / 51
  Extra-parlamentar
1992 Não concorreu
1996 5.º 983
0,87 / 100,00
0 / 52
Extra-parlamentar

Região Autónoma da Madeira

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Data Líder Cl. Votos % +/- Deputados +/- Status Notas
1976 Paulo Martins 4.º 5 466
5,10 / 100,00
2 / 41
Oposição
1980 Paulo Martins 4.º 6 804
5,48 / 100,00
 0,38
2 / 44
  Oposição
1984 Paulo Martins 4.º 6 668
5,51 / 100,00
 0,03
2 / 50
  Oposição
1988 Paulo Martins 4.º 9 687
7,73 / 100,00
 1,71
3 / 53
 1 Oposição
1992 Paulo Martins 4.º 6 053
4,63 / 100,00
 3,10
2 / 57
 1 Oposição
1996 Paulo Martins 5.º 5 485
4,03 / 100,00
 0,60
1 / 59
 1 Oposição
2000 Paulo Martins 4.º 6 210
4,79 / 100,00
 0,76
2 / 61
 1 Oposição

Congressos nacionais

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# Localidade Dia(s) Refs.
I Montijo 9 de março de 1975 [22][23]
II Montijo 20 e 21 de março de 1976 [24]
IV Lisboa 18 a 20 de abril de 1980 [25]
VIII Lisboa 8 e 9 de abril de 1989 [26][27]
IX Lisboa 13 de dezembro de 1992 [28]

Secretários-gerais

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Documentos

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Referências

  1. a b c d «Visão | Breve história da extrema-esquerda em São Bento». Visão. 19 de setembro de 2019. Consultado em 29 de abril de 2022 
  2. Jorge Mateus, Tiago Ramalho (2013). O Sistema de Partidos em Portugal (PDF). Lisboa: ISCTE. p. 16 
  3. «Memórias da Revolução - Para além da democracia formal – os movimentos populares e as suas organizações». memoriasdarevolucao.pt. Consultado em 29 de abril de 2022 
  4. «A UDP opôs-se ideologicamente à China durante o conflito sino-albanês.». RTP. Consultado em 20 de maio de 2022 
  5. «1º Congresso da UDP». RTP. 9 de março de 1975. Consultado em 28 de abril de 2022 
  6. «Entrevista a Acácio Barreiros». RTP. 9 de julho de 1975. Consultado em 28 de abril de 2022 
  7. Nery, Isabel. «Américo Duarte: "Só ficava chateado por ter de atacar o Cunhal daquela maneira"». PÚBLICO. Consultado em 29 de abril de 2022 
  8. Almeida, São José (23 de abril de 2008). «Francisco Martins Rodrigues, radical em nome da classe operária (1927-2008)». PÚBLICO. Consultado em 2 de abril de 2022 
  9. «Biografia Acácio Barreiros». www.parlamento.pt. Consultado em 29 de abril de 2022 
  10. Ministério Público. "Caso FP-25 de Abril": Alegações do Ministério Público. Lisboa: Ministério da Justiça. pp. 712–719 
  11. «União Democrática Popular UDP - Eleições Livres 40 Anos | RTP». Eleições Livres 40 Anos. 23 de abril de 2015. Consultado em 29 de abril de 2022 
  12. «Documentário Nasceu uma estrela». Bloco.org. 13 de julho de 2009. Consultado em 2 de agosto de 2010 
  13. «Os partidos que já se foram e não voltam mais». Jornal SOL. Consultado em 29 de abril de 2022 
  14. «Bloco. 20 anos depois, três famílias que conseguiram ser uma só». www.dn.pt. Consultado em 29 de abril de 2022 
  15. «Órgãos dirigentes da UDP». UDP. 10 de maio de 2010. Consultado em 31 de dezembro de 2010 
  16. «Resolução da Mesa Nacional do Bloco de Esquerda». Esquerda. 18 de junho de 2011. Consultado em 4 de agosto de 2011 
  17. «Encontro entre o PCP e a UDP». Consultado em 2 de abril de 2022 
  18. «Militantes da UDP nas listas do PCP». Consultado em 2 de abril de 2022 
  19. «PORDATA - Eleições legislativas 1991». www.pordata.pt. Consultado em 29 de abril de 2022 
  20. «Campanha eleitoral para o Parlamento Europeu». Consultado em 29 de abril de 2022 
  21. «Entrevistas sobre as eleições europeias». Consultado em 29 de abril de 2022 
  22. RTP Arquivos (9 de março de 1975). «1º Congresso da UDP com intervenção de João Pulido Valente, António Linhaça, Eduardo Pires, delegados da UDP e José Mário Branco». Consultado em 21 de dezembro de 2019 
  23. RTP Arquivos (9 de março de 1975). «1º Congresso da UDP - intervenções de membros da UDP». Consultado em 21 de dezembro de 2019 
  24. Ephemera (9 de março de 1975). «UDP - 2º Congresso (20 e 21 de março de 1976)». Consultado em 21 de dezembro de 2019 
  25. RTP Arquivos (20 de abril de 1980). «IV Congresso da UDP». Consultado em 21 de dezembro de 2019 
  26. RTP Arquivos (8 de abril de 1989). «8º Congresso da UDP». Consultado em 21 de dezembro de 2019 
  27. RTP Arquivos (9 de abril de 1989). «8º Congresso da UDP». Consultado em 21 de dezembro de 2019 
  28. RTP Arquivos (13 de dezembro de 1992). «IX Congresso da UDP». Consultado em 21 de dezembro de 2019 

Ligações externas

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