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Pastoril

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Pastoril ou pastorinhas, baile pastoril, lapinha e presépio são denominações dadas no Brasil a um folguedo que originalmente encenava a jornada dos pastores a caminho de Belém, para louvar Jesus Cristo e a Sagrada Família. A passagem na Bíblia está no Evangelho de São Lucas 2: 8-21. A ideia central era recriar uma natureza idealizada, associada à revelação e à esperança na transformação humana pelo amor.[1]

A encenação incluía ofertas, louvores e pedidos de bênçãos. É a partir destes cantos e louvações diante do presépio que os pastoris evoluem para autos, pequenas peças teatrais de sentido apologético, com enredo próprio dividido em episódios.[2] Desde as demonstrações mais singelas, como algumas cenas cantadas diante dos presépios, até as apresentações de autos com elevado número de figurantes, a cantoria e o bailado têm maior importância em relação à parte declamada.[3]

O Pastoril é uma manifestação cultural difícil de se definir e categorizar. Além de muitas fontes de estudo serem informais e extraoficiais, o Pastoril apresenta características e elementos de dicotomias clássicas: popular/folclórico, sagrado/profano, popular/erudito e rural/urbano. Possui muitas características da vida rural, mas desenvolveu-se também em cidades. Coexiste numa superposição de períodos históricos e culturas, com forças seculares e religiosas convivendo. O Pastoril como gênero musical surgiu no Brasil a partir da mútua influência das culturas que a colonização trouxe. Utopia familiar, idílio e idealização da natureza fundiam-se ao catolicismo popular, a votos de devoção.[1]

Dentre pesquisas e trabalhos escritos, Mário de Andrade relaciona os pastoris brasileiros ao conceito de "Danças Dramáticas", elaborado em 1934. O autor agrupava nesta classificação os ritos populares em que havia ação teatral seguida de enredo, caracterizados por elementos coreográficos. Alguns dos aspectos mais interessantes apontados por ele são: impulso religioso inicial, a associação de canções, danças e teatro visando contar uma história e, por fim, a coexistência de elementos cultos e populares.[4]

Nomenclaturas no Brasil

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A denominação muito comum "pastoril", em especial na região nordeste do Brasil, foi usada por Gil Vicente em vários de seus autos. Entretanto, os nomes dados a esta e outras apresentações festivas natalinas similares podem variar bastante de acordo com a região. No Maranhão, é chamada de "Pastoral" uma dramatização similar às "Pastorinhas" da região sudeste. Na Paraíba e Rio Grande do Norte, os termos "presepes" e "lapinhas" podem designar os grupos que apresentam ao vivo a dramatização do evento. Nestes estados pode também haver distinção entre "lapinha" (grupos mais autênticos e de caráter religioso) e "pastoril" (de caráter profano). Na Bahia, as apresentações ocorrem principalmente na Noite de Reis, sendo os "Ternos" as apresentações com espírito natalino, com figurantes representando a adoração na Lapinha, enquanto "Ranchos" são aquelas de caráter mais profano. Na região sul, tem-se "Ternos de Reis" mais relacionados à comemoração da visita dos Reis Magos à manjedoura. No Rio de Janeiro e estados limítrofes, como Minas Gerais, ocorrem também as Folias de Reis. Quanto ao termo "reisado", mais genérico, pode designar qualquer representação na época entre o Natal e o Dia de Reis.[5]

Origens

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Por volta do dia 21 de dezembro, ocorre o solstício de inverno no hemisfério norte. O sol atinge o ponto mais fraco no hemisfério norte para então começar a ganhar força novamente, com os dias ficando mais longos. Nessa época, acontecem as saturnálias e os pedidos de farta colheita. Nesse ambiente de paganismo nasce o Cristianismo, negociando ou vivendo numa mistura com credos diversos.[1]

Há relatos que contam que São Francisco de Assis, em 1223, querendo comemorar o nascimento de Jesus Cristo, obteve licença do papa e criou uma gruta com animais e imagens da Virgem Maria e do Menino Jesus. Ali, encenou a Natividade e celebrou uma missa, tendo frades e camponeses da localidade com público.[6]

Na Idade Média, época em que poucos sabiam ler, a catequese e o ensinamento das escrituras sagradas era realizado por meio de recursos visuais e por meio de apresentações teatrais. Como o ano religioso, o teatro medieval dividia-se em dois grandes ciclos: Natividade e Paixão. Os pastores aparecem vinculados ao primeiro ciclo.[7]

Motivos pastorais aparecem também no repertório dos trovadores. Os trovadores espalharam suas formas literárias pela Europa, inclusive na Península Ibérica. O teatro ibérico apresentava personagens estereotipados, falas com duplo sentido e também figuras de pastores com suas falas características. Os pastoris brasileiros apresentam muitas das características do teatro ibérico, com canções, danças e partes faladas.[2]

Os autos natalinos foram trazidos ao Brasil pelos padres da Companhia de Jesus. Não existem relatos sobre apresentações de pastoris no Brasil nos séculos XVII e XVIII. Apenas no século XIX é que ocorre grande quantidade de bailes pastoris, principalmente nos estados de Pernambuco, Bahia, Alagoas e Paraíba.[8] No século XIX, o pastoril passa a fazer parte da cultura popular urbana com mais intensidade. Sua popularidade decresce no fim daquele século e quase desaparece no século XX. Na forma e no estilo mais conhecidos, no século XIX, o pastoril emergiu como evento popular, acompanhando a diversificação dos grupos sociais resultantes do crescimento especialmente das cidades costeiras do Nordeste do Brasil.[1]

 
O Descanso do Pastor (cerca de 1757–1804), obra de Pietro Jacopi Palmieri. Coleção do Metropolitan Museum of Art.

Tipos de enredos

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Na sua longa história, a tradição pastoral tem servido a uma variedade muito grande de públicos e de propósitos artísticos.[1] Os temas bucólicos, pela suavidade e pureza que exprimem, têm tal força de envolvimento e receptividade que, durante centenas de anos, ocuparam na literatura lugar especial. A abordagem do drama ou da poesia dos pastores lembra a doçura, a simplicidade, os encantos de suas vidas contemplativas e, desde logo, tem-se duas correntes de enredos: a sacra e a profana.[9] Ou seja, os enredos dos autos pastoris podiam apresentar temas idílicos, doutrinários, religiosos ou mesmo temas relacionados a grandes conflitos da época em questão - como a escravidāo, preocupação da sociedade brasileira da última metade do século XIX. Outros exemplos de enredos: a renúncia suprema ao poder em prol da vida no campo; descrições de cenas rurais; retorno à natureza; o mouro que prende as pastoras, impedindo que sigam para Belém.[1]

Tipos de textos

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A musicóloga Mércia Pinto classificou os textos dos pastoris em quatro tipos:

Pastorais

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A reconstrução da Noite Santa é o principal objetivo. O discurso é identificado pela pureza, 3inocência, idílio, atmosfera pastoral, tranquilidade, emoções moderadas, ausência. Surpresas ou desacordos estão sempre presentes.[1]

Épicos

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Nos textos prevalecem as conceituações morais, com argumentos grandiloquentes e linguagem com caráter doutrinal. A atmosfera é irreal, de um tempo legendário, com o mundo sendo visto como palco de ações heroicas. Os assuntos principais são cosmologias, profecias, parábolas, redenção e conversão. A grandeza de ideais e a nobreza de caráter caracterizam os heróis, que buscam convencer os demais da superioridade do espirito.[1]

Paródicos

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Apresentam enredos com a caricatura das coisas, aspectos marginais da vida, quebra de regras e comentam o cotidiano. O bobo, a mulher puritana, o marido enganado, o aleijado, o surdo, o padre namorador são personagens. A atmosfera contém ironia, sarcasmo, marginalidade.[1] Por vezes, a encenação deste tipo de texto recebe a denominação de pastoril profano.

Personagens

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Dependendo do enredo e texto de cada grupo ou mesmo de cada espetáculo, os Pastoris podem apresentar variados personagens. Entretanto, podemos considerar que as personagens principais são:

Pastoras

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São as personagens mais importantes e ocupam o maior espaço do evento. Contribuem com individualidade e personalidade para a atmosfera pastoral do cenário, mesmo quando a jornada a Belém não é explícita. Na festividade popular, elas fazem o coro das músicas, fazendo o acompanhamento com castanholas ou tamborim. Entretanto, coreografia, canções e sua função fora do palco são controladas por homens. As vestes apresentaram múltiplas mudanças. Com a vinda do Carnaval de Veneza, muitas fantasias chegaram ao Brasil, como a de pastora europeia. As vestimentas antigas então passam por modificações. A dança assume caráter sensual e carnavalesco e, mis tarde, é incorporada aos cortejos de escolas de samba. O Cinema, que configura novos mitos femininos, também influencia na criação de uma nova imagem de pastora.[1]

O musicólogo Renato Almeida considera que o mais significativo no pastoril é o fato das pastoras serem o elemento básico na função coro, tomado como um personagem. O coro é que tem o papel dramático, sendo os pastoris reminiscências dos autos da Natividade e dos vilancicos (ou vilancetes) portugueses, poemas dialogados e musicados sobre motivos religiosos e profanos.[2]

Pastor ou Velho

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Apesar de ter menos destaque que as pastoras, o pastor é personagem relevante, líder e condutor do caminho para Belém. Às vezes o papel é um velho que se apaixona por uma das pastoras. Nos pastoris mais ligados à prostituição, o velho pastor era palhaço que atuava como empresário das mulheres. Ele interpretava personagens masculinos e até "arranjava encontros" para as pastoras.[1] O Velho Faceta é um exemplo mais recente de pastor-palhaço, personagem que era interpretado pelo pernambucano Constantino Leite Moisakis (1925-1986). Segundo o acordeonista Zé Cupido, "todos os Pastoris com palhaço que existem hoje, têm no Velho Faceta sua inspiração maior".[10] Outros Velhos de Pernambuco, com nomes de seus respectivos intérpretes entre parêntesis: Velho Xaveco (Antônio Cândido), Velho Dengoso (José Justino), Velho Barroso (José Menezes) e Velho Faceta de Goiana (Constantino Leite Moisakis). No Pastoril de Dona Joaquina São Gonçalo do Amarante, Rio Grande do Norte, há a atuação de Xapuleta (Alex Ivanovich).[11]

Alegorias

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O uso de alegoria é o último aspecto a identificar os pastoris com o mundo colonial. As alegorias simbolizam fenômenos naturais, estados de espírito, bichos ou animais. Aparecem em enredos grandiloquentes, com mitologia, virtudes da Teologia, grandes abstrações humanas. Mais tarde, na primeira parte do século XX, as alegorias aparecem nos desfiles dos ranchos carnavalescos.[1]

Alguns grupos Pastoris em atividade

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Seguem abaixo alguns grupos pastoris em atividade atual ou recente, dentre grupos de pastoril de caráter religioso e de caráter profano.

Lapinha Santa Clara, Juazeiro do Norte (CE)

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A Lapinha Santa Clara foi fundada em Juazeiro do Norte, Ceará, no dia 25 de dezembro de 1912, por Mestra Teodora Clarindo de Magalhães. A tradição foi passada de geração em geração e continua em atividade. Após a morte da Mestra Teodora, a Lapinha foi assumida por Maria Pereira da Silva, Mestra "Tatai" (Mestra Tatai), que no ano de 2006 foi reconhecida como Tesouro Vivo da Cultura do estado do Ceará, pela então Secretaria de Cultura do estado do Ceará.[12]

Tatai (1927-2009) criou-se em meio às festas natalinas. No colo da avó, ia para comemo3rações de Natal na casa de Padre Cícero. A mãe, Teodora Clarindo, havia dançado o pastoril pela primeira vez aos 11 anos e, no ano seguinte, já assumia uma Lapinha, incentivada por Padre Cícero. Dona Tatai estreou aos dois anos de idade no grupo da mãe e brincou até os dezenove anos. Daí em diante, passou a ajudar a mãe Teodora e, em 1955, quando esta faleceu, ficou à frente da Lapinha Santa Clara. Em vez das cores tradicionais, azul e encarnado, o grupo defendia as cores verde e branco - cores do Icasa, time de futebol local. Atualmente quem está à frente do grupo é Maria Vanda Pereira da Silva, filha de Dona Tatai, e seu marido, Damião Felipe Gomes. O grupo mantém a atuação de 30 a 40 crianças. As cores defendidas voltaram a ser as tradicionais vermelho, azul e branco.[13]

Pastoril Céu na Terra, Rio de Janeiro (RJ)

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Formado em 1998 no município do Rio de Janeiro, capital do estado de mesmo nome, o Núcleo de Cultura Popular Céu na Terra é composto por profissionais de diversas áreas artísticas, além de pesquisadores, todos com formação universitária, alguns deles em nível de pós-graduação. A atuação do grupo ocorre em diversas frentes, como: Orquestra Popular Céu na Terra, Bloco Carnavalesco Céu na Terra, Cantoria de Reis (Folia de Reis), Pastoril, Cortejo da Paixão e Boi.[14]

 
Grupo Pastoril Céu na Terra em apresentação no Largo do Machado, Rio de Janeiro (RJ).

O Pastoril Céu na Terra mistura aspectos do pastoril de Recife e de pastorinhas da região Sudeste, além de fazer referências autorais, que não dizem respeito a nenhuma das duas tradições. O espetáculo criado pode ser encenado tanto em teatros como na rua.

O pastoril Céu na Terra é apresentado desde 2001 e é uma frente de atuação profissionalizada e que concomitantemente guarda uma função festiva para os integrantes. A apresentação do dia 24 de dezembro no Largo do Machado é momento de celebração e convívio do grupo, onde se vivencia o prazer de fazer a festa na rua.[14]

A encenação narra a saga das pastoras em busca do Deus Menino. Os cordões, dispostos lado a lado e com cinco pastoras cada, cantam e dançam. Ao centro, se apresentam os mais diversos personagens: o Anjo, que anuncia a jornada; a Estrela, que guia a todos; a Cigana, que conduz ao Menino; Borboleta e Florista, que, no imaginário popular, foram visitar o Deus Menino em seu nascimento.[15] Em 2007, o elenco consistia em 10 pastoras, divididas em cordões azul e encarnado, Diana, o Velho e os músicos. Cinco músicos acompanhavam o auto, sendo que três deles também participam representando os Reis Magos e o Arcanjo Gabriel. A instrumentação incluía saxofone soprano, flauta transversal, acordeão, surdo e caixa-clara com um pequeno prato acoplado. Em certos momentos Diana surgia em cena tocando acordeão e, sendo assim, eram dois acordeões. As pastoras tocavam pandeirolas.

Duas das canções do pastoril encenado pelo grupo Céu na Terra se encontram no livreto "Loas e Luas de Natal", elaborado e produzido por Norma Nogueira, membro do grupo. São elas: a cantiga “Boa Noite” das “Pastorinhas de Itibiguaçú” e a canção “Velhos”, recolhidas diretamente pela própria Norma Nogueira. Marcos Hamellin atuou como o Velho e dirigiu o grupo na encenação e coreografias, tendo como referência a histórica montagem “Da Lapinha ao Pastoril” (1978), dirigido por Luiz Mendonça e apresentada no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, e também estudos sobre o Pastoril na literatura, vídeos e gravações em áudio.[14]

Pastoril Dona Joaquina, São Gonçalo do Amarante (RN)

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O grupo folclórico Pastoril Dona Joaquina de São Gonçalo do Amarante, do Rio Grande do Norte, foi fundado em 2006 pela professora Sephora Bezerra com a intenção de renovar a tradição do pastoril no estado. De acordo Alexander Ivanovich, integrante do grupo desde a sua fundação, a tradição do pastoril não era encontrada na região de São Gonçalo do Amarante havia cerca de vinte anos.

O grupo é formado por aproximadamente vinte integrantes, dentre dançarinas e músicos, além da figura da Diana e do palhaço Xapuleta. As dançarinas são divididas em dois grupos de cinco: o cordão azul e o cordão encarnado. A personagem da Diana faz mediação dos conflitos entre os dois cordões. O palhaço é responsável pela manutenção e pelo bom andamento da performance, estimulado as pastoras de maneira jocosa e interagindo com o público através de piadas e brincadeiras. A formação do grupo musical pode variar de seis a oito integrantes.

O figurino das dançarinas dos cordões inclui vestidos de tecido leve, um pouco acima do joelho e com lantejoulas na barra, sapatilhas brancas e uma espécie de coroa, enfeitada com as mesmas lantejoulas dos vestidos. Os trajes utilizados pelos dois cordões se assemelham, diferindo somente quanto à cor: as meninas do cordão azul vestem azul; as do cordão encarnado, vestem vermelho. O traje de Diana se diferencia: por ser a mediadora do embate entre os cordões, seu vestido é branco e sua coroa é dividida simetricamente entre as cores azul e vermelha. O palhaço veste camisa azul, calça xadrez com suspensórios, paletó semelhante a um fraque com um girassol na lapela, nariz clássico de palhaço, maquiagem, chapéu nas cores azul e vermelha, meias vermelhas e tênis. Ele traz na mão uma espécie de cajado de nome macaxera.[16]

Pastoril Estrela da Anunciação, Fortaleza (CE)

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O Espaço Cultural Estrela da Anunciação realiza suas atividades em Fortaleza, Ceará, desde 2016. Tratam-se de práticas e vivências da cultura tradicional popular referente ao ciclo natalino que contam com a atuação de 20 jovens e adultos. O foco é perpetuar a tradição do pastoril, passando o folguedo para as gerações futuras.[17]

Pastoril Estrela Guia, Cariré (CE)

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O Pastoril Estrela Guia de Cariré, município do estado do Ceará, surgiu por meio de iniciativa da Associação de Arte e Cultura Flor de Mandacaru. Seu objetivo tem sido realizar ações e atividades de arte e cultura nos bairros mais carentes da cidade, levando entretenimento, diversão e lazer para comunidades em maior situação de risco e vulnerabilidade. O grupo atua em parceria das escolas, tendo muitas delas cedido espaço para ensaios, e apresentações. O grupo atua ainda em festas das instituições públicas como Prefeitura, Secretarias, APAE de Cariré e em escolas da zona rural. São aproximadamente 30 integrantes, dentre dançarinas, atores e produção. As crianças adolescentes e jovens que participam do pastoril frequentam oficinas de danças populares, tanto na prática como na teoria, bem como de oficinas de teatro, artesanato. Cariré realiza o NATAL DE LUZ, evento do Governo Municipal.[18]

Pastoril Filhas de Maria, Matriz de Camaragibe (AL)

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O grupo atua em Matriz de Camaragibe, Alagoas, sob coordenação de Zé Rubens dos Santos, também responsável pela Filarmônica Bom Jesus. Adolescentes integram a escola de música e tocam na Filarmônica. São oferecidas aulas de música: teoria musical e orquestra de flauta doce.[19]

Pastoril Mariinha da Ló, Trairi (CE)

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O grupo surgiu com o engajamento da Mestra Mariinha da Ló, nascida em Trairi, Ceará, em 1939.[20] As primeiras apresentações ocorreram em pátios escolares e quintais de casas do município de Paracuru. Com o apoio de jovens voluntários e a conduta dos gestores do município, o grupo é reconhecido no Ceará e registrado na Secretaria de Cultura do estado. Desde 2006 a mestra participa dos encontros de mestres do mundo promovidos pelo governo do estado do Ceará, e também do Ceará Natal de Luz e da mostra regional e Estadual. Em 2016 a mestra Mariinha da Ló foi homenageada pelo evento na Praça do Ferreira, em Fortaleza, momento que enalteceu o valor e o reconhecimento da mestra.[21] Mariinha foi agraciada em 2008 com o título de “Tesouro Vivo do Ceará” e, em 2016, om o título de “Notório Saber em Cultura Popular” pela Universidade Estadual do Ceará (UECE), em 2016.[20]

Pastorinhas de Pirenópolis, Pirenópolis (GO)

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Figurino de Diana, personagem do auto As Pastorinhas encenado durante Festa do Divino Espírito Santo, em Pirenópolis, 2013.

A peça teatral foi introduzida em Pirenópolis, Goiás, pelo telegrafista nordestino Alonso Machado.[22] Maestro de banda, Mestre Joaquim Propício de Pina fez os arranjos das músicas. A peça foi encenada pela cidade pela primeira vez em 1923, durante Festa do Divino, que ocorre em maio ou junho, e a tradição de apresentar o auto natalino nesta época se manteve.[23]

O auto possui 46 canções e doze árias. A história começa com Simão, Benjamin, Diana e as pastoras recebendo a notícia do nascimento de Jesus enquanto se divertiam nos campos. Partem então para Belém. No caminho, encontram o demônio. O anjo Gabriel impede a tentativa de sedução da contra-mestra (uma das pastoras). Ocorre encontro com Cigana, que lhes pede esmolas (é costume do público jogar doces e moedas à cigana). Ao encontrarem o Menino-Deus, as pastoras oferecem flores, se ajoelham e O adoram. Durante os preparativos para o retorno, surgem personagens alegóricos: a Fé, a Esperança, a Caridade e a Religião. A Religião sofre um atentado de morte por parte do demônio, que tem ação novamente impedida pelo anjo Gabriel. A apoteose final é a vitória da Religião sobre o demônio e o canto das pastoras, adorando o Menino.[23]

Participam do elenco as filhas de famílias locais, no papel das 24 pastoras que integram o cordão vermelho e o cordão azul, além das demais personagens femininas. Aos homens cabem os papéis de Simão (o velho, que foi representado por Pompeu de Pina por mais de 30 anos), Benjamin (o menino) e Luzbel (o capeta). Uma pequena orquestra participa do espetáculo. Participar desse espetáculo é o sonho mais acalentado pelas meninas de Pirenópolis, que brincam de pastorinhas desde cedo.[24] Durante a década de 80, Aspásia de Pina Jayme, descendente do Maestro Propício de Pina, montou um grupo infantil de pastorinhas como uma brincadeira de fundo de quintal entre suas sobrinhas. Assim teve início "As Pastorinhas - Infantil", auto que tem sido encenado no período natalino. Existem portanto, duas Pastorinhas: a infantil, representada por crianças de idade de 10 a 12 anos e a juvenil, representada por jovens de 15 anos ou mais. A Pastorinha mais tradicional é a juvenil.[22]

Desdobramentos

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Alguns estudiosos brasileiros atribuem ao auto pastoril a origem de outro folguedo brasileiro: o bumba-meu-boi. Dentre estes estudiosos, está Guilherme de Melo, que no livro "A Música do Brasil", página 59, aponta a origem portuguesa do o bumba-meu-boi, como variante do "Monólogo do Vaqueiro" que Gil Vicente, apresentado em 1502.[25]

Ver também

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Ligações externas

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Referências

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  1. a b c d e f g h i j k l «PINTO, Mércia. Pastoril: estabilidade e mudança numa festa popular brasileira. Em pauta, v. 13, n. 20, p. 49-94, jun. 2002.» 
  2. a b c Cascudo, Luís da Câmara (1954). Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro. pp. 479–480 
  3. Lamas, Dulce Martins (1978). Pastorinhas, Pastoris, Presépios e Lapinhas. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora Ltda. p. 28 
  4. Andrade, Mário de (1951). Danças Dramáticas do Brasil. São Paulo: Livraria Martins Editora. p. 339 
  5. Lamas, Dulce Martins (1978). Pastorinhas, Pastoris, Presépios e Lapinhas. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora Ltda. pp. 30–31 
  6. BORBA FILHO, Hermilo (2007). Espetáculos populares do Nordeste. Recife: Editora Massangana 
  7. Lamas, Dulce Martins (1978). Pastorinhas, Pastoris, Presépios e Lapinhas. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora Ltda. p. 23 
  8. Lemos, Fernanda (1 de janeiro de 2013). «Gênero na Lapinha: Uma Dança de Tradição Religiosa». Mandrágora. Consultado em 26 de junho de 2024 
  9. Lamas, Dulce Martins (1978). Pastorinhas, Pastoris, Presépios e Lapinhas. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora Ltda. pp. 21–22 
  10. Molla, Lourenço (23 de janeiro de 2009). «Forró em Vinil». Forró em Vinil .com. Consultado em 25 de junho de 2024 
  11. Santos, Ivanildo Lubarino Piccoli dos (2008). Os palhaços das manifestações populares brasileiras: Bumba Meu Boi, Cavalo Marinho, Folia de Reis e Pastoril Profano. São Paulo: Dissertação (mestrado) Universidade Estadual Paulista – UNESP. p. 114  line feed character character in |título= at position 53 (ajuda)
  12. «Lapinha Santa Clara - Memória, Valores e Tradição» (PDF). Mapa Cultural do Ceará. Consultado em 28 de junho de 2024 
  13. «Mestra Dona Tatai». Fundação Waldemar Alcântara. Consultado em 28 de junho de 2024 
  14. a b c Caldas, Paulo José Afonso (2008). O Núcleo de Cultura Popular “Céu na Terra” e sua relação com gêneros e repertórios musicais tradicionais (PDF). Rio de Janeiro: Monografia submetida ao Instituto Villa-Lobos da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, 
  15. «Natal Luz em Santa Teresa tem encenação do pastoril Céu na Terra». VEJA RIO. Consultado em 14 de junho de 2024 
  16. Reis, Estêvão Amaro dos (1 de janeiro de 2015). «INVENÇÃO DA TRADIÇÃO NOS NOVOS CONTEXTOS DE PERFORMANCE: O PASTORIL DONA JOAQUINA E O FESTIVAL DO FOLCLORE DE OLÍMPIA». Consultado em 26 de junho de 2024 
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  20. a b secultpaulasouza (17 de agosto de 2023). «Lançamento do documentário - Pastoril da Mestra Mariinha da Ló: História e Memórias do nosso Patrimônio». Secretaria da Cultura. Consultado em 25 de junho de 2024 
  21. Morais, Maria do Carmo Menezes (03 de outubro de 2022). «Pastoril Mariinha da Ló». Mapa Cultural do Ceará - Secretaria de Cultura - Governo do Estado do Ceará. Consultado em 25 de junho de 2024.  Verifique data em: |acessodata=, |data= (ajuda)
  22. a b Oliveira, Pedro. «As Pastorinhas de Pirenópolis». www.pirenopolis.com.br. Consultado em 13 de junho de 2024 
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  25. Lamas, Dulce Martins (1978). Pastorinhas, Pastoris, Presépios e Lapinhas. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica Editora Ltda. p. 25