Maria Carlota Quintanilha

arquitecta portuguesa

Maria Carlota de Carvalho e Quintanilha, conhecida como Maria Carlota Quintanilha (11 de novembro de 1923 em Coimbra, Portugal) é uma arquiteta portuguesa.

Maria Carlota Quintanilha
Nascimento 11 de novembro de 1923
Coimbra
Morte 2015
Cidadania Portugal
Progenitores
Cônjuge João José Tinoco
Alma mater
Ocupação arquiteta
Empregador(a) Escola Preparatória General Machado

Vida editar

Maria Carlota Quintanilha nasceu no dia 11 de Novembro de 1923, em Coimbra, a cidade universitária portuguesa. Era filha da bióloga Maria Suzana de Carvalho e do cientista Aurélio Quintanilha.[1][2][3][4]

Após o divórcio dos pais fica a viver com o pai. Quando este se exila na Alemanha e em França, devido ao facto de ser contra o Estado Novo, ela e a irmã vão com ele. A sua madrasta, Lucya Tiedtke, mãe do seu irmão Alexandre Quintanilha, terá uma forte influência na sua educação.[5] O início da Segunda Guerra Mundial faz com que regresse a Portugal onde irá morar em Lisboa com a mãe que era professora no Liceu Feminino Filipa de Lencastre.[1]

Depois de concluir o ensino médio, Quintanilha começou a estudar arquitectura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, sentindo que não é bem aceite no meio académico lisboeta por ser mulher, transfere-se para a equivalente no Porto, onde se forma em 1953, com 17 valores. O seu projecto final, um jardim infantil em Vila real, mostra a sua preferência uma arquitectura moderna.[1][6][7] No mesmo ano casa-se com João José Tinoco e parte com ele para para Cunene, no sul da colónia portuguesa em Angola. Lá trabalhou como arquitecta a solo e em projectos com o marido.[2][8][9][10]

Em 1956, Quintanilha e Tinoco mudaram-se para a capital da colónia portuguesa de Moçambique, a ex- Lourenço Marques (hoje Maputo). Lá ensinou design e geometria descritiva em várias escolas secundárias e profissionais, nomeadamente na Escola Industrial, na Escola Comercial, na Escola Preparatória do Ensino Secundário General Joaquim José Machado, na Escola Preparatória Feminina de Lourenço Marques e no Liceu de António Enes. Ao mesmo tempo, desenhou várias obras para clientes privados e governamentais, parte delas em colaboração com o marido Tinoco e o amigo Alberto Soeiro.[1][3][7][8][11]

Em 1972, Quintanilha regressa a Portugal, trazendo consigo a sua experiência e conhecimento do clima tropical de Angola e Moçambique que aplica em projectos arquitectónicos para o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil).[1]

Em 1973, foi trabalhar no Ministério da Educação e Investigação Científica, a partir daí e durante a década de 1980, elabora estudos prévios visam a ampliação e intervenção em equipamentos escolares.[1]

O marido morre em 1983 e ela reforma-se em 1989.[1][3][8]

Trabalho editar

 
Aeroporto Porto Amélia [actual Pemba], projectado na década de 1960 com João José Tinoco
  • 1953–56: Participação na construção da barragem de Biópio, Angola[12]
  • 1953–56: Dois blocos de apartamentos em Sá da Bandeira, em Lubango, Angola
  • 1956: Pavilhão de Agricultura na EAEM, na ex-Lourenço Marques[9]
  • 1957: Sede do Grupo Desportivo do Alto-Maé, na antiga Lourenço Marques, Moçambique[8]
  • 1958–59: Sede dos Serviços de Aeronáutica de Lourenço Marques, actual Maputo
  • 1959: Pavilhão de Moçambique na Central Trade Fair de Bulawayo, na Rodésia (actual Zimbabwe) [9]
  • 1960-1970: Aeroportos de Nampula e Porto Amélia (actual Pemba), em colaboração com João José Tinoco e Alberto Soeiro[13][14][15]
  • 1962–66: Palácio das Repartições do Distrito de Niassa, Vila Cabral, Lichinga.[1][9][16]
  • 1963: Sede do Governo, Porto Amélia, Cabo Delgado, Moçambique[17]
  • 1965: Instituto do Algodão, Lourenço Marques (actual Maputo).[1]
  • 1965: Palácio das Repartições do Distrito de Cabo Delgado, Porto Amélia, Pemba[9]
  • 1963–66: Plano de urbanização de João Belo [Xai-Xai][1]
  • 1964–67: Plano de urbanização para Inhambane e Maxixe[1]
  • 1972: Instituto de Investigação Agronómico de Moçambique (IIAM)[1]
  • 1972: Casa-Tipo em Moçambique
  • 1972: Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e Indústria (SNECI)[1]
  • 1972: Estância de repouso em Namaacha.[1]

Reconhecimento e Homenagens editar

Em 2020 é criado o Prémio de Mérito Carlota Quintanilha, pela Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, que visa promover nas novas gerações o interesse pela formação e investigação em Projectos de Arquitectura.[18]

Bibliografia Passiva editar

  • Ana Vaz Milheiro, Maria Carlota Quintanilha: uma arquitecta em África. In: Jornal de Arquitectos, Ordem dos Arquitectos. 242, Jul –Sep 2011, ISSN 0870-1504, pp. 20–25.
  • Tiago Almeira, Arquitectura e Binário, 1940-1979: As (in)visibilidades das mulheres na arquitectura portuguesa, Dissertação[19]

Referências editar

  1. a b c d e f g h i j k l m n Gonçalves, Clara Germana. «No ritmo: a arquitectura». arquivo.jornalarquitectos.pt. Jornal Arquitectos. Consultado em 24 de junho de 2020 
  2. a b Santos, André; Ferreira, Maria João (2010). «Maria Carlota Quintanilha: uma arquitecta portuguesa na África moderna» (PDF). Joelho - Revista de Cultura Arquitectónica. ISSN 1647-9548. Consultado em 24 de junho de 2020 
  3. a b c «Correspondência de Maria Carlota Quintanilha - AHS». www.ahsocial.ics.ulisboa.pt. Consultado em 24 de junho de 2020 
  4. PeoplePill. «Maria Carlota Quintanilha: Portuguese architect (born: 1923 - died: n/a)». PeoplePill (em inglês). Consultado em 24 de junho de 2020 
  5. «Um casamento deste mundo - DN». www.dn.pt. Consultado em 24 de junho de 2020 
  6. Escola Superior de Belas Artes do Porto, 1950-1992; Curso de Arquitectura, 1950-1979 (11 de maio de 1953). «Um jardim-infantil» 
  7. a b Mulher arquitecta na África Colonial portuguesa: Maria Carlota Quintanilha e Maria Emília Caria, Colóquio Internacional Conhecimento e Ciênica Colonial, Novembro 2013 https://coloquiocienciacolonial2013.files.wordpress.com/2013/10/10-filipa-fic3baza.pdf
  8. a b c d Tostões, Ana. Arquitetura moderna em África : Angola e Moçambique. Casal de Cambra: 1959. ISBN 978-989-658-240-1. OCLC 900467251 
  9. a b c d e Cortês, Carla (2011). Moderno Brasileiro em Moçambique - 1950-1975: importação de uma imagem (PDF). Recife: [s.n.] pp. 118, 151, 117, 196, 198, 199 
  10. Portela, Rita (2013). «Feminino Tropical - Maria Emília Caria e o Urbanismo no Ultramar». Issuu (em inglês). ISCTE. pp. 18,19,134,151. Consultado em 24 de junho de 2020 
  11. «Maputo : maltewandel». www.maltewandel.de. Consultado em 24 de junho de 2020 
  12. Ramos, Tânia Beisl; Matos, Madalena Cunha; Lee, Rachel (14 de dezembro de 2012). URBANA: Revista Eletrônica do Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Cidade. 4. [S.l.: s.n.] 152 páginas 
  13. Lourenço, Tiago (2012). «Aeroporto de Nampula». www.monumentos.gov.pt. SIPA – Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Consultado em 24 de junho de 2020 
  14. Tiago. «Aeroporto de Pemba». www.monumentos.gov.pt (em inglês). Lourenço. Consultado em 24 de junho de 2020 
  15. «HPIP». www.hpip.org. Consultado em 24 de junho de 2020 José Manuel Fernandes. «Aerogare» 
  16. Miranda, Elisiário (2016). «Modernidade, progresso e permanência: infraestruturas de arquitetura moderna na antiga província ultramarina de Moçambique». Actas do 2º Congresso Internacional de História da Construção Luso-Brasileira: 1121, 1126, 1127. ISBN 978-989-8527-11-0. Consultado em 24 de junho de 2020 
  17. «Sede do Governo de Cabo Delgado». www.hpip.org. HPIP. Consultado em 24 de junho de 2020 
  18. «Regulamento do Prémio de Mérito Carlota Quintanilha». Diário da República Eletrónico. Consultado em 24 de junho de 2020 
  19. Arquitectura e Binário, 1940-1979 As (in)visibilidades das mulheres na arquitectura portuguesa, Dissertação Final, Lisboa, 2017 http://recil.grupolusofona.pt/bitstream/handle/10437/8626/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Tiago%20Almeida%20FINAL%20-%20Aprovada%20j%C3%BAri.pdf?sequence=1