Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva

banqueiro português

Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva ComCGCCComB (São Sebastião da Pedreira, Lisboa, 12 de novembro de 1900Santos-o-Velho, Lisboa, 2 de fevereiro de 1955) foi um banqueiro, economista, grande amador de arte, mecenas e desportista português.[1]

Ricardo Ribeiro do Espírito Santo Silva
Nascimento12 de novembro de 1900
São Sebastião da Pedreira, Lisboa Reino de Portugal
Morte2 de fevereiro de 1955 (54 anos)
Santos-o-Velho, Lisboa, Portugal
OcupaçãoBanqueiro, mecenas

Biografia

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Família

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Nasceu a 12 de novembro de 1900 e foi batizado a 28 de janeiro de 1901 na freguesia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa. Nasceu filho ilegítimo do rico negociante cambista José Maria do Espírito Santo Silva, fundador, em 1883, da sociedade Silva, Beirão, Pinto & Cia., que deu origem, no decorrer dos tempos, por sucessivas transformações, às firmas J. M. do Espírito Santo Silva & Cia. e Espírito Santo Silva & Cia., ambas do maior prestígio, transformada esta última, em 1920, no Banco Espírito Santo, depois Banco Espírito Santo & Comercial de Lisboa, uma das entidades financeiras e bancárias de maior importância na vida portuguesa; e Rita de Jesus Ribeiro (Arcossó, Chaves, 20 de agosto de 1866 — Coração de Jesus, Lisboa, 12 de agosto de 1951).[2] Apenas foi legitimado por casamento dos pais, ocorrido a 18 de abril de 1907, na igreja paroquial de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia.[3][4][5][1][6] Seu irmão, Manuel Ribeiro do Espírito Santo Silva, sucedeu-lhe à frente do banco.

Carreira bancária

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Licenciou-se em Ciências Económicas e Financeiras, com altas classificações, no Instituto Superior de Contabilidade, Economia e Finanças da Universidade Técnica de Lisboa. Foi o sucessor direto de seu pai na gestão de importantes negócios a que emprestou os seus grandes conhecimentos, especial tato administrativo e o prestígio da sua forte personalidade social. Em 1932, sucede a seu irmão, José Ribeiro do Espírito Santo Silva, na liderança do Banco Espírito Santo (BES), até à sua morte em 1955. Durante o período em que presidiu ao BES, o banco funde-se com o Banco Comercial de Lisboa, passando a designar-se por Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa, em 1937, uma das entidades financeiras e bancárias de maior importância na vida portuguesa, na primeira fila das organizações congéneres. Em 1944 era Presidente do Conselho de Administração e da Direção daquele último banco. Para além de banqueiro, Ricardo do Espírito Santo também foi Presidente da Comissão Executiva da Sociedade Anónima Concessionária da Refinação de Petróleos em Portugal (Sacor), empresa petrolífera portuguesa, do Conselho de Administração da Sociedade Agrícola do Cassequel, etc. Foi Diretor do Grémio dos Bancos e Casas Bancárias e foi Presidente da Assembleia Geral da Sociedade de Ciências Económicas, de Lisboa.[1][6]

Mecenato

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Ricardo do Espírito Santo foi, também, um homem dedicado às artes e à cultura, tendo coleccionado diversas pinturas, mobiliário e tapeçarias. Em 1953, cria a Fundação Ricardo do Espírito Santo, uma "Escola-Museu de Artes Decorativas", instalada no Palácio Azurara, em Alfama, Lisboa, que viria a doar ao Estado português. Foi o seu primeiro presidente do Conselho Directivo. Organizou um ano depois, em 1954, uma importante exposição de ourivesaria portuguesa em Paris.[6]

Publicou, na imprensa da especialidade, muitos e autorizados artigos sobre assuntos económicos e, especialmente, bancários, e assuntos de arte antiga, sobretudo pintura, pois foi um dos conhecedores mais notáveis do seu meio, sendo possuidor de vastas e belas coleções de pintura, mobiliário, tapeçarias, etc, que tornaram a sua opulenta residência em Cascais uma das mais belas de Portugal e notável entre as mais notáveis da Europa, frequentada pela grande sociedade e as mais altas personalidades, havendo sido seu hóspede o Duque de Windsor, Eduardo, antes de ser enviado às Bahamas como Governador.[1] Como apaixonado colecionador e grande especialista de História da Arte, patrocinou a publicação de várias obras, entre as quais o Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses, de Fernando de Pamplona, as Obras-Primas da Pintura Flamenga em Portugal, de Luís Reis Santos, e a reedição da Cerâmica Portuguesa, de José Queirós e, de colaboração com J. Lloyd Hyde, e com ilustrações originais de Eduardo Malta, preparou a obra Chinese Porcelain for the European Market, que só foi publicada em 1956, no ano seguinte ao da sua morte.[6]

Carreira desportiva

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Homem multifacetado e grande desportista eclético, praticou diversos desportos como o ténis e ganhou algumas taças de esgrima, foi Capitão, por várias vezes, da equipa portuguesa de golfe, e da equipa de golfe do Estoril, sendo campeão nacional desta modalidade em 1933. Foi Presidente do aristocrático Sporting Clube de Cascais e gozou da merecida reputação de um dos mais extraordinários jogadores de bridge portugueses, com fama no estrangeiro.[1]

Condecorações

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Possuiu muitas e altas condecorações,.[7][1][6] entre elas:

Country Rank Honour Ribbon
Portugal Grand Cross Ordem de Cristo  
Portugal Commander Ordem de Cristo  
Portugal Commander Ordem de Merito  
Holy See Knight Commander Pontifical Equestrian Order of St. Gregory the Great  
Romania Commander Ordem da Estrela da Romenia  
France Officer Legião de Honra  

Segunda Guerra Mundial

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Durante a Segunda Guerra Mundial, não obstante a ascendência judaica de sua mulher, Ricardo do Espírito Santo Silva chegou a ser considerado, pelo MI6, um agente alemão, relacionado com a estadia, entre Junho e Outubro de 1940, do Duque de Windsor (denominação dada após a abdicação à Coroa Britânica ao Rei Eduardo VIII) com a sua mulher Wallis Simpson, em casa do banqueiro português. Existe, por outro lado, um telegrama do embaixador alemão em Madrid, enviado ao ministro dos Estrangeiros, Ribbentrop, a informá-lo de que se havia posto «em contacto com o nosso confidente, e anfitrião do Duque, o banqueiro Ricardo Espírito Santo Silva».[8]

Casamento e descendência

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A 17 de julho de 1919, casou civilmente em Lisboa com a sua co-cunhada Mary Cohen ou Mary de Moraes Sarmento Cohen (Coração de Jesus, Lisboa, 8 de Março de 1903 — Cascais, Cascais, 22 de Agosto de 1979)[9], meia-sobrinha do 1.º Barão de Sendal, filha de pais ingleses e naturais Lisboa, Benjamin Cohen, negociante, e de Maria da Conceição Sarmento ou Maria da Conceição Pinto de Pereira Coutinho Moraes Sarmento Cohen, doméstica[10][11][5], da qual teve quatro filhas:

Morreu a 2 de fevereiro de 1955, aos 54 anos, no Hospital da CUF, sito na Travessa do Castro, n.º 3, freguesia de Santos-o-Velho, em Lisboa, vítima de enfarte do miocárdio. Foi sepultado inicialmente no Cemitério dos Prazeres e, em 1960, trasladado para o mausoléu do Parque Marechal Carmona, em Cascais.[9]

Toponímia

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Tem diversos arruamentos com o seu nome:

Referências

  1. a b c d e f Vários. Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. 10. [S.l.]: Editorial Enciclopédia. 290 
  2. «Rita de Jesus Ribeiro de Oliveira Simões». Find a Grave. Consultado em 18 de junho de 2025 
  3. «Livro de registo de batismos da paróquia de São Sebastião da Pedreira - Lisboa (1901)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. 14 e 14v, assento 25 
  4. «Livro de registo de legitimações da paróquia de São Sebastião da Pedreira - Lisboa (1906-1909)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. 1 e 1v, assento 1 (de 1908) 
  5. a b «Livro de registo de casamentos da 3.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa (1919-01-01 - 1919-09-28)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. fls. 144 e 144v, assento 144 
  6. a b c d e José Maria Raposo de Sousa Abecassis (1990). Genealogia Hebraica. II Beniso - Fresco, Cohen 1.ª ed. Lisboa: Edição do Autor. 580 
  7. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Ricardo Ribeiro do E. Santo Silva". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 7 de julho de 2014 
  8. Pimentel, Irene (22 de abril de 2009). «Judeus em Portugal Durante a II Guerra Mundial». Destaques » Dossiê: Ligações secretas de Salazar. Revista Sábado. Consultado em 9 de março de 2010. Cópia arquivada em 9 de março de 2010 
  9. a b «Livro de registo de óbitos da 6.ª Conservatória do Registo Civil de Lisboa (1955-01-01 - 1955-06-30)». digitarq.arquivos.pt. Arquivo Nacional da Torre do Tombo. p. fls. 23v, assento 46 
  10. José Maria Raposo de Sousa Abecassis (1990). Genealogia Hebraica. II Beniso - Fresco, Cohen 1.ª ed. Lisboa: Edição do Autor. 580-1, 584-5 e 586-7 
  11. Jorge Eduardo de Abreu Pamplona Forjaz (1987). Os Monjardinos 1.ª ed. Angra do Heroísmo: Edição do Autor. 148 
  12. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Rodrigo Barbosa Araújo Leite de Faria". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 7 de julho de 2014 
  13. «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Estrangeiras». Resultado da busca de "Rodrigo Barbosa Araújo Leite de Faria". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 7 de julho de 2014 

Referências bibliográficas

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  • Redacção Quidnovi, com coordenação de José Hermano Saraiva, História de Portugal, Dicionário de Personalidades, Volume XIX, Ed. QN-Edição e Conteúdos, S.A., 2004
 
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Ligações externas

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