O SMS Hindenburg foi um cruzador de batalha operado pela Marinha Imperial Alemã e a terceira e última embarcação da Classe Derfflinger, depois do SMS Derfflinger e SMS Lützow. Sua construção começou em outubro de 1913 no Estaleiro Imperial de Wilhelmshaven e foi lançado ao mar em agosto de 1915, sendo comissionado em maio de 1917. Era armado com uma bateria principal de oito canhões de 305 milímetros montados em quatro torres de artilharia duplas, tinha um deslocamento de mais de 31 mil toneladas e alcançava uma velocidade máxima de 27 nós.

SMS Hindenburg
 Alemanha
Operador Marinha Imperial Alemã
Fabricante Estaleiro Imperial de Wilhelmshaven
Homônimo Paul von Hindenburg
Batimento de quilha 1º de outubro de 1913
Lançamento 1º de agosto de 1915
Comissionamento 10 de maio de 1917
Destino Deliberadamente afundado em
21 de junho de 1919; desmontado
Características gerais (como construído)
Tipo de navio Cruzador de batalha
Classe Derfflinger
Deslocamento 31 500 t (carregado)
Maquinário 4 turbinas a vapor
22 caldeiras
Comprimento 212,8 m
Boca 29 m
Calado 9,5 m
Propulsão 4 hélices
- 72 000 cv (53 000 kW)
Velocidade 27 nós (50 km/h)
Autonomia 6 100 milhas náuticas a 12 nós
(11 300 km a 22 km/h)
Armamento 8 canhões de 305 mm
14 canhões de 149 mm
4 canhões de 88 mm
4 tubos de torpedo de 600 mm
Blindagem Cinturão: 100 a 300 mm
Convés: 30 a 80 mm
Torres de artilharia: 270 mm
Casamatas: 150 mm
Torre de comando: 300 mm
Tripulação 44 a 58 oficiais
1 068 a 1 130 marinheiros

A construção do Hindenburg foi atrapalhada pelo andamento da Primeira Guerra Mundial e assim ele só foi finalizado próximo do fim do conflito. Consequentemente, o navio nunca entrou em combate e participou de apenas algumas operações da Frota de Alto-Mar entre 1917 e 1918. A Alemanha foi derrotada em novembro de 1918 e a embarcação foi internada no mesmo mês na base britânica de Scapa Flow. Permaneceu no local até 21 de junho de 1919, quando foi deliberadamente afundado por sua tripulação. Seus destroços foram reflutuados em 1930 e desmontados.

Características editar

 Ver artigo principal: Classe Derfflinger
 
Desenho da Classe Derfflinger

A Classe Derfflinger foi autorizada pela quarta Lei Naval para o ano fiscal de 1911, com seu projeto tendo sido iniciado no começo de 1910. Os cruzadores de batalha britânicos estavam na época sendo construídos com canhões de 343 milímetros, assim oficiais graduados do comando da Marinha Imperial Alemã chegaram à conclusão que um aumento do tamanho de suas armas principais de 283 para 305 milímetros seria necessário. O número de canhões foi reduzido de dez para oito comparado ao predecessor SMS Seydlitz com o objetivo de impedir que os custos crescessem muito, porém foram instalados em um arranjo mais eficiente. O Hindenburg foi o terceiro e último membro da classe, alocado para o programa de construção de 1913.[1]

O Hindenburg era ligeiramente maior que seus dois navios irmãos, tendo 212,5 metros de comprimento da linha de flutuação e 212,8 metros de comprimento de fora a fora. Tinha uma boca de 29 metros e um calado que ficava entre 9,2 e 9,57 metros. Seu deslocamento normal era de 26 947 toneladas, enquanto o deslocamento carregado chegava a 31,5 mil toneladas. Seu sistema de propulsão era composto catorze caldeiras duplas a carvão e oito caldeiras a óleo combustível que alimentavam quatro conjuntos de turbinas a vapor, cada uma girando uma hélice de três lâminas. A potência indicada era de 72 mil cavalos-vapor (53 mil quilowatts) para uma velocidade máxima de 27 nós (cinquenta quilômetros por hora). Sua autonomia era de 6,1 mil milhas náuticas (11,3 mil quilômetros) a uma velocidade de cruzeiro de catorze nós (26 quilômetros por hora). Sua tripulação era normalmente composta por 44 oficiais e 1 068 marinheiros, mas como capitânia este número crescia em catorze oficias e 62 marinheiros adicionais.[2]

O armamento principal era formado por oito canhões calibre 50 de 305 milímetros montados em quatro torres de artilharia duplas, duas sobrepostas à vante e duas sobrepostas à ré.[3] As torres de artilharia do Hindeburg eram do modelo Drh LC/1913, uma versão aprimorada da Drh LC/1912 instalada em seus irmãos, possuindo uma elevação máxima de dezesseis graus,[4] dois graus e meio a mais que o modelo anterior. Isto permitia um alcance de dois quilômetros a mais em seus disparos.[5][nota 1] Sua bateria secundária tinha catorze canhões calibre 45 de 149 milímetros em casamatas e quatro canhões calibre 45 de 88 milímetros. Também era equipado com quatro tubos de torpedo de seiscentos milímetros. O cinturão principal de blindagem tinha trezentos milímetros de espessura na parte central da cidadela onde protegia os depósitos de munição e salas de máquinas. O convés tinha entre trinta e oitenta milímetros, com a parte mais espessa se inclinando para baixo nas laterais para se encontrar com a extremidade inferior do cinturão. As torres de artilharia tinham frentes de 270 milímetros e as casamatas tinham proteção de 150 milímetros. A torre de comando de vante tinha laterais de trezentos milímetros.[2]

História editar

 
A cerimônia de lançamento do Hindenburg em 1º de agosto de 1915

O Hindenburg foi construído pelo Estaleiro Imperial de Wilhelmshaven e concebido para ser um substituto do antigo cruzador protegido SMS Hertha. Seu batimento de quilha ocorreu em 30 de junho de 1913 e foi lançado ao mar em 1º de agosto de 1915, porém mudanças de prioridades na construção naval durante a Primeira Guerra Mundial adiou sua finalização para 10 de maio de 1917, momento em que já era muito tarde para que participasse de qualquer operação significativa.[6] A inteligência naval britânica acreditava na época que seu comissionamento demorou tanto porque algumas de suas partes foram removidas para reparar seu irmão SMS Derfflinger depois da Batalha da Jutlândia em meados de 1916.[7] Na realidade, a construção prosseguiu lentamente por escassez de trabalhadores.[8]

Primeiras ações editar

Foi o último cruzador de batalha completado pela Alemanha e consequentemente teve uma carreira muito curta. Tornou-se totalmente operacional em 20 de outubro de 1917. O Hindenburg, o cruzador de batalha SMS Moltke e os cruzadores rápidos do II Grupo de Reconhecimento atuaram em 17 de novembro como suporte distante para draga-minas próximos do litoral alemão quando estes foram atacados por navios britânicos, incluindo os cruzadores de batalha HMS Repulse, HMS Courageous e HMS Glorious.[9] O ataque foi breve e as embarcações britânicas já tinham recusado e ido embora quando o Hindenburg e o Moltke chegaram. O Hindenburg substituiu o Seydlitz como a capitânia do I Grupo de Reconhecimento no dia 23.[8]

As forças rápidas da Frota de Alto-Mar começaram a interceptar comboios britânicos para a Noruega no final de 1917.[nota 2] Os cruzadores rápidos SMS Brummer e SMS Bremse tinham interceptado um comboio em 17 de outubro, afundando nove dos doze cargueiros e dois dos contratorpedeiros de escolta. Quatro barcos torpedeiros alemães emboscaram outro comboio em 12 de dezembro, afundando todos os cinco cargueiros e um dos dois contratorpedeiros de escolta.[10] O almirante David Beatty, comandante da Grande Frota, destacou dois de seus couraçados para proteger os comboios.[11] Isto deu à Marinha Imperial uma oportunidade de atacar e afundar uma parte isolada da numericamente superior Grande Frota. O vice-almirante Franz von Hipper planejou uma operação em que os cruzadores de batalha do I Grupo de Reconhecimento, mais cruzadores rápidos e barcos torpedeiros, iriam atacar um dos comboios grandes enquanto o resto da Frota de Alto-Mar permaneceria pronta para atacar a esquadra de couraçados britânicos.[12]

A frota alemã partiu da rada de Schillig às 5h00min de 23 de abril de 1918 com o Hindenburg na vanguarda. Hipper ordenou que transmissões por rádio se mantivessem no mínimo a fim de impedir que a inteligência britânica os detectasse.[12] Os cruzadores de batalha chegaram às 6h10min em uma posição sessenta quilômetros ao sudoeste de Bergen quando o Moltke perdeu uma de suas hélices. O eixo da hélice começou a girar cada vez mais rápido por não estar mais enfrentando resistência da água, fazendo com que um motor se despedaçasse. Estilhaços danificaram várias caldeiras e abriram um buraco no casco, fazendo a embarcação parar de navegar.[13] Sua tripulação realizou reparos temporários que permitiram que voltasse a navegar a quatro nós (7,4 quilômetros por hora). Entretanto, foi decidido que o couraçado SMS Oldenburg rebocasse o Moltke. Hipper continuou para o norte e a força cruzou a rota do comboio várias vezes até às 14h00min sem encontrarem embarcação alguma. Dez minutos depois foi decidido voltar para casa, com eles chegando aos campos minados defensivos de suas bases às 18h37min. Foi descoberto depois que o comboio tinha partido um dia antes do que o esperado.[12]

Últimas ações editar

 
O Hindenburg navegando para Scapa Flow em 21 de novembro de 1918

Hipper foi promovido a almirante em 11 de agosto e recebeu o comando de toda a Frota de Alto-Mar. O contra-almirante Ludwig von Reuter o substituiu como comandante da I Grupo de Reconhecimento, fazendo do Hindenburg sua capitânia no dia seguinte.[8]

O cruzador de batalha faria parte do que em essência seria uma "missão suicida" da Frota de Alto-Mar pouco antes do final da Primeira Guerra Mundial. A maior parte da frota teria partido de sua base em Wilhelmshaven com o objetivo de enfrentar a Grande Frota. A intenção do almirante Reinhard Scheer era infligir o máximo de dano possível à Marinha Real Britânica, desta forma conquistando uma melhor posição de barganha para a Alemanha, não importando o custo para a frota.[14] O plano envolveria dois ataques simultâneos por cruzadores rápidos e barcos torpedeiros, um em Flandres e outro em navios mercantes no estuário do rio Tâmisa. O Hindenburg e os outros quatro cruzadores de batalha alemães sobreviventes dariam apoio a este segundo. A frota depois disso se concentraria próxima do litoral holandês, onde encontraria a Grande Frota para uma batalha. Entretanto, marinheiros cansados da guerra começaram a deserdar em massa enquanto a frota se reunia em Wilhelmshaven.[15] Aproximadamente trezentos tripulantes do Derfflinger e SMS Von der Tann pularam para fora de seus navios e desapareceram em terra enquanto passavam pelos eclusas que separavam a rada do porto interno de Wilhelmshaven.[16]

A ordem para deixar Wilhelmshaven foi dada em 24 de outubro, porém marinheiros de vários couraçados se amotinaram a partir da noite do dia 29. Três embarcações da III Esquadra de Batalha se recusaram a partir e atos de sabotagem foram cometidos a bordo dos couraçados SMS Helgoland e SMS Thüringen. A ordem de partir foi rescendida e a operação planejada abandonada diante de uma revolta aberta.[17] As esquadras da Frota de Alto-Mar foram dispersas em uma tentativa de subjugar o motim.[16]

Destino editar

 
O Hindenburg naufragado em 1919

Um armistício entre a Alemanha e os Aliados foi assassinado em 18 de novembro, com um de seus termos exigindo que a maior parte da Frota de Alto-Mar fosse internada na base britânica de Scapa Flow, incluindo o Hindenburg e os cruzadores de batalha. As embarcações a serem internadas – catorze navios capitais, sete cruzadores rápidos e mais de cinquenta barcos torpedeiros – deixaram a Alemanha em 21 de novembro.[18] Entretanto, antes de sua partida, o almirante Adolf von Trotha deixou claro a Reuter, que tinha recebido o comando dos navios a serem internados, de que ele de forma alguma deveria permitir que os Aliados tomassem as embarcações.[19] Os alemães se encontraram com o cruzador rápido britânico HMS Cardiff, que por sua vez os levou para uma frota Aliada que os escoltou até Scapa Flow. A enorme flotilha era formada por aproximadamente 370 navios britânicos, norte-americanos e franceses.[20]

A frota permaneceu em cativeiro durante as negociações do Tratado de Versalhes. Uma cópia do The Times informou Reuter que os termos do armistício iriam expirar ao meio-dia de 21 de junho de 1919, o prazo máximo para a Alemanha assinar o tratado de paz. Reuter concluiu que os britânicos tentariam tomar seus navios depois dessa data.[nota 3] Ele decidiu afundar as embarcações na primeira oportunidade a fim de impedir suas tomadas. A frota britânica deixou Scapa Flow na manhã de 21 de junho para realizar manobras de treinamento, com Reuter transmitindo as ordens para seus navios às 11h20min.[19] O Hindenburg foi o último a naufragar às 17h00min. Seu oficial comandante tinha deliberadamente arranjado para que ele afundasse de forma nivelada para facilitar o escape de sua tripulação.[22] O cruzador de batalha foi reflutuado em 23 de julho de 1930 depois de várias tentativas, sendo desmontado em Rosyth entre 1930 e 1932. Seu sino foi preservado e presenteado para a Marinha Alemã em 28 de maio de 1959.[6]

Notas

  1. As torres Drh LC/1912 foram modificadas em 1916 para aumentar sua elevação máxima para também dezesseis graus.[5]
  2. O Reino Unido tinha prometido enviar 230 mil toneladas de carvão mensalmente para a Noruega.[10]
  3. Os termos do armistício tinham nessa altura sido estendidos até 23 de junho, porém há debates se Reuter sabia disso. O vice-almirante britânico Sydney Fremantle afirmou que contou isto a Reuter na noite do dia 20, porém Reuter afirmou que não estava sabendo sobre esse desenvolvimento.[19][21]

Referências editar

  1. Dodson 2016, pp. 91–92
  2. a b Gröner 1990, pp. 56–57
  3. Gröner 1990, p. 56
  4. Campbell 1978, p. 57
  5. a b Staff 2006, p. 36
  6. a b Gröner 1990, p. 57
  7. Campbell 1978, p. 56
  8. a b c Staff 2006, p. 42
  9. Campbell & Sieche 1986, p. 40
  10. a b Massie 2003, p. 747
  11. Massie 2003, pp. 747–748
  12. a b c Massie 2003, p. 748
  13. Staff 2006, p. 17
  14. Tarrant 2001, pp. 280–281
  15. Massie 2003, p. 774
  16. a b Massie 2003, p. 775
  17. Tarrant 2001, pp. 281–282
  18. Herwig 1998, p. 254
  19. a b c Herwig 1998, p. 256
  20. Herwig 1998, pp. 254–255
  21. Bennett 2005, p. 307
  22. Van der Vat 1986, p. 177

Bibliografia editar

  • Bennett, Geoffrey (2005). Naval Battles of the First World War. Londres: Pen & Sword Military Classics. ISBN 978-1-84415-300-8 
  • Campbell, N. J. M. (1978). Battle Cruisers: The Design and Development of British and German Battlecruisers of the First World War Era. Col: Warship Special. 1. Greenwich: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-130-0 
  • Campbell, N. J. M.; Sieche, Erwin (1986). «Germany». In: Gardiner, Robert; Gray, Randal. Conway's All the World's Fighting Ships 1906–1921. Londres: Conway Maritime Press. ISBN 978-0-85177-245-5 
  • Dodson, Aidan (2016). The Kaiser's Battlefleet: German Capital Ships 1871–1918. Barnsley: Seaforth Publishing. ISBN 978-1-84832-229-5 
  • Gröner, Erich (1990). German Warships: 1815–1945. I: Major Surface Vessels. Annapolis: Naval Institute Press. ISBN 978-0-87021-790-6 
  • Herwig, Holger (1998) [1980]. "Luxury" Fleet: The Imperial German Navy 1888–1918. Amherst: Humanity Books. ISBN 978-1-57392-286-9 
  • Massie, Robert K. (2003). Castles of Steel: Britain, Germany, and the Winning of the Great War at Sea. Nova Iorque: Ballantine Books. ISBN 0345408780 
  • Staff, Gary (2014). German Battlecruisers of World War One: Their Design, Construction and Operations. Barnsley: Seaforth Publishing. ISBN 978-1-84832-213-4 
  • Tarrant, V. E. (2001) [1995]. Jutland: The German Perspective. Londres: Cassell Military Paperbacks. ISBN 978-0-304-35848-9 
  • Van der Vat, Dan (1986). The Grand Scuttle: The Sinking of the German Fleet at Scapa Flow in 1919. Annapolis: Naval Institute Press. ISBN 978-0-87021-225-3 

Ligações externas editar