Sumatra

ilha da Indonésia
 Nota: Para a cidade fantasma do estado de Montana, veja Sumatra (Montana).

Sumatra ou Samatra[1][2][3][4][nota 1] (Sumatera ou Sumatra, em indonésio) é a sexta maior ilha do mundo e a maior ilha inteiramente pertencente à Indonésia. É uma das Grandes Ilhas da Sonda. A ilha tem cerca de 50 milhões de habitantes, distribuídos em aproximadamente 473 000 km².

Sumatra ou Samatra
1ºS 101ºE
Geografia física
País Indonésia
Ponto culminante Kerinci, 3 805 m
Área 473.481  km²
Geografia humana
População 59 185 500 (2021)
Densidade 96 hab./km²

Mapa topográfico de Sumatra

Etimologia e grafia editar

Na Antiguidade, a ilha era conhecida pelos nomes sânscritos de Swarnadwīpa ("ilha de ouro") e Swarnabhūmi ("terra de ouro"), provavelmente devido aos depósitos auríferos encontrados nas montanhas da ilha.[5] Entre os séculos X e XIII, os geógrafos árabes chamavam a ilha de Lamri (Lamuri, Lambri ou Ramni), uma referência a um reino próximo à atual Banda Achém, local em que os mercadores arribavam pela primeira vez ao chegar a Sumatra.

Segundo alguns autores, no final do século XIV a ilha passou a ser conhecida como Sumatra, devido ao reino muçulmano de Samudra. Outras fontes, porém, consideram obscura a etimologia do topónimo.[6] No século XIX, escritores europeus descobriram que os habitantes nativos não possuíam um nome para a ilha.[7]

Entre os europeus, o topônimo foi primeiramente registrado no século XIII pelo explorador veneziano Marco Polo no seu livro Il Milione.[8] Teria sua origem na palavra árabe samatrâ.[6] Documentos do período de expansão portuguesa na Ásia atestam as formas "Çamatarra",[9] "Samotra"[10] e "Çamatra"[11][12] (corrente no século XVI), até fixar-se na grafia atual "Samatra". Nos inícios do século XVII, o cartógrafo luso-malaio Manuel Godinho de Erédia escreveu que Samatra seria uma corruptela de Samata.[13] Os ingleses receberam o topónimo dos portugueses[6][14] e passaram a grafá-lo como Sumatra, tentando reproduzir a pronúncia portuguesa de "Samatra".

A forma Samatra é usada em Portugal,[14] enquanto no Brasil é mais comum a grafia Sumatra.[15]

História editar

Os primeiros austronésios chegaram a Samatra em cerca de 500 a.C., parte da expansão austronésia de Formosa para o sudeste da Ásia. Sua localização na rota comercial marítima entre China e Índia permitiu o desenvolvimento de diversas cidades mercantis, particularmente na costa oriental, que sofreram a influência das religiões indianas. Kantoli, um dos primeiros reinos na ilha, floresceu no século V na porção meridional de Samatra e veio a ser substituído pelo Império Serivijaia e, depois, pelo Reino de Samudra. Serivijaia foi uma monarquia budista cuja capital se situava no que é hoje Palimbão. Ao dominar a região por meio do comércio e das armas entre os séculos VII e IX, o império disseminou a cultura malaia na ilha, na península Malaia e na porção ocidental de Bornéu. Serivijaia era uma talassocracia, uma potência marítima que estendia sua influência de ilha em ilha. Palimbão tornou-se um centro académico, onde o peregrino budista chinês I Ching estudou sânscrito em 671, antes de partir para a Índia. Na sua viagem para a China, passou quatro anos em Palimbão, traduzindo textos budistas e escrevendo dois manuscritos.

A influência de Serivijaia reduziu-se no século XI. após a sua derrota pelo império de Chola, da Índia meridional. Samatra foi então conquistada por reinos javaneses, primeiramente Singassari e depois Majapait. É desta época a introdução do Islão na ilha, devido a contactos com mercadores árabes e indianos.

Na altura do final do século XIII, o governante do reino de Samudra tinha-se convertido ao Islão. Marco Polo visitou a ilha em 1292; ibne Batuta ali esteve em duas ocasiões, entre 1345 e 1346. Sucedeu a Samudra o poderoso Sultanato de Achém, que sobreviveu até o século XX. Com a chegada dos neerlandeses, muitos Estados principescos de Samatra gradualmente passaram ao controle dos Países Baixos. Achém, ao norte, tornou-se o maior obstáculo ao avanço neerlandês, o que levou à longa e custosa Guerra de Achém (1870-1905).

A ilha foi ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Após o conflito, Samatra passou a integrar o Estado independente da Indonésia.

Em 26 de dezembro de 2004, um maremoto de quase 15 m de altura devastou a costa ocidental de Samatra, em especial a província de Achém, causado por um terremoto de 9,2 pontos no oceano Índico. Mais de 170 000 mortes foram registradas na Indonésia. Em 2005, verificou-se um sismo secundário ao grande terremoto de 2004, desta vez de 8,7 pontos.

Geografia editar

 
Mapa de Samatra
 
Formações geológicas da ilha de Samatra

De formato oblongo, a ilha corre na direcção noroeste-sudeste por cerca de 1 790 km, cruzando o equador próximo do centro. No seu ponto mais largo, Samatra possui 435 km de largura. No interior da ilha, sobressaem duas regiões geográficas, os Barisan, a oeste, e planícies pantanosas, a leste.

Samatra é vizinha da ilha de Java, a sudeste, separadas pelo estreito da Sonda; da ilha de Bornéu, a leste, separadas pelo estreito de Karimata; e da península Malaia, ao norte, separadas pelo estreito de Malaca. Samatra é banhada pelo oceano Índico, a oeste.

A cordilheira dos Barisan forma a espinha dorsal da ilha, cujo ponto culminante é o monte Kerinci, com 3 805 m: um vulcão ativo, localizado na porção central da cordilheira. O vulcanismo na região dotou-a de terras férteis e de um belo panorama, como o lago Toba. A área também possui depósitos de carvão e ouro.

A leste, grandes rios carregam sedimento das montanhas, de modo a formar uma vasta área de terras baixas entremeadas com pântanos. Embora em geral não seja adequada para a agricultura, a região é de grande importância econômica para a Indonésia, pois produz petróleo e óleo de palma.

Samatra já foi em sua maior parte coberta por selva tropical, habitat para espécies como o orangotango, o tapir e o tigre-de-sumatra, além de algumas plantas singulares, como a Rafflesia. O desenvolvimento econômico, juntamente com a corrupção e a caça ilegal, constituem uma séria ameaça à sua existência, mesmo em áreas de conservação.

Demografia editar

Com 96 hab./km², a densidade populacional de Samatra é baixa. Mesmo assim, seus 45 milhões de habitantes tornam-na a quarta ilha mais populosa do planeta. As regiões mais densamente habitadas são Samatra do Norte e as regiões montanhosas centrais de Samatra Ocidental. Os principais centros urbanos são Medan e Palimbão.

A população compõe-se de diversos grupos étnicos, que falam 52 línguas diferentes. A maior parte daqueles grupos, porém, compartilha tradições semelhantes, e os diversos idiomas são na verdade muito próximos. A costa oriental é habitada principalmente por pessoas de língua malaia, enquanto que no interior ao sul e ao centro da ilha vivem grupos com línguas próximas ao malaio, como os lampung e os minangkabau. As áreas montanhosas do norte de Samatra abrigam o grupo dos bataks. Já a costa setentrional é habitada pelos achéns. Nos centros urbanos, há minorias de chineses étnicos.

A maioria da população de Samatra é de muçulmanos (87%), seguida de cristãos (10%), budistas (2%) e hindus (1%). O grupo étnico dos bataks constitui-se principalmente de cristãos protestantes, um legado da presença neerlandesa na história da Indonésia.

Administração editar

Samatra divide-se em dez províncias indonésias:

Notas

  1. Ambas as formas registradas no vocabulário da Academia Brasileira de Letras

Referências

  1. Machado, José Pedro. Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa. 3.º N-Z 2.ª ed. [S.l.]: Livros Horizonte/Editorial Confluência. ISBN 972-24-0845-3 
  2. Gonçalves, Rebelo (1947). Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa. Coimbra: Atlântida - Livraria Editora. p. 364 
  3. Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. ISSN 1830-7809. Consultado em 13 de janeiro de 2022 
  4. Correia, Paulo (Primavera de 2022). «Indomalásia e Wallaceia — regiões e sub-regiões biogeográficas» (PDF). a folha – Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. Consultado em 27 de julho de 2022 
  5. Drakard, Jane (1999). A Kingdom of Words: Language and Power in Sumatra. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 983560035X 
  6. a b c José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, verbete "Samatra".
  7. Reid, Anthony (2005). An Indonesian Frontier: Acehnese and Other Histories of Sumatra. [S.l.]: National University of Singapore Press. ISBN 9971692988 
  8. Marco Polo, Il Milione, Mondadori, Italia.
  9. Diário da Viagem de Vasco da Gama, p. 83, edição fac-similar de 1945, Porto, apud J.P. Machado.
  10. Carta de Jerônimo de Santo Estêvão, datada de 1 de setembro de 1499, apud J.P. Machado.
  11. Camões, Os Lusíadas, X, 124, apud J.P. Machado.
  12. As Décadas de João de Barros, Lisboa, 1974, apud J.P. Machado.
  13. Manuel Godinho de Erédia. Malaca, l'inde Méridionale et le Cathay. Reproduzida em fac-símile e traduzida do manuscrito original autógrafo de (...) por M. Léon Janssen com um prefácio de M. Ch. Ruelens, Bruxelas, Libraire Européenne C. Muquardt (et al.), 1882, cap. I, fl. 4.
  14. a b "Outra vez Sumatra vs. Samatra", Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, acessado em 11 de novembro de 2019.
  15. Dentre os dicionários brasileiros da língua portuguesa, o Dicionário Aurélio não registra a alternativa "Samatra", enquanto que o Dicionário Houaiss contém uma referência a "Samatra" (no verbete "Achém") e outras 20 à alternativa "Sumatra".