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Como ler uma infocaixa de taxonomiaArarinha-azul

Estado de conservação
Espécie extinta na natureza
Extinta na natureza (IUCN 3.1) [1]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Aves
Ordem: Psittaciformes
Família: Psittacidae
Género: Cyanopsitta
Bonaparte, 1854
Espécie: C. spixii
Nome binomial
Cyanopsitta spixii
(Wagler, 1832)
Distribuição geográfica

A ararinha-azul[2] (nome científico: Cyanopsitta spixii, do grego: kuanos "azul-piscina; ciano" + do latim: psitta, "papagaio"; e spixii, em homenagem a Johann Baptist von Spix)[3] é uma espécie de ave da família Psittacidae endêmica do Brasil. É a única espécie descrita para o gênero Cyanopsitta. Outros vernáculos associados a esta espécie são arara-azul-de-spix e arara-celeste. Habitava matas de galeria dominadas por caraibeiras associadas a riachos sazonais no extremo norte do estado da Bahia, ao sul do rio São Francisco. Todos os registros históricos para a espécie estão localizados nos municípios de Juazeiro e Curaçá na Bahia. Há relatos não confirmados da presença da ave nos estados de Pernambuco e Piauí.

C. spixii mede cerca de 57 centímetros de comprimento e possui uma plumagem azul, variando de tons pálidos a vividos ao longo do corpo. Pouco se conhece sobre sua ecologia e comportamento na natureza. Sua dieta consistia principalmente de sementes de pinhão-bravo e faveleira. A nidificação era feita em caraibeiras, em ocos naturais ou feitos por pica-paus. O período de reprodução estava associado a época das chuvas.

Em decorrência do corte indiscriminado de árvores da caatinga e do tráfico ilegal, a população se reduziu até restar um único indivíduo, que desapareceu em 2000-2001. Está seriamente ameaçada de extinção, existindo somente 240[4] indivíduos em cativeiro (em janeiro de 2022), tendo sido declarada extinta na natureza pelo governo brasileiro. Entretanto, embora reconheça que possivelmente a ararinha-azul possa estar "extinta na natureza", a União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) ainda a classifica como "em perigo crítico".[1] Em junho de 2016 foi registrado um indivíduo em matas ciliares de Curaçá, possivelmente libertado do cativeiro por algum morador local.[5]

Nomenclatura e taxonomia editar

Relações filogenéticas do gênero Cyanopsitta

Cyanopsitta

Orthopsittaca

Primolius

Ara

Cladograma inferido das sequências de DNA mitocondrial e nuclear proveniente de Tavares et al., 2006.

A primeira descrição da espécie foi feita por Johann Baptist von Spix em 1824 com o nome de Arara hyacinthinus.[6] No entanto, o epíteto específico estava pré-ocupado pelo Psittacus hyacinthinus descrito por John Latham em 1790.[7] Johann Georg Wagler, que foi assistente de von Spix na publicação do livro de 1824, substituiu o nome científico da espécie para Sittace spixii em 1832.[8] Em 1854, Charles Lucien Bonaparte descreveu um novo gênero para a espécie, o Cyanopsitta, recombinando o nome científico para Cyanopsitta spixii.[9]

Alguns livros constam que a ararinha-azul foi descoberta e coletada em abril de 1819, por Johann Baptist Ritter von Spix (em Juazeiro, Bahia), e subsequentemente descrita por Johann Wagler em 1832. A área exata de ocorrência da espécie, no entanto, permaneceu indefinida e só pôde ser determinada após a eventual redescoberta da espécie em 1986 por Paul Roth, que encontrou as três últimas aves nos riachos Barra Grande-Melancia, no município de Curaçá, no nordeste da Bahia.[10]

Ocasionalmente, a espécie foi inserida no gênero Ara.[11][12] Helmut Sick (1997) não considerava a Cyanopsitta spixii como uma arara, por suspeitar que a espécie possuía um maior relacionamento com as jandaias.[13] Análises moleculares demonstraram que o gênero Cyanopsitta está mais relacionado com os gêneros Primolius, Ara e Orthopsittaca do que com o Anodorhynchus e Aratinga.[14][15][16]

Distribuição geográfica e habitat editar

A espécie ocorria principalmente na margem sul do rio São Francisco em matas de galerias dominadas por caraibeiras (Tabebuia aurea). A área de registro histórico está situada na região do submédio São Francisco no noroeste da Bahia entre as cidades de Juazeiro e Abaré.[17] Os únicos registros confirmados estão nas proximidades da cidade de Juazeiro, onde o holótipo foi coletado em abril de 1819 por von Spix durante a Expedição Austríaca ao Brasil, e na área dos riachos Barra Grande-Melância no município de Curaçá, onde alguns indivíduos foram redescobertos em 1985-1986 e posteriormente em 1990.[17][18] Um registro não confirmado indicou também a presença da ave no riacho da Vargem situado nos municípios de Abaré e Chorrochó.[18][19] O único registro, baseado em informação local, ao norte do rio São Francisco no estado de Pernambuco, é proveniente do riacho da Brígida localizado nos municípios de Orocó e Parnamirim.[17][19] Dois registros são conhecidos para o estado do Piauí, um de 1903, quando Othmar Reiser relatou dois avistamentos próximos ao lago Parnaguá,[20] e outro em março-abril de 1975 na região de Serra Branca, por Niéde Guidon durante uma expedição arqueológica.[21]

Alguns autores consideravam a distribuição da ararinha-azul associada com os buritizais, indicando uma área de distribuição no sul do Piauí, extremo sul do Maranhão, noroeste de Goiás (hoje Tocantins), noroeste da Bahia e extremo sudoeste de Pernambuco.[22][23][24] Foi somente na década de 80 com a redescoberta da arara que observou-se que o habitat preferencial da ave estava associado com a caraibeira, que está restrita a margens e várzeas de riachos estacionais existentes na Caatinga, especialmente no submédio São Francisco.[18][19]

Características editar

 
Litografia feita por Joseph Smit em 1878.

A ararinha-azul mede de 55-60 centímetros de comprimento, possui uma envergadura de 1,20 metros e pode pesar de 286 a 410 gramas.[25] A plumagem possui vários tons de azul. O ventre tem um tom pálido a esverdeado enquanto o dorso, asas e cauda tons mais vividos. As extremidades das asas e cauda são pretas. A fronte, bochechas e região do ouvido são azul-acinzentados.[26] O loro e o anel perioftálmico são nus e a pele é de coloração cinza-escura nos adultos.[26] A cauda é proporcionalmente mais longa e as asas mais longas e estreitas que as demais araras.[13] O bico é inteiramente preto e os pés são marrom-escuros a pretos. A íris é amarela.[26]

O juvenil se diferencia do adulto por apresentar a cauda mais curta, a íris cinza, a faixa nua na face mais clara e uma faixa branca na frente do cúlmen do bico.[26][27] Essas diferenças desaparecem quando a ave atinge a maturidade sexual. Apresenta dimorfismo sexual, sendo as fêmeas menores que os machos, quanto a plumagem não há diferenças.[26][27]

Os animais jovens lembram os adultos, contudo são diferenciados pela cauda que não é tão longa, a íris que é cinza e o culmen do bico, que nos adultos é negro, bem como, tem uma faixa branca ou branco-acinzentada na frente. O bico se torna tão escuro quanto o de adultos com aproximadamente um ano de idade. A plumagem imatura também é de um azul mais tonificado acima da área facial nua (loros e anel ocular), branco-acinzentada. Apesar de muitos pesquisadores considerar que a ararinha-azul é uma espécie que apresenta dimorfismo sexual, outros garantem que são animais que  não existem dimorfismo sexual relatado.[10]

Ecologia e comportamento editar

 
Semente da faveleira.

As informações sobre a ecologia e o comportamento da ararinha são limitadas, já que as pesquisas só começaram na década de 80, quando somente três indivíduos restavam na natureza.[28] Os dados obtidos da observação dos três últimos espécimes foram insuficientes para a dedução de informação confiável sobre as necessidades biológicas e de habitat da espécie.[29]

A alimentação consistia de flores, frutos, polpa, seiva e principalmente de sementes, sendo ao todo identificados 13 espécies de plantas na dieta do último indivíduo observado na natureza.[27] A dieta era composta principalmente de sementes de pinhão-bravo (Jatropha mollissima) e faveleira (Cnidoscolus quercifolius) que representavam cerca de 81% da dieta.[19] Outros fontes alimentares incluíam as vagens da caraibeira (Tabebuia aurea) e da baraúna (Schinopsis brasiliensis), e os frutos do joazeiro (Zizyphus joazeiro), do pau-de-colher (Maytenus spinosa) e de facheiros e outras cactáceas (Pilosocereus spp.).[17][19]

De acordo com Barros (2001), que obteve registros de alimentação do último exemplar selvagem conhecido de ararinha-azul no período entre julho de 1997 e julho de 1999, foram utilizadas onze espécies vegetais como alimento: pinhão – Riacho da Melancia durante a estação seca (A) e durante a estação chuvosa, com a várzea alagada (B). A B (Jatropha mollissima), favela (Cnidoscolus phyllacanthus), juazeiro (Ziziphus joazeiro), baraúna (Schinopsis brasiliensis), imburana (Commiphora leptophloeos), facheiro (Pilosocereus piauhiensis), além de registros indiretos, por meio de sementes encontradas nas fezes: enxerto (Phoradendron sp.), caraibeira (Tabebuia aurea), angico (Anadenanthera macrocarpa), umbu (Spondias tuberosa) e unha-de-gato (Acacia paniculata). Entretanto, relatórios de pesquisadores que trabalharam anteriormente com a ararinha-azul adicionam outras duas espécies à lista, perfazendo um total de treze espécies: pau-de-colher (Maytenus rigida, Roth, 1990) e marizeiro (Geoffroea spinosa, Pontual, 1992b).[10]

A estação reprodutiva estava relacionada com a época das chuvas, ocorrendo de outubro a março. A espécie era dependente de árvores da espécie Tabebuia aurea onde nidificavam.[19] O ninho era feito em ocos naturais ou feitos por pica-paus (Campephilus melanoleucos) e normalmente de dois a três ovos eram postos. Relatos feitos na observação do último exemplar na natureza, revelou que a espécie pernoitava em facheiros (Pilosocereus spp.), possivelmente para proteção.[19] A longevidade máxima registrada foi de 27 anos em um indivíduo em cativeiro.[30]

Conservação editar

A ararinha-azul é classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como "em perigo crítico" (possivelmente extinta na natureza)[nota 1], na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (CITES) aparece no "Appendix I"[31] e pelo Ministério do Meio Ambiente como extinta na natureza desde 2002.[32]

O declínio populacional da espécie está associado com a perda do habitat, competição com abelhas africanizadas por ninhos, caça e tráfico de filhotes.[33] Durante as últimas décadas, o tráfico ilegal foi possivelmente a principal causa da extinção da espécie na natureza.[34] Outrossim, a manutenção de psitacídeos como animais de estimação é uma prática muito difundida afetando muitas espécies. Esse é o caso da ararinha-azul, uma espécie que atrai a atenção de todos, especialmente após o lançamento dos longas-metragens Rio e Rio 2, nos anos 2011 e 2014. É também uma das espécies mais emblemáticas da perda da biodiversidade brasileira.[35] De outra forma, a extinção se deu por conta de fatores, tais como: da intensa captura por traficantes desde o início do século XX, por causa da destruição da sua área de ocorrência; da  colonização e exploração da região ao longo do Rio São Francisco e da construção da barragem de Sobradinho, que pode ter alagado espaços ocupados pela ararinha azul .[36]

As iniciativas de conservação das ararinhas azuis só começaram em 1990, quando foi registrado o último indivíduo na natureza, a partir disso o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) criou o Comitê Permanente para a Recuperação da Ararinha-azul (CPRAA). No ano seguinte se iniciaram os trabalhos de campo para monitorar o último macho selvagem, o qual desapareceu em outubro de 2000. Coube ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) integrar os grupos existentes por meio do PAN Ararinha-azul. O PAN, em seu primeiro ciclo, detinha ações planejadas com objetivo de aumento da população manejada em cativeiro. Além disso, contava-se com ações de recuperação e conservação do habitat na área de ocorrência histórica da espécie, visando o início de reintroduções até 2021. Além disso, por meio do Programa Carteira Fauna, a Vale S.A. (mineradora multinacional brasileira) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) celebraram, em 2012, o Contrato de Patrocínio para a implementação do Projeto Ararinha na Natureza. O Projeto que vigorou até junho de 2019, implementou parte do PAN Ararinha-azul, com aporte de recursos no Programa Carteira Fauna de R$ 4.121.972,62. Em 2017 foi concluído o primeiro ciclo do PAN. O segundo ciclo (2019-2024) tem como objetivo geral “Realizar a reintrodução de ararinhas-azuis em sua área de ocorrência original até 2024, buscando seu aumento populacional contínuo e conservando habitat com envolvimento comunitário em práticas sustentáveis”.[35]

Reprodução em cativeiro editar

A ararinha-azul é uma das aves mais raras e protegidas do mundo.[25] Em 2010, o número oficial de espécimes em cativeiro chegou a 73, distribuídos em cinco instituições. Destes, apenas seis poderiam ser encontrados no Brasil, sendo que dois estavam no zoológico de São Paulo. Apesar de serem um casal, as ararinhas-azuis do Zoológico de São Paulo nunca tiveram filhotes.[carece de fontes?]

Em 2013, sete ovos foram fertilizados artificialmente, e dois deles desenvolveram filhotes, 26 dias depois. Em 2014, pela primeira vez, todos os três mantenedores produziram filhotes no mesmo ano e dois filhotes nasceram por incubação natural no Brasil. Em 2016, dois mantenedores externos produziram as primeiras ararinhas criadas pelos paisAs iniciativas de conservação das ararinhas azuis só começaram em 1990, quando foi registrado o último indivíduo na natureza, a partir disso o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) criou o Comitê Permanente para a Recuperação da Ararinha-azul (CPRAA). No ano seguinte se iniciaram os trabalhos de campo para monitorar o último macho selvagem, o qual desapareceu em outubro de 2000. Coube ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) integrar os grupos existentes por meio do PAN Ararinha-azul. O PAN, em seu primeiro ciclo, detinha ações planejadas com objetivo de aumento da população manejada em cativeiro. Além disso, contava-se com ações de recuperação e conservação do habitat na área de ocorrência histórica da espécie, visando o início de reintroduções até 2021. Além disso, por meio do Programa Carteira Fauna, a Vale S.A. (mineradora multinacional brasileira) e o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) celebraram, em 2012, o Contrato de Patrocínio para a implementação do Projeto Ararinha na Natureza. O Projeto que vigorou até junho de 2019, implementou parte do PAN Ararinha-azul, com aporte de recursos no Programa Carteira Fauna de R$ 4.121.972,62. Em 2017 foi concluído o primeiro ciclo do PAN. O segundo ciclo (2019-2024) tem como objetivo geral “Realizar a reintrodução de ararinhas-azuis em sua área de ocorrência original até 2024, buscando seu aumento populacional contínuo e conservando habitat com envolvimento comunitário em práticas sustentáveis”. Em 2017, finalmente, a população cativa começou a alcançar a estabilidade. Foram produzidos 20 filhotes em 2015, 23 em 2016 e 26 em 2017, totalizando o número recorde de 152 indivíduos em dezembro de 2017, sendo 11 no Brasil.[37]

Os pássaros resultam de um trabalho de pesquisadores para aumentar a população desses animais na natureza.[carece de fontes?]

Em agosto de 2018, 146 das cerca de 160 ararinhas-azuis que existem no mundo viviam na Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados, em Rüdersdorf, na Alemanha. 120 delas vieram do Catar, transferidas em razão da morte do mantenedor da Instituição Preservação da Vida Selvagem Al Wabra, o xeque Saud bin Mohammed al-Than, em 2014, bem como pelo embargo econômico imposto ao Catar por Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito e Bahrein, em 2017. A meta do criatório é produzir cerca de 20 ararinhas por ano.[38]

Projeto de reintrodução na natureza editar

Em outubro de 2014, o Brasil registrou o nascimento de duas Ararinhas-azul em um centro de conservação do interior de São Paulo, após 14 anos sem registros de nascimentos no país, de acordo com o Instituto Chico Mendes (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente.[carece de fontes?]

De acordo com o governo brasileiro existiam em 2015, dos exemplares em cativeiro, apenas 11 estão no Brasil. Segundo nota do ICMbio, em 2015, foi registrado o nascimento de dois filhotes da espécie em um centro de pesquisa no interior de São Paulo.[39]

Em junho de 2018, existiam cerca de 158 indivíduos. No mesmo ano, um acordo assinado entre o Ministério do Meio Ambiente e organizações conservacionistas da Bélgica (Pairi Daiza Foundation) e da Alemanha (Association for the Conservation of Threatened Parrots), estabeleceu a "repatriação" de 50 ararinhas-azuis de volta ao Brasil, com previsão de que os animais estivessem em território nacional no primeiro trimestre de 2019. Com esses indivíduos, esperava-se que até 2022 a ararinha-azul fosse reintroduzida na natureza.[40]

O projeto de reintrodução da ararinha-azul no Brasil incluiu a criação de duas unidades de conservação na Bahia: o Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-azul, em Curaçá, e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-azul, em Juazeiro, além de um trabalho de conscientização feito junto à população local e a construção de um centro de reprodução e readaptação.[38] Em 2021, um casal teve três filhotes na região da caatinga baiana. Em 13 de abril, nasceu o primeiro filhote de ararinha-azul, 20 anos após a espécie ser declarada extinta no país, e outros dois nasceram nos dias 06 e 09 de junho.[41]

De acordo com o ICMBio, no dia 11 de junho de 2022 8 ararinhas-azuis, que estavam em reabilitação no Refúgio da Vida Silvestre da Ararinha-azul, serão soltas na natureza. A estimação é que ainda mais ararinhas-azuis passem pelo mesmo processo no decorrer dos anos seguintes, até que a espécie atinja estabilidade populacional.[42]

Longevidade editar

Em cativeiro as aves mais velhas conhecidas são: Uma ave que teria chegado ao Zoológico de Nápoles em 1954 e sobreviveu até meados dos anos 80, alcançando um mínimo de 30 anos de idade (Juniper, 2002); a segunda ave teria sido um macho encontrado em 2002 no Colorado, nos EUA, enviado do Reino Unido por Gordon Cook, que estimou que a ave tivesse em torno de 28 anos em 2003 (Cook, 2003) — esta ave está hoje na Fundação Lymington, em São Paulo, e teria aproximadamente 34 anos, atualmente sem condições reprodutivas; e por fim uma fêmea que morreu em 2008, em São Paulo, aos 32 anos (Y. M. Barros, com. pess).[10]

Predadores editar

O predador mais perigoso para ararinhas-azuis adultas é o falcão-de-coleira (Falco femoralis). Outros predadores confirmados e potenciais seriam os rapinantes acauã (Herpetotheres cachinnans), gavião- -pernilongo (Geranospiza caerulescens), gavião-de-rabo-barrado (Buteo albonotatus), carcará (Caracara plancus) e corujão-orelhudo (Bubo virginianus). Além destes, podem ser citados os saguis (Callithrix penicillata e C. jacchus), o gambá (Didelphis albiventris), o gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi) e grandes aranhas e cobras.[10]

Impactos do birdwatching editar

 
ararinha-azul criada em cativeiro

A atividade de birdwatching, ou observação de aves, é uma une lazer e ciência cidadã. Essa prática proporciona características positivas nas regiões de destino dos viajantes e também em seus locais de origem, gerando impactos sociais, econômicos e ambientais positivos. Além do mais, tem probabilidade de gerar impactos diretos e indiretos negativos, relacionados à degradação do habitat e perturbação das aves, levando à alteração de comportamentos, diminuição da população ou extinção de espécies. No caso da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii), essa observação torna-se algo restrito, uma vez que a espécies encontra-se em extinção na natureza. Essa forma de observação de aves possui um forte potencial de impacto na economia, tanto no local onde as atividades se desenvolvem quanto no de moradia do visitante. Os impactos a economia não se restringe só aos itens citados anteriormente, mas também a viagens em si e da utilização dos equipamentos e serviços turísticos, os avituristas gastam em eventos e compra de artigos especiais (livros, guias, roupas, binóculos) isto tudo gera algum tipo de renda, favorecendo a economia local. Esse tipo mercado possui um perfil que, em geral, pode ser caracterizado como pessoas com poder aquisitivo acima da média e que viajam por longos períodos e em grupo. Além do lucro obtido pelo turismo, a observação de aves promove a chamada “ciência cidadã”, pois afora a atividade recreativa, ocorre coleta de dados a longo prazo. Contribui com a conservação da natureza, ao gerar receita e sensibilizar a população local ou visitante, por meio da educação ambiental. Todavia, a observação da vida selvagem pode ter impactos ecológicos negativos, dentre os quais pode-se citar o efeito Allee antropogênico, gerado por ações humanas diretas que colocam as espécies sob risco de extinção. As aves, especialmente as raras, são sensíveis a interferências externas, e o turismo pode perturbar os padrões de migração, reprodução, nidificação e alimentação. Um exemplo é o uso de play back para atrair as aves, o que provocar estresse nesses animais durante o período de reprodução, além de expor os ninhos a predadores– dado o fato que os adultos saem dos ninhos atraídos pelo som. A popularização da prática pode levar ao aumento escorrência e consequente pressão sob o ambiente naturais e comportamento avícola, além de outros danos. Levando em consideração a espécies debatida em questão, segundo o veterinário Camile Lugarini e outros autores, o estado de conservação da ararinha-azul pareceu ser superestimado historicamente. Em decorrência de sua beleza e raridade, a espécie foi vítima de colecionadores, sua captura se intensificou no século XX, levando a espécie a ser considerada vulnerável (1978), depois em perigo (1988), criticamente em perigo (1994-2018) e, finalmente, extinta na natureza (2019). Diante os impactos gerados pelos observadores de ave, algumas medidas devem ser tomadas para preservar a integridade e o sucesso da reprodução das ararinhas-azuis na natureza. Tendo em vista que é prevista a soltura em 2024 daquelas espécies que estão sendo criadas em cativeiros, pode haver fluxo de visitantes em busca do registro dessas aves, em um movimento de “first chance to see”.  A raridade tem forte influência no número de observadores de pássaros. Assim como destacado por Hvenegaard (2013), nesse contexto, gera-se um tipo de competição, para ver o animal pela primeira vez, mas que também pode ser a última. A raridade atrai mais visitantes, cujos impactos causam mais declínios na abundância da espécie, configurando um perigoso ciclo de retroalimentação. A raridade da ararinha azul, bem como a competição pela busca da sua visitação pode precipitar a extinção de espécies, devido ao aumento da pressão sobre ela e seu habitat, ainda mais com sua fragilidade biológica, visto que estará se adaptando a natureza. Em vista disso, a continuidade de ações de educação ambiental local deve ser cada vez mais elucidada, evitando um dano ainda maior a espécie. Ademais, a conservação da ararinha-azul, juntamente ao poder público municipal, setor privado e população local deverão encontrar um meio para que a reintrodução das aves na natureza não seja afetada por atividades antrópicas, incluindo o turismo. Bem como, destaca recomendações para mitigar impactos negativos por parte dos observadores, aos quais podem ser citados: aderir à conduta ética; evitar aproximação optando pelo uso de lentes teleobjetivas de longo alcance; não utilizar play back e evitar ser notado; não se aproximar mais quando for notado pelas aves; permanecer nas estradas, trilhas e caminhos estabelecidos; apoiar estabelecimentos locais de baixo impacto; contribuir para atividades de conservação das aves no local. Por se tratar de uma espécie frágil e que estará se adaptando à vida selvagem novamente, as ararinhas-azuis poderão sentir de forma mais intensa o impacto da observação em seus hábitos alimentares e reprodutivos, dessa forma, deve-se ser levada em consideração todas formas cabíveis para a observação da espécie.[43]

Aspectos culturais editar

 
Filme Rio

Rio é um filme de animação, dirigido por Carlos Saldanha (2011) que aborda de forma divertida, a trajetória de uma ararinha azul (Blu), que foi contrabandeada do Brasil para os EUA ainda jovem, sendo encontrada e adotada em Minessota – EUA, por uma jovem que a doméstica, tratando-a como humano, a ave sequer aprende a voar. Após 15 anos, perpassando por diversas situações, a ave retorna ao Brasil para acasalar com uma fêmea da sua espécie (Jade).  O filme é divertido, o enredo dinâmico, as cores são fascinantes e tudo acaba bem, pois ao final as araras azuis acasalam e ficam juntas com seus filhotes no contexto da Mata Atlântica. Os responsáveis pelas aves também ficam juntos e felizes. Contudo, a ararinha azul referida no enredo é a  Cyanopsitta spixii, ao qual aparece descontextualizada do seu habitat natural e apresenta características distintas das apresentadas pela espécie. Uma vez que, essa ave é nativa do bioma da Caatinga, sendo ela extinta da natureza, possuindo alguns exemplares distribuído pelo mundo, mas vivendo em cativeiro. O diretor Carlos Saldanha homenageia a ararinha azul (Cyanopsitta Spixii), mas cria uma desconstrução da ave ao referir-se a mesma como nativa do bioma Mata Atlântica, na Floresta da Tijuca. Mesmo sendo essa ave endêmica da Caatinga, com habitat limitado as florestas de galeria, em momento algum aparece citação do habitat da ave no filme, ou até mesmo sua origem geográfica. Essa é a história de um filme contextualizado no Rio de janeiro e de uma ararinha azul, descontextualizada do seu habitat. Com uma diversidade de cores e imagens associado a um enredo hilariante, durante o carnaval do Rio de Janeiro, o filme apresenta a cidade maravilhosa, como palco para desenvolvimento do enredo. Mas, grande parte das que aparecem no filme encontram-se geograficamente distribuídas nas diversas regiões do Brasil e da América do Su e não na Floresta da Tijuca como apresentado na animação. As informações sobre aves foram coletadas no acervo da ICMBio, 2012. No filme a ararinhas- azuis são diferentes, ao enquanto natureza é necessário características especificas para diferenciar os machos das fêmeas.[36]

Notas

  1. "Apesar desta espécie existir em várias populações cativas, o último indivíduo na natureza desapareceu no fim de 2000 (...) Entretanto, não pode ser presumida como Extinta na Natureza até que todas as áreas de habitat potenciais sejam cuidadosamente pesquisadas"[1]

Referências

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