Amade ibne Hambal
Amade ibne Maomé ibne Hambal Abu Abdalá Chaibani (em árabe: احمد بن محمد بن حنبل ابو عبد الله الشيباني; romaniz.: Ahmad ibn Muhammad ibn Hanbal Abu `Abd Allah al-Shaybani; Bagdá, dezembro de 780 - Bagdá, 2 de agosto de 855) foi um importante jurisconsulto e teólogo muçulmano. É considerado o fundador da escola Hambali de fiqh (jurisprudência islâmica). O imame Ahmad é um dos mais célebres teólogos sunitas, muitas vezes chamado de "Xeque do Islão"[1] ou "Imame do Sunismo", a principal autoridade sobre a doutrina ortodoxa. O imame Ahmad personificou a visão teológica dos primeiros estudiosos ortodoxos e, em particular, os fundadores das três escolas jurídicas antes dele, Hanafi, Maliqui e chafeíta.
Amade ibne Hambal | |
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Caligrafia do nome, “Amade ibne Hambal” | |
Nascimento | dezembro de 780 Bagdá (Califado Abássida) |
Morte | 2 de agosto de 855 (74–75 anos) Bagdá (Califado Abássida) |
Sepultamento | Ahmad ibn Hanbal Mosque |
Etnia | Árabes |
Filho(s) | Abdullah ibn Ahmad ibn Hanbal, Salih ibn Ahmad ibn Hanbal |
Ocupação | muhadiz, alfaqui, ulemá |
Obras destacadas | Musnad Ahmad ibn Hanbal |
Religião | Islão |
BiografiaEditar
Juventude e famíliaEditar
Amade ibne Hambal nasceu no Iraque.[2] Sua família era de origem árabe.[3] O pai de Ahmad foi um soldado de Bagdá, que morreu quando Ahmad era jovem.[4]
Ahmad teve duas esposas e de acordo com o imame Ahmad e seu filho mais velho, tornou-se mais tarde um cádi em Isfahan.[1]Ahmad tinha uma relação muito próxima com seus filhos, em especial, com seu filho mais velho, Salih. Foi dito que Ahmad recitava frequentemente o capítulo Al-Kahf do Alcorão, e que costumava recitar o capítulo sobre uma tigela de água e de fazer seu filho beber dela, sempre que este ficava doente.[4]
A busca do conhecimentoEditar
Ahmad mudou-se para o Iraque e estudou extensivamente em Bagdá, e depois usou suas viagens para dar continuidade à sua educação. Estava principalmente interessado em adquirir o conhecimento da Hádice e viajou através do Iraque, Síria e Arábia, estudando religião e coletando tradições do profeta Maomé. Suas viagens duraram vários anos. Ao voltar para casa, estudou com o imame Maomé ibne Idris Xafi sobre a lei islâmica.[5][6] Isto, e o fato de que era um estudioso da Hádice, foram responsáveis por sua profunda devoção à visão textual do Islã e sua oposição a qualquer tipo de inovação.[7] O imame Xafi, que era um gigante acadêmico em seu próprio direito, declarou:
"Deixei Bagdá, e não poderia ter deixado em meu lugar um homem melhor, com mais conhecimento, ou mais (compreensão) da fiqh, nem com maior taqwa (piedade), do que Amade ibne Hambal."[4]
Ibne Hambal passou quarenta anos de sua vida em busca do conhecimento, e só depois foi que assumiu a posição de mufti. Nessa altura, tinha domínio de seis ou sete disciplinas islâmicas, de acordo com Xafi. Tornou-se uma das maiores autoridades em Hádice e deixou uma colossal enciclopédia Hádice, Masnude Amade ibne Hambal, como uma prova viva da sua competência e dedicação a esta ciência. É também lembrado como um líder e o mais equilibrado crítico de Hádice do seu tempo. Manteve-se como o imame nas ciências do Alcorão, sendo autor de obras de exegese (Tafsir), de ciência da abrogação (al-Nasikh wal-Mansukh), bem como dos diferentes modos de recitações (Qira’at), preferindo alguns modos de recitação ao invés de outros, e até mesmo expressando desagrado para a recitação do Hâmeza devido ao seu alongamento exagerado das vogais. Ibne Hambal tornou-se um especialista principal da jurisprudência, já que teve o privilégio de beneficiar-se de alguns dos primeiros juristas famosos e de sua herança, como Abu Hanifa, Malique ibne Anas, Xafi, e muitos outros. Sua aprendizagem, piedade e fidelidade inabalável às tradições reuniu em torno de si um grande número de discípulos e admiradores. Ele ainda improvisou e desenvolveu a partir de escolas anteriores, tornando-se o fundador de uma nova escola independente de jurisprudência, conhecida como a escola Hambali. Alguns estudiosos, como Cutaiba ibne Saíde, observou que se ibne Hambal tinha testemunhado a era de Sufiane Tauri, Malique, Alauzai e Laite ibne Sade, teria superado todos eles. Apesar de ser bilíngue, tornou-se um especialista em língua árabe, poesia e gramática.[8][9]
MorteEditar
Depois que o imame Ahmad completou setenta e cinco anos, foi acometido de doença grave e febre, e ficou muito fraco, mas nunca reclamou de sua enfermidade e dor, até morrer. Apesar de sua debilidade, pedia a seu filho, Salih b. Ahmad, para ajudá-lo a levantar-se para as orações. Quando era incapaz de se levantar, orava sentado, ou às vezes deitado de lado. Depois de ouvir sobre sua doença, as massas afluíam à sua porta. A família real também mostrou o desejo de visitá-lo, e, para isso buscou a sua permissão. No entanto, devido ao seu desejo de permanecer independente da influência de qualquer autoridade, Ahmad negou-lhes o acesso. Na sexta-feira, dia 12 de Rabi' al-Awwal 241 AH, o lendário imam deu seu último suspiro. A notícia de sua morte se espalhou rapidamente por toda parte da cidade e as pessoas inundaram as ruas para assistir ao funeral de Ahmad.[9] Quando ele morreu, foi acompanhado até seu local de repouso por um cortejo fúnebre de oitocentos mil (800.000) a um milhão e trezentos mil homens (1.300.000), ou por cerca de dois milhões de pessoas (2.000.000), conforme foi estimado por alguns estudiosos presentes no funeral[10] e por sessenta mil mulheres (60.000), marcando a despedida do último dos quatro grandes imames mujtahid do Islã.[11][7][8][9]
A mihnaEditar
Ibne Hambal já era famoso antes da inquisição do califa abássida Almamune (786–833) - conhecida como a mihna. Almamune quis afirmar a autoridade religiosa do califa, forçando os principais estudiosos daquele tempo a admitirem que o Alcorão foi criado, em vez de incriado. Amade ibne Hambal foi um dos poucos estudiosos que se recusaram a ceder ao califa, defendendo o poder crescente do ulemá para decidir questões de Direito e Teologia.
ObrasEditar
Os seguintes livros são encontrados no Fihrist de ibn al-Nadim:
- Kitab al-`Ilal wa Ma‘rifat al-Rijal: "O Livro das Narrações Contendo Defeitos Ocultos e de Conhecimento dos Homens (de Hádice)" Riyad: Al-Maktabah al-Islamiyyah
- Kitab al-Manasik: "O Livro dos Rituais de Hajj"
- Kitab al-Zuhd: "O Livro de Abstinência", ed. Muhammad Zaghlul, Beirute: Dar al-Kitab al-'Arabi, 1994
- Kitab al-Iman: "O Livro da Fé"
- Kitab al-Masa'il: "Questões de Fiqh"
- Kitab al-Ashribah: "O Livro das Bebidas"
- Kitab al-Fada'il Sahaba: "Virtudes dos Companheiros"
- Kitab Tha'ah al-Rasul: "O Livro de Obediência ao Mensageiro"
- Kitab Mansukh: "O Livro de Abrogação"
- Kitab al-Fara'id: "O Livro dos Deveres Obrigatórios"
- Kitab al-Radd `ala al-Zanadiqa wa'l-Jahmiyya: "Refutações dos Hereges e dos Jahmitas "(Cairo: 1973)
- Tafsir: "Exegese"
- O Musnad
Notas
- ↑ a b Foundations of the Sunnah, por Amade ibne Hambal, pg 51-173
- ↑ Roy Jackson, "Fifty key figures in Islam", Taylor & Francis, 2006. p 44: "Abu Abdallah Ahmad ibn Muhammad ibn Hanbal ibn Hilal al-Shaybani nasceu em Bagdá no Iraque em 780"
- ↑ H. A. R. Gibb et al., eds. (1986). «Aḥmad B. Ḥanbal». Encylopaedia of Islam. A-B. 1 New ed. Brill Academic Publishers. p. 272. ISBN 90-04-08114-3.
Aḥmad B. Ḥanbal era um árabe, pertencente a Banū Shaybān, de Rabī’a,...
- ↑ a b c The Creed of the Four Imaams, seção 7, por Muhammad Ibn 'Abdur-Rahmaan al-Khumayyis
- ↑ [1]
- ↑ al-Dhahabi, Siyar A`lam al-Nubala’ 9:434-547 #1876 e Tadhkira al-Huffaz 2:431 #438
- ↑ a b http://www.turntoislam.com/forum/showthread.php?t=62851
- ↑ a b http://en.academic.ru/dic.nsf/enwiki/236905
- ↑ a b c http://www.islamicboard.com/islamic-history-biographies/34070-imaam-ahmad-ibn-hanbal.html
- ↑ «Cópia arquivada». Consultado em 9 de fevereiro de 2011. Arquivado do original em 13 de julho de 2011
- ↑ A Literary History of Persia from the Earliest Times Until Firdawsh por Edward Granville Browne – página 295
- Fontes primárias
- Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
- Chisholm, Hugh, ed. (1911). «Ahmad ibn Hanbal». Encyclopædia Britannica (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia Britannica, Inc. (atualmente em domínio público)
- Fontes secundárias
- Abu-al-Faraj Ibn Al-Jawzi, Manaqib al-Imam Ahmad
- Nadwi, S. A. H. A., Saviors of Islamic Spirit (Vol. 1), traduzido por Mohiuddin Ahmad, Academy of Islamic Research and Publications, Lucknow, 1971.
- Melchert, Christopher, Ahmad ibn Hanbal (Makers of the Muslim World), Oneworld, 2006.
Ligações externasEditar
- «Imame Ahmad ibn Hanbal: Vida & Madhab» (em inglês)
- «Diagrama dos professores e alunos do imame Ahmad ibn Hanbal» (em inglês)