Principado de Neuchâtel

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O Principado de Neuchâtel e Valengin (em francês: Principauté de Neuchâtel et Valengin, em alemão: Fürstentum Neuenburg und Valengin), foi um antigo estado pertencente ao Sacro Império Romano Germânico que corresponde, em termos gerais, ao atual cantão de Neuchâtel, na Suíça.

Fürstentum Neuenburg
Principauté de Neuchâtel

Principado de Neuchâtel

Principado do Sacro Império Romano-Germânico


1034 – 1848
Flag Brasão
Bandeira Brasão
Localização de Neuchâtel
Localização de Neuchâtel
Continente Europa
Região Suíça
Capital Neuchâtel
Governo Principado
Período histórico Idade Moderna
 • 1034 Fundação
 • 1648 Condado elevado a Principado
 • 1707 União dinástica com a Prússia
 • 1848 Proclamação da República e integração na Suíça

História editar

Formação e crises dinásticas editar

As origens do Principado remontam à época do rei Rodolfo III da Borgonha. Em 1011 fala-se da construção de um ”novo castelo“ (em latim: novum castellum, donde surgiria o nome francês[1]) situado no topo de um colina frente ao lago.[2] Ao falecer, sem herdeiros, em 1032, Neuchâtel é mencionado como uma das suas possessões que o imperador Conrado II acaba por incorporar no Sacro Império Romano-Germânico.

 
O castelo de Neuchâtel, que deu o nome à cidade.

Em 1034, o imperador Conrado II confiou o território a Ulrich von Fenis (que se passou a chamar Ulrich de Neuchâtel) convertendo-o no Condado de Neuchâtel. O objectivo era impedir o avanço de Rodolfo III da Borgonha, inimigo do imperador. Em 1046, a doação do condado foi confirmada pelo novo imperador Henrique III, o Negro.

A cidade de Neuchâtel, que fora destruída durante os confrontos de 1033 foi então, reconstruída. O condado começou a desenvolver-se e a expandir-se e, em 1374, todas as terras que formam o atual cantão de Neuchâtel tinham sido incorporadas no condado.

Em 1395, a última representante da família de Ulrich, Isabel de Neuchâtel, faleceu sem herdeiros e, por testamento, nomeou como sucessor Conrado IV de Friburgo. É neste período que tem origem as relações com os estados vizinhos que começavam a integrar a antiga Confederação Suíça: primeiro, com a união pessoal com Friburgo e, depois, com a aliança de 1406 com Berna, um dos mais poderosos cantões da região.

O filho de Conrado IV, João de Friburgo, vem a falecer sem herdeiros em 1457, o que originaria uma crise sucessória. Da disputa entre o príncipe de Orange Luís de Chalon (cunhado de João) e Rodolfo IV de Hachberg-Sausenberg, da Casa de Baden (parente de João), este último impôs-se como novo conde de Neuchâtel. O seu filho, Filipe de Hachberg-Sausenberg, casou-se com Maria de Saboia[3], neta materna de Luís XI de França, aliança que permitiu alcançar um largo período de estabilidade.

Governo dos Orleães-Longueville editar

 
Escudo da Casa de Orleães-Longueville.

Em 1503, com a morte de Filipe, sucedeu-lhe a sua filha, Joana de Hochberg. No ano seguinte, casou com Luís I de Orleães-Longueville, que passou a governar conjuntamente com a mulher. Neuchâtel entrou, assim, em união dinástica com o condado francês de Longueville, domínio de um ramo bastardo da casa real francesa, os Orleães-Longuevile.

Mas, dada a oposição entre os cantões aliados suíços e o reino de França, a Confederação invadiu e ocupou Neuchâtel em 1506 sob a direção de Berna. Luís I veio a morrer em 1516. Em 1529 os confederados retiraram-se de Neuchâtel mantendo uma forte influência no condado durante as décadas seguintes. Joana administrou o Condado até à sua morte, em 1543, ano em que foi sucedida pelo seu neto, Francisco III de Orleães-Longueville, com 8 anos de idade.

A 7 de dezembro de 1584, o senhorio vizinho de Valangin (que fora governado por um ramo da Casa de Neuchâtel) encontrava-se sob um grave conflito sucessório e teve que jurar fidelidade à regente de Neuchâtel, Maria de Bourbon, Condessa de Saint-Pol, sendo, então, incorporado definitivamente no condado.[4]

 
Henrique II de Orleães-Longueville

Mas foi no reinado de Henrique II de Orleães-Longueville que a dinastia se afirmou: em 1601, apenas com um ano de idade, iniciou o governo sob regência da sua mãe e da sua avó até 1617, ano em que atingiu maioridade e passou a governar sózinho. Henrique II manteve grande influência nas políticas continentais, sendo governador das províncias francesas da Picardia e Normandia, figura importante da época da Fronda e foi um dos principais negociadores da Paz de Vestfália, em 1648. Este tratado, garantiu a independência formal do seu estado de Neuchâtel face à Confederação Suíça (com quem mantinha fortes relações), elevando-o de Condado ao grau de Principado Soberano.

A Reforma Protestante, que fora introduzida pelo pregador francês Guillaume Farel em 1530, foi permitida oficialmente durante o reinado de Henrique II; a nova religião dos habitantes de Neuchâtel aproximá-los-ia mais aos vizinhos cantões Suíços e aos territórios alemães que à católica França.

Em 1663, com a morte de Henrique II, os problemas sucessórios continuaram. Os seus sucessores (filhos do seu segundo matrimónio com Ana Genoveva de Bourbon) ainda eram menores, pelo que a mãe atuou como regente. Esta regência foi contestada pela filha mais velha (do primeiro casamento) do duque, Maria Ana de Orleães-Longueville, também conhecida por Maria de Nemours[5], mas o Tribunal dos Três Estados manteve a regência de Ana Genoveva. Sucessivamente, os dois filhos (João Luís e Carlos Paris) governaram como príncipes sob regência da mãe.

Ao morrer, em 1694, João Luís de Orleães-Longueville, deixou por testamento o Principado de Neuchâtel ao seu primo materno Francisco Luís, Príncipe de Conti, sucessão logo contestada pela meia-irmã de João Luís, Maria de Nemours. O Tribunal dos Três Estados decidiu a favor de Francisco Luis mas, dado o forte apoio do povo de Neuchâtel, que temiam a anexação francesa caso o Príncipe de Conti fosse escolhido, Maria de Nemours tornou-se princesa de Neuchâtel, cargo que ocupou até à sua morte, em 1707[6].

Governo prussiano e dominação napoleónica editar

 
Mapa de Neuchâtel em 1737, durante o governo prussiano.

A morte de Maria gerou um novo vazio dinástico. Para evitar reeditar anteriores problemas, o Conselho de Estado de Neuchâtel decidiu eleger uma nova dinastia. Com o objetivo de afastar a influência francesa, de manter a autonomia e eliminar a pressão sobre os protestantes, a coroa foi entregue ao rei Frederico I da Prússia. Assim, a casa de Hohenzollern, que reinava no distante norte da Alemanha e tinha religião protestante, implementou uma união pessoal com o principado de Neuchâtel. Dada a distância, o rei prussiano nomeou um governador que atuaria em seu nome, mantendo as instituições próprias do principado.

 
Louis Alexandre Berthier, chefe-maior do Exército francês, nomeado Príncipe de Neuchâtel por Napoleão.

O governo prussiano durou quase um século, período em que floresceu o comércio e a cultura. Mas as Guerras napoleónicas interromperiam este processo e, a 15 de dezembro de 1805, pelo Tratado de Schönbrunn, Napoleão Bonaparte depôs Frederico Guilherme III da Prússia em Neuchâtel, nomeando o seu marechal Louis Alexandre Berthier como novo príncipe. A diferença para outros estados satélites foi que Berthier assumiu-se como príncipe soberano com direitos hereditários e, como se manteve afastado do território, delegou os seus poderes em François-Victor Lesperut. As tropas de Neuchâtel incorporadas no Grande Armée napoleónico ficaram conhecidas por Canários pela côr amarela dos seus uniformes.

Integração na Suíca editar

Após a derrota de Napoleão, o Congresso de Viena (1814) confirmou a independência da Confederação Suíça (que fora substituída pela república irmã, designada por República Helvética) e a incorporação de Neuchâtel nesta, se bem que mantendo a união pessoal da Prússia com o principado.[7]

Assim, Neuchâtel ficou numa situação especial dentro de Suíça, sendo o único cantão monárquico. As influências republicanas dos cantões vizinhos e a Revolução de Julho em França, originaram um conflito em Neuchâtel entre pró-prussianos e pró-republicanos. Estes últimos, no âmbito das revoluções de 1848, protagonizaram um golpe de Estado e estabeleceram um governo provisório, que alterou a bandeira por uma tricolor verde-branca-vermelha com a cruz suíça no extremo superior direito. Ness mesmo ano, a Suíça estabeleceu uma nova constituição que a converteu numa federação, com Neuchâtel como membro de pleno direito.

O rei Frederico Guilherme IV da Prússia respondeu com uma contra-revolução em 1856 que deu início à clamada Crise de Neuchâtel. O conflito esteve a passos de iniciar uma guerra civil em Neuchâtel que envolveria a Suíça e a Prússia, até que finalmente o rei decidiu renunciar à sua pretensão em 1857.

Soberanos editar

 
Desenho da estátua da tumba de Luís I de Neuchâtel (ao centro) junto a Joana de Monfalcone (esquerda) e Catarina de Neuchâtel-Urtières (direita)

Casa de Neuchâtel (1034-1395) editar

  • 1040-1070 : Ulrico I de Neuchâtel
  • 1070-1144 : Mangold I de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1144-1148 : Rodolfo I de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1148-1191 : Ulrico II de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1191-1196 : Rodolfo II de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1191-1225 : Ulrico III de Neuchâtel, irmão do anterior.
  • 1196-1259 : Bertoldo I de Neuchâtel, filho de Rodolfo II.
  • 1259-1263 : Rodolfo III de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1263-1278 : Ulrico IV de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1263-1283 : Henrique de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1283-1288 : Amadeu I de Neuchâtel, irmão do anterior.
  • 1288-1343 : Rodolfo IV de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1343-1373 : Luís I de Neuchâtel, filho do anterior.
  • 1373-1395 : Isabel de Neuchâtel, filha do anterior.

Casa de Friburgo (1395-1457) editar

Casa de Baden-Hachberg-Sausenberg (1457-1504) editar

Casa de Orleães-Longueville (1504-1707) editar

Casa de Hohenzollern (1707-1857) editar

Referências editar

  1. neu (novo) + chatel (castelo)
  2. LatLon-Europa. «Historia de Neuchatel» (PDF). Consultado em 17 de agosto de 2013 
  3. filha de Amadeu IX de Saboia e de Iolanda da França
  4. Matile, George-Auguste - Histoire de la Seigneurie de Valangin jusqu'à sa réunion à la Directe en 1592, 1852, Neuchâtel, Imprimerie de James Attinger
  5. nome do feudo do seu marido
  6. Henry, Philippe - Histoire du canton de Neuchâtel, Tomo 2: Le temps de la monarchie; politique, religion et société de la Réforme, Alphil-Presses universitaires suisses, Neuchâtel, 2011, ISBN 978-2-940235-85-8
  7. Ilse, Nicolas - Kreuzberger Impressionen, capítulo Militaria: Die Neffschandeller am Schlesischen Busch, Haude & Spener, Berlim, 1969, ISBN 3-7759-0205-8
  8. em França a sua família era designada por Hochberg

Fontes editar