República Socialista Soviética Quirguiz

República da União Soviética

A República Socialista Soviética Quirguiz (em quirguiz: Кыргыз Советтик Социалисттик Республикасы; romaniz.:Kyrgyz Sovettik Sotsialisttik Respublikasy; em russo: Киргизская Советская Социалистическая Республика; Kirgizskaya Sovetskaya Sotsialisticheskaya Respublika), também conhecida como Quirguízia Soviética, foi uma das repúblicas constituintes da União Soviética. Sem costa marítima e montanhoso, fazia fronteira com a RSS Tajique e com a China ao sul, RSS Uzbeque a oeste e RSS Cazaque ao norte.

República Socialista Soviética Quirguiz

Кыргыз Советтик Социалисттик Республикасы
Киргизская Советская Социалистическая Республика

República da União Soviética

19361990 
Bandeira
Bandeira
 
Emblema
Emblema
Bandeira Emblema
Lema nacional Proletários de todos os países, uni-vos!
Hino nacional Hino da RSS Quirguiz

Localização da RSS Quirguiz na União Soviética
Coordenadas da capital   42° 52' N 74° 37' E
Região Ásia Central
Capital Frunze
País atual Quirguistão

Línguas oficiais de facto quirguiz e russo
Outras línguas usbeque
Religião de jure estado secular
Religião de facto ateísmo de estado
Moeda rublo soviético

Forma de governo república socialista marxista-leninista unitária unipartidária
Primeiro Secretário do Partido Comunista da Quirguízia
• 1936–1937  Moris Belotsky (primeiro)
• 1985–1990  Absamat Masaliyev (útimo)
Chefe de Estado [★]
• 1936–1937  Abdukadyr Urazbekov (primeiro)
• 1990  Askar Akayev (útimo)
Chefe do governo
• 1936–1937  Bayaly Isakeyev (primeiro)
• 1991  Andrei Iordan (útimo)

História  
• 11 de fevereiro
de 1926
  Criação da RSSA Quirguiz
• 5 de dezembro
de 1936
  Elevação a República Soviética
• junho de 1990  Motins em Osh
• 30 de dezembro
de 1990
  Declaração de soberania
• 31 de agosto
de 1990
  Declaração de independência
• 26 de dezembro
de 1991
  Reconhecimento da independência

Área
 • 1989  199 951 km²

População
 • 1989   4 257 755  (est.)
     dens. pop. 21,3 hab./km²

[★] ^ Presidente do Soviete Supremo da RSS Quirguiz

Foi fundada em 1936, após a elevação da RSSA Quirguiz – que, por sua vez, originara-se do Oblast Autônomo Kara-Quirguiz, que pertencia à RSFS Russa — à categoria de república soviética. Em 1990, ocorreu um intenso conflito entre grupos étnicos quirguizes e uzbeques nas cidades de Osh e Uzgen, próximo à fronteira com a RSS Uzbeque. No mesmo ano, a república declarou sua soberania estatal, transformando-se, no ano seguinte, no Quirguistão independente. Uma nova constituição foi adotada em 1991.[contraditório]

Assim como as demais repúblicas soviéticas, era uma república socialista unitária de inspiração marxista-leninista, tendo um presidente ocupando o posto de chefe de estado e o presidente do conselho de ministros o de chefe de governo. Por toda sua existência, foi governada pelo Partido Comunista da Quirguízia, o o braço quirguiz do Partido Comunista da União Soviética e único partido político permitido pela lei.

O maior grupo étnico do país era o povo quirguiz, entretanto, devido ao grande número de deportações para o país, houve períodos de relevante variação étnica. Em 1991, o país apresentava, em sua composição demográfica, 22% de russos e 13% de uzbeques, tendo tido minorias chechenas, inguches, carachais e bálcaras. De maneira geral, o país era de maioria muçulmana e falante de línguas turcomanas.

Etimologia editar

Acredita-se que o nome "quirguiz" deriva da palavra túrcica para "quarenta", em referência aos quarenta clãs de Manas, um herói lendário que reuniu quarenta clãs regionais contra os uigures. O nome "quirguiz" significa "terra das quarenta tribos", a partir da junção de três palavras: quirg (kırk), que significa "quarenta", iz (uz), que significa "tribos" em túrcico oriental, e -tão, que significa "terra" em persa.[1] Oficialmente, o nome da república era República Socialista Soviética Quirguiz, como afirmam as constituições quirguizes de 1937 e 1978.

Em 30 de outubro de 1990, o país foi renomeado República Socialista da Quirguízia (ou Quirguistão), nome que durou até 15 de dezembro do mesmo ano. Após essa data, o termo "socialista" foi abandonado, tendo o país passado a se chamar República da Quirguízia, mantendo esse nome após a independência.[2] No dia 5 de maio de 1993, com a adoção de uma nova constituição,[contraditório] o país passou a se chamar oficialmente República do Quirguistão.

História editar

Fundada no dia 14 de outubro de 1924, como o Oblast Autônomo Kara-Quirguiz da RSFS Russa, foi transformada na República Socialista Soviética Autônoma Quirguiz (RSSA Quirguiz) em 1 de fevereiro de 1926, ainda sendo parte da RSFS Russa.[3] Suas fronteiras, no entanto, não foram delimitadas levando-se em consideração os grupos étnicos e linguísticos da região.[4]

Em 5 de dezembro de 1936, com a adoção da constituição soviética de 1936, tornou-se uma república constituinte da União Soviética sob o nome República Socialista Soviética Quirguiz, durante os estágios finais das delimitações fronteiriças da URSS.[5]

Quando a Quirguízia se formou, seu território foi separado em distritos. No dia 21 de novembro de 1939, cinco oblasts foram criados: Jalal-Abad, Issyk-Kul, Osh, Tyan Shan, e Frunze.[6] O oblast de Tyan Shan deixou de existir em 1962, quando o resto do país (com a exceção de Osh) foi dividido em distritos de subordinação republicana. Em 1970, os oblasts de Issyk-Kul e Naryn (a antiga Tien Shan) foram definidos, e, em 1980, foi definido o oblast de Talas. Em 1988, os oblasts de Naryn e Talas foram novamente abolidos, sendo restaurados em 1990. Ao mesmo tempo, Jalal-Abad e Chui (o antigo oblast de Frunze) foram refundados. Estes distritos são mais conhecidos por sua intensa aplicação de fertilizantes nas plantações após a independência.[7]

O massacre de Osh, em 1990, enfraqueceu o governo central. No mesmo ano, no dia 15 de dezembro, o país foi renomeado República da Quirguízia após declarar sua soberania. Em 17 de março de 1991, a Quirguízia apoiou a manutenção da URSS em um referendo, com um expressivo percentual de 95,98%.

Contudo, isto não aconteceu, quando conservadores do Partido Comunista tomaram o controle de Moscou por 3 dias em agosto de 1991 em uma tentativa de golpe de Estado. Askar Akayev, primeiro presdente do país inequivocamente condenou o golpe, passando a ter uma imagem de um líder democrático. O país declarou sua independência no dia 31 de agosto de 1991 e a União Soviética desfez-se formalmente em 26 de dezembro de 1991.[8] A constituição soviética de 1977, no entanto, ainda estava em vigor mesmo após sua independência.

Em 5 de maio de 1993 foi adotada uma nova constituição,[contraditório] abolindo o Estado criado em 1936, instituindo oficialmente a República do Quirguistão.

Geografia editar

 
Mapa do Quirguistão, que coincide com o da RSS Quirguiz

A RSS Quirguiz era um país encravado localizado na Ásia Central soviética, fazendo fronteira com a RSS Cazaque, a RSS Tajique, a RSS Uzbeque e a China. É o país mais distante do mar do mundo, e todos os seus rios fluem em sistemas de drenagem fechados, não desaguando no mar. O sistema de cordilheiras de Tian Shan cobre mais de 80% do país, sendo o restante do território constituído de vales e bacias.[9]

O lago Issyk-Kul, situado a nordeste de Tian Shan é o maior lago do país e o segundo maior lago de montanha do mundo, atrás apenas do lago Titicaca. As montanhas mais altas situam-se na cordilheira de Kakshaal-Too, formando a fronteira da república com a China. Jengish Chokusu, com 7 439 m de altura, é o pico mais alto do território quirguiz, e é considerado por geólogos o pico com mais de 7 000 m mais ao norte do mundo. As intensas nevascas do inverno levam a grandes cheias na primavera, que geram problemas para as regiões ribeirinhas. O escoamento superficial das montanhas também é usado para geração hidroelétrica.

Política editar

Similarmente às demais repúblicas soviéticas, o governo quirguiz adotou a forma de governo de uma república socialista unipartidária, com o Partido Comunista da Quirguízia (uma ramificação do Partido Comunista da União Soviética) sendo o único partido político legal. O Primeiro Secretário do Partido Comunista da Quirguízia era o chefe do partido, enquanto que o Presidente do Presidium do Soviete Supremo servia como chefe de estado e o Presidente do Conselho de Ministros como chefe de governo.

Demografia editar

Em 1926, a RSS Quirguiz tinha 1 002 000 habitantes. Em 1939, foram registradas 1 458 000 pessoas. A população do país cresceu significativamente nas décadas do pós-guerra; a república tinha 2 065 837 habitantes em 1959, 2 932 805 em 1970 e 3 529 030 em 1979. No último censo soviético, em 1989, a RSS Quirguiz tinha 4 257 755 habitantes.[10] O maior grupo étnico do país era o povo quirguiz, entretanto, devido ao grande número de deportações para o país, houve períodos de relevante variação étnica. Entre março e maio de 1944, Foi relatado no Kremlin que 602 193 residentes da Ciscaucásia haviam sido deportados para a RSS Quirguiz e a RSS Cazaque, dentre eles 496 460 chechenos e inguches, 68 327 carachais e 37 406 bálcaros.[11] O país era (e ainda é) de maioria muçulmana, falantes de línguas turcomanas. A capital Frunze (atual Bisqueque) apresentava a maior concentração de russos; o país tinha cerca de 22% da população russa em 1991, com minorias uzbeques concentrados majoritariamente no vale de Fergana, perfazendo 13% da população. Em 1990, houve conflitos violentos entre povos usbeques e quirguizes nas cidades de Osh e Uzgen, havendo tensão entre grupos étnicos na região até os dias de hoje.[12]

Religião editar

O islã, religião mais praticada na RSS Quirguiz, era fortemente reprimido pelo regime soviético, que encorajava ativamente o ateísmo, embora as autoridades soviéticas permitissem certa atividade religiosa limitada em todas as repúblicas muçulmanas. A maioria da população russa do país era ateia ou da Igreja Ortodoxa Russa. Após a independência, o país tornou-se oficialmente laico e goza de maior liberdade religiosa.

Ver também editar

Referências

  1. «Manas - The Kyrgyz Odysseys, Moses, and Washington» (em inglês). The School of Russian and Asian Studies. 30 de dezembro de 2005. Consultado em 27 de dezembro de 2016. Arquivado do original em 7 de outubro de 2009 
  2. A Political Chronology of Central, South and East Asia. Londres: Europa Publications. 2005. p. 183. ISBN 0-203-41173-0 
  3. Bennigsen, Alexandre; Broxup, Marie (3 de junho de 2014). The Islamic Threat to the Soviet State. Abingdon: Routledge. p. 42. ISBN 978-1-317-83171-6 
  4. Dana, Leo Paul (1 de janeiro de 2002). When Economies Change Paths: Models of Transition in China, the Central Asian Republics, Myanmar & the Nations of Former Indochine Française. Singapura: World Scientific. p. 65 
  5. Group, Taylor & Francis (2004). Europa World Year. Londres: Europa Publications. p. 2543. ISBN 978-1-85743-255-8 
  6. Encyclopedia Americana. Nova Iorque: Grolier. 1993. p. 141 
  7. Mudahar, Mohinder S. (1 de janeiro de 1998). Kyrgyz Republic: Strategy for Rural Growth and Poverty Alleviation. Washington, D.C.: Banco Mundial. p. 86. ISBN 978-0-8213-4326-5 
  8. Sakwa, Richard (17 de agosto de 2005). The Rise and Fall of the Soviet Union. Londres: Routledge. p. 480. ISBN 978-1-134-80602-7 
  9. Escobar, Pepe (26 de março de 2005). «The Tulip Revolution takes root» (em inglês). Asia Times Online. Consultado em 1 de janeiro de 2017 
  10. Pavlenko, Aneta (2008). Multilingualism in Post-Soviet Countries. Reino Unido: Multilingual Matters. p. 206. ISBN 978-1-84769-087-6 
  11. Tishkov, Valeriĭ Aleksandrovich (15 de maio de 2004). Chechnya: Life in a War-Torn Society. Oakland: University of California Press. p. 25. ISBN 978-0-520-93020-9 
  12. Rubin, Don; Pong, Chua Soo; Chaturvedi, Ravi; Majumdar, Ramendu; Tanokura, Minoru (Janeiro de 2001). The World Encyclopedia of Contemporary Theatre: Asia/Pacific. Londres: Europa Publications. p. 274. ISBN 978-0-415-26087-9 
 
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