Campeonato Paulista de Futebol de 1990

O Campeonato Paulista de Futebol de 1990 foi uma competição oficial realizada pela Federação Paulista de Futebol e marcada por ter uma final totalmente inédita e inesperada. Pela primeira vez desde que o torneio começou a ser disputado, duas equipes do interior de São Paulo disputaram a final do campeonato.

Campeonato Paulista de Futebol de 1990
Campeonato Paulista da Primeira Divisão de Futebol Profissional de 1990
Dados
Participantes 24
Período 27 de janeiro – 26 de agosto
Gol(o)s 793
Partidas 422
Média 1,88 gol(o)s por partida
Campeão Bragantino (1º título)
Vice-campeão GE Novorizontino
Melhor marcador 12 gols[1]
Alberto (Ituano)
Rubem (Guarani)
Vônei (Ferroviária)
◄◄ São Paulo 1989 1991 São Paulo ►►

A final, que ficou conhecida como "final caipira", foi entre Bragantino, de Bragança Paulista, e Novorizontino, de Novo Horizonte.

Com dois empates por 1 a 1 (o primeiro jogo foi realizado em Novo Horizonte, e o segundo, em Bragança Paulista) e novo empate, desta vez sem gols, na prorrogação, a equipe de Bragança Paulista, que tinha a vantagem de dois empates por ter feito melhor campanha e era comandada na época pelo ainda pouco conhecido Vanderlei Luxemburgo, conquistou o primeiro título de sua história.

Coroando ainda mais a participação do interior no futebol paulista, na categoria aspirantes o Noroeste, de Bauru, conquistou o título, com um time-base que revelou vários atletas que ficaram posteriormente conhecidos no cenário profissional, sendo o zagueiro Emerson (São Paulo, Botafogo) e o volante Claudecir (São Caetano e Palmeiras) dois dos mais conhecidos.

Participantes editar

Regulamento editar

O Paulistão de 1990, com a participação de 24 clubes, era dividido em três fases:

Primeira fase: Os 24 clubes foram divididos em dois grupos de doze times cada, conforme a classificação deles no Campeonato Paulista de 1989. Nesta fase, os times de um grupo jogaram contra os times do outro.

Segunda fase: Nesta fase, os times jogaram dentro dos próprios grupos. A pontuação da primeira fase foi mantida, e os sete primeiros colocados do grupo I e os cinco melhores colocados do grupo II classificaram-se à terceira fase. O campeão de cada grupo ganhou vaga para a Copa do Brasil de 1991. Os demais clubes disputariam a repescagem.

Repescagem: Doze clubes eliminados da primeira fase foram divididos em dois grupos e jogaram em turno e returno. Dentro de cada grupo, os times jogariam entre si, em turno e returno. Apenas os campeões de cada grupo disputarão a segunda fase, enquanto os demais clubes estariam fora da disputa do título, e jogariam em um grupo separado dos catorze melhores colocados no campeonato do ano seguinte.

Terceira fase: Os doze melhores colocados da primeira fase e os dois melhores da repescagem foram separados em dois grupos de sete times cada. Dentro de cada grupo, os times jogaram entre si, em turno e returno. Os campeões dos grupos foram à final.

Finais: Os dois campeões dos dois grupos da segunda fase fizeram a final do campeonato em dois jogos, na casa de cada time. Caso os dois resultados fossem idênticos, seria realizada uma prorrogação. O time com a melhor campanha nas fases anteriores jogou pelo empate na prorrogação.

Rebaixamento: Assim como em 1989, não haveria rebaixamento.

Regra do rebaixamento editar

 Ver artigo principal: Taça de Prata

Assim como nos campeonatos anteriores de 1988 e 1989, o regulamento de 1990 determinava que não haveria descenso de qualquer equipe, como afirma, por exemplo, o jornalista Paulo Vinícius Coelho.[2] O regulamento do campeonato daquele ano afirma, in verbis, em seu Artigo 5º:

Parágrafo 1º - "Para o Campeonato da Primeira Divisão de Futebol Profissional de 1991, o Grupo I será constituído pelas 14 associações classificadas para disputar a quarta fase do Campeonato de 1990 e o Grupo II será constituído pelas dez associações restantes que não se classificaram para a quarta fase e mais quatro advindas da Divisão Especial de 1990."
Parágrafo 2º - "No campeonato da primeira divisão de futebol profissional de 1990, não haverá descenso à divisão especial de futebol profissional. Mas a partir de 1991, ou a cada ano, haverá o descenso de uma associação da Primeira Divisão de Futebol Profissional e o acesso de uma associação da Divisão Especial de Futebol Profissional."

Ignorando o regulamento do campeonato, o jornal Folha de S. Paulo publicou no dia seguinte como manchete o rebaixamento do São Paulo.[3] Já o jornal O Estado de S. Paulo tratou o caso como uma simples desclassificação, explicando como seria o regulamento do Paulistão de 1991. "O campeonato de 1991 terá 28 times divididos em dois grupos de 14", escreveu o jornalista do Estadão. "O São Paulo terá de ficar entre os primeiros nas duas primeiras fases para, na quarta [sic], voltar a enfrentar Coríntians [sic], Palmeiras, Portuguesa e Santos."[4] No dia seguinte, o mesmo jornal afirmou mais uma vez: "O São Paulo vai disputar o Paulista de 1991 no grupo 'B', que incluirá os dez piores times deste ano e mais os quatro melhores colocados na Divisão Especial, mas não está, desde já, afastado da briga pelo título da Primeira Divisão, como alguns, erradamente, interpretaram."[5] O Estadão argumenta, nessas reportagens publicadas no dia seguinte à eliminação, que tal regulamento já previa naquele instante que os times relegados ao Grupo B disputariam o título paulista de 1991 contra os classificados no Grupo A. Assim, não teria havido uma mudança radical no regulamento do Paulistão de 1991, feita posteriormente à desclassificação do São Paulo, a chamada "virada de mesa".

O regulamento de 1990 causa, entretanto, até hoje polêmica e discussões sobre o suposto rebaixamento do São Paulo para a segunda divisão do Campeonato Paulista. Em 2009, o guia oficial do Campeonato Paulista daquele ano, distribuído pela própria FPF, informou que o São Paulo não havia se classificado "nem na repescagem" e que havido sido "rebaixado para a segunda divisão" na disputa de 1990, ignorando, portanto, o regulamento do campeonato que explicitamente afirmava que não haveria rebaixamento em 1990.[6] Dias depois, após protestos da diretoria do São Paulo, a FPF voltou atrás, renegando o próprio guia. A entidade culpou o historiador Rodolfo Kussarev pelas informações. Kussarev, por sua vez, assumiu a responsabilidade pelas informações e alegou ter usado como base o livro A História do Campeonato Paulista, dos jornalistas André Fontenelle e Valmir Storti, lançado pela Publifolha em 1997.[7]

Após este conflito de ideias e de acusações de lado a lado, Fontenelle, que trabalhou na Folha na década de 1990 e foi chefe do jornalista Paulo Vinícius Coelho na revista Placar, elaborou artigo na versão online da revista Época, afirmando que houve a queda da equipe do Morumbi para a Série B do Paulistão, porém sem demonstrá-la com base nos regulamentos oficiais, tratando-se, portanto, de mera opinião pessoal do jornalista.[8] "O clube do Morumbi caiu, sim", disse o jornalista da Época. "Houve a virada de mesa e, embora o São Paulo tenha disputado o equivalente à segunda divisão em 1991, classificou-se para as finais, eliminando o Palmeiras, que vinha do grupo mais forte", destaca o jornalista, já se referindo também ao Campeonato Paulista de 1991.

Em outro texto veiculado em 2009 no site Lancenet, do jornal esportivo Lance!, o jornalista Mauro Beting também abordou o assunto polêmico, avaliando que uma "brilhante sacada regulamentar" impediu o rebaixamento do São Paulo à segunda divisão do estadual. "No frigir das bolas: o São Paulo começou o SP-91 na divisão inferior — mas não foi tecnicamente rebaixado. A mesa não foi virada para beneficiar o São Paulo — apenas foi um truque discutível da FPF, ainda em 1990, e sem saber que um grande passaria pelo vexame tricolor, para rebaixar sem ações na Justiça dez clubes do SP-90 para o SP-91", escreveu o jornalista.[9]

Primeira e segunda fases editar

Primeira Fase
Grupo I
Time PG J V E D GP GC SG %
1 Corinthians 33 23 11 11 1 21 7 14 72
2 Palmeiras 31 23 13 5 5 31 12 19 67
3 Bragantino 28 23 11 6 6 26 14 12 61
4 Santos 25 23 7 11 5 18 15 3 54
5 Mogi Mirim 25 23 6 13 4 23 20 3 54
6 Portuguesa 25 23 5 15 3 24 20 4 54
7 GE Novorizontino 25 23 8 9 6 26 19 7 54
8 São Paulo 23 23 8 7 8 22 17 5 50
9 União São João 23 23 7 9 7 22 17 5 50
10 Guarani 23 23 6 11 6 18 15 3 50
11 São José 22 23 5 12 6 20 26 -6 48
12 Inter de Limeira 19 23 5 9 9 19 27 -8 41
Grupo II
Time PG J V E D GP GC SG %
1 XV de Piracicaba 27 23 9 9 5 21 15 6 59
2 XV de Jaú 26 23 11 4 8 29 25 4 57
3 Ferroviária 25 23 9 7 7 26 21 5 54
4 Ituano 25 23 9 7 7 18 17 1 54
5 América 25 23 9 7 7 17 24 -7 54
6 Botafogo 23 23 6 11 6 21 21 0 50
7 Ponte Preta 23 23 7 9 7 23 22 1 50
8 São Bento 18 23 6 6 11 24 27 -3 39
9 Noroeste 17 23 5 7 11 18 29 -11 37
10 Juventus-SP 15 23 4 7 12 18 36 -18 33
11 Santo André 13 23 4 5 14 15 33 -18 28
12 Catanduvense 13 23 4 5 14 12 33 -21 28
PG - pontos ganhos; J - jogos; V - vitórias; E - empates; D - derrotas; GP - gols pró; GC - gols contra; SG - saldo de gols; % - aproveitamento dos pontos
Classificação direta à terceira fase e à Copa do Brasil de 1991.
Classificação direta à terceira fase.
Disputarão a repescagem.

Repescagem editar

Classificação à segunda fase.
Eliminados.


Terceira fase editar

Classificação à fase final.
Eliminados.

Finais editar

Primeiro jogo[10] editar

22 de agosto de 1990 Novorizontino 1 — 1 Bragantino Estádio Jorge Ismael de Biasi, Novo Horizonte

Édson   41' Report Gil Baiano   68' Público: 15 000
Renda: Cr$ 8 400 000
Árbitro: Edmundo Lima Filho

Novorizontino: Maurício, Odair, Fernando, Válter e Jerônimo; Luís Carlos Goiano, Tiãozinho (Marcão) e Édson; Paulo Sérgio, Barbosa e Róbson (Edmílson). Técnico: Nelsinho Baptista.

Bragantino: Marcelo, Gil Baiano, Júnior, Carlos Augusto e Biro-Biro; Ivair, Mauro Silva (Franklin), Robert e Tiba; Mário (Sílvio) e João Santos. Técnico: Vanderlei Luxemburgo.


Segundo jogo[11] editar

26 de agosto de 1990 Bragantino 1 — 1 Novorizontino Estádio Marcelo Stéfani, Bragança Paulista

Tiba   71' 1—1
0—0
(prorrogação)

Report
Fernando   66' Público: 15 000
Renda: Cr$ 8 505 000
Árbitro: José Aparecido de Oliveira

Bragantino: Marcelo, Gil Baiano, Júnior, Carlos Augusto e Biro-Biro; Mauro Silva (Franklin), Ivair, Mazinho (Robert) e Tiba; Mário e João Santos. Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

Novorizontino: Maurício, Odair (Edmílson), Fernando, Márcio Santos e Luís Carlos Goiano; Marcão, Tiãozinho e Édson; Barbosa, Roberto Cearense (Flávio) e Róbson. Técnico: Nelsinho Baptista.

Campeão Paulista de 1990
 
Bragantino
Campeão
(1º título)

Classificação final editar

Classificação final
Clube Pts J V E D GP GC SG %
1 Bragantino 48 37 18 12 7 43 22 21 65
2 GE Novorizontino 43 37 13 17 7 40 28 12 58
3 Corinthians 50 35 16 18 1 34 13 21 71
4 XV de Piracicaba 37 35 11 15 9 34 32 2 53
5 Guarani 52 45 16 20 9 46 28 18 58
6 Botafogo 49 45 15 19 11 45 37 8 54
7 Palmeiras 46 35 18 10 7 42 17 25 66
8 Santos 40 35 12 16 7 29 25 4 57
9 Portuguesa 37 35 8 21 6 40 33 7 53
10 América 36 35 11 14 10 26 34 -8 51
11 Ituano 35 35 12 11 12 34 33 1 50
12 Mogi Mirim 34 35 7 20 8 28 30 -2 49
13 Ferroviária 30 35 10 10 15 30 38 -8 43
14 XV de Jaú 29 35 11 7 17 37 46 -9 41
15 São Paulo 36 33 13 10 10 41 26 15 55
16 União São João 35 33 11 13 9 34 26 8 53
17 Ponte Preta 33 33 11 11 11 33 34 -1 50
18 São José 31 33 7 17 9 27 34 -7 47
19 São Bento 29 33 10 9 14 36 40 -4 44
20 Inter de Limeira 29 33 8 13 12 28 36 -8 44
21 Juventus-SP 25 33 7 11 15 27 47 -20 38
22 Santo André 23 33 8 7 18 22 40 -18 35
23 Noroeste 20 33 5 10 18 22 48 -26 30
24 Catanduvense 17 33 5 7 21 15 46 -31 26
Pts — Pontos ganhos; J — Jogos; V - Vitórias; E - Empates; D - Derrotas; GP — Gols pró; GC — Gols contra; SG — Saldo de gols; % - Aproveitamento de pontos;
Campeão paulista.
Vice-campeão paulista.
Eliminados na segunda fase e classificação à Copa do Brasil de 1991.
Eliminados na segunda fase.
Eliminados na repescagem.

Referências