Estação ferroviária de Valença
A Estação Ferroviária de Valença, também conhecida como de Valença do Minho, é uma interface da Linha do Minho e do Ramal Internacional de Valença, que serve a cidade de Valença, no Distrito de Viana do Castelo, em Portugal. Entrou ao serviço de forma provisória em 6 de Agosto de 1882,[4] tendo sido inaugurada definitivamente em 8 de Dezembro de 1884.[5]
Valença | |||
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exterior da estação de Valença, em 2012 | |||
Identificação:[1] | 07005 VAL (Valença) | ||
Denominação: | Estação de Valença | ||
Administração: | Infraestruturas de Portugal (norte)[2]:3.3.3.2 | ||
Classificação: | E (estação)[3] | ||
Tipologia: | C [2]5.3.1.1 | ||
Linha(s): |
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Altitude: | 40 m (a.n.m) | ||
Coordenadas: | 42°1′29.19″N × 8°38′21.84″W (≍+42.02478;−8.6394) | ||
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Concelho: | ![]() | ||
Serviços: | |||
Conexões: | ![]() | ||
Equipamentos: | ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() ![]() | ||
Inauguração: |
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Diagrama: | |||
Website: |


DescriçãoEditar
Localização e acessosEditar
A estação situa-se em frente ao Largo da Estação, na cidade de Valença.[6][7] O edifício de passageiros situa-se do lado poente da via (lado esquerdo do sentido ascendente, a Monção).[8]
Arquitectura e composiçãoEditar
O edifício da estação foi planeado de forma a apresentar um estilo simples mas elegante, mantendo uma aparência agradável segundo os padrões da época, sem aumentar os custos de construção.[5] Na altura da sua inauguração, o edifício tinha 66 m de comprimento por 14 m de largura, com dimensões e arquitectura semelhantes às da Viana do Castelo.[5] É composto por um pavilhão central, com três portas e janelas para o lado da rua, e por dois torreões laterais, ligados ao corpo central por galerias.[5] Está totalmente coberto por telhados, que no pavilhão central e nos torreões laterais apresentam águas-furtadas com cobertura no estilo mansard.[5] Na frontaria do edifício foi colocado um relógio, fornecido pelo relojoeiro portuense Germano Courrège.[5] O alpendre coberto, fabricado nas oficinas da Fundição de Massarelos, protege uma área de 820 m², sendo suportado por oito colunas de ferro fundido; as empenas e a lanterna têm aberturas em vidro fosco.[5] As grades nas vedações também foram produzidas na Fundição de Massarelos.[5]
O complexo da estação incluía igualmente duas cocheiras, uma para carruagens e outra para locomotivas.[5] O edifício das carruagens, de duas naves, tinha uma área de 320 m², podendo albergar oito veículos.[5] Nas sobrelojas foram instaladas habitações para o pessoal, com espaços isolados para três famílias e um grupo de funcionários celibatários.[5] A cocheira das locomotivas apresentava uma superfície de 350 m², com espaço para quatro locomotivas e os seus tenders, e possuía um anexo onde foi instalado um quartel para os maquinistas e fogueiros, e uma habitação para o chefe de reserva.[5] Os pavimentos térreos, tanto nos interiores como nos passeios, foram cobertos por formigão hidráulico do tipo Wilkinson, ou por ladrilho mosaico fabricado em Portugal.[5]
A estação também contava com placas giratórias, fabricadas pela empresa belga John Cockerill[en] nas suas instalações em Seraing, enquanto que a ponte rotativa para locomotivas foi fornecida pela casa alemã G. Dullwer, e reformada nas oficinas gerais do Minho e Douro.[5] O material das agulhas e cruzamentos também foi fabricado na Alemanha, em Bochum.[5] De França vieram a báscula de 20 t, fornecida pela empresa francesa Travyon de Lyon, o guindaste fixo de 6 t, fabricado pela casa Fives-Lille[fr] em Liège, e a tina do reservatório de 40 m³.[5]
ServiçosEditar
Em dados de finais de 2021,[9] Valença é servida por cinco serviços ferroviários distintos:
- Comboios de Portugal:
- Regional (Valença ⇄ Porto-S.B.): 10 circulações diárias
- Inter-regional (Valença ⇄ Figueira da Foz): 10 circulações diárias
- Intercidades (Valença ⇄ Coimbra-B): 2 circulações diárias
- Celta (Vigo-Guixar ⇄ Porto-Campanhã): 4 circulações diárias
- Renfe Operadora:
- Vigo-Guixar ⇄ Valença:[es] 4 circulações diárias
HistóriaEditar
Século XIXEditar
Planeamento e construçãoEditar
O projecto para a estação de Valença foi produzido pelo director da construção na Caminhos de Ferro do Minho e Douro, o engenheiro Augusto Luciano Simões de Carvalho, e aprovado por uma portaria de 12 de Maio de 1882.[5] A empreitada para as obras de pedra foi executada por D. Gabriel Beitia, as de trolha por Domingos Gonçalves dos Santos, e as de carpintaria por António Rodrigues da Fonseca.[5] As obras de construção começaram em 15 de Maio de 1882, tendo sido assentes as pedras angulares em 24 de Agosto desse ano.[5] Foi instalada num ângulo formado pelas estradas de Monção e Caminha, a cerca de 500 m das portas da Praça de Valença.[5]
Inauguração e ligação à fronteiraEditar
A primeira interface ferroviária a servir Valença foi uma gare provisória em Segadães,[10] que entrou ao serviço em 3 de Junho de 1879.[11] Uma portaria de 10 de Agosto de 1881 entregou a Gabriel Beitia a empreitada das terraplanagens e das obras de arte entre Segadães e a estação definitiva de Valença.[10] Este lanço abriu à exploração em 6 de Agosto de 1882,[12][13][14] de forma provisória.[5] O serviço de pequena velocidade iniciou-se em 15 de Abril de 1883, e a inauguração definitiva ocorreu em 8 de Dezembro de 1884.[5]
Em 1864, uma comissão técnica luso-espanhola estabeleceu que deviam ser construídas 5 ligações de caminhos de ferro entre ambos os países, incluindo uma de Valença a Tuy.[15] O troço desde a estação de Valença até à fronteira, incluindo a Ponte Rodo-Ferroviária de Valença, foi inaugurado em 25 de Março de 1886.[4][16][17]
Transição para os Caminhos de Ferro do EstadoEditar
Uma lei de 14 de Julho de 1899 fundiu os Caminhos de Ferro do Minho e Douro com os Caminhos de Ferro do Sul e Sueste numa só divisão, criando os Caminhos de Ferro do Estado.[18]
Século XXEditar
Continuação até MonçãoEditar
Desde o Século XIX que se procurou continuar a linha além de Valença, de forma a servir as regiões de Monção e Melgaço, tendo-se planeado originalmente que a linha fosse do tipo americano, de via estreita, sobre o leito das estradas.[19] Este projecto foi substituído por um troço de via larga entre Valença e Monção, classificado como parte da rede complementar do Minho por um decreto de 15 de Fevereiro de 1900.[20] A Gazeta dos Caminhos de Ferro de 1 de Dezembro de 1905 noticiou que se iniciriam em breve as obras no lanço entre Valença e Monção,[21] tendo o primeiro lanço, até Lapela, entrado ao serviço em 15 de Junho de 1913.[4]
A estação foi palco de combates durante as Incursões Monárquicas de 1912, tendo sido atacada pelos couceiristas no dia 12 de Julho.[22]
Em 1913, existia um serviço de automóveis e outro de diligências entre Melgaço e a estação de Valença, indo as diligências até à localidade fronteiriça de São Gregório.[23]
Décadas de 1920 e 1930Editar
Em 1927, os Caminhos de Ferro do Estado foram integrados na Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses, que passou a explorar as antigas linhas do estado, incluindo a do Minho.[24] Em 16 de Setembro de 1934, esta estação foi utilizada no transporte dos convidados e jornalistas para a cerimónia de inauguração do Sanatório de Paredes de Coura.[25] Durante a Guerra Civil Espanhola, Valença foi um ponto de passagem para os diplomatas, estrangeiros e outros refugiados, que se deslocaram de comboio, para fugir aos combates.[26]
Décadas de 1950 e 1960Editar
Entre 14 de Maio e 1 de Outubro de 1950, circulou uma carruagem directa de Lisboa a Corunha, servindo igualmente Valença; esta carruagem vinha anexa ao Rápido do Porto, evitando desta forma a necessidade de transbordo em Campanhã.[27] Esta iniciativa teve um grande sucesso, devido, entre outros factores, à qualidade do serviço, tendo sido o melhor ano até então em termos de movimento de passageiros pela fronteira de Valença.[27] Em 16 de Agosto de 1968, a Gazeta dos Caminhos de Ferro noticiou que a Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses estava a preparar a realização de obras de renovação parcial no troço entre Nine e Valença, a ser executado por um consórcio das empresas SOMAFEL, Somapre, A. Borie e A. Dehé.[28]
Décadas de 1970 a 1990Editar
Em 1977, a operadora Red Nacional de Ferrocarriles Españoles tinha um representante nesta estação; nesta altura, também era aqui que se mudava o pessoal de bordo, nos comboios internacionais.[29] Em 1979, foi formado o Núcleo Muselógico de Valença, nas antigas cocheiras desta estação; este processo inseriu-se no âmbito de um programa a nível nacional da operadora Caminhos de Ferro Portugueses, para a preservação do material histórico ferroviário.[30] Até ao final da década de 1980, circulou um serviço internacional misto da Red Nacional de Ferrocarriles Españoles, com a classificação de omnibus, entre as localidades de Guillarei e Valença, passando por Tui.[31]
Em 2 de Janeiro de 1990, o lanço da Linha do Minho entre Valença e Monção foi encerrado pela empresa Caminhos de Ferro Portugueses.[32]
Século XXIEditar
Em 2021, após obras de reparação e eletrificação, começaram a circular neste troço (Viana-Valença) comboios elétricos.[33]
Ver tambémEditar
Referências
- ↑ (I.E.T. 50/56) 56.º Aditamento à Instrução de Exploração Técnica N.º 50 : Rede Ferroviária Nacional. IMTT, 2011.10.20
- ↑ a b Diretório da Rede 2021. IP: 2019.12.09
- ↑ Instrução de exploração técnica nº 2 : Índice dos textos regulamentares em vigor. IMTT, 2012.11.06
- ↑ a b c «Troços de linhas férreas portuguesas abertas à exploração desde 1856, e a sua extensão» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. Ano 69 (1652). 16 de Outubro de 1956. p. 528-530. Consultado em 20 de Dezembro de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v RODRIGUES, Manuel M. (11 de Abril de 1885). «Estação de Valença» (PDF). O Occidente: Revista Illustrada de Portugal e do Extrangeiro. 8 (227). p. 83-84. Consultado em 23 de Janeiro de 2016 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
- ↑ «Valença». Comboios de Portugal. Consultado em 1 de Dezembro de 2014
- ↑ «Valença - Linha do Minho». Infraestruturas de Portugal. Consultado em 20 de Dezembro de 2013
- ↑ (anónimo): Mapa 20 : Diagrama das Linhas Férreas Portuguesas com as estações (Edição de 1985), CP: Departamento de Transportes: Serviço de Estudos: Sala de Desenho / Fergráfica — Artes Gráficas L.da: Lisboa, 1985
- ↑ Horário Longo Curso : Regional : Linha do Minho («em vigor desde 17 outubro 2021»); contradiz a página oficial (C.P.) ao incluir serviços IC e Renfe.
- ↑ a b LIMA, Alexandra; AMARAL, Paulo; NOÉ, Paula (2007) [1998]. «Ponte Metálica sobre o Rio Minho / Ponte Metálica Ferroviária e Rodoviária sobre o Rio Minho». Sistema de Informação para o Património Arquitectónico. Direcção Geral do Património Cultural. Consultado em 24 de Setembro de 2020
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- ↑ REIS et al, 2006:12
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- ↑ ABREU, 1986:56
- ↑ «Serviço de Diligencias». Guia official dos caminhos de ferro de Portugal. 39 (168). Outubro de 1913. p. 152-155. Consultado em 19 de Março de 2018 – via Biblioteca Nacional Digital
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- ↑ FERREIRA, Armando (1 de Novembro de 1936). «Os Caminhos de Ferro e a Estratégia» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 48 (1173). p. 506. Consultado em 20 de Dezembro de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
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- ↑ «Vão melhorar os serviços da C. P.» (PDF). Gazeta dos Caminhos de Ferro. 81 (1928). 16 de Agosto de 1968. p. 96. Consultado em 20 de Dezembro de 2013 – via Hemeroteca Digital de Lisboa
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- ↑ TUR, Lluís Prieto i (setembro–dezembro de 1991). «Locomotoras de Maniobras en RENFE». Carril (em espanhol) (34). Barcelona: Associació d'Amics del Ferrocarril-Barcelona. p. 35-45
- ↑ «CP encerra nove troços ferroviários». Diário de Lisboa. Ano 69 (23150). Lisboa: Renascença Gráfica. 3 de Janeiro de 1990. p. 17. Consultado em 27 de Novembro de 2020 – via Casa Comum / Fundação Mário Soares
- ↑ FERNANDES, Ana Peixoto (26 de Abril de 2021). «Nostalgia e curiosidade no primeiro comboio elétrico entre Viana do Castelo e Valença». TSF. Consultado em 28 de Abril de 2021
BibliografiaEditar
- ABREU, Alberto A. (2010). Viana do Castelo. Roteiros Republicanos. Matosinhos: Quidnovi, Edição e Conteúdos, S. A. 128 páginas. ISBN 978-989-554-736-4
- MARTINS, João; BRION, Madalena; SOUSA, Miguel; et al. (1996). O Caminho de Ferro Revisitado. O Caminho de Ferro em Portugal de 1856 a 1996. Lisboa: Caminhos de Ferro Portugueses. 446 páginas
- REIS, Francisco; GOMES, Rosa; GOMES, Gilberto; et al. (2006). Os Caminhos de Ferro Portugueses 1856-2006. Lisboa: CP-Comboios de Portugal e Público-Comunicação Social S. A. 238 páginas. ISBN 989-619-078-X
- SERRÃO, Joaquim Veríssimo (1986). História de Portugal. O Terceiro Liberalismo (1851-1890). [S.l.]: Verbo. 423 páginas
- SERRÃO, Joel (1980). Cronologia Geral da História de Portugal 4.ª ed. Lisboa: Livros Horizonte. 247 páginas
Ligações externasEditar
- “Sinalização da estação de Valença” (diagrama anexo à I.T. n.º 28), 1977
- «Galeria de fotografias da Estação de Valença, no sítio electrónico Railfaneurope» (em inglês)
- «Página com fotografias da Estação de Valença, no sítio electrónico Railpictures» (em inglês)
- «Página sobre a Estação Ferroviária de Valença, no sítio electrónico Wikimapia»
- Estação Ferroviária de Valença na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural