Troilo

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Troilo (em grego: Τρωΐλος; romaniz.:Troïlos; em latim: Troilus) é um personagem lendário da mitologia grega associado com a história da Guerra de Troia. A primeira referência feita a ele na literatura está na Ilíada, de Homero, que acredita-se ter sido escrita no fim do século IX ou no século VIII a.C.[1]

Aquiles (esquerda) atacando Troilo (direita). Afresco etrusco, Tumba dos Touros, Tarquínia, c. 540 - 530 a.C.

Na mitologia clássica Troilo é um jovem príncipe troiano, um dos filhos do rei Príamo (ou, por vezes, do deus Apolo) e Hécuba. Diversas profecias ligam o seu destino ao da cidade de Troia, e eventualmente ele acaba sendo morto numa emboscada pelo herói grego Aquiles. O dramaturgo Sófocles foi um dos autores antigos a escreverem sobre este episódio, que foi um tema popular entre os artistas da época. Escritores antigos abordavam Troilo como a epítome do filho morto, com os pais em luto. Também era tido como um exemplo da jovem beleza masculina.

Nas versões medievais e renascentistas da lenda, Troilo é o mais jovem dos cinco filhos legítimos de Príamo e Hécuba. Apesar de sua juventude é um dos principais líderes de Troia na guerra. Morre durante o combate, pelas mãos de Aquiles. Num dos acréscimos populares feitos à história, originário do século XII, Troilo se apaixona por Créssida, cujo pai teria desertado para o lado dos gregos. Créssida lhe retribui o amor, porém logo passa a demonstrar suas afeições pelo herói grego Diomedes quando é enviada a seu pai, numa troca de reféns. Chaucer e Shakespeare estão entre os autores de obras que contaram a história de Troilo e Créssida. Na tradição medieval, Troilo é tido como um exemplo do fiel amante cortês, e também do cavaleiro pagão virtuoso. Uma vez que o costume do amor cortês entrou em declínio, seu destino passou a ser visto de maneira menos simpática.

Pouca atenção foi dada ao personagem durante os séculos XVIII e XIX; nas versões dos séculos XX e XXI da Guerra de Troia, no entanto, diversos autores escolheram elementos das versões clássica e medieval da história nas quais Troilo voltou a aparecer.

A história no mundo antigo editar

 
Troilo e Polixena fugindo. Cílice do pintor-C, c. 570 - 565 a.C., Louvre (CA 6113), estilo ático em figura negra
 
Aquiles prestes a perseguir Troilo e Polixena a partir de sua posição atrás da casa do poço (reverso da imagem anterior)

Para os antigos gregos, o conto da Guerra de Troia e dos eventos que a cercaram apareceu em sua forma mais definitiva no Ciclo Épico, composto por oito poemas narrativos[2] do período arcaico da Grécia (750 - 480 a.C.). A história de Troilo é um dos diversos incidentes que ajudaram a estruturar uma narrativa que se estende por diversas décadas e 77 livros, desde o início da Cípria até o fim da Telegonia. A morte do personagem, no início da guerra, e as profecias que o envolvem, demonstram que todos os esforços dos troianos para defender sua terra natal seria em vão. Sua importância simbólica é evidenciada pela análise linguística de seu nome grego, "Troilos", que pode ser interpretado como uma elisão dos nomes de Tros e Ilos, os lendários fundadores de Troia, como um diminutivo ou apelido ("pequeno Tros") ou como uma elisão de Troië ("Troia") e lyo ("destruir"). Todas estas possibilidades enfatizam a ligação entre os destinos de Troilo e o da cidade na qual vivia.[3] Por outro lado, o destino de Troilo também pode ser visto como um presságio das mortes subsequentes de seu algoz, Aquiles, de seu sobrinho Astíanax e de sua irmã Polixena que, como Troilo, morrem no altar (ao menos em algumas versões da história).[4]

Lamentavelmente a Cípria - a parte do Ciclo Épico que aborda o período da Guerra de Troia na qual a morte de Troilo ocorreu - não sobreviveu. Na realidade nenhuma narrativa completa de sua história sobreviveu desde os tempos arcaicos ou do período clássico subsequente (479 - 323 a.C.). A maior parte das fontes literárias anteriores ao período helenístico (323 - 31 a.C.) que se referem ao personagem foram perdidas ou sobreviveram apenas em fragmentos ou sumários. As fontes antigas e medievais ainda existentes, sejam elas literárias ou acadêmicas, são contraditórias e não condizem com a forma do mito que os acadêmicos acreditam ter existido durante os períodos arcaico e clássico.

Compensando parcialmente estes textos que faltam estão os artefatos que restam destes períodos arcaico e clássico. As circunstâncias em torno da morte de Troilo foram um tema popular entre os pintores de cerâmica (o site do Arquivo Beazley lista 108 itens de cerâmica ática, somente dos séculos VI ao IV a.C., que contêm imagens do personagem.[5]) Troilo também foi um motivo recorrente em outras obras de arte e objetos decorativos destes períodos. É uma prática comum àqueles que escrevem sobre a história de Troilo tal como ela existia na Antiguidade utilizar-se tanto das fontes literárias quanto dos artefatos para obter uma compreensão de qual teria sido a forma mais padronizada do mito, e suas variações.[6] A brutalidade desta forma "padrão" do mito foi enfatizada por estudiosos como Alan Sommerstein, que a descreveu como "horrível" e "talvez o mais cruel de todos os atos tradicionalmente atribuídos a Aquiles".[7]

Forma padrão do mito: o belo jovem assassinado editar

 
Aquiles agarrando Troilo pelos cabelos, enquanto o jovem tenta fugir de sua emboscada na fonte. Ânfora etrusca do grupo pôntico, c. 540 - 530 a.C., de Vulcos

Troilo é um adolescente ou efebo, filho de Hécuba, rainha de Troia. Devido à sua grande beleza, é tido como filho do deus Apolo; o marido de Hécuba, no entanto, o rei troiano Príamo, o trata (e o ama) como seu próprio filho.

Uma profecia diz que Troia não cairá se Troilo chegar a ser adulto; a deusa Atena, então, encoraja o guerreiro grego Aquiles a procurá-lo logo no início da Guerra de Troia, quando ainda é jovem. Aquiles arma uma emboscada para Troilo e sua irmã, Polixena, quando ele sai a cavalo com ela para buscar água de um poço na Timbra - uma região nos arredores de Troia onde existia um templo de Apolo.

O grego fica então estarrecido pela beleza dos dois, pelos quais sente um desejo arrebatador. Assim que Troilo vê o herói tenta fugir, porém Aquiles "de pés rápidos"[8] o apanha pelos cabelos. O jovem príncipe recusa-se a ceder aos avanços sexuais e consegue fugir, refugiando-se no templo vizinho; Aquiles o segue e corta sua cabeça no altar, mutilando seu corpo em seguida. Segue-se intenso luto, pelos troianos, pela morte de Troilo.

Este sacrilégio teria levado à própria morte de Aquiles, quando Apolo se vinga dele ajudando Páris a atingi-lo com a flecha que perfurou seu calcanhar.

Fontes literárias antigas que referenciam o mito padrão editar

Homero e os textos perdidos dos períodos arcaico e clássico editar

A referência mais antiga a Troilo a ter sobrevivido aos dias de hoje é a Ilíada, de Homero, parte do Ciclo Épico. Acredita-se que o nome de Troilo não tenha sido inventado por Homero, e que uma versão de sua história já existiria.[9] Mais adiante, no poema, Príamo repreende seus filhos ainda vivos, comparando-os de maneira desfavorável com os que já morreram, incluindo Trôïlon hippiocharmên.[10] A interpretação de hippiocharmên é controversa, porém a raiz hipp- sugere uma ligação com cavalos (hippos). Uma das traduções sugeridas seria "que se deleita com cavalos"[11] Sommerstein acredita que Homero tencionava sugerir, com esta referência, que Troilo teria morrido em combate, porém argumenta que a descrição posterior de Aquiles feita por Príamo como andros paidophonoio ("homem que mata garotos")[12] indica que Homero tinha consciência da história de Troilo como uma criança assassinada; Sommerstein acredita que Homero estaria utilizando-se intencionalmente da ambiguidade da raiz paido-, que significa "menino" tanto no sentido de um jovem rapaz e de um filho.[13]

Fontes de Troilo na Antiguidade
Descrições completas na literatura mitológica
Estasino de Chipre? Cípria fim do século VII a.C. (perdido)
Frínico Troilo séculos VI - V a.C. (perdido)
Sófocles Troilo século V a.C. (perdido)
Estrate Troilo séculos V - IV a.C. (perdido)
Dares Frígio de excidio Trojae historia partes escritas entre os séculos I e VI d.C.?
Referências mais breves na literatura mitológica
Homero Ilíada séculos VIII - VII a.C.
Estesícoro possivelmente em Iliupersis séculos VII - VI a.C. (perdido)
Ibico texto desconhecido, do qual apenas poucas palavras sobrevivem fim do século VI a.C.
Sófocles Políxena século V a.C. (perdido)
Licofronte Alexandra século III a.C.?
Virgílio Eneida 29-19 a.C.
Sêneca, o Jovem Agamenon século I d.C.
Dicte Cretense Ephemeridos belli Trojani séculos I - III
Ausônio Epitáfios século IV
Quinto de Esmirna Posthomerica fim do século IV?
Alusões literárias a Troilo
Ibico poema Polícrates fim do século VI a.C.
Calímaco Epigramas século III a.C.
Plauto As Báquides século III - II a.C.
Cícero Tusculanae Quaestiones c. 45 a.C.
Horácio Odes, livro II 23 a.C.
Estácio Silvae fim do século I a.C.
Dião Crisóstomo Discursos séculos I - II
"Clemente" Homílias Clementinas século II?
Comentários acadêmicos antigos e medievais sobre Troilo e sumários de literatura antiga.
Diversos autores anônimos Escólios da Ilíada século V a IX a.C.?
Higino Fábulas século I a.C. - século I d.C.
O "Pseudo-Apolodoro" Biblioteca séculos I - II
Eutíquio Proclo? Crestomatia século II?
Sérvio Escólios da Eneida fim do século IV
Primeiro Mitógrafo Vaticano Mitografia séculos IX - XI?
Eustácio de Tessalônica Escólios da Ilíada século XII
João Tzetzes Escólios da Alexandra século XII

A morte de Troilo também foi descrita na Cípria, uma das partes do Ciclo Épico que não mais existem. O poema abordava os eventos que antecederam a Guerra de Troia, bem como a sua primeira parte, até os eventos descritos na Ilíada. Embora a obra não tenha sobrevivido aos dias de hoje restaram sumários antigos de seu conteúdo, tidos como da autoria de Eutíquio Proclo. O primeiro destes fragmentos menciona que Aquiles teria matado Troilo, porém não dá maiores detalhes.[14] Sommerstein, no entanto, interpretou o verbo utilizado para descrever a morte (phoneuei) como significando que Aquiles teria assassinado Troilo (diferenciando o ato de uma morte ocorrida durante o combate, por exemplo).[15]

Em Atenas, os primeiros trágicos, Frínico e Sófocles, escreveram peças chamadas Troilo, e o dramaturgo cômico Estrate escreveu uma paródia homônima. Dos célebres nove poetas líricos dos períodos arcaico e clássico, Estesícoro pode ter se referido à história de Troilo em seu Iliupersis, e Ibico pode ter escrito detalhadamente sobre o personagem. Com a exceção destes autores, nenhuma outra fonte pré-helenística mencionou Troilo.[16]

Infelizmente, tudo o que resta destes textos são pequenos fragmentos ou sumários e referências a eles feitas por outros autores. O que restou pode estar na forma de fragmentos de papiros, resumos de tramas ou citações feitas por autores posteriores, ou, em muitos casos, apenas poucas palavras em léxicos e livros de gramática com um crédito ao autor original.[17] Reconstruções dos textos são necessariamente especulativas, e devem ser examinadas com um "ceticismo cauteloso porém favorável".[18] No caso de Ibico tudo o que resta é um fragmento de um pergaminho que contém apenas seis ou sete palavras em verso acompanhadas por algumas poucas linhas de escólios. Troilo é descrito no poema como divino, e é morto fora de Troia. Pelo texto dos escólios, é claramente um garoto, e estaria acompanhado por uma irmã; os escólios também mencionam alguém que estaria "observando" e um assassinato no santuário de Apolo Tímbrio. Enquanto reconhece que estes detalhes podem ser relatos de acréscimos posteriores à história, Sommerstein acredita que Ibico teria descrito a história completa da emboscada, e seria assim a sua primeira fonte identificável.[19] De Frínico tem-se um fragmento existente, considerado como referindo-se a Troilo, que fala da "luz do amor brilhando em suas bochechas enrubescentes".[20]

De todas estas fontes fragmentárias pré-helenísticas, o Troilo de Sófocles é o mais conhecido. Ainda assim, apenas 54 palavras foram identificadas com certeza como sendo da peça.[21] O fragmento 619 se refere a Troilo como um andropais, um homem-rapaz. O fragmento 621 indica que Troilo estaria indo a uma fonte com um acompanhante (de sexo não-especificado), para buscar água para si ou para seus cavalos.[22] Um escólio da Ilíada[23] menciona que Sófocles teria descrito uma emboscada feita por Aquiles enquanto Troilo exercitada seus cavalos na Timbra. O fragmento 623 indica que Aquiles teria mutilado o cadáver de Troilo, através de um método conhecido como maschalismos, que consistia de impedir que o fantasma de uma vítima de assassinato pudesse retornar para assombrar seu assassino através do corte das extremidades do corpo, que eram então atadas sob as axilas.[24] Sófocles também teria se referido ao maschalimos de Troilo num fragmento tido como pertencente a uma peça anterior sua, Políxena.[25]

Sommerstein tenta reconstruir a trama do Troilo, na qual o personagem-título, que nutre um amor incestuoso com Políxena, tenta desencorajar o interesse mostrado por desposá-la da parte de Aquiles e Sarpedão, um aliado troiano, filho de Zeus. Troilo teria sido acompanhado em sua fatal viagem, no entanto, não por Políxena mas sim por seu tutor, um eunuco grego, seu escravo.[26] Sabe-se com certeza que existe um papel do eunuco na peça, inclusive com falas onde ele relata ter sido castrado por Hécuba[27] e alguém lhe relata a perda de seu mestre adolescente.[28] A amor incestuoso foi deduzido por Sommerstein a partir de um fragmento da paródia de Estrate, que se supõe cite parcialmente Sófocles, e da sua noção de que a peça de Sófocles estaria colocando em contraste os costumes bárbaros, como o incesto, com os gregos; isto também teria relação com a necessidade de se explicar o tratamento dado por Aquiles ao cadáver de Troilo, que teria insultado Aquiles ao lhe afastar de Políxena.[29] O acadêmico italiano Piero Boitani, no entanto, considera a rejeição das insinuações sexuais de Aquiles por parte de Troilo como um motivo suficiente para a mutilação.[30]

A Alexandra editar

O texto mais antigo ainda em existência que contém mais que apenas breves menções a Troilo é um poema helenístico, de uma data não anterior ao século III a.C., é a Alexandra, do trágico Licofronte, ou de um homônimo seu. O poema consiste dos obscuros devaneios proféticos de Cassandra:[31]

Ai de mim! pois por ti, flor lindamente criada eu também choro, ó filhote de leão, doce querido de teus semelhantes, que feriu com o fogoso feitiço de dardos o poderoso dragão, e que capturou por um breve instante sem amor, em laços inescapáveis, aquele que foi ferido, enquanto tu mesmo não havias sido ferido pela tua vítima: tu deverás perder tua cabeça e manchar o altar da sepultura de teu pai com teu sangue.[32]

Esta passagem é explicada pelo escólio do escritor bizantino João Tzetzes como uma referência a Troilo ter procurado evitar as insinuações sexuais indesejadas de Aquiles refugiando-se no templo de seu pai, Apolo. Quando ele recusa-se a sair, Aquiles entra e o mata no altar.[33] O escoliasta de Licofronte também afirma que Apolo teria começado a planejar a morte de Aquiles depois deste assassinato.[34] Começam aos poucos a tomar forma os elementos da versão da história de Troilo dada acima; ele é jovem, muito amado e belo, tem ancestrais divinos, é decapitado pelo seu amante grego rejeitado e, como sabemos por Homero, tinha alguma relação com cavalos. A referência a Troilo como um "filhote de leão" insinua o seu potencial de ser um grande herói, porém não há referência explícita a uma profecia que ligue a possibilidade de Troilo chegar à vida adulta e a sobrevivência de Troia.

Outras fontes escritas editar

Nenhuma outra passagem extensa sobre Troilo existe que seja anterior ao período augustal, época em que outras versões da história do personagem começaram a surgir. As fontes restantes que são compatíveis com a versão padrão do mito estão listadas a seguir, divididas por tema.

 
Atena comandando Aquiles a atacar Troilo, característica da narrativa que não está disponível nas fontes escritas. Detalhe de um stamnos etrusco em figura vermelha (de um par conhecido como Fould stamnoi), c. 300 a.C., de Vulcos
 
Exemplo de Troilo com apenas um cavalo, reverso da imagem anterior
Paternidade
O Apolodoro responsável pela Biblioteca lista Troilo como o mais jovem dos filhos de Príamo e Hécuba - um detalhe adotado na tradição posterior - porém acrescenta que o garoto seria filho de Apolo.[35] Por outro lado, Higino lista Troilo juntamente com os outros filhos de Príamo, sem fazer qualquer outro comentário.[36] Num dos primeiros escritos cristãos, as Homílias clementinas, sugere-se que Apolo seria amante de Troilo, e não seu pai.[37]
Juventude
Horácio enfatiza a juventude de Troilo, chamando-o de inpubes ("que ainda não tem pelos", ou seja, impúbere ou, de maneira figurativa, que não tem idade suficiente para pegar em armas).[38] Dião Crisóstomo ridiculariza Aquiles em seu discurso troiano, mencionando que tudo o que o suposto herói teria obtido antes de Homero teria sido a captura de Troilo, que ainda era um menino.[39]
Profecias
O Primeiro Mitógrafo Vaticano relata uma profecia que dizia que Troia não seria conquistada se Troilo chegasse a completar vinte anos de idade, e declarou este como sendo o motivo da emboscada feita por Aquiles.[40] Na obra de Plauto a morte de Troilo é dada como uma das três condições necessárias para que Troia fosse conquistada.[41]
Beleza
Ibico, procurando louvar seu patrono, o compara a Troilo, o mais belo entre gregos e troianos.[42] Dião Crisóstomo se refere a Troilo como um de muitos exemplos dos diferentes tipos de beleza.[43] Estácio compara um belo escravo, já falecido, cuja falta é profundamente sentida por seu dono, a Troilo.[44]
Objeto de amor pederasta
Sérvio, em seus escólios feitos à passagem de Virgílio discutida abaixo, diz que Aquiles teria atraído Troilo presenteando-o com pombos. Troilo então morre abraçado ao grego. Robert Graves[45] interpreta isto como evidência do vigor de Aquiles durante o ato do amor, porém Timothy Gantz[46] considera que o "como" e o "por que" da versão de Sérvio para a morte de Troilo ainda está incerto.[47] Sommerstein apoia a interpretação de Graves, afirmando que o assassinato não tinha qualquer tipo de relação com as antigas relações pederásticas, e que nada no texto de Sérvio sugere uma morte intencional.[48]
Local da emboscada e da morte
Os diversos relatos a respeito da morte de Troilo mencionam água, cavalos se exercitando e a região conhecida como Timbra, embora não formem necessariamente um conjunto coerente: o Primeiro Mitógrafo Vaticano relata que Troilo estaria se exercitando fora de Troia quando Aquiles o atacou;[40] um estudioso de Ibico afirma que Troilo teria sido morto por Aquiles no recinto tímbreo, fora dos muros de Troia;[49] O comentário de Eustácio de Tessalônica sobre a Ilíada diz que Troilo estaria exercitando seus cavalos ali;[50] Apolodoro afirma que Aquiles teria feito uma emboscada a Troilo dentro do templo de Apolo Tímbrio;[51] finalmente, Estácio[44] relata que Troilo teria sido morto por uma lança enquanto fugia das muralhas de Apolo.[52] Gantz afirma ter dificuldade em encontrar algum sentido no que vê como material contraditório, sentindo que o fato de Aquiles abater o cavalo de Troilo não faz sentido se Troilo estivesse apenas fugindo para o edifício do templo, e especula que a emboscada ao lado do poço e o sacrifício no templo podem ser duas versões diferentes da história, ou então que Aquiles teria levado Troilo ao templo visando sacrificá-lo como forma de insultar Apolo.[53]
Luto
O luto dos troianos por Troilo, mais especificamente o de sua própria família, parece ter sintetizado o luto diante da perda de um filho na civilização clássica. Horácio,[38] Calímaco[54] e Cícero[55] referem-se a Troilo desta maneira.

Fontes em artefatos e outras obras de arte editar

 
Troilo e Políxena na fonte, dino em figura negra da Lacônia, 560 - 540 a.C., Louvre E662, Coleção Campana 1861
 
Aquiles esperando, parte da mesma ilustração

A arte grega da Antiguidade, vista na cerâmica e outros restos descobertos, frequentemente mostra cenas associados com a morte de Troilo: a emboscada, a perseguição, o assassinato em si e a luta sobre seu corpo.[56] Ilustrações de Troilo em quaisquer outros contextos são pouco comuns. Uma destas exceções, a pintura em figura vermelha num vaso da Apúlia de por volta de 340 a.C., mostra Troilo quando criança, com Príamo.[57]

Na emboscada, Troilo e Políxena aproximam-se de um poço ou fonte onde Aquiles está escondido, esperando. A cena era suficientemente familiar no mundo antigo para que existisse uma paródia dela, feita por volta de 400 a.C., que mostrava um Troilo gorducho levando uma mula a uma fonte.[58] Na maioria das ilustrações sérias da cena Troilo está sobre um cavalo, normalmente trazendo outro cavalo junto a si.[59] Quase sempre - embora não sempre - é retratado como um jovem imberbe, nu, embora por muitas vezes esteja vestindo um manto ou túnica. Aquiles quase sempre está armado e vestindo uma armadura. Ocasionalmente, como numa pintura de vaso[60] ou no afresco da Tumba dos Touros, mostrada no início deste artigo, tanto Troilo quanto Políxena estão ausentes, indicando o quanto a emboscada estaria ligada a cada uma de suas histórias. A mais antiga versão identificada com segurança como sendo desta cena é um vaso coríntio de cerca de 580 a.C., na qual Troilo tem barba e Príamo também está presente; estas duas características são pouco comuns.[61] Mais comum é a imagem de um pássaro pousado sobre a fonte, normalmente um corvo, símbolo de Apolo e de seus poderes proféticos, como um aviso final a Troilo de seu destino.[62] Por vezes o pássaro é um galo, um presente de amor comum na época, sugerindo a tentativa de Aquiles de seduzir Troilo.[63] Em algumas versões, como por exemplo a ânfora ática do Museu de Belas Artes de Boston, Estados Unidos, que data de 530 a.C.,[64] Troilo é acompanhado por um cão que corre a seu lado. Num vaso etrusco do século VI a.C. pombos estão voando de Aquiles para Troilo, sugerindo o "presente de amor" citado por Sérvio.[65] A própria fonte costuma estar decorada com um motivo de leões.

A primeira versão identificada da perseguição vem da segunda metade do século VII a.C.[58] Em seguida, cronologicamente, está a versão mais conhecida,[66] no Vaso François, de Clítias.[67] O número de personagens mostrados nas cenas em cerâmica varia de acordo com o tamanho da peça e o espaço disponível.[68] O Vaso François foi decorado com diversas cenas, em faixas longas e estreitas; no centro[69] está Troilo, fugindo, montado num cavalo e segurando as rédeas de outro. Abaixo deles está o vaso que Políxena (cuja imagem resta apenas parcialmente), à sua frente, deixou cair. Pouco restou da imagem de Aquiles , porém fica claro que ele veste uma armadura. Todos estão correndo rumo a Troia,<reæ>[43]</ref> onde Anôenor faz um gesto para Príamo. Heitor e Polites, irmãos de Troilo, emergem por trás das muralhas da cidade, esperando salvar Troilo. Atrás de Aquiles[70] estão diversas divindades, como Atena, Tétis (mãe de Aquiles), Hermes e Apolo, que acaba de chegar. Dois troianos também estão presentes: uma mulher gesticula, procurando chamar a atenção de um jovem que enche um vaso. Como as divindades aparecem apenas nas versões pictóricas da cena, seu papel ainda está sujeito a diversas interpretações. Boitani vê uma Atena que encoraja Aquiles, enquanto Tétis está preocupada com a chegada de Apolo, protetor de Troilo, e como tal uma ameaça futura a seu filho.[71] O classicista e historiador da arte Thomas H. Carpenter vê Hermes como um observador neutro enquanto Atena e Tétis encorajam Aquiles, e a chegada de Apolo como uma indicação do artista do papel futuro desempenhado pelo deus na morte de Aquiles.[61] Como Atena não é, tradicionalmente, patrona de Aquiles, Sommerstein vê sua presença nesta e em outras representações da morte de Troilo como uma evidência da existência arcaica de uma ligação profética entre a morte de Troilo e a queda de Troia, com Atena sendo motivada, acima de tudo, por seu desejo de ver a cidade destruída.[72]

 
Aquiles perseguindo Troilo, hídria ática em figura negra, c. 510 a.C., Coleções Estatais de Antiguidades (Inv. 1722)

Os elementos padrão na cena da perseguição são Troilo, Aquiles, Políxena, os dois cavalos e o vaso derrubado. Em dois tripés, uma ânfora e uma taça, Aquiles já segura Troilo pelos cabelos.[73] Um célebre vaso, no Museu Britânico (que deu ao Pintor de Troilo o nome pelo qual é conhecido) mostra dois troianos olhando para trás, com medo, enquanto o belo jovem chicoteia seu cavalo.[74] A água despejada do vaso estilhaçado sob o cavalo de Troilo simbolizaria seu sangue, prestes a ser derramado.[75]

A iconografia das oito patas e cascos dos cavalos pode ser usada para identificar Troilo na obras de cerâmica onde seu nome não aparece; por exemplo, um vaso coríntio onde Troilo é visto atirando flechas contra seus perseguidores, e numa cena pacífica de uma cratera calcídica na qual os casais Páris e Helena, Heitor e Andrômaca estão indicados porém o jovem que cavalga um cavalo acompanhado por outro animal não o é.[76]

Uma representação posterior da história, feita no Sul da Itália, está em vasos mantidos respectivamente no Museu de Belas Artes de Boston e no Museu Hermitage, em São Petersburgo, na Rússia. Na cratera de por volta de 380/370 a.C.,[77] Troilo pode ser visto apenas com um cavalo, tentando se defender com uma lança; na hídria de 325/320 a.C.[78] Aquiles está derrubando o cavalo do rapaz.

 
Aquiles prestes a decapitar Troilo no altar. Cílice em figura vermelha, c. 510 a.C., assinado por Eufrônio. Atualmente no Museu Arqueológico de Perúgia, na Itália. O tamanho das figuras é utilizado para enfatizar a brutalidade do assassinato.[79]

As ilustrações mais antigas conhecidas hoje em dia da morte ou assassinato de Troilo estão na decoração de escudos feitos entre o fim do século VII e início do século VI a.C. descobertas em Olímpia, Grécia. Neles, um guerreiro que empunha uma espada está prestes a cravá-la num jovem nu sobre um altar. Num deles Troilo está se agarrando a uma árvore, interpretada por Boitani como o loureiro, sagrado para Apolo.[80] Uma cratera do mesmo período mostra Aquiles no altar, segundo Troilo, nu, de ponta-cabeça enquanto Heitor, Enéas e um desconhecido troiano Ditino (Deithynos) chegam para tentar salvá-lo. Em algumas representações Troilo está implorando por misericórdia. Numa ânfora, Aquiles segura Troilo, que se debate, sobre seu ombro, enquanto caminha para o altar.[81] Boitani, em seu estudo da história de Troilo através do tempo, considera muito significativo que dois artefatos (um vaso e um sarcófago) de diferentes períodos unam a morte de Troilo e a de Príamo, mostrando-as em dois lados do mesmo objeto, como se fossem o início e o fim da história da queda de Troia.[82] Aquiles é o pai de Neoptólemo, que mata Príamo sobre um altar durante o saque de Troia. A guerra se inicia, portanto, com um pai matando um filho e termina com um filho matando um pai.

Algumas peças de cerâmica mostram Aquiles, depois de já ter matado Troilo, usado sua cabeça decepada como uma arma, à medida que Heitor e seus companheiros chegam, tarde demais para salvá-lo; outras incluem no quadro a deusa Atena assistindo a cena, por vezes junto a Hermes. Numa destas figuras[83] Aquiles está lutando com Heitor sobre o altar. O corpo de Troilo está caído, e sua cabeça ou está sendo arremessada pelo ar, ou está presa à ponta da lança de Aquiles. Atena e Hermes assistem a cena, e Enéas e Ditino estão por trás de Heitor.

Por vezes alguns detalhes das mortes semelhantes de Troilo e Astíanax são trocados.[84] Uma destas imagens,[85] não deixa claro qual das duas mortes está sendo retratada. A idade da vítima é quase sempre um indicador de qual das histórias está sendo ilustrada, e o tamanho relativamente pequeno aqui pode indicar esta como sendo a morte de Astíanax, porém é comum que até mesmo Troilo seja mostrado como muito menor que seu algoz (caso da figura na cílice mostrado nesta página). Outros fatores, no caso, são a presença de Príamo (o que sugere Astíanax), a de Atena (que indica Troilo) e o fato da cena se passar fora dos muros de Troia (novamente indicando Troilo).[86]

Uma variação do mito: o rapaz-soldado vencido editar

Uma versão diferente da morte de Troilo aparece numa taça em figura vermelha de Oltos. Troilo está ajoelhado, ainda no ato de desembainhar sua espada, quando a lança de Aquiles já o perfurou, e Enéas chega tarde demais para poder salvá-lo. Troilo está usando um capacete, porém ele está deslocado para cima de sua cabeça, revelando seu belo e jovem rosto. Esta é a única ilustração semelhante da morte de Troilo existente na arte figurativa arcaica.[87] No entanto, esta versão de Troilo como um jovem derrotado durante o combate também aparece nas fontes escritas.

Virgílio e outras fontes latinas editar

Esta versão da história aparece na Eneida, de Virgílio,[88] numa passagem que descreve uma série de pinturas que decoravam as paredes de um templo de Juno. A pintura imediatamente ao lado desta mostrava a morte de Reso, outro personagem morto devido a profecias que o ligavam à queda de Troia. As outras ilustrações são igualmente calamitosas.

 
Ilustração romana que mostra Aquiles depois de ter agarrado Troilo, que estava a cavalo. Detalhe de couraça de bronze em estátua do imperador Germânico do século II, de Perúgia

Numa descrição cujo pathos é acentuado pelo fato de ser visto através do olhar de um compatriota,[89] Troilo é o infelix puer ("menino infeliz") que enfrentou Aquiles num combate "desigual". Os cavalos de Troilo fogem enquanto ele, ainda segurando suas rédeas, fica pendurado da carruagem, com sua cabeça e seus cabelos pendentes para trás enquanto sua lança, apontando para trás, rabisca a poeira. O Primeiro Mitógrafo Vaticano[40] elabora a respeito desta história, explicando que o corpo de Troilo teria sido arrastado até as muralhas de Troia.[90]

Em seu comentário à Eneida, Sérvio[47] considera esta história uma alteração intencional da narrativa "verdadeira", bowdlerizada de modo a torná-la mais apropriada a um poema épico, e a interpreta como mostrando Troilo derrotado depois de uma luta justa. Gantz,[91] no entanto, argumenta que esta pode ser na verdade uma variação do episódio da emboscada; para ele, Troilo está desarmado porque teria saído sem esperar qualquer combate, e a lança apontando para trás seria o cajado utilizado por Troilo para conduzir o animal, de maneira semelhante ao que fazem muitos outros personagens no resto da Elenida. Sommerstein, por outro lado, acredita que a lança seria de Aquiles, e teria atingido as costas de Troilo. O jovem está vivo, porém ferido mortalmente, enquanto é arrastado rumo a Troia.[92]

Uma questão aqui é a ambiguidade da palavra congressus ("encontraram"). Frequentemente ela se refere a um encontro ocorrido durante um combate convencional, porém ela pode se referir igualmente a outros tipos de encontros. Uma ambiguidade semelhante aparece em Sêneca,[93] e no 19º epitáfio de Ausônio,[94] narrado pelo próprio Troilo. O príncipe morto conta como ele foi arrastado por seus cavalos, após ser derrotado por Aquiles durante uma batalha desigual. Uma referência no epitáfio que compara a morte de Troilo com a de Heitor sugere que Troilo teria morrido num momento posterior do que o ocorrido na narrativa tradicional, algo que também ocorreria, de acordo com algumas interpretações, em Virgílio.[95]

Autores gregos e a tradução do rapaz-soldado editar

Quinto de Esmirna, numa passagem cuja atmosfera é descrita como "triste e elegíaca", retém o que para Boitani são as duas questões importantes da versão mais antiga da história: que Troilo tem o seu destino selado, e que o fato não existir sequência à sua linhagem simboliza a queda de Troia.[96] Não há dúvida, neste caso, que Troilo teria entrado em combate conscientemente, pois na Posthomerica a sua armadura é um dos presentes funerários distribuídos após a morte do próprio Aquiles. Quinto enfatiza repetidamente a juventude de Troilo: ele é imberbe, inupto, de aparência infantil, belo, o mais divino de todos os filhos de Hécuba. Ainda assim, foi atraído pelo Destino à guerra por não conhecer o medo, e acabou derrubado pela lança de Aquiles, como uma flor ou grão que não gera semente é morta pelo jardineiro.[97]

No Ephemeridos belli Trojani (Diário da guerra de Troia),[98] supostamente escrito por Dicte, o Cretense durante a própria guerra, Troilo também é um guerreiro derrotado em combate, porém desta vez capturado, juntamente com seu irmão, Licáon. Aquiles ordena que suas gargantas sejam cortadas em público, como forma de vingança por Príamo não ter consentido sequer discutir um possível casamento seu com Políxena. A narrativa de Dicte não menciona deuses e profecias, porém conserva a perda de Troilo como objeto de grande luto:

Os troianos deram um grito de dor e, mostrando seu pesar com intensidade, prantearam o fato de Troilo ter encontrado um fim tão funesto, pois lembravam-se de quão jovem ele era, ainda nos primeiros anos de sua maioridade, era um dos favoritos de toda a gente, querido por eles, não apenas por sua modéstia e honestidade, mas especialmente por sua bela aparência.[99]

A história nos períodos medieval e renascentista editar

 
William Shakespeare, Troilo e Créssida: quarto de 1609, página título

Nas fontes consideradas até agora, a única função narrativa de Troilo é a sua morte.[100] O tratamento do personagem muda de duas maneiras na literatura dos períodos medieval e renascentista. Primeiro, ele se torna um protagonista importante e ativo da própria Guerra de Troia. Segundo, ele se torna um amante heterossexual ativo, no lugar da vítima passiva da pederastia de Aquiles. Na altura da adaptação neoclássica feita por John Dryden da peça Troilo e Créssida, de William Shakespeare, o personagem já é definido pelo fim derradeiro de seu caso amoroso.

Para os escritores medievais, duas das fontes antigas mais influentes sobre a Guerra de Troia foram os alegados relatos em primeira pessoa de Dares, o Frígio, e Dictes, o Cretense - ambos os quais sobreviveram em suas versões latinas. Na Europa ocidental o lado troiano da guerra costumava ser favorecido, e havia assim uma predileção por Dares sobre Dictes.[101] Embora o relato de Dictes situe cronologicamente a morte de Troilo mais próxima ao fim da guerra do que tradicionalmente, ela está de acordo com a visão, tradicional na Antiguidade, de que ele teria sido um guerreiro menor, se é que chegou a ser um. A obra De excidio Trojae historia (História da Queda de Troia), de Dares,[102] apresenta o personagem como um herói que toma parte em eventos que vão além da história de sua morte.

Autores dos séculos XII e XIII, como José de Exeter e Alberto de Stade continuaram a narrar a lenda da Guerra de Troia em latim, numa forma que seguia a versão de Dares, na qual Troilo permanecia como um dos guerreiros mais importantes no lado troiano. Foram, no entanto, dois de seus contemporâneos, Benoît de Sainte-Maure, em sua versão francesa, e Guido delle Colonne, em sua história em prosa latina - ambos grandes admiradores de Dares - que acabaram por definir o conto de Troia para o restante do período medieval. Os detalhes de sua narrativa da guerra foram copiados, por exemplo, nos Livros de Troia de Laud e Lydgate, e também no Recuyell of the Historyes of Troye, de Raoul Lefevre. Lefevre, através da tradução de Caxton impressa em 1474, acabou por sua vez se tornando a versão mais conhecida da guerra troiana na Inglaterra renascentista, e influenciou Shakespeare, entre outros. A história de Troilo como um amante, inventada por Benoît e recontada por Guido, gerou uma segunda frente de influência, tomada por si só como um conto independente do resto da guerra, narrada, entre outros, por Boccaccio e Chaucer, estabelecendo uma tradição de elaboração sobre a história na literatura de língua inglesa que seria seguida por Henryson e pelo próprio Shakespeare.

O segundo Heitor, queda de Troia editar

Como indicado acima, foi através dos escritos de Dares, o Frígio que o retrato de Troilo como um importante guerreiro foi transmitido à era medieval. Alguns autores, no entanto, argumentaram que a tradição de Troilo como guerreiro poderia ser ainda mais antiga. A passagem da Ilíada descrita anteriormente foi utilizada por Boitani[103] para indicar que Príamo coloca Troilo no mesmo nível de seus outros filhos, guerreiros valentes. Sua descrição, naquele trecho, como hippiocharmên, foi interpretado por alguns estudiosos como indicando um guerreiro que está sobre uma biga, e não apenas alguém que aprecia cavalos.[11] As diversas fontes literárias parciais ou desaparecidas podem ter mencionado tal herói; no entanto, apenas um único vaso antigo mostra Troilo como um guerreiro a morrer durante uma batalha convencional.[87]

Literatura da Guerra de Troia na Idade Média[104]
Seguidores de Dares
José de Exeter De bello Troiano fim do século XII
Alberto de Stade Troilus finished 1249
(duas outras versões)
Seguidores de Dicte
(oito delas principalmente em grego)
Reunindo Dares e Dicte
Benoît de Sainte-Maure Roman de Troie concluído em c. 1184
Seguidores of Benoît
Guido delle Colonne Historia destructionis Troiae publicado em 1287
(pelo menos 19 outras versões)
Seguidores de Guido
Giovanni Boccaccio Il Filostrato c. 1340
Desconhecido Laud Troy Book c. 1400
John Lydgate Troy Book commissioned 1412
Raoul Lefevre Recuyell of the Historyes of Troye c. 1464
(pelo menos 16 outras versões)
Seguidores de Lefevre
William Caxton tradução impressa do Recuyell c. 1474
William Shakespeare Troilo e Créssida c. 1603
(diversas outras versões)

Dares editar

Em Dares, Troilo é o mais novo dos filhos do rei Príamo, belicoso sempre que a paz ou tréguas são mencionadas, e iguala-se a Heitor em coragem, "grande e belíssimo... corajoso e forte para sua idade, e ansioso por glória."[105] Mata diversos gregos, fere Aquiles e Menelau, e põe em debandada os mirmidões por mais de uma vez antes de seu cavalo cair, deixando-o preso, oportunidade aproveitada por Aquiles para atacá-lo e pôr um fim à sua vida. Mêmnon resgata seu corpo, algo que só acontece posteriormente nas outras versões da narrativa. A morte de Troilo ocorre, segundo Dares, no fim da guerra, e não em seu início; nesta versão ele chegou a viver por mais tempo que Heitor, sucedendo-lhe como grande líder dos troianos em combate. É como uma reação à morte de Troilo que Hécuba planeja a morte de Aquiles.

À medida que a tradição do Troilo guerreiro avançou ao longo do tempo, suas armas e a forma de combate também o fizeram. Em Dares ele já está montado a cavalo, e não é mais um soldado a pé ou sobre uma biga - algo que é um anacronismo com a narrativa épica.[106] Em versões posteriores ele chega a ser um cavaleiro, com uma armadura própria dos períodos nos quais tais obras foram escritas, e sua conduta condiz com o amor cortês ou quaisquer outros valores contemporâneos destes períodos.

Descrição em textos medievais editar

Os textos medievais seguem a estrutura de Dares da narrativa, descrevendo Troilo depois de seus pais e quatro irmãos, Heitor, Páris, Deifobo e Heleno.

José de Exeter, em seu Daretis Phrygii Ilias De bello Troiano (A Ilíada de Dares, o Frígio ou Sobre a Guerra de Troia), descreve o personagem assim:

Os membros de Troilo se expandem e preenchem todo o seu espaço.

Na mente um gigante, embora um garoto em anos, ele não perde

para ninguém em feitos ousados, com força em todas as suas partes

sua enorme glória brilha por todo o seu semblante.[107]

A descrição feita por Benoît de Sainte-Maure em Le Roman de Troie (O Romance de Troia) é longa demais para ser citada na íntegra, porém influenciou as descrições que se seguem. Benoît entra em detalhes a respeito do personagem e de sua aparência facial, evitadas por outros autores. Conta que Troilo era "o mais belo dos jovens de Troia", com:

cabelos claros, muito belos e naturalmente iluminados, olhos brilhantes e cheios de alegria... Não era insolente ou arrogante, porém tinha o coração leve, e era alegre e amoroso. Foi muito amado, e amou muito...[108]

Guido delle Colonne, em sua Historia destructionis Troiae (História da Destruição de Troia), diz:

O quinto e último chamava-se Troilo, um jovem rapaz tão valente quanto se é possível na guerra, sobre cuja coragem existem inúmeros contos, que esta história não omitirá posteriormente.[109]

O Laud Troy Book, romance em inglês antigo, também o menciona:

The youngest doughti Troylus

A doughtier man than he was on

Of hem alle was neuere non,-

Save Ector, that was his brother

There never was goten suche another.[110]

O rapaz que nos textos antigos jamais estava à altura a Aquiles agora havia se tornado um jovem cavaleiro, corajoso oponente dos gregos.

Cavaleiro e líder militar editar

Na tradição medieval e renascentista Troilo é um dos personagens que mais argumentam em favor da guerra contra os gregos no conselho de Príamo. Em diversos textos, como por exemplo no Laud Troy Book, ele chega a afirmar que aqueles que discordam deles deveriam ser sacerdotes.[111] Guido, e os autores que o seguiram, fizeram Heitor, sabendo de quão teimoso seu irmão podia ser, o aconselhasse a não ser descuidado antes da primeira batalha.[112]

Nos textos medievais Troilo é um cavaleiro destemido ao longo de toda a guerra, assumindo após a morte de Heitor, como na versão de Dares, o papel de principal guerreiro do lado troiano. Chega mesmo a ser chamado de um "segundo Heitor" por Chaucer e Lydgate.[113] Estes dois poetas seguem Boccaccio ao relatar que Troilo matara "centenas de gregos".[114]

Em José de Exeter, Troilo é maior que Alexandre, Heitor, Tideu, Belona e até mesmo Marte, e mata sete gregos com um golpe de seu tacape, não atinge as pernas de seu oponentes porque isto diminuiria o valor de sua vitória, e apenas luta contra cavaleiros e nobres, desenhando o confronto com os guerreiros comuns.

Alberto de Stade viu Troilo como sendo tão importante que foi o personagem-título de sua versão da Guerra de Troia. Ele era "a muralha de sua terra natal, a proteção de Troia, a rosa das forças armadas...."[115]

A lista de líderes gregos que Troilo fere aumenta nas diversas versões posteriores do mito, a partir dos dois narrados por Dares, e passa a incluir Agamenon, Diomedes e Menelau. Guido, mantendo sua promessa de narrar todos os feitos valentes de Troilo, descreve diversos incidentes. Troilo quase sempre sai vitorioso, porém é capturado por Menesteu numa batalha no início da guerra, e tem de ser resgatado por seus amigos. Este incidente aparece novamente no texto dos imitadores de Guido, como Lefevre, e os Troy Books de Lydgate e o Laud.[116]

Morte editar

No contexto da tradição medieval a respeito de Troia, Aquiles se retira do combate, durante a guerra, porque está prestes a se casar com Políxena. Eventualmente tantos de seus seguidores são mortos que ele decide voltar à batalha, o que acaba provocando a morte de Troilo e, por consequência, que Hécuba, Políxena e Páris tramem o assassinato de Aquiles.

 
Tapeçaria holandesa do século XV, que mostra as mortes de Troilo, Aquiles e Páris. Próximo ao topo do painel esquerdo, a espada erguida é empunhada por Aquiles, que está prestes a decapitar o indefeso Troilo. Na parte de baixo, ele está arrastando o cadáver decapitado atrás de seu cavalo.[117]

Alberto e José seguem a versão de Dares, e fazem Aquiles decapitar Troilo enquanto este tenta se erguer, depois de seu cavalo ter caído. Em Guido e nos autores influenciados por ele, Aquiles procura especificamente Troilo, para vingar-se de um confronto anterior no qual ele teria saído ferido. Aquiles teria, portanto, instruído os mirmidões a cercá-lo e impedir qualquer chance de resgate.

No Laud Troy Book isto ocorre porque Aquiles teria quase matado Troilo no combate anterior, porém seus compatriotas teriam logrado salvá-lo na última hora. O segundo combate é lutado como um duelo entre os dois, do qual Aquiles, o maior guerreiro, sai vitorioso.

Em Guido, Lefevre e Lydgate o comportamento do algoz de Troilo é muito diferente, quase desprovido de qualquer tipo de honra. Aquiles espera até que seus homens tenham matado o cavalo de Troilo e removido sua armadura. Apenas então,

Quando ele viu como Troilo jazia nu,

Pela longa batalha confuso e exausto

E de sua gente, sozinho, desamparado[118]

é que Aquiles o ataca e corta sua cabeça.

Num eco da Ilíada, Aquiles arrasta o corpo de Troilo com seu cavalo. A comparação, desta maneira, com o Heitor homérico é aumentada e, ao mesmo tempo, percebem-se determinados aspectos do destino clássico de Troilo.

O amante editar

 
Uma interpetação pré-rafaelita de Edward Burne-Jones no Chaucer de Kelmscott, ilustrado por William Morris

O último aspecto do personagem de Troilo a ter sido desenvolvido em sua tradição se tornou aquele pelo qual ele é mais conhecido. O Troilus and Criseyde, de Chaucer, e a peça Troilus and Cressida, de Shakespeare, concentram o foco em Troilo no seu papel como amante. Este tema foi introduzido pela primeira vez por Benoît de Sainte-Maure, no Roman de Troie, e desenvolvido por Guido delle Colonne. Il Filostrato, de Boccaccio, foi a primeira obra a ter esta história de amor de Troilo como seu tema principal. Robert Henryson e John Dryden foram outros autores que dedicaram obras a ela.

A história do romance de Troilo se desenvolveu dentro do contexto das convenções do amor cortês, centradas em torno do homem, e assim o foco de simpatia era o próprio Troilo e não sua amada.[119] À medida que diferentes autores recriaram o romance, eles o interpretaram de maneiras que afetaram tanto as perspectivas de suas próprias épocas quanto suas próprias preocupações individuais. A história, tal como acabou sendo desenvolvida pelas obras de Bocccaccio, Chaucer e Shakespeare, está resumida a seguir:

A história de Troilo e Créssida editar

Troilo costumava ironizar a tolice dos casos de amor de outros rapazes. Um dia, no entanto, vê Créssida - jovem viúva, filha do sacerdote Calcas, que desertou para o lado dos gregos - no templo de Atena e se apaixona por ela.

Envergonhado por ter se tornado exatamente o tipo de pessoa que ele costumava ridicularizar, Troilo tenta esconder seu amor. À medida que sofre por Créssida, no entanto, acaba despertendo a curiosidade de seu amigo, Pândaro, que pergunta o motivo de sua infelicidade, e eventualmente convence Troilo a revelar seu amor.

Pândaro se oferece para agir como um intermediário, apesar do fato de que ele, como parente de Créssida, deveria resguardar sua honra. Pândaro convence-a a reconhecer que o amor que Troilo sente por ela é recíproco, e ajuda ambos a consumarem seus desejos.

Sua felicidade é interrompida, no entanto, quando Calcas convence Agamenon a organizar o retorno de Créssida consigo, como parte de uma troca de reféns na qual Antenor, um troiano capturado, seria libertado. Os dois amantes entram em desespero, e pensam até mesmo em fugir, porém finalmente acabam cooperando com a troca. Apesar da intenção inicial de Créssida de permanecer fiel a Troilo, o guerreiro grego Diomedes acaba por conquistar seu coração. Quando Troilo fica sabendo disso, jura vingar-se de Diomedes e dos gregos, e é morto durante o combate. Assim como Créssida traiu Troilo, Antenor acaba por trair Troia, mais tarde.

Benoît e Guido editar

No Roman de Troie, a filha de Calcas por quem Troilo é apaixonado chama-se Briseide. Sua relação é mencionada pela primeira vez depois que a troca de reféns foi acertada:

Quem quer que estivesse alegre ou feliz, Troilo sofria com tristeza e pesar. Isto tudo se dava pela filha de Calcas, pois ele a amava profundamente. Havia comprometido seu coração a ela; esta de tal maneira possuído pelo seu amor que pensava apenas nela. Ela havia se entregado a ele, tanto seu corpo quanto seu amor. A maior parte dos homens o sabia.[120]

Em Guido, o objeto do amor de Troilo e Diomede agora se chama Briseida. Esta versão da história é mais moralista e menos comovente, e remove a complexidade psicológica da versão de Benoît, e o foco na narração do triângulo amoroso muda firmemente para o ponto da traição de Troilo por Briseida. Embora esta e Diomedes sejam caracterizados de maneira muito negativa pelo moralismo de Guido, até mesmo Troilo é criticado, na medida em que é por demais vulnerável aos defeitos da juventude.[121]

Troilo, no entanto, após descobrir a intenção de seu pai de ir adiante e soltar Briseida, devolvendo-a aos gregos, foi tomado e completamente destruído por um grande pesar, e quase que inteiramente consumido por lágrimas, suspiros angustiados e lamentos, pois admirava-a com o grande fervor do amor juvenil, e havia sido levado, pelo ardor excessivo deste amor, ao sofrimento intenso da paixão incandescente. Não havia um sequer de seus entes queridos que podia consolá-lo.[122]

Briseide, pelo menos até o momento, é afetada da mesma maneira pela possibilidade de separação de seu amor. Troilo vai até seu quarto e passam a noite juntos, tentando consolar um ao outro. Troilo faz parte da escolta que deve levá-la de volta no dia seguinte. Quando ela já está com os gregos, Diomedes fica imediatamente encantado com sua beleza. Embora ela não lhe manifeste hostilidade, não consegue aceitá-lo como amante. Enquanto isso Calcas lhe manda aceitar que os deuses decretaram a queda de Troia, e que ela está mais segura por estar entre os gregos.

Logo uma batalha ocorre, e Diomedes derruba Troilo de seu cavalo. O grego o captura e envia como um presente para Briside/Briseida, explicando que ele pertencera a seu antigo amante. Em Benoît, Briseide reclama da tentativa de Diomedes de conquistá-la humilhando Troilo, porém em Guido tudo o que resta do longo discurso feito por ela em Benoît é que ela "não pode odiar aquele que me ama com tamanha pureza no coração."[123]

Diomedes logo, no entanto, conquista seu coração. Em Benoît, ele o faz através de suas demonstrações amorosas, e ela lhe dá sua luva como um presente. Troilo o procura durante uma batalha, e o derrota contundentemente, mantendo-o vivo apenas para que leve a ela uma mensagem exprimindo o seu desprezo. Em Guido, a mudança de opinião de Briseida ocorre apenas depois que Troilo fere Diomedes com gravidade. Briseida cuida de Diomedes, e decide tornar-se sua amante, pois não sabe se encontrará Troilo novamente.

Nas narrativas sobre o conflito do fim da Idade Média, o episódio de Troilo e Briseida/Créssida é mencionado, e frequentemente tido como o motivo pelo qual Diomedes e Troilo se enfrentam em combate. A história de amor também passa a ser narrada separadamente.

Boccaccio editar

 
Abertura do Canto 2 de manuscrito do século XIV do Filostrato, de Boccaccio; a ilustração mostra Pândaro visitando Troilo, cujo amor não-correspondido faz com que não saia de sua cama. Codex Christianei, Ex Bibliotheca Gymnasii Altonani (Hamburgo)

A primeira obra de destaque a tomar a história do amor trágico de Troilo como tema central foi Il Filostrato, de Giovanni Boccaccio.[124] O título significa "derrotado pelo amor".[125] O texto apresenta um propósito obscuro; no proêmio, o próprio Boccaccio é Filostrato, e se dirige à sua própria amada, que o rejeitou.[126]

Boccaccio apresenta diversas características à história que seriam adotadas posteriormente por Chaucer. A mais óbvia é nome da amada de Troilo agora ser Criseida ou Créssida.[127] Uma inovação na narrativa foi a introdução do intermediário, Pândaro. Troilo é caracterizado como um jovem que exterioriza com intensidade todos os seus estados de espírito, chorando quando seu amor não é bem-sucedido, e generoso quando ele o é.

Boccaccio descreve a história, antes da troca de reféns, da seguinte maneira: Troilo satiriza os olhares apaixonados de outros homens, que depositam suas confianças em mulheres, até ele próprio cair, vitimado pelo amor, quando vê Créssida - uma jovem viúva - no Palladium, o templo de Atena. Troilo mantém seu amor em segredo, e torna-se extremamente infeliz. Pândaro, seu melhor amigo e primo de Créssida nesta versão da história, atua como intermediário, após persuadir Troilo a lhe explicar o motivo de seu sofrimento. De acordo com as convenções do amor cortês, o amor de Troilo permanece escondido de todos, exceto o próprio Pândaro,[128] até que Cassandra eventualmente vaticina o motivo da tristeza subsequente de Troilo.

Após a troca de reféns ser decidida, Troilo sugere fugir para se casar em ela, porém Créssida argumenta que não devem abandonar Troia, e que ela deve proteger sua honra. Em vez disso, ela promete encontrá-lo dentro de dez dias. Troilo passa boa parte deste período sobre as muralhas da cidade, suspirando enquanto olha para a direção onde Créssida foi levada. Nenhum recurso é usado, como os cavalos de Guido e Benoît, para demonstrar a Troilo a mudança no coração de Créssida; em vez disso, Troilo lhe desperta suspeitas, e a verdade é confirmada quando um broche - presente seu a ela - é encontrado nas roupas roubadas de Diomedes. Neste meio tempo Créssida prosseguiu afirmando, na correspondência que mantinha com Troilo, que ainda o amava. Após a confirmação da traição de Créssida, Troilo se torna ainda mais feroz em combate.

Chaucer e seus sucessores editar

 
Chaucer, recitando seu Troilus. Frontispício de manuscrito de Troilus and Criseyde do início do século XV, Corpus Christi College, Cambridge

Troilus and Criseyde,[129] do escritor inglês Geoffrey Chaucer, reflete uma visão de mundo mais bem-humorada que o poema de Boccaccio. Chaucer não traz consigo uma história trágica de amor para mostrar na obra e portanto pode assumir um distanciamento irônico dos eventos; como consequência, sua Criseyde é mostrada de uma maneira mais favorável.[130] Em contraste com o canto final de Boccaccio, que aborda novamente a própria situação pessoal do poeta, a palinódia de Chaucer mostra Troilo olhando para baixo, do céu, a rir, finalmente consciente da falta de sentido das emoções terrenas. Cerca de um terço dos versos do Troilus foram adaptados do Filostrato, que é muito mais curto; o que deixou espaço para uma narrativa muito mais detalhada e caracterizada.[131]

A Criseyde de Chaucer é conquistada por um Diomedes que a manipula através do medo. Pândaro agora é um tio da moça, mais mundano e com uma participação mais ativa no que acontece, enquanto Troilo tem um papel mais passivo.[132] Esta sua passividade recebe um tratamento cômico quando Troilo desmaia no quarto de Criseyde, e é erguido até a cama dela por Pândaro. A recorrente parálise emocional de Troilo é comparável à de Hamlet, e pode até mesmo ter sido uma de suas inspirações. O personagem é movido pela lealdade, tanto a Criseyde quanto à sua pátria, porém também já foi interpretado de maneiras mais desafavoráveis.[133]

Outra diferença na caracterização de Troilo nesta obra, em comparação com o Filostrato, é que ele não mais é misógino, em seu início. Em vez de satirizar os homens que amam por depositarem sua confiança nas mulheres, ele os ridiculariza pela maneira com que o amor lhes afeta.[134] A visão de Troilo do amor é austera: o compromisso total oferece a gratificação total; qualquer forma de fracasso significa a rejeição total. Ele é incapaz de compreender as sutilezas e complexidades que estão por trás das vacilações de Criseyde e dos estratagemas de Pândaro.[135]

Em sua narrativa Chaucer associa os destinos de Troia e Troilo, e o declínio na fortuna de ambos após a troca de Criseyde pelo traiçoeiro Antenor é o paralelo mais significante.[136] Pouco foi alterado na estrutura geral da trama desde Boccaccio. Os fatos ficaram apenas mais detalhados; Pândaro, por exemplo, envolve o filho do meio de Príamo, Deífobo, em suas tentativas de unir Troilo a Créssida. Outra cena acrescentada por Chaucer acabou sendo retrabalhada por Shakespeare; nela, Pândaro tenta persuadir Créssida da superioridade das virtudes de Troilo sobre as de Heitor, quando tio e sobrinha presenciam o retorno de Troilo do combate, em meio a grande júbilo da população, e trazendo um capacete muito danificado. Chaucer também inclui detalhes de narrativas anteriores; assim, faz-se referência não só ao broche mencionado por Boccaccio, mas também à luva, ao cavalo capturado e às batalhas dos dois apaixonados, presentes em Benoît e Guido.

Devido ao grande sucesso do Troilus, a história de amor tornou-se popular como uma narrativa à parte, contada por diversos autores de língua inglesa por todos os séculos XV, XVI e até mesmo no XVII. O tema era tratado tanto de maneira séria como burlesca. Para muitos escritores, o fiel Troilo, a falsa Créssida e o proxenético Pândaro tornaram-se tipos ideiais, a serem mencionados juntos eventualmente, como em [137]

Durante o mesmo período, diversas versões em inglês da narrativa mais ampla da Guerra de Troia costumavam evitar os acréscimos de Boccaccio e Chaucer à história, embora seus autores - entre eles Caxton - comumente reconhecessem Chaucer como um antecessor respeitável. O Troy Book, de John Lydgate, é uma exceção;[138] incorpora, por exemplo, Pândaro como um dos elementos, porém é Guido quem fornece a estrutura geral da narrativa. Tal como com outros autores, o tratamento que Lydgate dá ao personagem contrasta a constância de Troilo em todas as coisas com a volubilidade de Créssida. Os eventos da guerra e a história de amor se interlaçam. A habilidade de Troilo em combate aumenta notavelmente depois que ele toma consciência de que Diomedes está começando a conquistar o coração de Créssida, porém é pouco tempo depois da vitória final de Diomedes no amor que Aquiles e seus mirmidões atacam traiçoeiramente e matam Troilo, mutilando seu corpo, encerrando assim a visão de Lydgate do personagem como um herói épico,[139] o mais puro de todos que aparecem na obra.[140]

De todos os diferentes tratamentos dados à história de Troilo e, especialmente, Créssida, no período entre Chaucer e Shakespeare, é o de Robert Henryson que recebe a maior atenção dos críticos modernos. Seu poema The Testament of Cresseid (O Testamento de Criseida) foi descrito pelo estudioso do inglês médio C. David Benson como o "único poema do século XV escrito na Grã-Bretanha que chega perto de desafiar a complexidade moral e artística do Troilus de Chaucer."[141] No Testamento a personagem-título é abandonada por Diomedes e contrai lepra, tornando-se irreconhecível para Troilo; este, compadecendo-se de sua condição física, passa a ser generoso por ela sem a reconhecer, mas por ela lembrá-lo de seu antigo amor; permanece, no entanto, sendo o cavaleiro pagão virtuoso, e não obtém a mesma redenção que ela. Ainda assim, depois de Henryson Troilo passou a ser visto como uma representação da generosidade.[142]

Shakespeare e Dryden editar

 
Troilo e Créssida no pomar de Pândaro. Valentine Walter Bromley, baseado na obra de Shakespeare

Outro enfoque da história de amor de Troilo nos séculos que se seguiram a Chaucer consistiu de tratar Troilo como um tolo, algo que Shakespeare fez em diversas alusões nas suas peças, culminando com a própria Troilo e Créssida (Troilus and Cressida).[143] Na "peça problemática"[144] existem elementos de Troilo, o tolo, que podem no entanto ser desculpados pela idade; ele é um jovem praticamente imberbe, incapaz de compreender inteiramente como funcionam suas próprias emoções, em meio a uma paixão adolescente, mais apaixonado pelo amor e pela imagem que faz de Créssida do que da própria mulher em si.[145] Apresenta um misto de idealismo, a imaginar amantes fiéis para sempre, e de realismo, ao condenar o "vício da misericórdia" de Heitor.[146] Seu conceito de amor envolve tanto um desejo pela gratificação sexual imediata quanto uma crença na fidelidade eterna.[147] Tem também uma mistura de constância (no amor, e em seu apoio pelo prosseguimento da guerra) e inconsistência (mudando de opinião por duas vezes na primeira cena, sobre ir ou não à batalha). Mais um Hamlet que um Romeu,[148] no fim da peça, com suas ilusões sobre o amor destruídas e Heitor morto, Troilo mostra alguns sinais de maturidade, reconhecendo a natureza do mundo, rejeitando Pândaro e focando-se em vingar a morte de seu irmão, no lugar de um coração ferido ou de um cavalo roubado.[149] A escritora e acadêmica americana Joyce Carol Oates, por outro lado, vê Troilo iniciando e terminando a peça em frenesis - o primeiro de amor, e o segundo de ódio. Para ela, Troilo é incapaz de alcançar o equilíbio de um heroi trágico, a despeito de suas experiências de aprendizado, pois continua sendo um ser humano que pertence a um mundo banal, no qual o amor é comparado à comida e a perfeição não pode ser atingida.[150]

Entre as fontes de Troilus and Cressida estão Chaucer, Lydgate, Caxton e Homero,[151] porém existem também criações do próprio Shakespeare, e o tom geral da obra é muito diferente das de seus antecessores. Shakespeare escreveu numa época em que as tradições do amor cortês já estavam mortas, e a Inglaterra passava por mudanças sociais e políticas.[152] A abordagem de Shakespeare do tema do amor de Troilo é muito mais cínica que a de Chaucer, e o personagem de Pândaro agora é grotesco. Todos os heróis da Guerra de Troia, em sua versão, são ridicularizados.[153] As ações de Troilo estão sujeitas aos comentários e ao ridículo tanto do corrupto Pândaro quanto do cínico Térsites, que nos diz:

...That dissembling abominable varlet Diomed has got that same scurvy, doting, foolish knave's sleeve of Troy there in his helm. I would fain see them meet, that that same young Trojan ass, that loves the whore there, might send that Greekish whoremasterly villain with the sleeve back to the dissembling luxurious drab of a sleeveless errand...[154]
 
Térsites (à esquerda, com a tocha) observa Ulisses contendo Troilo, enquanto Diomedes seduz Créssida. Pintado por Angelica Kauffmann, em 1789, e gravado por Luigi Schiavonetti para a edição ilustrada de Troilo de Créssida da Boydell Shakespeare Gallery, em 1795

A ação na peça foi comprimida e truncada, iniciando-se in medias res, com Pândaro já trabalhando em prol de Troilo e louvando suas virtudes a Créssida sobre a de outros cavaleiros que eles vêem retornando da batalha - porém, de maneira cômica, confundindo-o com Deífobo. Os amantes troianos ficam juntos por apenas uma noite antes que a troca de reféns ocorra. Trocam uma luva e uma manga como provas de amor, porém na noite seguinte Ulisses leva Troilo até a tenda de Calcas, colocada consideravelmente próxima à de Menelau.[155] Lá eles testemunham Diomedes seduzir Créssida, com sucesso, após pegar dela a manga de Troilo. O jovem troiano luta com o que seus olhos e ouvidos lhe dizem, não desejando acreditar. Depois ter considerado anteriormente abandonar a falta de sentido da guerra por seu papel como amante, e de procurar reconciliar o amor e a conduta cavalheiresca, Troilo agora vê a guerra restar como seu único papel.[156]

Ambos os confrontos entre Troilo e Diomedes das narrativas tradicionais de Benoît e Guido ocorrem no dia seguinte, na versão de Shakespeare. Diomedes captura o cavalo de Troilo no primeiro, e o envia a Créssida. O troiano, por sua vez, triunfa no segundo, embora Diomedes consiga escapar. Desviando-se, no entanto, da narrativa, Shakespeare faz Heitor, e não Troilo, ser capturado e morto pelos mirmidões na batalha climática da peça, e ter seu corpo arrastado pelo cadáver de Aquiles. O próprio Troilo fica vivo, e jura vingança pela morte de Heitor e pela rejeição de Pândaro. A história de Troilo termina como começou, in medias res, com ele e o restante dos personagens de seu triângulo amoroso ainda vivos.

Setenta anos depois que a peça de Shakespeare foi encenada pela primeira vez, John Dryden a reescreveu como uma tragédia, fortalecendo, a seu ver, o personagem de Troilo e toda a peça, removendo muitas das linhas não-resolvidas na trama e as ambiguidades na maneira com que Shakespeare retratou o protagonista como um jovem crédulo, no lugar de um herói convicto e simpático ao leitor.[157] Dryden descreveu o que ele fez como "remover aquela pilha de lixo, sob a qual inúmeros pensamentos excelentes estavam enterrados."[158] Seu Troilo é menos passivo a respeito da troca de reféns, discutindo com Heitor sobre a entrega de Créssida, que continua fiel. A cena com Diomedes, testemunhada por Troilo, é a tentativa dela de "enganar os enganadores".[159] Créssida se joga aos pés de seus amantes, em meio ao combate, para proteger Troilo, e comete suicídio para provar sua lealdade. Incapaz de deixar um Troilo vivo sobre o palco, como Shakespeare fez, Dryden traz de volta a sua morte pelas mãos de Aquiles e dos mirmidões, mas somente depois de ele ter matado Diomedes. Dryden vai rumo "ao extremo oposto de Shakespeare... resolvendo todos os problemas e, assim, matando a tragédia".

Versões modernas editar

Depois do Shakespeare de Dryden, Troilo torna-se praticamente invisível na literatura, até o século XX. Keats refere-se a Troilo e Créssida no contexto do "poder soberano do amor"[160] e Wordsworth traduziram menções ao personagem em trechos de Chaucer porém, via de regra, o amor era retratado de maneiras muito diferentes da representada na história de Troilo e Créssida.[161] Boitani vê as duas Grandes Guerras e o compromisso do século XX "na recuperação de todo tipo de mitos passados"[162] como tendo contribuído para o ressurgimento do interesse em Troilo como um ser humano destruído por eventos fora de seu controle. De maneira semelhante, Foakes vê o pós-Primeira Guerra e a ameaça iminente de uma segunda como elementos-chave de um revival bem-sucedido do Troilo de Shakespeare em duas produções da segunda metade do século XX,[163] e um dos autores chega a mencionar The March of Folly: From Troy to Vietnam, de Barbara Tuchman, como tendo conflagrado este desejo de recontar a história da Guerra de Troia[164]

Boitani analisa o uso moderno do personagem de Troilo num capítulo chamado Eros e Tânato.[165] Amor e morte, o último tanto como tragédia em si ou como um símbolo épico da própria destruição de Troia, portanto, são os dois elementos centrais do mito de Troilo para o editor do primeiro livro a analisá-lo como tema principal desde tempos antigos. Boitani vê o personagem como incapaz de uma transformação, em escala heróica, a exemplo de Ulisses, e também impedido da possibilidade de se desenvolver como uma figura arquetípica de jovem problemático, a exemplo de Hamlet. A atração de Troilo para os séculos XX e XXI é sua própria humanidade.[162]

A crença na tradição medieval da Guerra de Troia que se seguiu a Dicte e Dares sobreviveu ao Renascimento e ao advento da primeira tradução da Ilíada para o inglês na forma do Homero de Chapman (Shakespeare usou tanto Homero quanto Lefevre como fontes para o seu Troilo). Os dois relatos supostamente testemunhais, no entanto, finalmente foram desacreditados por Jacob Perizonius nos primeiros anos do século XVIII.[166] Com a obliteração da principal fonte para o seu retrato como um dos mais ativos guerreiros da Guerra de Troia, Troilo tornou-se um personagem opcional na ficção troiana moderna, com exceção daqueles que optaram por recontar a história de amor em si. Lindsay Clarke e Phillip Parotti, por exemplo, omitiram Troilo inteiramente. Hilary Bailey incluiu um personagem com este nome em Cassandra: Princess of Troy, porém pouco restou nela das versões clássicas ou medievais, com a exceção da luta contra Diomedes. Algumas das sessenta versões da Guerra de Troia feitas desde 1916,[167] no entanto, apresentam o personagem.

Novamente um rapaz editar

Uma consequência da reavaliação das fontes é o reaparecimento de Troilo em sua forma antiga, como um andropais.[168] Troilo toma esta forma em The Trojan War Will Not Take Place, de Giraudoux, sua primeira aparição de sucesso no século XX.[169] Troilo é um rapaz de quinze anos de idade que Helena percebe seguindo-a. Após recusar a oportunidade de beijá-la, quando ela se oferece, e de ser confrontado por Páris, ele eventualmente aceita o beijo, no fim da peça, quando Troia já está comprometida com a guerra - simbolizando assim o fascínio fatal de toda a cidade por Helena.[170]

Troilo, numa de suas antigas manifestações como o rapaz-soldado que foi derrotado, reaparece tanto nas obras que Boitani discute quanto naquelas que não menciona. Christa Wolf, em seu Kassandra, mostra um Troilo de dezessete anos de idade, o primeiro de todos os filhos de Príamo a morrer. O tratamento que o romance dá à morte do personagem tem traços tanto das versões antigas quanto medievais.[171] Troilo acabou de conquistar seu primeiro amor, novamente chamada Briseide. Somente após sua morte é que ela o trai. No primeiro dia da guerra Aquiles o procura, forçando-o ao combate com o auxílio dos mirmidões; Troilo tenta lutar da maneira que lhe foi ensinado que príncipes devem fazer, porém Aquiles o derruba e pula sobre ele; o rapaz consegue escapar e foge ao santuário do templo de Apolo, onde recebe ajuda para sair de sua armadura. Então, em "algumas das mais poderosas e arrepiantes palavras já escritas sobre a morte de Troilo",[172] Wolf descreve como Aquiles entre no templo, acaricia e então estrangula o garoto aterroziado, que jaz sobre o altar, antes de finalmente decapitá-lo como uma vítima de sacrifício. Após sua morte, o conselho de Troia propõe que Troilo seja declarado oficialmente como vinte anos, na esperança de que a profecia sobre ele não tenha validade, porém Príamo, em seu luto, recusa-se, alegando que isto insultaria ainda mais seu filho. Ao "explorar o lado obscuro e violento da sexualidade e o lado obscuro e sexual da violência",[173] Wolf ressuscita um tema sugerido nos antigos vasos, nos quais uma "aura erótica parecia penetrar as representações de um Aquiles completamente armado, perseguindo ou esquartejando um Troilo nu e juvenil."[174]

Colleen McCullough é outro autor que incorpora o tema medieval da procura de Aquiles por Troilo, durante o combate, e o massacre no altar das fontes da Antiguidade. Sua The Song of Troy (Canção de Troia) inclui dois personagens, Troilos e Ilios,[175] que são os filhos mais novos de Príamo - ambos com profecias ligadas a seu nome, e que receberam os nomes dos fundadores da cidade. Têm oito e sete anos respectivamente quando Páris parte para a Grécia, e estão no fim da adolescência quando são mortos. Troilos é nomeado herdeiro de Príamo após a morte de Heitor, contra a sua vontade. Os espiões de Odisseu descobrem a profecia que Troia não será conquistada se Troilo se tornar maior de idade, e Aquiles sai em sua procura na batalha seguinte, matando-o com um golpe de lança na garganta. Numa referência ao conceito medieval de Troilo como o segundo Heitor, Automedonte comenta que "com mais alguns anos, poderia ter se tornado outro Hektor."[176] Ilios é o último filho de Príamo a morrer, sobre o altar e diante de seus pais, por Neoptólemo.

The Firebrand, de Marion Zimmer Bradley, mostra um Troilo ainda mais jovem, com apenas doze anos de idade quando se torna o condutor da biga de Heitor (seu irmão procura mantê-lo sob sua proteção, agora que está apto ao combate). Troilo o ajuda a matar Pátroclo e, embora consiga escapar da situação que ocasiona a morte de Heitor, acaba sendo ferido. Depois que os troianos testemunham o tratamento dado por Aquiles ao cadáver de Heitor, Troilo insiste em retornar ao combate, apesar de seus ferimentos e das tentativas de Hécuba de demovê-lo da ideia. Aquiles o mata com uma flecha, e Hécuba, em luto, afirma que ele não mais queria viver, por se culpar pela morte do irmão.

Reinventando a história de amor editar

Uma característica já presente nos tratamentos dados à história de amor por Chaucer, Henryson, Shakespeare e Dryden é a repetida reinvenção de sua conclusão. Boitani vê isto como uma luta contínua destes autores para encontrar uma resolução satisfatória ao triângulo amoroso. A principal dificuldade é a insatisfação emocional que surge do fato de que o conto, tal como inventado originalmente por Benoît, está incrustado na narrativa preexistente da Guerra de Troia, que trazia consigo a exigência dos personagens terem seus destinos tradicionais. Nesta narrativa Troilo, o personagem simpático da história de amor, é morto por Aquiles, um personagem totalmente independente do triângulo amoroso, Diomedes sobrevive e volta vitorioso à Grécia, e Créssida deixa de ser mencionada assim que se descobre que ela se apaixonou pelo grego. Autores modernos, no entanto, continuam a inventar suas próprias resoluções aos conflitos.[177]

Troilus and Cressida, de William Walton, é a mais conhecida e bem-sucedida de uma série de óperas feitas no século XX a respeito do tema, depois que os compositores de eras passadas haviam ignorado totalmente a possibilidade de encenar a história.[178] O libreto de Christopher Hassall misturou elementos de Chaucer e Shakespeare com invenções próprias, surgidas da necessidade de deixar a trama mais compacta, o desejo de retratar Créssida mais favoravelmente, e a procura por um fim satisfatório.[179] Antenor é, como de costume, trocado por Créssida porém, nesta versão do conto, sua captura teria ocorrido enquanto estava numa missão a serviço de Troilo. Créssida concorda em se casar com Diomedes depois de não ouvir mais notícias de Troilo. Seu aparente silêncio, no entanto, ocorreu porque suas cartas haviam sido interceptadas. Troilo chega ao acampamento grego pouco antes do casamento; ao deparar-se com os dois amantes, Créssida escolhe Troilo - que é então morto por Calcas com uma facada nas costas. Diomedes envia seu corpo de volta para Príamo, com Calcas acorrentado. A este ponto os gregos condema a "falsa Créssida", porém esta comete suicídio, enquanto canta a Troilo que

...turn on that cold river's brim

beyond the sun's far setting.

Look back from the silent stream

of sleep and long forgetting.

Turn and consider me

and all that was ours;

you shall no desert see

but pale unwithering flowers.[180]

Esta é uma das três referências feitas na literatura do século XX a Troilo nas margens do rio Estige identificadas por Boitani. O longo poema de Louis MacNeice, The Stygian Banks, tira seu nome explicitamente de Shakespeare, que fez Troilo se comparar a "uma estranha alma sobre as margens do Estige" e pede a Pândaro que o transporte "àqueles campos onde eu posso me deitar sobre os campos de lírios."[181] No poema de MacNeice as flores foram transformadas em crianças, um uso paradoxal do tradicionalmente estéril Troilo.[182]

Patrols the Stygian banks, eager to cross,

But the value is not on the further side of the river,

The value lies in his eagerness. No communion

In sex or elsewhere can be reached and kept

Perfectly for ever. The closed window,

The river of Styx, the wall of limitation

Beyond which the word beyond loses its meaning,

Are the fertilising paradox, the grille

That, severing, joins, the end to make us begin

Again and again, the infinite dark that sanctions

Our growing flowers in the light, our having children...[183]

A terceira referência ao Estige está em The Trojan Horse, de Christopher Morley. Um retorno à comédia romântica de Chaucer foi a solução vista por Boitani ao problema de como a história de amor pode sobreviver à maneira com que Shakespeare a abordou.[184] É este o tratamento dado por Morley num livro que celebra o seu anacronismo. O jovem tenente (prestes a ser capitão) Troilo vive sua vida em 1 185 a.C., onde tem sua vida cuidadosamente organizada, desde suas orações até os combates, e até a mesmo a auto-avaliação de seus próprios erros. Apaixona-se por Créssida após vê-la, como sempre, no Templo de Atena, onde está vestida de negro, como que de luto pela deserção de seu pai, o economista Dr. Calcas. O fluxo da trama segue a história tradicional, porém o final mais uma vez é alterado; a descoberta, por Troilo, da mudança no amor de Créssida ocorre pouco antes da queda de Troia (Morley usa a versão de Boccaccio da história de um broche ou, neste caso, um alfinete, preso numa peça de armadura de Diomedes capturada pelos gregos, como a evidência que convence os troianos). Troilo mata Diomedes quando este sai do Cavalo de Troia, apunhalando-o na garganta, onde a peça de armadura estaria. Aquiles então mata Troilo, e o livro termina com um epílogo. Os oficiais gregos e troianos praticam exercícios próximo ao rio Estige, esquecidos de todas as inimizades, quando uma recém-chegada (Créssida) vê Troilo e Diomedes e se pergunta por que eles lhe parecem familiares. A metáfora, para Boitani, substitui a versão cristã da vida após a morte presente em Chaucer.[185]

Referências editar


  1. Vidal-Naquet, Pierre. Le monde d'Homère, Perrin 2000, p19
  2. Por uma questão de simplificação, a Ilíada e a Odisseia serão consideradas parte do Ciclo Épico, embora o termo frequentemente seja usado para descrever apenas as obras não-homéricas.
  3. Boitani, (1989: pp.4-5).
  4. Burgess (2001: pp.144-5).
  5. Beazley Archive (visitado em 25-12-2007). Obs: Os bancos de dados só podem ser acessados para pesquisas e uso acadêmico.
  6. Exemplos desta prática estão na seção "Troilos and Lykaon", em Gantz (1993: pp.597-603), e o capítulo "Antiquity and Beyond: The Death of Troilus", em Boitani (1989: pp.1-19).
  7. Sommerstein (2007: pp. 197,196).
  8. Epíteto homérico utilizado para se referir a Aquiles neste contexto; ver March (1998: p.389) e Sommerstein (2007: p.197).
  9. Burgess (2001: p.64).
  10. Homero, Ilíada (XXIV, 257). O texto da passagem completa em grego está disponível no site do Perseus Project [1] (visitado em 22-2-2010).
  11. a b Carpenter (1991: p.17), March (1998: p.389), Gantz (1993: p.597) e a tradução de Lattimore em [2] Arquivado em 9 de maio de 2008, no Wayback Machine. (e, talvez, Woodford, 1993: p.55) interpretam hippiocharmên como 'que ama cavalos'; Boitani (1989: p.1), citando a tradução de Alexander Pope da Ilíada, e as traduções e o léxico de Liddell and Scott disponíveis no Perseus Project interpretam o termo como "guerreiro sobre biga". Sommerstein (2007) oscila entre os dois significados, utilizando cada um em diferentes locais do mesmo livro (p.44, p.197). A confusão a respeito do significado data da Antiguidade; A Scholia D (disponível, em grego, em [3] Arquivado em 10 de junho de 2007, no Wayback Machine. - visitado em 14-8-2007) afirma que a palavra pode tanto significar um guerreiro a cavalo ou alguém que se deleita com cavalos (p.579). Outras scholia argumentam que Homero não poderia considerar Troilo um garoto, tanto por ele ser considerado um dos melhores, quanto por ser descrito como um "guerreiro-cavalo". (Scholia S-I24257a e S-I24257b respectivamente, disponíveis em grego em [4] - visitados em agosto de 2007.)
  12. Homero, Ilíada 24.506.
  13. Sommerstein (2007: pp. 44, 197-8).
  14. Texto disponível em [5]. (visitado em 1-8-2007.)
  15. Sommerstein (2007: p.198).
  16. Todas estas fontes literárias foram discutidas em Boitani (1989: p.16), Sommerstein (2007) e/ou Gantz (1993: p597, p.601).
  17. Sommerstein (2007:pp. xviii-xx).
  18. Health, Malcolm. "Subject Reviews: Greek Literature", Greece & Rome, Vol.54, No 1. (2007), pp.111-6, [6] (visitado em 1-8-2007). Nas páginas 112-3 Heath analiza Sommerstein et al. (2007).
  19. Sommerstein (2007: pp.199-200).
  20. 3 fr 13 Sn, citado em Gantz (1993: p.597), Sommerstein (2007: p.201) e Boitani (1989: p.16).
  21. Texto disponível com tradução paralela para o inglês em Sommerstein (2007 pp:218-27).
  22. Sófocles, fragmento 621. Texto disponível na edição Loeb ou em Sommerstein (2007).
  23. Scholia S-I24257a, disponível em grego em [7]. (visitado em 14-8-2007), traduzido e discutido em Sommerstein (2007: p.203).
  24. Boitani (1989: p.15); Sommerstein (207: pp. 205-8).
  25. Sófocles, Troilo Fragmento 528. Texto com tradução em Sommerstein (2007: pp.74-5), e discussão em Sommerstein (2007: p.83).
  26. Sommerstein (2007: pp.203-12).
  27. Sófocles, Troilo (fr.620).
  28. Sófocles, Troilo (fr.629).
  29. Sommerstein (2007: pp.204-8).
  30. Boitani (1989, p:18).
  31. Boitani (1989: p.16).
  32. Ay! me, for thee fair-fostered flower, too, I groan, O lion whelp, sweet darling of thy kindred, who didst smite with fiery charm of shafts the fierce dragon and seize for a little loveless while in unescapable noose him that was smitten, thyself unwounded by thy victim: thou shalt forfeit thy head and stain thy father’s altar-tomb with thy blood. Licofronte, Alexandra 307-13, trad. de A. W. Mair, edição disponível na Loeb Classical Library. Um arquivo PDF de manuscrito em grego está disponível em [8] (visitado em 1-8-2007).
  33. Os comentários de Tzetzes não estão disponíveis prontamente, porém foram discutidos por Gantz (1993: p.601) e Boitani (1989: p.17).
  34. Sommerstein (2007: p.201).
  35. Apolodoro, Biblioteca(III.12.5). Texto em grego com link ao texto em inglês disponível em [9] (visitado em 2-8-2007).
  36. Higino, Fabulae 90. Tradução para o inglês de [10] (visitado em 2-8-2007).
  37. Homílias clementinas v. xv. 145. Tradução para o inglês disponível em [11] Arquivado em 28 de setembro de 2007, no Wayback Machine. (visitado em 8-8-2007).
  38. a b Horácio, Odes ii. ix. 13-16. Texto em latim com link para a tradução para o inglês disponível em [12] (visitado em 2-8-2007). Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Horace" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  39. Dião Crisóstomo, Discursos (XI, 91)
  40. a b c VM (I, 120). O texto é citado por Gantz (1993: p.602) e Sommerstein (2007: p.200, p.202), entre outros.
  41. Plauto, Báquides, 953-4. Texto disponível em latim com link para a tradução em inglês disponível em [13] (visitado em 2-8-2007).
  42. Ibico, poema Polícrates(l.41-5). Texto disponível em grego com uma tradução paralela para o alemão disponível em [14] (visitado em 2-8-2007).
  43. Dião Crisóstomo Or. 21.17
  44. a b Estácio, Silvae 2.6 32-3. Texto em latim disponível em [15] (visitado em 29-7-2007).
  45. Graves, (1955, 162.g).
  46. Gantz (1993: p.602).
  47. a b O texto em latim de Sérvio pode ser visto em [16] (visitado em 2-8-2007).
  48. Sommerstein (2007: pp.200-1).
  49. Gantz (1993: p.597).
  50. Eustácio sobre a Ilíada de Homero XXIV 257, citada por J. G. Frazer na nota 79 de sua tradução da Biblioteca de Apolodoro. Disponível em [17] (visitado em 2-8-2007). Eustácio segue o que é afirmado pelo Escólio S-I24257a, disponível em grego em [18] (visitado em 14-8-2007).
  51. Apolodoro, Epítome (3, 32) à Biblioteca. O texto em grego com um link para a tradução em inglês está disponível em [19] (visitado em 2-8-2007).
  52. O significado desta passagem é controverso; Carlos Parada, em seu Greek Mythology Link, interpreta este trecho como uma referência aos muros do templo de Apolo (visitado em 2-8-2007). A nota de rodapé na tradução da Loeb desta passagem interpreta isto como uma referência a Apolo ter sido o responsável pela construção das muralhas de Troia, e que Estácio estaria seguindo a versão virgiliana da história.
  53. Gantz (1993: p.601).
  54. Calímaco, fragmento 363 disponível pela Loeb Edition. Citado por Cícero na referência abaixo.
  55. Cicero, Tusculanae Quaestiones I, xxxix, 93. Texto em latim disponível em [20] (visitado em 2-8-2007).
  56. O conteúdo desta subseção foi compilado a partir das seguintes fontes:- Burgess, J. S. (2001); Carpenter, (1991); Woodford (1993); e as partes de Boitani (1989) e Gantz (1993) especificadas para esta seção do artigo como um todo. Todos, com a exceção de Gantz, contêm ilustrações. Os sites do Arquivo Beazley listados em Ligações externas também foram consultados.
  57. Esta figura foi reproduzida perto do topo do verbete de Troilus no livro Greek Mythology Link [21], de Carlos Parada. (visitado em 29-7-2007.)
  58. a b Carpenter (1991: p.19).
  59. Briggite Knittlmeyer propôs que Troilo deveria ser visto como uma versão idealizada do nobre efebo, já que os jovens frequentemente eram mostrados na cerâmica grega como cavaleiros montados, trazendo consigo os cavalos de seus companheiros. Ver a crítica de sua matéria de 1998, Die Attische Aristokratie und ihre Helden: Untersuchungen zu Darstellungen des trojanischen Sagenkreises im 6. und frühen 5. Jahrhundert v. Chr (Heidelberg: Verlag Archaeologie und Geschichte, 1997, ISBN 3-980-4648-0-6) feita por Michael Anderson para o Bryn Mawr Classical Review [22] (visitado em 29-7-2007.)
  60. [23]
  61. a b Carpenter (1991: p.18).
  62. Boitani (1989: p.13).
  63. Boitani: (1989: p17).
  64. «Pode ser vista aqui». Consultado em 24 de fevereiro de 2010. Arquivado do original em 25 de outubro de 2007 
  65. Boitani (1989: p.17); Sommerstein (2007: p.201).
  66. March (1998: p.389).
  67. Estas seções da cena estão no site do Perseus Project (visitado em 1-8-2007).
  68. Woodford (1993: p.58).
  69. Pode ser visto no Projeto Perseus, em
  70. [24]
  71. Boitani (1989: pp.11-12).
  72. Sommerstein (2007: p.202).
  73. Gantz (1993: p.598, p.599).
  74. O vaso pode ser visto no site do Projeto Perseus [25].
  75. Woodford (1993: pp.58-9).
  76. Carpenter (1991: pp.19-20).
  77. «Cópia arquivada». Consultado em 24 de fevereiro de 2010. Arquivado do original em 5 de janeiro de 2007 
  78. «Cópia arquivada». Consultado em 24 de fevereiro de 2010. Arquivado do original em 29 de junho de 2012 
  79. March (1998: p.389) fala de um "contraste violento feito entre o guerreiro gigante que ataca e o pequeno rapaz indefeso", e usa a figura inferior como ilustração (p.15).
  80. Boitani (1989: p.11).
  81. Gantz (1993: p.599).
  82. Boitani (1989: p.5).
  83. [26]
  84. Carpenter (1991: p.20-21).
  85. [27] M
  86. A imagem é discutida com mais profundidade no site do Projeto Perseus [28] (visitado em 28-7-2007).
  87. a b Boitani (1989: p.7).
  88. Virgílio, Eneida: I, 474-8. O texto latino, com link para as traduções em inglês podem ser vistos em [29] (visitado em 8-8-2007).
  89. Boitani (1989: p.2).
  90. Sommerstein (2007: p.200) usa a versão do mitógrafo para sugerir que Aquiles teria atado Troilo às rédeas de seu cavalo.
  91. Gantz (1993: note 39, p.838).
  92. Sommerstein (2007: p.200).
  93. Sêneca, Agamenon 748. O texto em latim, no qual Cassandra lamenta que Troilo tenha se encontrado com Aquiles cedo demais, está disponível [30] (visitado em 15-10-2007)
  94. Ausônio, Epitapia, 19. Texto em latim disponível em [31] (visitado em 8-8-2007).
  95. Boitani (1989: p.10).
  96. Boitani (1989: pp.6-7).
  97. Quinto de Esmirna, Posthomerica iv, 470-90. Tradução para o inglês de A. S. Way disponível em [32] Arquivado em 27 de novembro de 2010, no Wayback Machine. (visitado em 15-10-2007).
  98. Tradução completa para o inglês disponível em Frazer (1966).
  99. The Trojans raised a cry of grief and, mourning loudly, bewailed the fact that Troilus had met so grievous a death, for they remembered how young he was, who being in the early years of his manhood, was the people's favourite, their darling, not only because of his modesty and honesty, but more especially because of his handsome appearance. Dicte, IV.9, tradução para o inglês de Frazer (1966: p.93).
  100. Boitani (1989: p.7)
  101. Gordon, R.K. (1934: p.x) na introdução a The Story of Troilus, pp.ix-xvi.
  102. Disponível online em latim em [33] (visitado em 8-8-2007) e em inglês em [34] Arquivado em 30 de abril de 2007, no Wayback Machine. (visitado em 8-8-2007). Tradução completa para o inglês disponível em Frazer (1966).
  103. Boitani (1989: pp.1-2)
  104. Compilado a partir de Sommer (1894: pp.xv11-xxxiv). Apenas textos mencionados em outros locais deste artigo são incluídos por nome.
  105. Dares, De excidio Trojae Historia, 12.
  106. Gantz (1993: p.39).
  107. The limbs of Troilus expand and fill his space. In mind a giant, though a boy in years, he yields to none in daring deeds with strength in all his parts his greater glory shines throughout his countenance. José de Exeter, Daretis :Phrygii Ilias De Bello Troiano iv. 61-4. Citação de tradução de A. G. Rigg disponível em [35].
  108. fair hair, very charming and naturally shining, eyes bright and full of gaiety... He was not insolent or haughty, but light of heart and gay and amorous. Well was he loved, and well did he love... Citação da tradução disponível em Gordon (1934: p.5-6).
  109. The fifth and last was named Troilus, a young man as courageous as possible in war, about whose valour there are many tales which the present history does not omit later on. Guido delle Colonne, Historia Destructionis Troiae v, 63-66, tradução para o inglês de E. M. Meek.
  110. Laud Troy Book l. 1864-8
  111. Guido delle Colonne Historia Destructionis Troiae 6. 294-301; Laud Troy Book 2563-6. Lefevre The Recuyell of the Historyes of Troye, p. 261 verso da impressão de Caxton.
  112. Historia Destructionis Troiae 15.34-43; Laud Troy Book 4755-66.
  113. "The wyse worthy Ector the secounde", Chaucer. Troilus and Criseyde II.155; Lydgate, Troy Book II.288.
  114. Boccaccio, il Filostrato viii.27; Chaucer, Troilus and Criseyde V.258; Lydgate, Troy Book 4.2041
  115. Alberto de Stade Troilus iv. 329. Citado por Boitani (1989: p.7).
  116. Guido, Historia 15.293ff; Laud Troy Book 5131ff; Lefevre, Recuyell p. 290 verso; Lydgate, Troy Book 3.1020ff.
  117. Gelber, Eric: Tapestry in the Renaissance: Art and Magnificence, Art critical.com, Primavera 2002, [36] (visitado em 5-8-2007).
  118. And when he sawe how Troilus nakid stod, Of longe fightyng awaped and amaat And from his folke alone disolat Lydgate, Troy Book, iv, 2756-8.
  119. Antonelli, Roberto (1989: pp.22).
  120. Whoever had joy or gladness, Troilus suffered affliction and grief. That was for the daughter of Calchas, for he loved her deeply. He had set his whole heart on her; so mightily was he possessed by his love that he thought only of her. She had given herself to him, both her body and her love. Most men knew of that. Tradução para o inglês em Gordon (1934: p.8).
  121. Antonelli, Roberto (1989: pp.46-8).
  122. Troilus, however, after he had learned of his father's intention to go ahead and release Briseida and restore her to the Greeks, was overwhelmed and completely wracked by great grief, and almost entirely consumed by tears, anguished sighs, and laments, because he cherished her with the great fervour of youthful love and had been led by the excessive ardour of love into the intense longing of blazing passion. There was no one of his dear ones who could console him. Tradução de E. M. Meek, ixx, 127-133.
  123. Tradução de E. M. Meek, xx 90-1.
  124. O texto italiano pode ser baixado de [37] Arquivado em 13 de abril de 2007, no Wayback Machine. (visitado em 17-8-2007). Traduções estão disponíveis em Havely, N.R. (ed.) Chaucer's Boccaccio, juntamente com outras obras de Boccaccio, e em Gordon (1934), juntamente com a íntegra do Troilus, de Chaucer, e trechos de Benoît.
  125. Natali, Giulia (p.51) "A Lyrical Version: Boccaccio's Filostrato", em Boitani (1989: pp.49-73), vê problemas no significado desta etimologia.
  126. Existe um considerável debate entre os acadêmicos sobre quem esta mulher seria. Nevill Coghill (1971: p.xvii) sugere Maria d'Aquino; Giulia Natali (1989: p.51) rejeita esta ideia, e propõe que a amada de Boccaccio seria uma mulher chamada Giovanna.
  127. De acordo com Frazer (1966: p.170) isto seria uma possível influência de uma mudança semelhante na obra Fiorita, de Armannino de Bolonha.
  128. Coghill (1971: p.xxii-xxiii), ao discutir Lewis (1936).
  129. Texto completo disponível em [38] (visitado em 17-8-2007).
  130. Coghill (1971: pp.xvii-xviii).
  131. Frazer (1966: p.5).
  132. Windeatt (1989: p.128).
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  134. Gordon (1934: p.xiii).
  135. Andrew (1989: p.91)
  136. Benson (1980: p.137), seguindo McCall, John P. "The Trojan Scene in Chaucer's Troilus, English Literary History, 29 (1962), 263.
  137. Benson (1989: p.158)
  138. Benson (1989: pp.154-6).
  139. Torti (1989: pp.173-4).
  140. Benson, C. David. "Critic and poet: what Lydgate and Henryson did to Chaucer's Troilus and Criseyde." Arquivado em 27 de outubro de 2009, no Wayback Machine.. Modern Language Quarterly, Março de 1992, v.53 n.1 p.23(18)
  141. Benson (1980: p.143).
  142. Benson (1980: pp.147-8).
  143. Benson (1989: pp.159-60), referindo-se a As You Like It iv. i. 99-100 e Taming of the Shrew iv. i. 150.
  144. Disponível online em [39] (visitado em 17-8-2007).
  145. Foakes, R. A. (1987: pp.11, 15); Oates (1966/7). Troilo é quase imberbe, já que a uma certa altura menciona-se que ele teria apenas cinquenta e um pelos em seu queixo, um branco (para Príamo) e o resto para cada um dos filhos de Príamo. Ato I, cena 2.
  146. Shakespeare, Troilus and Cressida V. iii. 37. A mistura de realismo e idealismo no caráter de Troilo é discutido em Lombardo (1989: p.209) e Palmer (1982: p.91).
  147. Foakes (1987: p.13)
  148. Lombardo (1989: p.14)
  149. Rufini (1989: pp. 246, 8) discute e rejeita a alegação de Tilyard (em E.M.W. Tilyard, Shakespeare's Problem Plays Londres 1965 p.76) de que Troilo amadurece; Palmer (1982: 64-5) afirma que ele é o único personagem que pode ter mudado no decorrer da peça.
  150. Oates (1966/7)
  151. Palmer (1982: p.22ff).
  152. Lombardo (1989: pp.213-4).
  153. Lombardo (1989: p.204).
  154. "Aquele criado fingido e abominável, Diomedes, traz ali pendurada em seu elmo a manga daquele tolo, mimado e abjeto patife de Troia. Eu vou adorar vê-los se encontrando, e que aquele jovem jegue troiano, que ama aquela vaca ali, despache de volta aquele patife mulherengo grego, com manga voltada para a fingida e devassa vadia sem mangas." Shakespeare, Troilus and Cressida V. iv. 2-9.
  155. Ao longo da peça Shakespeare chama a atenção para os triângulos Páris-Helena-Menelau e Diomedes-Créssida-Troilo. Troilo descobrir-se traído sob o teto de um grego traído é um exemplo disto. (Rufini, 1989: p.259ff).
  156. Lombardo (1989: p.203)
  157. Novak, M. E. (1984 p.521); Rufini (1989: pp.245-6).
  158. Dryden, Preface to Troilus and Cressida, em Novak (1984: p.226).
  159. Dryden, Troilus and Cressida IV, ii, 314
  160. Keats, J. Endymion, ii. 1-13. Texto disponível em [40] (visitado em 19-8-2007).
  161. Boitani (1989).
  162. a b Boitani (1989: p.289)
  163. Foakes (1987: p.7)
  164. Shanower, E. (2001) Age of Bronze Volume 1 A Thousand Ships, Orange CA, Image Comics: p.200.
  165. Boitani (1989: pp.281-305)
  166. Frazer (1966: p.7)
  167. Bär, S. (2007) análise de Barry B. Powell, The War at Troy: a True History, Bryn Mawr Classical Review, disponível online em [41] (visitado em 18-8-2007).
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  170. Boitani (1989: p.290).
  171. Boitani (1989: p.301)
  172. Boitani (1989: p.304).
  173. Martin, E. (1993) "Victims or Perpetrators? Literary Responses to Women's Roles in National Socialism", disponível em [42] Arquivado em 5 de dezembro de 2007, no Wayback Machine. (visitado em 18-8-2007).
  174. Boitani (1989: p.17).
  175. Nenhum filho de Príamo com este nome ou algo semelhante é discutido pelas fontes sobre mitologia grega, como Gantz ou Graves, e Ilios tampouco aparece nas listas de Apolodoro ou Higino sobre os filhos de Príamo.
  176. McCullough, C. (1998) The Song of Troy, Londres, Orion p. 402.
  177. Boitani (1989: pp.297-300)
  178. Boitani (1989: pp.287, 289, 294).
  179. Boitani (1989: p.294).
  180. ...volte-se para aquela margem do rio além do longe onde o sol se põe. Olhe para trás do rio silencioso do sono e do longo esquecimento. Vire e lembre-se de mim e de tudo que era nosso; não verás deserto mas sim pálidas flores que não murcham. Walton/Hassall Troilus and Cressida, citado por Boitani(1989: p.297)
  181. Shakespeare, Troilo e Créssida iii, ii, 7-11.
  182. Boitani (1989: p.293)
  183. Patrulha as margens do Estige, ansioso por cruzá-las, Mas o valor não está no outro lado do rio, O valor está em sua ânsia. Nenhuma comunhão No sexo ou em qualquer lugar pode ser atingida e mantida Perfeitamente para sempre. A janela fechada, O rio do Estige, a muro das limitações Além do qual a palavra além perde seu sentido, é o paradoxo fertilizante, a grade Que, ao separar, junta, o fim que nos faz começar Repetidamente, o escuro infinito que permite Que nossas flores cresçam no escuro, o nosso ato de ter filhos...
  184. Boitani (1989: p.288)
  185. Boitani (1989: p.292)

Bibliografia editar

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