IV Governo Constitucional de Portugal

Governo de Portugal

O IV Governo Constitucional de Portugal tomou posse a 22 de novembro de 1978, sendo chefiado por Carlos Alberto da Mota Pinto e constituído por iniciativa do Presidente da República Ramalho Eanes. Cessou o seu mandato a 1 de agosto de 1979, devido à demissão do Primeiro-Ministro, a 6 de junho de 1979, após a rejeição da Assembleia da República, pela segunda vez consecutiva, das Grandes Opções do Plano (apesar de ter conseguido fazer aprovar o Orçamento Geral do Estado).[1]

IV Governo Constitucional de Portugal

Governo Mota Pinto

Portugal
III República Portuguesa
1978 - 1979
IV Governo Constitucional de Portugal
Início 22 de novembro de 1978
Fim 1 de agosto de 1979


8 meses e 10 dias

Organização e Composição
Tipo Governo de iniciativa presidencial
Primeiro-Ministro Carlos Alberto da Mota Pinto
Presidente da República António Ramalho Eanes
Apoio PPDCDS
Oposição PSPCPUDP
Ministros
Número 18 ministros
Indepedentes
18 / 18
Histórico
Legislatura(s) I legislatura
Portal da República Portuguesa
III V
Governos Constitucionais
da Terceira República Portuguesa

História editar

Liderado pelo novo primeiro-ministro independente, Carlos Mota Pinto, ex-ministro do Comércio, este governo é formado por tecnocratas. Conta com o apoio ao inicio, do Partido Social Democrata (PPD/PSD) e do Centro Democrático Social (CDS), que contam com 115 deputados em 263, ou 43,7% dos assentos na Assembleia da República.

Depois da queda do governo de Nobre da Costa, o o Presidente da República António Ramalho Eanes anuncia a substituição deste pelo antigo ministro e fundador do Partido Social Democrata Carlos Mota Pinto. Tendo constatado a impossibilidade de os diferentes partidos chegarem a acordo sobre a formação de uma coligação, o Chefe de Estado procurou encorajar a constituição de um executivo independente capaz de forjar uma maioria parlamentar. Embora inicialmente planejasse tentar convencer as várias partes a deixar seus membros participarem de sua equipe, o chefe do executivo designado acabou preferindo cercar-se de personalidades independentes. O Partido Comunista Português (PCP) anunciou assim, dois dias depois, a intenção de apresentar uma moção de rejeição do programa do Governo, uma vez apresentado ao Parlamento. Se receber o apoio da União Democrática Popular (UDP), o Partido Socialista (PS) recusa-se a decidir de imediato e prefere aguardar o teor da discussão parlamentar para se pronunciar. Em sentido inverso, o PPD/PSD e o CDS deram desde logo o seu apoio ao novo governo.[2]

Durante a votação do programa, no dia 13 de dezembro, a moção de rejeição comunista foi rejeitada por 109 votos contra, 45 votos a favor e 97 abstenções, permitindo que o executivo tomasse posse em pleno. Apesar das reservas manifestadas pelos seus representantes durante os debates, os sociais-democratas e os democratas-cristãos confirmaram o seu apoio a Mota Pinto ao rejeitarem o texto do PCP. Para justificar a mudança de posição em relação ao III Constitucional  que tinha rejeitado, o Presidente do CDS, Diogo Freitas do Amaral, evoca a “arrogância antipartidária” de Alfredo Nobre da Costa, o programa de governo de Mota Pinto mais próximo da coligação que levara o general Eanes à presidência da República em 1976, e a necessidade de governar Portugal. Os socialistas, conscientes da incapacidade dos partidos para chegarem a um acordo e denunciando a formação de um governo sem ter em conta os resultados das eleições de 1976, optaram por abster-se, confirmando a sua oposição ao novo primeiro-ministro.[2]

Após a rejeição março de 1979, do Grandes Opções do Plano, que incluinda medidas de austeridade, o Partido Social Democrata está dividido sobre a atitude a adotar perante o governo. O Conselho Nacional decidiu no início de abril retirar a confiança na direcção do grupo parlamentar e anunciou que estava preparando sanções contra os cerca de trinta deputados que votaram a favor do orçamento. Em resposta, 35 deputados – incluindo o ex-ministro, fundador do partido e presidente do grupo Joaquim Magalhães Mota , o ex-presidente interino António de Sousa Franco e o ex-ministro Rui Machete  – anunciaram que estavam deixando o PPD/PSD e sentam como independentes, criando assim a ASDI.

No final de maio, o governo viu a Assembleia desfazer completamente o seu novo projeto de Grandes Opções do Plano e depois aprovar uma lei que limitava a capacidade do Executivo de agir no âmbito da reforma agrária. A 6 de junho, Carlos Mota Pinto apresenta a sua demissão ao Chefe de Estado depois de o PS e o PCP – que em conjunto têm maioria absoluta – terem apresentado moção de censura contra ele.[2]

Composição editar

A Lei Orgânica do IV Governo Constitucional, Decreto-Lei n.º 448/78, de 30 de dezembro,[3] decretou a seguinte composição:[4][5]

Ministros:

a) Da Defesa Nacional;

b) Adjunto do Primeiro-Ministro;

c) Das Finanças e do Plano;

d) Da Administração Interna;

e) Da Justiça;

f) Dos Negócios Estrangeiros;

g) Da Agricultura e Pescas;

h) Da Indústria e Tecnologia;

i) Do Comércio e Turismo;

j) Do Trabalho;

l) Da Educação e Investigação Científica;

m) Dos Assuntos Sociais;

n) Dos Transportes e Comunicações;

o) Da Habitação e Obras Públicas;

p) Da Comunicação Social.

O Ministro da República para os Açores e o Ministro da República para a Madeira terão assento em Conselho de Ministros sempre que as reuniões tratem de assuntos de interesse para as respetivas regiões.

Participam ainda nas reuniões do Conselho de Ministros, sem direito a voto, os Secretários de Estado da Presidência do Conselho de Ministros e da Administração Pública.

Compete ao Vice-Primeiro-Ministro para os Assuntos Económicos e Integração Europeia coadjuvar o Primeiro-Ministro na coordenação e orientação dos Ministérios económicos, bem como no âmbito dos assuntos relacionados com a integração europeia.[3]

Cargo Retrato Nome Período Partido
Primeiro-Ministro   Carlos Alberto da Mota Pinto
(1936–1985)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Vice-Primeiro-Ministro para os Assuntos
Económicos e Integração Europeia
  Manuel Jacinto Nunes
(1926–2014)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro   Álvaro Monjardino
(1930–)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da Defesa Nacional   José Loureiro dos Santos
(1936–2018)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro das Finanças e do Plano   Manuel Jacinto Nunes
(1926–2014)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da Administração Interna   António Gonçalves Ribeiro
(1933–)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da Justiça   Eduardo Silva Correia
(1915–1991)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro dos Negócios Estrangeiros   João de Freitas Cruz
(1925–1984)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da Agricultura e Pescas   Apolinário Vaz Portugal
(1930–2008)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da Indústria e Tecnologia   Álvaro Barreto
(1936–2020)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro do Comércio e Turismo   Abel Repolho Correia
(1926–)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro do Trabalho   Eusébio Marques de Carvalho
(1935–)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da Educação e Investigação Científica   Luís Valente de Oliveira
(1937–)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro dos Assuntos Sociais   Acácio Pereira Magro
(1932–2018)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro dos Transportes e Comunicações   José Marques da Costa
(1932–)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da Habitação e Obras Públicas   João Almeida Pina
(1926–2014)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da Comunicação Social   Daniel Proença de Carvalho
(1941–)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores   Henrique Afonso da Silva Horta
(1920–2012)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente
Ministro da República para a Região Autónoma da Madeira   Lino Miguel
(1936–2022)
22 de novembro de 1978 a 1 de agosto de 1979   Independente

Secretários e subsecretários de Estado editar

Dependência Cargo Dententor Período
Presidência do Conselho de Ministros Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros José Xavier de Basto 22 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado da Administração Pública António Figueiredo Lopes 22 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado Adjunto dos Assuntos Económicos e Integração Europeia José de Matos Torres 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado da Cultura David Mourão Ferreira 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério das Finanças e do Plano Secretário de Estado do Tesouro António de Almeida 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado das Finanças Alípio Dias 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado do Orçamento João Pinto Ribeiro 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Subsecretário de Estado do Orçamento António Joaquim Carvalho 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado do Planeamento Rui Conceição Nunes 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério da Administração Interna Secretário de Estado da Administração Regional e Local José Marques Leandro 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério dos Negócios Estrangeiros Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Emigração Paulo Ennes 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério da Agricultura e Pescas Subsecretário de Estado Adjunto do Ministro da Agricultura e Pescas José Lima de Carvalho 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado do Comércio e Indústrias Agrícolas Mário Barreira da Ponte 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado da Estruturação Agrária Augusto Ferreira do Amaral 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado do Fomento Agrário Francisco Moniz Borba 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado das Pescas João de Albuquerque 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério da Indústria e Tecnologia Secretário de Estado da Energia e Indústrias de Base Hugo de Jesus 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado das Indústrias Extractivas e Transformadoras António Cardoso e Cunha 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério do Comércio e Turismo Secretário de Estado do Turismo Licínio Cunha 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado do Comércio Externo Francisco Correia Guedes 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado do Comércio Interno Manuel Duarte Pereira 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério do Trabalho Secretária de Estado do Trabalho Manuela Aguiar 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado da População e Emprego João Saraiva Padrão 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério da Educação e Investigação Científica Subsecretário de Estado Adjunto do Ministro da Educação e Investigação Científica Carlos Alberto Rosa 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Subsecretário de Estado da Administração Escolar António Daniel 8 de fevereiro de 1979 a 31 de julho de 1979
SUBSECRETARIA DE ESTADO CRIADA
Secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário Maria Alice Nobre Gouveia 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado do Ensino Superior e Investigação Científica Eduardo Arantes de Oliveira 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado da Juventude e Desportos Rodolfo Bacelar Begonha 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério dos Assuntos Sociais Secretário de Estado da Saúde Mário Marques 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado da Segurança Social Coriolano Albino Ferreira 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério dos Transportes e Comunicações Secretário de Estado dos Transportes e Comunicações Rogério do Ouro Lameira 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado da Marinha Mercante José da Silva Domingos 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Ministério da Habitação e Obras Públicas Secretário de Estado da Habitação José Augusto Ramos 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado das Obras Públicas Mário de Azevedo 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979
Secretário de Estado do Ordenamento Físico, Recursos Hídricos e Ambiente Baltazar Morais Barroco 29 de novembro de 1978 a 31 de julho de 1979

Referências

  1. Soares, Fundação Mário. «Fundação Mário Soares | Aeb | Crono | Ano». www.fmsoares.pt. Consultado em 2 de novembro de 2018 
  2. a b c Moeda, Imprensa Nacional Casa da. «Os Primeiros-Ministros de Portugal 1820-2020 — Volumes I a III». Imprensa Nacional Casa da Moeda. Consultado em 26 de junho de 2023 
  3. a b Portugal, Grand Union. «Lei Orgânica do iv Governo Constitucional». www.historico.portugal.gov.pt. Consultado em 2 de novembro de 2018 
  4. Guimarães, Alberto Laplaine; Ayala, Bernardo Diniz de; Machado, Manuel Pinto; António, Miguel Félix. «IV Governo Constitucional». Os Governos da República: 1910–2010. Lisboa: Edição dos autores. p. 429–432. ISBN 978-989-97322-0-9 
  5. «Composição do IV Governo Constitucional» 
  1. Primeiro-Ministro Indigitado