Rachel de Queiroz

escritora e jornalista brasileira
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 Nota: Não confundir com Raquel de Queiroz.

Rachel de Queiroz GOMMGOIH (Fortaleza, 17 de novembro de 1910Rio de Janeiro, 4 de novembro de 2003) foi uma escritora, jornalista, tradutora, cronista prolífica e importante dramaturga brasileira.[1] É considerada uma das maiores escritoras brasileiras do século XX, tendo sido uma figura pioneira no cenário literário nacional, sobretudo, na produção intelectual e criativa feminina. A escritora também é a única mulher a integrar o movimento modernista brasileiro, além de ter sido uma das primeiras cronistas mulheres do país. [2] Autora de destaque na ficção social nordestina, foi a primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras em 1977, também a primeira mulher galardoada com o Prêmio Camões.[3] Ingressou na Academia Cearense de Letras no dia 15 de agosto de 1994, na ocasião do centenário da instituição.

Rachel de Queiroz
Rachel de Queiroz
Rachel de Queiroz em 1971
Nascimento 17 de novembro de 1910
Fortaleza, Ceará, Brasil
Morte 4 de novembro de 2003 (92 anos)
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Nacionalidade Brasileira
Ocupação romancista, contista, tradutora, jornalista, cronista
Prémios
Magnum opus O Quinze
Assinatura
Assinatura de Rachel de Queiroz

A escritora também ficou conhecida por sua postura aguerrida e por seus posicionamentos políticos contraditórios ao longo dos anos. Na década de 30, integrou o Partido Comunista do Brasil, no qual permaneceu por pouco tempo ao constatar que sua liberdade como escritora estava ameaçada pela ideologia partidária. [4] Em 1935, em meio à repressão do governo de Getúlio Vargas ficou detida por três meses [5] e dois anos depois teve livros queimados em praça pública com a decretação do Estado Novo em 10 de novembro de 1937, juntamente com exemplares de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, acusados de subversão. [6] [7].

Na década de 60, volta ao cenário politico brasileiro, participando da deposição do então presidente João Goulart. Fez parte do diretório da Arena (Aliança Renovadora Nacional), foi delegada do Brasil na ONU em 1966 e integrou o Conselho Federal de Cultura, desde a sua fundação, em 1967, até sua extinção, em 1989. [8] O presidente Jânio Quadros chegou a convidá-la para ser ministra da Educação, ao que respondeu: “Presidente, colaboro no que for preciso, mas sem cargo oficial. Não posso pôr em risco minha independência intelectual, nem nasci para viver em cortes palacianas”. [9]

Suas obras mais conhecidas são O Quinze, marco do movimento regionalista e modernista da década de 30, As Três Marias, obra mais lírica da sua primeira fase literária e Memorial de Maria Moura, seu último romance, um épico sertanejo publicado aos 82 anos de idade.

Ao longo de mais de 70 anos de carreira, Rachel publicou mais de duas mil crônicas[10], peças de teatro, livros infantis, contos, memórias e um livro de poesia inédita, publicado postumamente.

Biografia editar

 
Rachel de Queiroz, 1954. Arquivo Nacional.

Infância editar

Rachel era filha de Daniel de Queiroz Lima e Clotilde Franklin de Queiroz, descendente pelo lado materno da família de José de Alencar.[11]

Em 1915, após uma grande seca, a qual inspiraria a escrita de seu primeiro livro, muda-se com seus pais para o Rio de Janeiro e logo depois para Belém do Pará. Retornou para Fortaleza dois anos depois, onde matriculou-se no Colégio da Imaculada Conceição, onde fez o curso normal, diplomando-se em 1925, aos 15 anos de idade.[3] [12]

"Rita de Queluz" editar

Em 1927, após ler a noticia a respeito do concurso promovido pelo jornal O Ceará, no qual a jornalista Suzana de Alencar Guimarães era promovida ao posto "Rainha dos Estudantes", Rachel resolve escrever uma carta ao referido jornal sob o pseudônimo "Rita de Queluz", ridicularizando o concurso e sua eventual vencedora, que utilizando de sru estilo pseudolírico, assinava suas crônicas como "A Marquesa". [13]

A carta fez um enorme sucesso na cidade, onde despertou uma curiosidade geral sobre quem a teria escrito. Rachel é descoberta pelo carimbo da Estação sobre o selo da carta. O resultado foi o diretor do jornal, Júlio Ibiapina, a convidar para colaborar com a publicação.[14] Curiosamente, em 1930, quando lecionava no colégio Imaculada Conceição, acabou vencendo o mesmo concurso,[14] escrevendo crônicas e poemas de caráter modernista sob o pseudônimo de Rita de Queluz. No mesmo ano lançou em forma de folhetim o primeiro romance, História de um Nome.

O Quinze editar

Aos dezenove anos, ficou nacionalmente conhecida ao publicar O Quinze (1930), romance que mostra a luta do povo nordestino contra a seca e a miséria. Demonstrando preocupação com questões sociais e hábil na análise psicológica de seus personagens, destaca‐se no desenvolvimento do romance nordestino. A obra foi escrita quando a autora contraiu uma congestão pulmonar e, com suspeita de tuberculose, foi obrigada a ficar em repouso. Durante esse tempo, escreveu o romance escondida à noite.[14]

Começa a se interessar em política social em 1928-1929 ao ingressar no que restava do Bloco Operário Camponês em Fortaleza, formando o primeiro núcleo do Partido Comunista Brasileiro. Em 1933 começa a dissentir da direção e se aproxima de Lívio Xavier e de seu grupo em São Paulo, lá indo morar até 1934. Milita então com Aristides Lobo,[3] Plínio Mello, Mário Pedrosa, Lívio Xavier, se filiando ao sindicato dos professores de ensino livre, controlado naquele tempo pelos trotskistas.

Para fugir da perseguição por ser esquerdista, muda-se para Maceió, em 1935. À época, durante o Estado Novo, viu seus livros serem queimados junto com os de Jorge Amado, José Lins do Rego e Graciliano Ramos sob a acusação de serem subversivos.[14] Em 1939, já escritora consagrada, muda-se para o Rio de Janeiro. No mesmo ano foi agraciada com o Prêmio Felipe d'Oliveira pelo livro As Três Marias. Escreveu ainda João Miguel (1932), Caminhos de Pedras (1937) e O Galo de Ouro (1950).[11]

Aos poucos, foi mudando de posicionamento político. Chegou a ser convidada para ser ministra da Educação por Jânio Quadros.[14] Em 1964, apoiou a ditadura militar que se instalou no Brasil. Integrou o Conselho Federal de Cultura e o diretório nacional da ARENA, partido político de sustentação do regime.[15]

Lançou Dôra, Doralina em 1975, e depois Memorial de Maria Moura (1992), saga de uma cangaceira nordestina adaptada para a televisão em 1994 numa minissérie apresentada pela Rede Globo. Exibida entre maio e junho de 1994 no Brasil, foi apresentada em Angola, Bolívia, Canadá, Guatemala, Indonésia, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico, Portugal, República Dominicana, Uruguai e Venezuela, sendo lançada em DVD em 2004.

Publicou um volume de memórias em 1998. Transforma a sua "Fazenda Não Me Deixes", propriedade localizada em Quixadá, estado do Ceará, em reserva particular do patrimônio natural. Morreu em 4 de novembro de 2003, vítima de problemas cardíacos, no seu apartamento no Rio de Janeiro, dias antes de completar 93 anos.[3] Foi enterrada no cemitério São João Batista, sob a rede onde costumava dormir.[14]

Durante trinta anos escreveu crônicas para a revista semanal O Cruzeiro e com o fim desta para o jornal O Estado de S. Paulo.[16]

Também se encontra colaboração da sua autoria na revista luso-brasileira Atlântico.[17]

Entre as décadas de 1940 e 1960 Rachel de Queiroz viveu na carioca Ilha do Governador, na Rua Carlos Ilidro — mesma rua onde morou o compositor Assis Valente. A Ilha, inclusive, foi cenário do livro “O galo de ouro”, publicado em 1950.[18]

Academia Brasileira de Letras editar

Vídeo sobre a posse de Raquel de Queiroz na ABL, em 1977.

Concorreu contra o jurista Pontes de Miranda para a vaga de Cândido Mota Filho da cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras. Venceu o pleito ocorrido em 4 de agosto de 1977 por 23 votos, contra 15 dados ao opositor e um em branco. Foi empossada em 4 de novembro de 1977.[19] Recebida por Adonias Filho, foi a quinta ocupante da cadeira 5, que tem como patrono Bernardo Guimarães. Foi a primeira mulher a ingressar na ABL.

Principais prêmios editar

 
Posse na Academia Brasileira de Letras, em 1977.
 
Rachel de Queiroz com os amigos Adonias Filho (esquerda), e Gilberto Freyre (direita).
 
Homenageada em selo postal da Sérvia, em 2011.
 
Estátua de Rachel de Queiroz na Praça dos Leões, em Fortaleza.

Obras editar

 
Fazenda Não Me Deixes.

Romances editar

Crônicas editar

  • A Donzela e a Moura Torta (1948)
  • Cem Crônicas Escolhidas (1958)
  • O Brasileiro Perplexo (1964)
  • O Caçador de Tatu (1967)
  • Um Alpendre, uma Rede, um Açude (Crônicas Escolhidas)
  • O Homem e o Tempo (Crônicas Escolhidas)
  • As Menininhas e outras Crônicas (1976)
  • O Jogador de Sinuca e mais Historinhas (1980)
  • As Terras Ásperas, O Livro de Contos (1993)

Peças de teatro editar

  • Lampião (1953)
  • A Beata Maria do Egito (1958)
  • Teatro (1995)

Infanto-juvenil editar

  • O Menino Mágico (1969)
  • Cafute e Pena-de-Prata (1986)

Outros editar

  • Nosso Ceará, relato (1996) (em parceria com a irmã Maria Luiza de Queiroz Salek)
  • Tantos Anos, autobiografia (1998) (com a irmã Maria Luiza de Queiroz Salek)
  • Não me Deixes: Suas Histórias e sua Cozinha, memórias gastronômicas (2000) (com Maria Luiza de Queiroz Salek)

Reunidas de ficção editar

  • Três Romances (1948)
  • Quatro Romances (1960)
  • Seleta, seleção de Paulo Rónai; notas e estudos de Renato Cordeiro Gomes (1973)


No dia 4 de dezembro de 2003, um mês depois de sua morte, foi lançado na Academia Brasileira de Letras o livro Rachel de Queiroz, um perfil biográfico da escritora, fruto de uma longa pesquisa realizada pela jornalista Socorro Acioli, publicado pelas Edições Demócrito Rocha.

Sua biografia foi narrada no livro No Alpendre com Rachel, de autoria de José Luís Lira, lançado na Academia Brasileira de Letras em 10 de julho de 2003, poucos meses antes do falecimento da escritora.

Obras traduzidas no exterior editar

Obra Idioma Título Tradutor(a) Dados de publicação
O Quinze Alemão Das Jahr 15: Roman Ingrid Schwamborn Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1978.

Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1994.

Francês L'année de la grande secheresse Jane Lessa e Didier Voïta Paris: Stock, 1980.
La terre de grande soif Paula Anacaona [S.I.]: Anacaona, 2014.
Espanhol Tierra de silencio Basilio Losada Castro Barcelona: Alba Editorial, 1995.
Memorial de Maria Moura Francês Maria Moura Cécile Tricoire Paris: Métaillé, 1995.
Alemão Maria Moura: Roman Ulrich Kunzmann München: Schneekluth, 1998.

Bergisch Gladbach: Bastei Lübbe, 2001.

Italiano Memoriale di Maria Moura Sandra Biondo Roma: Cavallo di Ferro, 2006.
As Três Marias Inglês The three Marias Fred Pittman Ellison Austin: University of Texas Press, 1963.
Alemão Die drei Marias Ingrid Führer München: Deutscher Taschenbuch Verlag, 1994.
João Miguel Francês Jean Miguel Mario Carelli Paris: Stock, 1984.
João Miguel Paula Anacaona Paris: Anacaona Éditions, 2015.

Traduções editar

Romances editar

Biografias e memórias editar

Referências

  1. Fernando Rebouças (2 de julho de 2008). «Rachel de Queiroz». InfoEscola. Consultado em 17 de novembro de 2012 [ligação inativa]
  2. «Tag Livros - Por que Rachel de Queiroz foi uma escritora pioneira». Consultado em 21 de março de 2024 
  3. a b c d Sabrina Vilarinho. «Rachel de Queiroz». R7. Brasil Escola 
  4. Maciel, Marcos. «A Grande Dama do Sertão». Academia Brasileira de Letras 
  5. Victorino, Adriana. «Conheça a história de Rachel de Queiroz, primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras». Consultado em 21 de março de 2024 
  6. Ribeiro, Antônio Sérgio. «Morre a escritora Raquel de Queiroz». p. Alesp 
  7. «Tag Livros - Por que Rachel de Queiroz foi uma escritora pioneira». Consultado em 21 de março de 2024 
  8. Ribeiro, Antônio Sérgio. «Morre a escritora Raquel de Queiroz». p. Alesp 
  9. Maciel, Marco. «"Academia Brasileira de Letras"». Academia Brasileira de Letras 
  10. Ribeiro, Antônio Sérgio. «Morre a escritora Raquel de Queiroz». p. Alesp 
  11. a b «Rachel de Queiroz». UOL - Educação. Consultado em 17 de novembro de 2012 
  12. Maciel, Marco. «"Academia Brasileira de Letras"». Academia Brasileira de Letras 
  13. Holanda, Heloísa Buarque de (2016). Rachel, Rachel. [S.l.]: HB. 120 páginas. ISBN 9788584740970 
  14. a b c d e f Brites, Vitor de (Novembro de 2003). «Pioneira na juventude arrefeceu na velhice». Zero 
  15. Rachel de Queroz, Heloísa Buarque de Hollanda, Agir Editora, 2005
  16. «Academia Brasileira de Letras». Academia Brasileira de Letras 
  17. Helena Roldão (12 de Outubro de 2012). «Ficha histórica: Atlântico: revista luso-brasileira (1942-1950)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 25 de Novembro de 2019 
  18. Maísa Capobiango (5 de agosto de 2012). «Memória artística da Ilha do Governador. Depois de Renato Russo, bairro reverencia Vinicius, outro nome que faz parte de sua história». jornal O Globo. Consultado em 17 de março de 2024 
  19. Jr, Arnaldo Nogueira. «Rachel de Queiroz - Biografia». www.releituras.com 
  20. «Prêmio Camões de Literatura». Brasil: Fundação Biblioteca Nacional. Cópia arquivada em 16 de Março de 2016 
  21. BRASIL, Decreto de 2 de agosto de 1993.
  22. «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Rachel de Queiroz". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 17 de fevereiro de 2015 

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