Usuário(a):Victor Hugo Felix/Testes
Casa do Sítio da Ressaca | |
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Face frontal da Casa Sítio da Ressaca, em São Paulo (SP), Brasil. | |
Estilo dominante | Bandeirista |
Construção | 1719 |
Estado de conservação | São Paulo |
Património nacional | |
Classificação | CONDEPHAAT |
Data | 1972 |
Geografia | |
Cidade | São Paulo |
Casa do Sítio da Ressaca é uma construção em estilo bandeirista, remanescente do período colonial brasileiro, localizada no bairro do Jabaquara, na cidade de São Paulo. Localizada no antigo caminho para Santo Amaro, a casa foi construída em 1719, como pode ser atestado por inscrições encontradas na porta principal e nas telhas. Algumas de suas telhas são ainda originais e trazem inscrições do século XVIII, como a data de fabricação e o nome do oleiro. As portas e batentes, em canela preta, também são originais.[1]
O nome do sítio se deve, provavelmente, ao Córrego da Ressaca, também chamado Fagundes e Ressaca, que banhava seus arredores. Construída em taipa de pilão, a casa adota uma planta assimétrica, não muito comum nas residências bandeiristas. É dotada de janelas e portas com vergas laterais, enquanto o telhado cai em duas águas.
A casa era usada até 1969, quando foi desapropriada para a construção do metrô. Tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (CONDEPHAAT), a Casa Sítio da Ressaca foi restaurada em 1978 e, desde 1990, integra o Centro Cultural do Jabaquara, abrigando eventos, exposições e também a Biblioteca Municipal Paulo Duarte.
O endereço atual da Casa Sítio da Ressaca é Rua Nadra Raffoul Mokodsi, 3, Jabaquara, São Paulo.[2]
História editar
O Sargento-Mor Lopes de Medeiros foi primeiro proprietário do Sítio da Ressaca, à época chamado de Sítio Piranga. O sítio foi vendido para o Capitão Manual de Avilla, e em 1700 foi revendido para o capitão Agostinho de Macedo. A sede do sítio, a Casa que ainda se encontra na região e que foi tombada, teria sido construída em 1719, sugestão feita a partir do número “1719” gravado no batente da porta principal. As telhas da casa constam também o ano em que foram fabricadas (1713, 1714 e 1716). Há registros de que Maria Vasconcellos, neta do Governador da Capitania de São Vicente Capitão-Mor Antônio Aguiar Barriga, teria mandado construir uma casa naquela região, mas não há indícios de que se esta seria a mesma casa que permanece até hoje no Jabaquara.[3]
O nome "Ressaca" aparece pela primeira vez em 1780, registrado por Teresa Paula de Jesus Fernandes, proprietária do imóvel, que pedia a medição e demarcação do Sítio da Ressaca, com 500 braças de testada e meia légua para o sertão nas primeiras 200 braças, e de uma légua para o mesmo sertão nas restantes. A demarcação, assim chegaria às terras de Padre Domingos Gomes de Albernáz. Para que a medição fosse feita, Teresa Paula de Jesus Fernandes reuniu títulos antigos, na qual se constava que o Sargento-Mor Lopes de Medeiros foi, assim, o proprietário original do sítio da Ressaca antes de 1700. Teresa Paula de Jesus Fernandes doou parte das terras para o preto forro Francisco Raposo, vendeu outra parte ao Padre Félix José de Oliveira, e outra à Beata Úrsula.[3]
Em 1827, o Sítio da Ressaca pertencia ao Padre Vicente Pires da Motta, que o vendeu, naquele ano, para Jorge Heath. O sítio foi revendido para Guilherme Hopkins e posteriormente revendido para Henrique Henriqueson. Em 1853, a casa foi adquirida por Francisco Antônio Mariano. A viúva de Mariano, Dona Justina Mariano Peruche, vendeu o sítio a um de seus filhos, Felício Antônio Mariano Fagundes, que uniu o Sítio da Ressaca, o Sítio Simão e o Sítio Olho D’água sob a mesma denominação, “Ressaca”. De 1860 a 1900, o sítio pertenceu a Felício A. Mariano Fagundes, e com a morte deste, seus herdeiros repartiram a propriedade. A parte que continha a casa foi vendida em 1908 para Antonio Cantarella, responsável pela urbanização do bairro do Jabaquara, e foi um sítio familiar até 1969. Nesta ocasião houve nova divisão da área, com uma parte sendo loteada e transformada no que é hoje o Jardim Metropolitano. Outra acabou desapropriada pelo Metrô de São Paulo, para construção do pátio de manobras.[3]
A partir do loteamento, a paisagem local foi desfigurada.[3]
Tombamento editar
Casas como a sede do Sítio da Ressaca só tiveram o seu valor histórico e artístico reconhecido no século XX, a partir de trabalhos empreendidos por figuras como Mário de Andrade e Luis Saia. Mário de Andrade, poeta modernista, foi também diretor da delegacia de São Paulo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A atuação de Mário no órgão foi entre 1937, ano da fundação do IPHAN, e 1939. Neste período, o diretor estabeleceu a linha de ação da delegacia paulista, privilegiando o tombamento de edifícios anteriores ao período imperial, o que condizia com os ideais modernistas de Mário de Andrade – construir a memória nacional a partir dos vestígios coloniais, desprezando o neoclássico. Mário de Andrade levantou documentos que reconstituíam a do Sítio da Ressaca para que o IPHAN reconhecesse o seu valor histórico.[3]
O assistente de Mário de Andrade, Luis Saia, assumiu a direção do IPHAN paulista de 1939 até 1975, e se tornou uma figura emblemática do órgão.[4]
Diante dos avanços do Metrô na região do Jabaquara, Luis Saia entrou com processo no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (CONDEPHAAT) para que a sede do Sítio da Ressaca fosse devidamente tombada e, consequentemente, protegida das desapropriações e obras na região. O tombamento foi decretado em 1972, com base no valor histórico do imóvel. Entretanto, a Casa Sítio da Ressaca estava em situação de abandono. Em parecer, Luis Saia recomendou que fosse restaurada o imóvel e a área em seu entorno “criminosamente deformada pela ganância mobiliária”.[5]
Restauração editar
Entre 1978 e 1979, a Casa Sítio da Ressaca foi restaurada, seguindo diretrizes do Projeto Cura/Jabaquara. O projeto, gerenciado pela Empresa Municipal de Urbanização (EMURB), foi responsável pela reformulação do Jabaquara ante as obras da primeira linha de Metrô (Norte-Sul), hoje conhecida como Linha Azul. O Cura/Jabaquara previa o salvamento da casa e da área em seu entorno a partir dos seguintes procedimentos:
- Desapropriação dos lotes onde a casa se localizava, assim como dos lotes vizinhos;
- Restauração da casa;
- Remodelação do seu entorno por meio da desapropriação dos lotes vizinhos e da implantação de uma praça;
- Instalação de um Anexo, onde se encontra o Centro Cultural do Jabaquara;
- Estabelecimento de diretrizes de ocupação do entorno da sede, de modo a preservar as visadas da casa.[3]
O arquiteto Gustavo Neves da Rocha Filho foi contratado para projetar o edifício do Centro Cultural do Jabaquara. A paisagista Rosa Grena Kliass projetou a praça. O arquiteto Antônio Luiz Dias de Andrade coordenou a restauração da sede do Sítio da Ressaca. A arqueóloga Marlene Suano foi responsável pelas pesquisas arqueológicas na casa, e o engenheiro Péricles Brasiliense Fusco foi consultor estrutural. A restauração foi empreitada pela empresa PEC – Planejamento, Engenharia e Construção Ltda., e as obras foram fiscalizadas por arquitetos da EMURB junto ao Departamento do Patrimônio Histórico (DPH).[3]
A casa foi desapropriada em 1978 junto a um terreno de 1 hectare a seu redor, e a restauração foi concluída cerca de um ano após o início das obras. Realizou-se não apenas a restauração do edifício, mas a revitalização do Sítio da Ressaca, uma vez que optou-se pela reconstrução de um outeiro, ou seja, uma elevação no terreno ao redor da casa, para melhorar a sustentação dos muros. Em 1986 o edifício sofreu um incêndio, que lhe rendeu novas obras de restauro e o tombamento pelo IPHAN. Após isso, passou a integrar o Centro Cultural do Jabaquara e, desde 1990, abriga o Acervo da Memória e do Viver Afro-Brasileiro, reunindo objetos referentes à presença dos negros em São Paulo.[6] Atualmente, a Casa Sítio da Ressaca fica aberta à visitação de terça-feira a domingo, das 9h às 17h.[7]
Arquitetura Bandeirista editar
As construções rurais paulistas do período colonial, como a Casa Sítio da Ressaca, são classificadas como obras de arquitetura bandeirista. O termo é empregado para definir as edificações sedes de sítios e fazendas, construídas entre os séculos XVII e XVIII.[8]
A Casa Sítio da Ressaca, assim como as demais casas bandeiristas, são construídas com a técnica da taipa de pilão, na qual são utilizados formas e pilões para compactar uma massa espessa de barro, cascalho e outros materiais diversos. O benefício dessa técnica é que, se bem empregada, garante maior sustentabilidade na construção.[8]
As paredes da Casa Sítio da Ressaca foram erguidas com a utilização de formas de madeira, em formato de grandes caixas, chamadas de taipas. A massa de barro é inserida nas caixas e comprimida com uso de pilões. A taipa, então, é recolocada ao lado da primeira massa para que o procedimento se repita, e assim, horizontalmente, a massa vai sendo colocada. Finalizada a primeira camada, iniciam-se as novas camadas, até que os muros estejam devidamente erguidos. As paredes internas são, originalmente, de pau a pique[9].
A casa sede do Sítio da Ressaca possui poucos cômodos, apenas seis, incluindo o alpendre. O telhado é do tipo duas águas, o que era comum entre alguns edifícios daquele período. As portas e janelas são feitas de canela preta, madeira forte e resistente, e as telhas eram produzidas por escravos. Mas ao contrário de outras casas bandeiristas, o Sítio da Ressaca não tinha uma capela em um cômodo separado, apenas um nicho para a colocação da imagem de um santo.[10] O alpendre é colado à parede de arrimo.[9]
Ver também editar
Referências editar
- ↑ «Prefeitura de São Paulo»
- ↑ «Museu da Cidade - Sítio da Ressaca»
- ↑ a b c d e f g «MAYUMI, Lia. "Taipa, canela preta e concreto: um estudo sobre a restauração de casas bandeiristas em São Paulo". Tese de Doutorado. USP. 2006.»
- ↑ «ANDRADE, Francisco de Carvalho Dias de. COSTA, Eduardo. "Arquitetura bandeirista na serra do itapeti: um caso interessante para o estudo da arquitetura colonial paulista". VII Encontro de História da Arte - UNICAMP, 2011.» (PDF)
- ↑ «Processo de tombamento do Sítio da Ressaca» (PDF)
- ↑ «São Paulo Minha Cidade - Jabaquara»
- ↑ «Cidade de São Paulo - O que visitar? - Sítio da Ressaca»
- ↑ a b «Zanettini, Paulo Eduardo. "Maloqueiros e seus palácios de barro: o cotidiano doméstico na Casa Bandeirista". Universidade de São Paulo, 2006»
- ↑ a b «Casas Bandeiristas - Casa do Jabaquara»
- ↑ «Reportagem do Antena Paulista sobre Casa Sítio da Ressaca»