Igreja Católica no Brasil

o catolicismo no Brasil representa mais de 60% da população, sendo a maior religião do país
(Redirecionado de Catolicismo no Brasil)

A Igreja Católica no Brasil é parte da Igreja Católica universal, em comunhão com a liderança espiritual do Papa, em Roma, e da Santa Sé.[9] O catolicismo apostólico romano é atualmente a maior religião do Brasil, ativa no país desde o período pré-colonial, quando foi introduzida por missionários que acompanhavam os colonizadores portugueses. A Igreja Católica exerce grande influência nos aspectos político, social e cultural dos brasileiros.[10]

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Brasil
Catedral Basílica de Nossa Senhora Aparecida em Aparecida, no (estado de São Paulo.
Santo padroeiro Nossa Senhora Aparecida[1]
São Pedro de Alcântara[2]
São José de Anchieta[1]
Ano 2021[3]
População total 212 700 000[4]
Cristãos 172 300 000 (79,0%)[5]
Católicos 108 500 000 (51,0%)[5]
Paróquias 12 013[3]
Presbíteros 21 812[3]
Seminaristas 8 041[3]
Diáconos permanentes 4 770[3]
Religiosos 11 816[3]
Religiosas 27 182[3]
Primaz Sérgio da Rocha[6]
Presidente da Conferência Episcopal Walmor Oliveira de Azevedo[7]
Núncio apostólico Giambattista Diquattro[8]
Códice BR

O catolicismo tem sido a principal religião do Brasil desde o século XVI. Ela foi introduzida por missionários que acompanharam os exploradores e colonizadores portugueses nas terras do país recém-descoberto.[10] O Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais,[11] sua hegemonia deve ser relativizada devido ao grande sincretismo religioso existente no país.[12] O Brasil é considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais,[11] Entre as tradições populares do catolicismo no Brasil, estão a peregrinação a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, que se pode ser feita pelo conhecido Caminho da Fé,[13] além de outras festas católicas importantes são o Círio de Nazaré — esta a maior manifestação religiosa do país —,[14] Festa do Divino Espírito Santo[15] e a Festa do Divino Pai Eterno.[16] Ao passar do século XX, o interesse pelas formas tradicionais de religiosidade no país caiu, tendo visto aumento de outras denominações cristãs, de outras religiosidades não cristãs e dos irreligiosos.[17] Um reflexo disso é o grande número de pessoas que se intitulam católicos não praticantes.[18]

Segundo pesquisa de 2014 do Pew Research Center, 81% da população brasileira foi criada no catolicismo, porém apenas 61% da população se mantinha católica naquele ano, uma diferença de 20%. Um dos desafios enfrentados pela Igreja Católica no Brasil é a perda de fiéis para igrejas protestantes e para a irreligião.[19]

HistóriaEditar

O catolicismo chegou ao Brasil já no momento do descobrimento, e lançou profundas raízes na sociedade desde o primeiro momento de interação portuguesa[20][21][22] com os habitantes indígenas. A própria chegada dos portugueses pode ser considerada um evento religioso, já que a chegada dos descobridores não era simplesmente vista com interesse político ou econômico, mas tambem com o interesse de evangelizar, expandir a fé católica.[20] Entretanto, vale ressaltar que os primeiros missionários a desembarcar no território brasileiro eram encarregados de cuidar dos assuntos internos do navio. A real chegada de missionários enviados unicamente com o propósito de evangelizar se deu em 1549, com a chegada de seis jesuítas, dentre eles os padres José de Anchieta e Manuel da Nóbrega. As missões jesuíticas fundaram cidades na colônia, como no caso de São Paulo, e desenvolveram ações contra a barbárie do canibalismo cometido por algumas tribos.[22] O catolicismo era a religião oficial de Portugal e de suas colônias e todos os habitantes do Brasil tinham que obrigatoriamente adotá-lo como sua fé: os índios foram evangelizados por meio da catequese e os colonos nascidos no Brasil aceitavam-no como pressuposto de cidadania. Os escravos africanos eram batizados no porto de procedência ou desembarque e sua religiosidade apenas conseguiu sobreviver por meio do sincretismo com o catolicismo e os judeus, sob a ameaça da Inquisição, transfiguraram-se em cristãos-novos.[23][24][25] Uma vez considerados bárbaros pelos europeus, os índios acabavam recebendo proteção dos padres contra os maus tratos dos colonizadores.[22] Durante o período de colonização, ordens e congregações religiosas assumem serviços nas paróquias e dioceses, a educação nos colégios, a evangelização do indígena e inserem-se na vida do país — notadamente os jesuítas.[26] Os índios catequizados eram livres do trabalho escravo, enquanto que poderiam ser capturados apenas aqueles que praticavam o canibalismo ou vencidos em combates contra os portugueses.[22] Nas artes, a religião católica também mostra suas influências desde o início, já que no começo o conjunto de seus escritos era chamado de literatura jesuítica, e começou com sacerdotes como o Padre Antônio Vieira, com seus sermões e cartas, e do Padre José de Anchieta no teatro e na poesia. Ainda assim, infelizmente, a historiografia foi muito marcada por historiadores marxistas que não só negaram como fizeram o possível para deletar a presença do sagrado católico, não apenas na cultura mas, de forma específica, na literatura. Leandro Garcia, doutor em Ciência da Religião e professor na Universidade Federal de Minas Gerais afirma ser o único estudioso da teopoética dentre um total de 136 professores. Ele também afirma ser difícil nos dias atuais manter a fé viva na universidade pública, e que a própria ideia de universidade surgiu na Idade Média com a Igreja Católica, então, "o nosso conceito de universidade é católico medieval e precisa ser valorizado".[27]

A primeira confraria brasileira foi a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Olinda, criada em 1539. No ano seguinte surgiu o primeiro hospital do Brasil, a Santa Casa de Misericórdia de Olinda, destinada a atender os enfermos dos navios dos portos e moradores das vilas e povoados.[28][29][30]

Frades franciscanos chegaram às capitanias chegaram rapidamente, porém, as missões propriamente ditas se instalaram mais tarde: em 1549. Nela, seis jesuítas acompanharam o governador-geral Tomé de Sousa, chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega; ficaram famosos o padre José de Anchieta[31] e o Padre João de Azpilcueta Navarro.[32] Os carmelitas chegaram em 1580,[33] as missões dos beneditinos tiveram início em 1581,[34] as dos franciscanos em 1584,[35] as dos mercedários em 1640,[36] as dos capuchinhos em 1642.[37] Durante o século XVI e o século XVII, a legislação buscou certo equilíbrio entre Governo central e Igreja, tentando administrar os conflitos entre missionários, colonos e índios. Havia um grande impasse entre os colonizadores, que queriam escravizar os índios, e os religiosos, que desejavam catequizá-los e extirpar suas crenças pagãs. Os padres davam abrigo e fugiam com os índios a fim de buscar sua liberdade.[38]

Até meados do século XVIII, o Estado controlou a atividade eclesiástica na colônia por meio do padroado, que consistia em o Estado arcar com o sustento da Igreja e impedir a entrada no Brasil de outros cultos, em troca de reconhecimento e obediência. Era função da Coroa Portuguesa nomear e remunerar membros do clero, criar dioceses, conceder licenças para construir igrejas.[39] Com esse acordo entre a Santa Sé e a monarquia portuguesa, a evangelizção foi atrasada e poderia ter sido muito menos tardia, já que por mais de um século, o Brasil só teve a Diocese de Salvador, na Bahia. Após 1676, foram criadas mais três. Até a independência, em 1822, o vasto território brasileiro tinha apenas sete dioceses. Acabavam sendo comuns também as desavenças da coroa e da Igreja, já que o Estado aplicava seu dinheiro na igreja e não aceitava ser contrariado, ainda que isso comprometesse a evangelização.[40] O padroado só viria a se extinguir com a proclamação da república, em 1889, quando o Estado passou a ser laico.[41]

Em 1707, com as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, elaboradas por bispos em uma reunião em Salvador, a hierarquia da Igreja conquista mais autonomia. As constituições uniformizam o culto, a educação, a formação do clero e a atividade missionária. Não impedem, porém, o agravamento dos conflitos entre colonizadores e padres, em torno da escravização dos índios, que desembocam no fechamento da Companhia de Jesus pelo Marquês de Pombal em 1759.[40][42]

IndependênciaEditar

A proclamação da independência brasileira, ocorrida em 7 de setembro de 1822, também contou com o apoio de diversas lideranças católicas, que até mesmo deram sua vida na luta por esse processo, como Frei Caneca.[20] Nas décadas de 1860 e 1870, a Santa Sé, em Roma, decreta regras mais rígidas de doutrina e culto. Bispos brasileiros, como Dom Antônio de Macedo Costa, Bispo de Belém do Pará e Dom Vital de Oliveira, Bispo de Olinda, acatam as novas diretrizes e expulsam os maçons das irmandades. Isso não é aceito pelo governo, muito ligado à maçonaria, dando início à chamada Questão religiosa, culminando com o encarceramento e trabalhos forçados destes bispos em 1875.

Brasil RepúblicaEditar

Em 7 de janeiro de 1890, logo após a proclamação da República, é decretada a separação entre Igreja e Estado. A República acaba com o padroado, reconhece o caráter laico do Estado e garante a liberdade religiosa.[20] Em regime de pluralismo religioso e sem a tutela do Estado, as associações e paróquias passam a editar jornais e revistas para combater ideias anarquistas, comunistas ou protestantes.

A partir da década de 30, o projeto desenvolvimentista e nacionalista de Getúlio Vargas influencia a Igreja no sentido de valorização da identidade cultural brasileira. Assim, a Igreja expande sua base social para além das elites, abrindo-se para as camadas médias e populares. A Constituição de 1934 prevê que seja "vedada à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios qualquer relação de aliança ou dependência com qualquer culto, ou igreja sem prejuízo da colaboração recíproca em prol do interesse coletivo".[43] Prevê também que o ensino religioso, "ministrado de acordo com os princípios da confissão religiosa do aluno, manifestada pelos pais ou responsáveis", seja facultativo nas escolas públicas primárias, secundárias, profissionais e normais,[44] O nome de Deus é invocado no preâmbulo da Constituição.

 
Multidão de fiés na Basílica de Nossa Senhora Aparecida durante celebrações da visita do Papa Bento XVI ao Brasil em maio de 2007.

Em 1952 é criada a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que coordena a ação da Igreja no país. No final dos anos 50, a Igreja preocupa-se com questões sociais geradas pelo modelo de capitalismo no país, como a fome e o desemprego. Em 1960, a Juventude Universitária Católica (JUC), influenciada pela Revolução Cubana, declara sua opção pelo socialismo. Pressões de setores conservadores da Igreja levam os militantes da JUC a criar um movimento de esquerda, a Ação Popular (AP). Na época, a Igreja está dividida quanto às propostas de reformas de base do presidente João Goulart.

Com o Regime Militar de 1964 crescem os conflitos entre Igreja e Estado. A partir de 1968, com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), há uma ruptura total diante da violenta repressão - prisões, torturas e assassinatos de estudantes, operários e padres e perseguições aos bispos. Na época, a Igreja atua em setores populares, com as comunidades eclesiais de base. Inspiradas na Teologia da Libertação, elas vinculam o compromisso cristão e a luta por justiça social. Os abusos contra a ordem jurídica e os direitos humanos levam a Igreja a se engajar fortemente na luta pela redemocratização, ao lado de instituições da sociedade civil.

Ao longo dos anos 80 e 90, com a redemocratização da sociedade brasileira e com alguns de seus ensinamentos fortemente criticados pela Santa Sé, a Teologia da Libertação perde parte de sua influência. Nesse período cresce o vigor da Renovação Carismática Católica, surgida nos EUA. Em oposição à politização da Teologia da Libertação, o movimento busca uma renovação em práticas tradicionais do catolicismo pela ênfase numa experiência mais pessoal com Deus.

AtualmenteEditar

 
Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.
 
Nossa Senhora das Lágrimas, a aparição mariana que foi reconhecida no Brasil.
 
Negro com Chapéu na Mão Olhando Para um Crucifixo, pintura de Adrien Henri Vital van Emelen.

No transcorrer do século XX foi percebida uma diminuição no interesse em formas tradicionais de religiosidade. Um reflexo disso é a grande massa de católicos não praticantes hoje presente no país. No censo IBGE de 2000, 40% dos que responderam ser católicos diziam ser "não praticantes".[carece de fontes?]

Na hierarquia católica brasileira estão hoje presentes três vertentes principais: o clero tradicionalista, mais conservador e defensor da ortodoxia; os remanescentes da Teologia da Libertação, que desde os anos 70 tem formado uma espécie de "esquerda" eclesiástica; e os adeptos da Renovação Carismática ou de Comunidades Carismáticas, movimentos mais recentes e vigorosos.

Entre as tradições populares do catolicismo no Brasil estão as peregrinações à Basílica de Nossa Senhora Aparecida, o quarto santuário mariano mais visitado do mundo,[45] que é capaz de abrigar até 45.000 fiéis.[46] Nossa Senhora Aparecida acabou por tornar-se a Padroeira do Brasil.[47] Outras festas católicas importantes são o Círio de Nazaré, a Festa do Divino Espírito Santo, a Festa do Divino Pai Eterno (mais conhecida como Romaria de Trindade, em Goiás), e a Romaria de Nossa Senhora Medianeira (que ocorre anualmente no segundo domingo de novembro, em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul). É de destacar também o culto devocional a Nossa Senhora das Lágrimas, uma notável aparição mariana ocorrida em Campinas e que cedo obteve o reconhecimento diocesano da Igreja Católica.

A Renovação Carismática Católica tem forte presença leiga e já responde sozinha por grande parte dos católicos praticantes no país. O movimento tende a ter uma moral mais conservadora e assemelha-se em certos aspectos às Igrejas Pentecostais, como no uso dos dons do Espírito Santo.

 
Procissão de Ramos na Semana Santa em Pirenópolis, Goiás. Manifestação do catolicismo popular realizada no local desde 1728 pela Irmandade do Santíssimo na Paróquia do Rosário.

Uma das Comunidades Carismáticas mais conhecidas é a Canção Nova que é presidida pelo Monsenhor Jonas Abib, um dos precursores da Renovação Carismática Católica no Brasil, e possui um canal de televisão e uma estação de rádio mantidos por doações; a sua sede fica na cidade de Cachoeira Paulista. Outros dois ícones da RCC no Brasil são os Padres Marcelo Rossi, que foi um fenômeno de mídia que surgiu no final da década de 90,abrindo espaço para outros padres como Fábio de Melo,Reginaldo Manzotti e Antônio Maria que seguem a mesma linha de evangelização.

Estão presentes também o Opus Dei, o Caminho Neocatecumenal e o Regnum Christi dos quais participam milhares de pessoas no Brasil, suscitam um grande empenho e aprofundamento na fé dos leigos e têm apoio do clero. Está presente o Catolicismo tradicionalista, que patrocina celebrações da missa segundo o Missal romano de 1962. O Instituto do Bom Pastor, a Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney e a Fraternidade Sacerdotal de São Pio X representam boa parte deste movimento.

Características do catolicismo brasileiroEditar

De acordo com a revista América, os católicos brasileiros são os que mais associam a imagem de Deus com o amor e com uma mãe, em todo o mundo. Eles também são mais propensos a verem a natureza humana como boa, em vez de corrupta, e o mundo como bom, em vez de mau. Os católicos brasileiros são menos propensos a acreditar na literalidade da Bíblia, em comparação aos evangélicos. Quase 75% rezam todos os dias, mas apenas 12% se envolvem em atividades da igreja; apenas 26% dizem que são "muito religiosos".[48]

No Brasil, os católicos são menos conservadores que os evangélicos em assuntos como sexo antes do casamento, coabitação antes do casamento, homossexualidade e aborto.[48]

Segundo pesquisa de 2014, a maioria dos católicos brasileiros (51%) são a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo, número que cresce para 54% entre os sem religião e decresce para 25% entre os evangélicos. 84% afirmam que o uso de métodos contraceptivos não é moralmente errado; 76% são contra o aborto legal em todos os casos ou na maioria deles; 47% que fazer uso de bebida alcoólica é moralmente errado; 17% que o divórcio é moralmente errado; 44% que o sexo fora do casamento é moralmente errado; 68% acreditam na evolução das espécies; 56% dizem que os padres deveriam poder se casar; 78% que mulheres deveriam poder ser ordenadas na igreja; 64% que a religião deve ser mantida separada de políticas de governo.[19]

No geral, o catolicismo brasileiro é visto como plural, diverso, e com grande alcance do sincretismo.[21]

Perda de fiéisEditar

Nas últimas décadas, é notável o decréscimo na participação de católicos na população brasileira, sobretudo a partir da década de 1990. Em 1872, 99,71% dos brasileiros eram católicos; 95% em 1940; 83,34% em 1991; 73,89% em 2000; 68,43% em 2009. Ao mesmo tempo, cresceu no país o número de evangélicos, de pessoas sem religião e de seguidores de outras crenças.[49]

Distribuição religiosa no Brasil, por ano[50] 1994 2001 2006 2010 2016
Católicos 75% 62% 68% 63% 50%
Evangélicos 14% 21% 20% 24% 29%
Sem religião 5% 7% 5% 6% 14%
Outros 6% 10% 7% 7% 7%

Segundo pesquisa da FGV de 2009, o catolicismo no Brasil vem perdendo fiéis sobretudo nos bolsões de pobreza situados em regiões metropolitanas, em especial para igrejas evangélicas pentecostais e para a não religiosidade. O estudo apontou que a "velha pobreza brasileira", particularmente as áreas rurais do Nordeste, que é assistida por programas de governo, continua fortemente católica, ao passo que a "nova pobreza", isso é, a periferia das grandes cidades, menos assistidas por programas sociais, estaria migrando para o protestantismo e para a irreligiosidade.[49]

Uma explicação para a diminuição de católicos são as migrações internas. No Brasil, as religiões evangélicas tendem a crescer nas regiões de expansão da fronteira agrícola e nas favelas e municípios de regiões metropolitanas, onde muitas pessoas são migrantes de outras regiões. Esses migrantes deslocam-se para áreas onde há a ausência do Estado e da Igreja Católica, "que não tem agilidade para deslocar padres e paróquias". Já as igrejas evangélicas são mais ágeis e acabam suprindo essa ausência. O mesmo não ocorre em áreas com poucos migrantes, onde a população já está estabelecida, ou no interior rural, onde "a tendência é as pessoas continuarem seguindo a mesma religião com a qual cresceram".[51]

"A Igreja Católica não conseguiu acompanhar o novo Brasil, pois tem uma estrutura centralizada, hierarquizada, lenta e muito avessa às modificações. Por exemplo, os católicos possuem igrejas no centro de praticamente todas as cidades do país, mas não conseguiram acompanhar a expansão demográfica da periferia dos grandes centros urbanos. A falta de padres e a distância em relação aos fiéis dificulta a propagação da doutrina católica e inviabiliza a agregação de amplas parcelas da população nas atividades cotidianas da igreja. O clericalismo atua em benefício do clero e em detrimento de uma participação de base. Mormente, os escândalos de pedofilia lançam dúvidas sobre a honradez e a integridade moral de muitos padres, enquanto a questão do celibato clerical divide a igreja e os dois Papas."[52]

Em outubro de 2019, a possibilidade de ordenar homens casados como padres na Amazônia foi aprovada no sínodo sobre a floresta. A possibilidade foi criticada pela ala conservadora do Vaticano, inclusive pelo Papa Bento XVI,[53] que a via como um passo para a extinção do celibato na Igreja Católica. A proposta foi rejeitada pelo Papa Francisco em 2020.[54] A falta de padres na região amazônica contribuiu para a mudança da demografia religiosa da região, pois na Região Norte é onde se verifica o maior crescimento de evangélicos e a maior diminuição de católicos no Brasil.[55][56]

Pesquisas mostram que o catolicismo perde adeptos sobretudo entre os jovens brasileiros: segundo o Instituto Data Popular, somente 44% dos brasileiros de 16 a 24 anos definiam-se como católicos. Esse fenômeno é denominado de "descatolização". Um exemplo é o que acontece na Arquidiocese de Porto Alegre, por exemplo, a quantidade de batizados, primeiras comunhões, crismas e casamentos vem diminuindo ininterruptamente. Em 2008, foram batizadas 26,8 mil crianças, contra 20,8 mil em 2013. Houve também quedas ainda maiores na primeira eucaristia (de 14,9 mil para 8,2 mil), nas crismas (de 7,6 mil para 4,8 mil) e até nos casamentos (de 3,1 mil para 1,8 mil).[57]

Segundo o sociólogo da religião Ricardo Mariano, em décadas passadas, havia uma simbiose entre ser brasileiro e ser católico. Em 1940, meio século após a separação entre Estado e Igreja, 95% dos brasileiros ainda se consideravam católicos. O Estado laico existia no papel, mas não na realidade de fato, porquanto "A Igreja Católica era muito grande. Imprensa, delegacias de polícia, juízes, intelectuais e uma série de outras categorias, além do clero, criavam dificuldades para os outros credos, que foram discriminados e perseguidos". No Brasil, muitas pessoas diziam-se católicas como resposta a uma "pressão social", fato que explica o incontável número de católicos, porém "não praticantes" no país.[57] No caso da imprensa, autores de meios acadêmicos definem a inserção da atividade midiática protestante como "agressiva".[21]

Apenas na segunda metade do século XX é que a liberdade religiosa no Brasil realmente se tornou realidade. Segundo o sociólogo, nesse novo cenário de pluralismo, "é natural que as pessoas façam algo que não era tão comum no passado: refletir sobre qual é a sua religião e tomar uma decisão diante das opções disponíveis". A liberdade de escolha ajuda a explicar a perda de fiéis da Igreja Católica para a irreligiosidade, bem como de pessoas que vão procurar abrigo em outras igrejas, particularmente nas evangélicas. Outra consequência do pluralismo "seria a presente amplificação de conflitos, controvérsias e debates públicos envolvendo questões como feminismo, orientação sexual, aborto e os direitos das minorias".[57]

Segundo pesquisa do Datafolha de 2018, os católicos já são metade entre os brasileiros de 16 a 24 anos (46% de católicos, 33% de evangélicos e 13% sem religião) e uma ligeira maioria na população de 25 a 34 anos (49% católicos, 34% evangélicos e 10% sem religião). Para toda a população, a distribuição religiosa encontrada foi: 56% católicos, 30% evangélicos, 7% sem religião e 7% outras.[58]

Estatísticas por estadoEditar

 
Mapa da porcentagem de católicos no Brasil por estado

De acordo com a Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, a porcentagem de católicos por Estado Federal se distribui da seguinte maneira[59]:

Posição Estado Porcentagem de católicos Religião predominante[60]
1 Piauí 87,93% Catolicismo
2 Ceará 81,08%
3 Paraíba 80,25%
4 Sergipe 79,96%
5 Maranhão 78,04%
6 Alagoas 72,3%
7 Santa Catarina 73%
8 Rio Grande do Norte 73,98%
9 Minas Gerais 73,32%
10 Bahia 71,39%
11 Rio Grande do Sul 71,37%
12 Amapá 70,89%
13 Mato Grosso 70,63%
14 Tocantins 70,60%
15 Paraná 69,82%
16 Amazonas 67,68%
17 Pará 66,55%
18 São Paulo 66,12%
19 Goiás 65,42%
20 Pernambuco 63,84%
21 Mato Grosso do Sul 63,70%
22 Espírito Santo 57,04%
23 Distrito Federal 55,88%
24 Rondônia 52,89%
25 Acre 50,73%
26 Rio de Janeiro 49,83%
27 Roraima 46,78%

Ver tambémEditar

Referências

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