Artur Bernardes

político brasileiro, 12° presidente do Brasil
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Artur da Silva Bernardes[nb 1] (Viçosa, 8 de agosto de 1875Rio de Janeiro, 23 de março de 1955) foi um advogado e político brasileiro, presidente de Minas Gerais de 1918 a 1922 e presidente do Brasil entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926. Seus seguidores eram chamados de "bernardistas".[1]

Artur Bernardes
Artur Bernardes
12.º Presidente do Brasil
Período 15 de novembro de 1922
a 15 de novembro de 1926
Vice-presidente Estácio Coimbra
Antecessor(a) Epitácio Pessoa
Sucessor(a) Washington Luís
Deputado Federal por Minas Gerais
Período 3 de setembro de 1952
a 15 de janeiro de 1953
Período 27 de março de 1951
a 7 de outubro de 1951
Período 5 de fevereiro de 1946
a 31 de janeiro de 1951
Período 2 de maio de 1935
a 10 de novembro de 1937
Período 3 de maio de 1915
a 7 de setembro de 1918
Período 24 de maio de 1909
a 10 de setembro de 1910
Senador por Minas Gerais
Período 3 de maio de 1927
a 24 de outubro de 1930
12.º Presidente de Minas Gerais
Período 7 de setembro de 1918
a 7 de setembro de 1922
Antecessor(a) Delfim Moreira
Sucessor(a) Raul Soares de Moura
Deputado Estadual de Minas Gerais
Período 21 de abril de 1907
a 24 de maio de 1909
Dados pessoais
Nome completo Artur da Silva Bernardes
Nascimento 8 de agosto de 1875
Viçosa, Província de Minas Gerais, Império do Brasil
Morte 23 de março de 1955 (79 anos)
Rio de Janeiro, Distrito Federal
Alma mater Universidade de São Paulo
Cônjuge Clélia Vaz de Melo (1903–1955)
Filhos(as) 8
Partido PRM (1900–1937)
UDN (1945)
PR (1945–1955)
Profissão Advogado
Assinatura Assinatura de Artur Bernardes

Seu governo foi extremamente conturbado, sendo marcado desde a campanha eleitoral com o primeiro levante do Movimento Tenentista, a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana[2] e, já como presidente, o país viveu outros levantes tenentistas como a Revolta Paulista de 1924,[3] a Revolta de 1924 no Rio Grande do Sul, Revolta em Sergipe, Comuna de Manaus,[4] Campanha do Paraná, Coluna Prestes[5] e Coluna Relâmpago.

Origem e carreira política editar

Estudou no Colégio do Caraça. Após formar-se, em 1900, na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, iniciou sua carreira política como vereador e presidente da Câmara Municipal de Viçosa em 1906. Foi deputado federal (de 1909 a 1910) e Secretário de Finanças de Minas Gerais em 1910. Foi eleito para um novo mandato de deputado federal (1915 a 1917). Tornou-se o líder principal do Partido Republicano Mineiro, tirando o controle do PRM dos políticos do Sul de Minas Gerais, deslocando o centro da política mineira para a Zona da Mata. Foi presidente do estado de Minas Gerais entre 1918 e 1922.

Artur, para sua carreira política como Presidente da República, contou com a ajuda de seu sogro, Carlos Vaz de Mello, irmão de José Alves Ferreira de Melo, um poderoso fazendeiro de Viçosa. As terras onde foram erguidas as primeiras faculdades integrantes da UFV pertenciam ao sogro de Bernardes.

Artur da Silva Bernardes foi casado por mais de 50 anos com Clélia Vaz de Mello, filha Carlos Vaz de Mello, político importante da Zona da Mata mineira, deputado e senador da república.

Eleição para presidente da república e a Revolta dos 18 do forte editar

 
Artur Bernardes e ministros de Estado (fotografia sob a guarda do Arquivo Nacional).

Bernardes venceu as eleições presidenciais de 1922, obtendo 466.877 votos contra 317.714 votos dados a Nilo Peçanha, em uma eleição que dividiu o país: Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro apoiaram Nilo Peçanha e os demais estados deram apoio à candidatura de Bernardes.[6] Os gaúchos temiam também uma possível reforma constitucional limitando a autonomia dos estados. Nilo, apoiado por Borges de Medeiros, tentou fazer com que Bernardes desistisse em favor de Ruy Barbosa ou Venceslau Brás, mas acabou concordando em lançar sua própria candidatura, sendo lançada a Reação Republicana.[7]

Antes da eleição, Bernardes teve que enfrentar a Crise das cartas falsas atribuídas contendo ofensas aos militares e a Nilo Peçanha. O escândalo que se seguiu acirrou a oposição dos militares a Bernardes, que ainda assim foi eleito em março, mas enfrentou em seu governo o movimento tenentista.[8][9]

O descontentamento com a vitória de Bernardes e com o governo de seu antecessor, Epitácio Pessoa, foram algumas das causas da Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, primeira ação do movimento tenentista, após o levante, Epitácio pediu imediatamente o estado de sítio, aprovado pelo Congresso no próprio dia 5 de julho por 30 dias e, findo este prazo, prorrogado até 31 de dezembro. Ainda no Parlamento, recomeçou a discussão da Lei de Imprensa proposta pelo senador Adolfo Gordo, que viria a ser aprovada já no governo de Bernardes, em 1923.[10]

Seu vice-presidente foi Estácio Coimbra que substituiu Urbano Santos, vice-presidente eleito, também em 1 de março de 1922, e que faleceu no dia 7 de Maio de 1922, antes de tomar posse.[11]

 
Presidente Artur Bernardes.

Presidência da República editar

Tomou posse, segundo Francisco de Assis Barbosa, “com a aura de um predestinado, empenhado em realizar uma grande obra de governo, por isso mesmo perplexo diante da violenta campanha de que fora alvo”. Embora afirmasse que “o presidente esquecerá as injúrias feitas ao candidato”, chegou ao Palácio do Catete “cheio de ressentimentos” após a grande insatisfação generalizada, inédita na história da Republica até então.[12]

Além da oposição por parte da baixa oficialidade militar, ele ainda confrontou uma guerra civil no Rio Grande do Sul, onde Borges de Medeiros se elegeu presidente do estado pela quinta vez consecutiva, e também o movimento operário que se fortalecia novamente.

Em 1923 e 1924 ocorreram novas ações tenentistas no Rio Grande do Sul e em São Paulo, onde ocorreu a Revolta Paulista de 1924, que levou Bernardes a bombardear a cidade de São Paulo. Tudo isso levou Bernardes a decretar o estado de sítio, que perdurou durante quase todo seu governo.[13]

Artur Bernardes foi o pioneiro da siderurgia em Minas Gerais e sempre se bateu pela ideologia nacionalista e de defesa dos recursos naturais do Brasil.

Fundou a Escola Superior de Agricultura e Veterinária em sua cidade natal, Viçosa, que viria depois a se tornar a Universidade Federal de Viçosa.

Sob seu governo, o Brasil se retirou da Liga das Nações em 1926.

Bernardes promoveu a única reforma da Constituição de 1891, reforma que foi promulgada em setembro de 1926 e que alterava principalmente as condições para se estabelecer o estado de sítio no Brasil. Após deixar o governo, foi eleito senador em 1929.

Foi contrário à ascensão de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada ao governo de Minas Gerais mas não pôde evitá-la.

Vida após a presidência editar

 
Em 1951 (Arquivo Nacional).

Após a Presidência, foi eleito Senador da República, mandato que exerceu até 1930.

Artur Bernardes, no seu discurso de posse no Senado Federal, em 25 de maio de 1927, estando a cidade do Rio de Janeiro sob grande tensão e expectativa, relembrou a dificuldade que foi sua eleição presidencial de 1922 e sua presidência:

Carlos Lacerda repetiria, contra Getúlio Vargas, essa frase de Bernardes, na campanha presidencial de 1950.

Participou da Revolução de 1930, que desalojou o Partido Republicano Paulista do governo federal. Foi um Revolucionário constitucionalista de 1932. Fracassado este movimento, exilou-se em Portugal. De volta ao Brasil, em 1934, foi eleito deputado federal para o mandato 1935-1939. Em 1937, porém, perdeu o mandato, devido ao golpe do Estado Novo.

Com o restabelecimento da democracia em 1945, ingressou na UDN, elegendo-se deputado federal constituinte em 1945. Criou e dirigiu a seguir o Partido Republicano. Eleito suplente de deputado federal em 1950, exerceu o mandato, em virtude de convocação, sendo eleito para um novo mandato em 1954. Bernardes defendeu, após 1945, o Petróleo e a Siderurgia nacionais. Ocupou o cargo de deputado federal até a sua morte, em 1955. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.

Composição do governo editar

 
Presidente Artur da Silva Bernardes com a Faixa Presidencial.

Vice-presidente editar

Ministros editar

Seu Mé editar

Bernardes era apelidado pela oposição como "Seu Mé", o que inspiraria os compositores Freire Júnior e Careca (Luiz Nunes Sampaio) a criar a canção conhecida como "Ai, Seu Mé", de 1922. A composição ironizara Bernardes em diversos versos como em "O queijo de Minas está bichado, seu Zé Não seu porquê é, não sei porquê é" "Aí, seu Mé! Aí Mé,Mé Lá no Palácio das Águias, Olé Não hás de pôr o pé". Com a eventual eleição e subsequente mandato de Bernardes, os compositores foram presos.[14]

Notas editar

  1. A grafia original do nome do biografado, Arthur da Silva Bernardes, deve ser atualizada conforme a onomástica estabelecida a partir do Formulário Ortográfico de 1943, por seguir as mesmas regras dos substantivos comuns (Academia Brasileira de Letras – Formulário Ortográfico de 1943 Arquivado em 4 de junho de 2009, no Wayback Machine.). Tal norma foi reafirmada pelos subsequentes Acordos Ortográficos da língua portuguesa (Acordo Ortográfico de 1945 Arquivado em 24 de fevereiro de 2009, no Wayback Machine. e Acordo Ortográfico de 1990 Arquivado em 20 de maio de 2009, no Wayback Machine.). A norma é optativa para nomes de pessoas em vida, a fim de evitar constrangimentos, mas após seu falecimento torna-se obrigatória para publicações, ainda que se possa utilizar a grafia arcaica no foro privado (Formulário Ortográfico de 1943, IX).

Referências

  1. «1922: Bernardistas são orientados a não agitar discussões com adversários». Folha de S.Paulo. 12 de março de 2022. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  2. «A marcha dos '18' do Forte de Copacabana e O Rio de 5 de Julho de 1922 | Atlas Histórico do Brasil - FGV». atlas.fgv.br. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  3. «A Revolução de 1924 em São Paulo | Atlas Histórico do Brasil - FGV». atlas.fgv.br. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  4. Velasco, Valquiria. «Comuna de Manaus (1924) - História do Brasil». InfoEscola. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  5. «Vestígios de uma marcha histórica: a passagem da Coluna Prestes por SC». NSC Total. Consultado em 14 de setembro de 2023 
  6. PORTO, Walter Costa, O voto no Brasil, Editora Topbooks, 2002
  7. «Reação republicana: Oligarquias disputam o poder». educacao.uol.com.br. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  8. «Em 1922, eleição teve fake news e resultado questionado». Senado Federal. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  9. «Cartas Falsas | Atlas Histórico do Brasil - FGV». atlas.fgv.br. Consultado em 13 de setembro de 2023 
  10. LEIS ADOLFO GORDO FGV.
  11. Morreu o dr urbano Santos. O Jornal, 8 de maio de 1922.
  12. Jânio Quadros et alii, História do povo brasileiro, v. 5.
  13. Guimarães, Ulysses (1978). Rompendo o cerco. [S.l.]: Paz e Terra. p. 32 
  14. «'Ai, Seu Mé', uma sátira ao candidato Artur Bernardes». GGN. 30 de setembro de 2014. Consultado em 10 de setembro de 2020 

Bibliografia editar

  • Quatriennio Arthur Bernardes 1922-1926, Jornal do Commercio, Editora Typ. Jornal do Comércio, 1926.
  • AMORA, Paulo, Bernardes: O Estadista de Minas na República, Companhia Editora Nacional, 1964.
  • BARATA, Júlio, A Palavra de Arthur Bernardes, 1934.
  • BERNARDES, Arthur da Silva, Discursos e Pronunciamentos Políticos, Editora Belo Horizonte, 1977.
  • BRANDT, Antônio, Arthur Bernardes e a Revolução Constitucionalista, Editora Academia Letras Viçosa, 1999.
  • CHATEAUBRIAND, Assis, A vocação Revolucionária do Presidente Arthur Bernardes, Editora O Jorna, Rio de Janeiro, 1926.
  • GÓES MONTEIRO, Norma de, Organizadora, Idéias Políticas de Artur Bernardes, Editora do Senado Federal, 1984.
  • JÚNIOR, Amaurílio, Arthur Bernardes e a Revolução, Editora São Benedicto, 1931.
  • KOIFMAN, Fábio, Organizador - Presidentes do Brasil, Editora Rio, 2001.
  • LIMA, Alberto de Souza, Arthur Bernardes Perante a História, Editora: I. H. G, Belo Horizonte, 1983.
  • MAGALHÃES, Bruno de, Arthur Bernardes Estadista da República, Editora Loje, 1973.
  • PAVÃO, Ary, Arthur Bernardes e o Brasil, Editora Moderna, Rio de Janeiro, 1931.

Ligações externas editar

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